Caratuva 2024

Aproveitando que estava passando alguns dias em Curitiba, me desloquei até a Serra do Mar para subir uma montanha. Fazia quase dois anos que não subia montanhas, então estava sentindo saudade. Para um bate e volta escolhi o Caratuva, montanha que já subi duas vezes, em 2008 e 2021, mas em ambas as vezes não vi a paisagem lá do cume, pois estava tudo encoberto por nuvens. Dessa vez tinha esperança de ver algo lá do alto, pois o dia estava relativamente bom e não tinha previsão de chuva.

Comecei a subir pouco depois das dez da manhã e não levei muita coisa. Levei alguma comida e quatro litros de água. Segui num ritmo lento, pois o início da trilha é sempre a parte mais complicada e cansativa. Depois que o corpo foi aquecendo, aumentei um pouco meu ritmo e a primeira hora de subida foi tranquila. Encontrei algumas pessoas descendo, mas ninguém subindo pela trilha. Fiz algumas rápidas paradas para descanso e para beber água.

Chegando no Getúlio, encontrei um grupo de Ponta Grossa, que subia com mochilas cheias, pois pretendiam acampar no cume do Caratuva. Fiz uma parada mais rápida no Getúlio, onde lanchei, descansei e fiquei observando a paisagem para o lado da represa, que sempre é muito bonita. Me lembrei que a última vez que tinha estado no Getúlio tinha sido numa noite fria e chuvosa, quase dois anos antes. Como o tempo passou rápido desde aquela última vez ali…

Após meia hora parado no Getúlio, segui em frente. Na encruzilhada das plaquinhas encontrei novamente o pessoal de Ponta Grossa e um outro casal, que faria meia volta dali. Tiramos fotos, conversámos um pouco e segui pela trilha rumo ao Caratuva. Nesse trecho a trilha estava bem molhada, sinal de que tinha chovido por ali nas últimas horas. A trilha molhada significa mais dificuldade e atenção redobrada para não cair. Conforme ia subindo o tempo foi fechando e comecei a temer que mais uma vez não veria nada da bonita paisagem no alto do Caratuva.

Quase no final da trilha encontrei três soldados do 5º GAC AP, que estavam descendo. Paramos conversar rapidamente e me contaram que o tempo lá no alto estava completamente fechado. Senti vontade de voltar para traz dali mesmo onde estava. Mas como estava perto do cume, resolvi seguir em frente. Quando cheguei no cume do Caratuva, senti um misto de alegria e frustração. Alegria por ter vencido o desafio e por estar pisando pela terceira vez no cume dessa montanha, que é a segunda mais alta do sul do Brasil, perdendo em altura somente para o Pico Paraná. E frustração por mais uma vez não conseguir ver nada da bela paisagem que se vê lá do alto. Estava tudo branco, uma nuvem baixa deixava tudo branco em volta. Eventualmente era possível ver o Itapiroca no lado direito da montanha e mais nada. Definitivamente o Caratuva não gosta de mim! Justo ele que foi a primeira montanha que subi naquela região, no distante ano de 2008.

Achei uma pedra num canto, me sentei e lanchei. Logo comecei a ouvir raios e trovões bem próximos e resolvi iniciar logo a descida. Com temporal é perigoso ficar no alto da montanha, pois as antenas que ali existem costumam “puxar” raios. É bem visível nos cabos de aço que seguram as antenas, marcas de descargas de raios. Mal comecei a trilha de descida e caiu o maior temporal. Desci rápido até chegar na parte de floresta e dessa forma me senti mais protegido dos raios que escutava cair próximos de onde estava. A trilha se transformou numa grande enxurrada com a água que descia do alto da montanha. A descida prometia ser difícil e perigosa com tanta água na trilha.

Encontrei três membros do grupo de Ponta Grossa e parei para falar rapidamente com eles. Tinham decidido que continuariam a subida e acampariam no cume do Caratuva, mesmo com chuva. O restante do grupo tinha dado meia volta e desistido de acampar no cume. Me pediram para avisar os que desciam, que eles acampariam no Caratuva. Voltei a descer a montanha e logo encontrei o restante do grupo de Ponta Grossa. Dei o recado e resolvi descer junto com eles, pois era mais seguro do que descer sozinho. Durante boa parte da descida a chuva nos fez companhia. Conversamos um pouco e descobri que os quatro eram uma família, formados por pai, mãe, filho e nora. Acabei fazendo amizade com eles e na encruzilhada das placas, até tiramos foto juntos.

Walter, Berenice, Junior e sua esposa, formavam um grupo divertido e até o final da descida todos acabaram sofrendo ao menos uma queda. Sem querer acabei gravando a Berenice caindo próximo ao Getúlio. Eu tive uma queda daquelas bobas, quando meu pé direito tropeçou no meu pé esquerdo e caí de lado no mato. Fora o orgulho ferido, tive apenas um pequeno esfolado no cotovelo direito e uma mancha roxa enorme que surgiu no dia seguinte próximo ao cotovelo. Montanha sem queda, não é montanha…

Quase chegando na Fazenda Pico Paraná, a esposa do Junior (cujo nome não lembro) sofreu duas quedas em sequência. Ela ficou meio inconformada com isso, mas disse que as pernas não obedeciam mais…

Já na fazenda dei baixa na minha ficha de entrada, me despedi dos novos amigos pontagrossenses e mesmo molhado e enlameado, peguei o carro e resolvi partir antes de escurecer. A estrada que leva da Rodovia Régis Bitencourt até a Fazenda Pico Paraná, estava em péssimas condições e depois da chuva que tinha caído eu não queria passar por ela com o escuro da noite. Mesmo com chuva a viagem até Curitiba foi tranquila e apesar da frustação de mais uma vez só ver nuvens no cume do Caratuva, o bate e volta até a montanha foi válido.

Pouco mais de uma hora de subida.
No Getúlio.
Descanso no Getúlio.
A clássica foto nas plaquinhas.
Subida difícil.
A bela vista da represa.
Caixa de cume no Caratuva.
Marco geodésico no Caratuva.
No cume do Caratuva pela terceira vez.
O Itapiroca aparecendo entre nuvens.
Lanche no Caratuva.
Antenas no alto do Caratuva.
Na descida, com os amigos de Ponta Grossa.

O ataque de 24 horas ao Pico Paraná – Parte 2

Continuação da postagem anterior…

Ficamos no cume do PP por cerca de uma hora. E o que chamou bastante atenção foi um cachorro que estava no cume. Reconheci ele como sendo da Fazenda Rio das Pedras. Ele ficava pedindo comida para todos que chegavam no cume e começavam a lanchar. Todo mundo ficava perguntando como ele tinha passado pela Carrasqueira. O cachorro era muito esperto e ganhou bastante agrados e comida. Fico imaginando como foi que ele encontrou um caminho para chegar até ali e quantas vezes por semana ele decide subir até o cume.

Após descansar e lanchar, Eliane e eu demos uma volta pelo cume, tiramos fotos e observamos a paisagem de todos os lados. Tinham algumas nuvens que ficavam encobrindo parte da paisagem, mas logo o vento mudava essas nuvens de lugar. Assinamos o caderno de cume, que fica guardado numa caixa metálica presa sobre um pedra. Mais algumas fotos, uma última olhada na paisagem e pouco depois do meio dia resolvemos iniciar o caminho de volta. O cume de uma montanha é somente a metade do caminho, então sempre é bom guardar energia para o retorno. Energia eu tinha, o que estava incomodando era a dor nas costas.

Quando seguimos para a trilha para iniciar a descida, tivemos que parar para dar passagem a algumas pessoas que estavam chegando. Logo iniciamos a descida, onde na primeira parte o mais difícil era transpor uma pedra com alguns grampos. Devido ao vai e vem de pessoas subindo e descendo a montanha, os grampos e parte das rochas estavam com barro e isso demandava cuidado extra para não escorregar e cair. Tive muita dificuldade em alguns trechos onde era necessário esticar a perna para descer, pois sentia uma dor muito forte ao esticar minhas pernas. Mas ficar parado no alto da montanha não era uma opção, então fui suportando as dores e descendo mais lentamente do que deveria. A Eliane estava bem e aparentemente não teve maiores problemas para descer.

Quando chegamos no acampamento A2, fizemos uma parada mais longa para descansar e tirar fotos. Também dividimos o resto de nossa água. Ali perto existe uma bica, mas chegar até ela é um pouco complicado e com as dores que sentia, achei melhor não pegar água no A2. O sol ficou encoberto pelas nuvens e era possível ver que algumas nuvens encobriam o cume do PP. Quem chegou mais tarde ao cume não deve ter visto muita coisa lá do alto. Demos sorte de termos chegado ao cume com o tempo relativamente limpo.

Saímos do A2 e continuamos descendo, tomando cuidado com a trilha que continuava molhada e lisa em muitas partes. Mesmo tendo feito algumas horas de sol durante o dia, o barro era tanto nas trilhas que não secou com o sol. Pelo caminho fomos encontrando bastante gente que subia com mochilas cargueiras nas costas. Esse pessoal planejava acampar no A2 ou no cume do PP. Quando vinha alguém subindo, sempre dávamos passagem e dessa forma aproveitávamos para descansar rapidamente enquanto ficávamos parados ao lado da trilha esperando o pessoal passar.

O sol voltou a aparecer quando chegamos na Carrasqueira. Descer aqueles paredões cheios de grampo e cordas é sempre mais difícil do que subir. E para piorar, os grampos estavam molhados e alguns com barro, pois muita gente passou por ali na última hora com as botas cheias de barro. Estava muito escorregadio e o cuidado teve que ser triplicado. A Eliane seguiu na frente. Depois ela me confidenciou que sentiu um pouco de medo nesse trecho e que não gostaria de passar por ali novamente. Eu só senti medo na metade da descida, quando escorreguei com os dois pés num grampo que tinha barro e fiquei meio pendurado segurando firme com as mãos o grampo que ficava pouco acima de minha cabeça. Foi um susto de sentir frio na barriga. Quase no final da Carrasqueira vi o cachorro que estava no cume, descendo pelo mato ao lado. Ele tinha descoberto um caminho que passava pelo lado das rochas, andando numa inclinação que humanos não conseguiriam. Esse cachorro realmente era muito esperto!

Vencida a Carrasqueira, descemos mais um pouco pela trilha e daí começou a parte de subida. Na subida sentia dores fortes toda vez que precisava erguer as pernas um pouco mais alto para vencer algum obstáculo. Estava muito mais lento do que deveria e comecei a me preocupar com o atraso que nos deixaria no escuro durante a travessia de parte da floresta. Para piorar ainda mais as coisas, a sede começou a apertar e a boca ficou seca. Mesmo com as dificuldades seguimos em frente, pois não tínhamos outra opção. Quando estávamos quase chegando no acampamento A1, o sol se escondeu de vez e nuvens cobriram o céu. Isso fez a temperatura baixar um pouco.

Passámos pelo A1 e entramos na trilha pelo meio do mato, que parecia estar ainda mais molhada e lisa do que pela manhã quando ali passámos. Eu e Eliane usávamos luvas e muitas vezes segurávamos em galhos e matos ao lado da trilha para não cair quando escorregávamos. E como tudo o que está ruim pode ficar ainda pior, começou a chover. Essa chuva durou mais de três horas e nos acompanhou até depois do Getúlio.

A sede foi aumentando e não via a hora de chegar no primeiro riacho da trilha. Saímos na parte limpa cheia de caratuvas, demos a última olhada para o PP que estava parcialmente encoberto e seguimos para a floresta. Depois do A2 não tirei mais nenhuma foto, pois estava tão cansado e com dores, que não tinha nenhum animo para fotos. Quando entramos na parte da floresta a chuva aumentou um pouco. A trilha cada vez mais lisa ia alterando subidas e descidas por entre pedras, galhos e raízes de árvores. Em muitas partes era necessário fazer pequenas escalaminhadas. Toda vez que tinha que erguer a perna para passar por algum galho, sentia fortes dores nas costas. Comecei a ficar preocupado em travar e não conseguir mais andar. A última coisa que eu queria era precisar ser resgatado. O jeito for reunir forças, suportar a dor e seguir em frente.

Finalmente chegamos num riacho e pouco acima da trilha a Eliane encontrou um local para pegar água. Se não estava cem por cento limpa, ao menos a água não tinha sabor ruim e estava geladinha. Nessa parada ao lado do riacho, além de matar a sede fizemos um pequeno lanche com o resto da comida que tínhamos levado. Resolvido o problema da sede seguimos em frente, andando pelo meio da mata na trilha lisa e molhada e vencendo os muitos obstáculos. Pouco depois das 19h00min escureceu e tivemos que ligar as lanternas. A minha estava quase zerada, mas mesmo assim consegui andar algum tempo com ela. Quando escureceu de vez ficamos somente com a lanterna da Eliane. Ela seguia na frente, andava um pouco, parava, se virava e iluminava o caminho para eu poder passar. Isso nos fez atrasar ainda mais a volta. Mas não tínhamos outra opção. Minha maior preocupação era dar pane na lanterna dela, pois aí sim estaríamos enrascados. Sem lanterna não tem como andar naquele lugar, pois andar no escuro ali é quase suicídio.

A chuva continuou nos fazendo companhia, às vezes mais forte e outras vezes menos. Estávamos parcialmente molhados e isso nos deixava com um pouco de frio. E descobri que minha bota impermeável não era assim tão impermeável. Ela não suportou as horas andando no barro sob chuva e fiquei com os pés molhados. Nossa situação não era das mais cômodas, pois tínhamos fome, nossa água era pouca, tínhamos somente uma lanterna, o que nos obrigava a fazer revezamento, chovia, sentíamos frio, eu sentia cada vez maios dores nas costas. E somado a isso tudo comecei a ficar preocupado com relação aos nossos amigos que estavam nos esperando e deviam estar preocupados com nosso atraso e falta de notícias. Diante de todos os problemas, só nos restava seguir em frente e foi o que fizemos. Pelo caminho encontramos algumas poucas pessoas que subiam a montanha. Mas depois de certo horário não vimos mais ninguém subindo.

Chegamos na bica de água que fica na parte final da floresta. Ali me sentei numa pedra e a Eliane foi encher nossas garrafinhas com água. O sabor da água da bica era bem melhor do que da água do riacho. A chuva deu uma aumentada e quando o frio começou a apertar, seguimos em frente. A Eliane foi guerreira, sempre indo na frente escolhendo o melhor caminho e ao mesmo tempo iluminando o meu caminho e me ajudando em alguns trechos mais difíceis, principalmente em descidas onde eu tinha mais dificuldade por culpa das dores. Se não fosse ela, acho que teria que ter sido resgatado.

Finalmente chegamos nas plaquinhas na encruzilhada das trilhas. Ali era o final da floresta, cuja descida por ela foi com certeza a pior e mais demorada parte da aventura. Seguimos pela trilha em direção ao Getúlio e quando saímos da parte de mata, a chuva e o vento começaram a nos castigar. O cansaço e dores me fizeram ficar lento de raciocínio e quando chegamos no Getúlio fiquei em dúvida sobre qual trilha seguir. Até então só tinha passado por ali a noite durante subidas e nunca em descidas. Meu receio era pegar uma trilha errada e nos perdemos. A bateria de nossa única lanterna estava quase no final e não podíamos nos dar ao luxo de pegar uma trilha errada e nos atrasarmos ainda mais. Seguimos devagar e com cuidado, prestando atenção na trilha e quando a chuva deixava, nas montanhas em volta. Esse foi o único momento em que senti a Eliane preocupada durante a descida. Vimos o clarão de duas lanternas vindo da mata atrás de nós e resolvemos esperar. Era um casal que andava rápido e logo se aproximou de onde estávamos. Pararam quando nos viram e contamos que estávamos em duvida sobre a trilha e nos disseram para segui-los. Foi difícil acompanhar o ritmo deles, mas no momento eles eram nossa salvação. Em dois momentos eles erraram a trilha. Passamos por algumas pessoas que estavam acampando no Getúlio. O cara que seguíamos pediu informação sobre qual trilha seguir e o pessoal de uma barraca indicou a direção correta. Mais alguns minutos e finalmente encontramos a trilha certa. Aí eu e Eliane diminuímos o ritmo e deixamos o casal seguir em frente. A lanterna da Eliane ficou de vez sem bateria e ela pegou o celular para iluminar a trilha. A luz do celular era forte, a bateria estava cheia e o celular foi nossa salvação. Sentia cada vez mais dores nas costas e minhas pernas meio que começaram a travar. Era meu nervo ciático avisando que tinha sido machucado.

A parte final não é das mais difíceis, pois é quase toda em descida e somente em algumas partes tem obstáculos. Mas a trilha estava tão molhada e lisa que levamos alguns escorregões feios. Caí sentado duas vezes. A chuva parou e durante alguns minutos a lua cheia deu as caras. Eu cada vez mais lento e travado. Em alguns trechos a Eliane tinha que segurar minha mão e me ajudar a descer pequenos obstáculos. Nunca tinha sofrido tanto numa trilha e dado trabalho. Se não fosse pela ajuda da Eliane eu não teria conseguido chegar ao fim. Não inteiro! Fica aqui meu agradecimento a ela, pela ajuda e por não ter reclamado em nenhum momento. E ela sabe que se fosse ao contrário, eu a teria ajudado da mesmo forma.

Eram quase 23h00min quando chegamos na última encruzilhada e seguimos pela larga trilha que leva até o IAP. Quase não tinha forças, mas cheguei ao final. Foram quase 24 horas para subir e descer o Pico Paraná de ataque, sendo que próximo a 21 horas de efetiva caminhada. Tivemos muitas dificuldades, vários problemas, bem mais do que imaginaríamos ter. Mas não desistimos, seguimos em frente contra todas as dificuldades e obstáculos. Foi uma jornada e tanto! O que nos moveu foi a força de vontade, onde o foco era sempre seguir em frente e desistir jamais. Essa aventura foi um grande treinamento para nossa vida cotidiana. Nosso cérebro é exercitado, condicionado a seguir em frente mesmo diante de dificuldades e obstáculos que parecem ser intransponíveis.

No IAP demos baixa no cadastro que tínhamos feito antes da subida e fomos informados que dois amigos nossos tinham passado ali alguns minutos antes querendo saber informações sobre nós. Eles estavam preocupados com nosso atraso. O atendente do IAP informou que eles estavam nos esperando na Fazenda Pico Paraná e fomos ao encontro deles. Vi o Roberto sentado em uma pedra e quando ele me viu veio todo alegre me dar um abraço. O André logo apareceu e contou que falaram com o casal que nos ajudou no Getúlio, que contou que nos viu e que estávamos descendo lentamente. O André estava de carro e não recusamos a carona até a Fazendo Rio das Pedras, que não ficava longe dali.

Chegando no chalé fui tomar um longo banho quente. Sentia dores fortes nas costas e tive muita dificuldade para me abaixar e vestir roupas limpas. Logo depois foi a vez da Eliane tomar banho e depois jantamos. Na mesa tive rápidos cochilos, pois faziam quase 30 horas que estávamos sem dormir. De barriga cheia tomei um remédio para dor e fui me  deitar. A cama quente e confortável foi um prêmio para nossos corpos cansados e desgastados. Dormimos por várias horas um sono profundo. E o sentimento de ter vencido tantas dificuldades é um sensação difícil de explicar. Mas é um sentimento gostoso. Se voltaremos a subir o PP um dia, somente o tempo vai dizer. Particularmente acho que dou por encerrado minhas aventuras no PP. Foram três cumes lá, então acho que chegou a hora de me aventurar por montanhas mais baixas e mais fáceis, onde meus problemas físicos não atrapalhem tanto. A Eliane disse que do PP não quer mais saber, pois ficou meio traumatizada com a descida pela Carrasqueira com os grampos lisos. Mas não sabemos o dia de amanhã! Quem sabe no futuro não mudemos de ideia e voltamos a nos aventurar pelas encostas do PP? Quem viver verá…

No cume do Pico Paraná, 16/04/2022 – 10h40min.
As nuvens alteram a paisagem a todo instante.
Merecido descanso no cume do PP.
O cão pidão, no cume do PP.
Momento de contemplação e comemoração.
Um dos lados do cume do PP.
Eliane, mulher de muita fibra.
Começando a descer o PP.
Sofrendo com dores nas costas.
Eliane inciando a descida da Carrasqueira.

O ataque de 24 horas ao Pico Paraná – Parte 1

 

Já estive duas vezes no cume do Pico Paraná (PP), em ambas acampando no A2 e partindo para o ataque ao cume de madrugada. Mas sempre defendi que isso não era o ideal, pois subir com mochilas cargueiras até o acampamento A2 era muito sacrifício. Subir pela Carrasqueira com mochilas pesadas nas costas, sempre achei algo insano. Nessa terceira tentativa de chegar ao cume do PP, finalmente poderia provar minha tese de que era melhor fazer o ataque ao cume saindo da Fazenda Pico Paraná, Fazenda Rio das Pedras ou do IAP, levando apenas uma pequena mochila de ataque.

Estava bem descansando após um ótima noite de sono, alojado em um chalé na Fazenda Rio das Pedras. Durante o dia tinha passeado pelo local, tinha feito boas refeições, dormido um pouco a tarde e para relaxar tinha até assistido um filme na Netflix, através do aplicativo do celular. Ás 22h00min tomei um banho para despertar, me vesti e arrumei a mochila de ataque, com água, Gatorade, garrafa térmica com capuccino, lanches doces e salgados e o equipamento básico que pretendia utilizar. A mochila devia estar pesando uns cinco quilos.

Junto comigo seguiriam a Eliane, em sua primeira vez no Pico Paraná, mas já tendo tido experiência em montanha na região do Pico Marumbi. Também seguiria a Carla, em sua primeira experiência numa montanha. Outro parceiro de subida seria o André, que já esteve no A2 do  Pico Paraná, esteve no Taipa e no Pico Agudo. E o companheiro mais experiente nesse ataque seria o Roberto, que já esteve no Taipa e chegou duas vezes ao cume do Pico Paraná. O grupo mesclava pouca com muita experiência e todos tinham se preparado fisicamente para o desafio que iriamos enfrentar. A única incógnita era saber se o André suportaria as dores em seu joelho esquerdo, que tinha machucado pouco tempo antes jogando futebol.

Saímos do chalé na Fazenda Rio das Pedras às 23h00min e seguimos até o IAP para preencher a ficha de subida, pois isso nos garantia uma certa segurança em caso de nos perdermos ou nos machucarmos na montanha. Fazia frio mas o céu estava limpo, sem nuvens e com uma bela lua cheia iluminando a paisagem. Partimos do IAP às 23h18min e resolvemos seguir pela trilha que saí da Fazenda Pico Paraná. Nos primeiros minutos tentei manter um ritmo leve, dando passos curtos e respirando fundo. Sempre achei esse trecho inicial o mais difícil, pois o corpo ainda não está adaptado ao esforço e não se encontra devidamente aquecido. Em subidas anteriores que fiz, não somente ao Pico Paraná, como também ao Caratuva e ao Itapiroca, já vi pessoas querendo desistir justamente nesse trecho inicial.

Passada a primeira meia hora meu corpo foi aquecendo e a caminhada seguiu normal. Fizemos breves paradas para descanso e assim fomos avançando montanha acima. Utilizava um casaco sem mangas e levei um casaco mais quente na mochila, para quando começasse a sentir muito frio. Até o Getúlio nossa caminhada foi relativamente tranquila. Chegando no Getúlio o tempo fechou, ventava forte e chovia. Passámos rápido por essa região e logo entramos na mata novamente, o que nos protegia um pouco da chuva. Quando paramos na encruzilhada onde ficam as plaquinhas que indicam as trilhas para as várias montanhas do lugar, fizemos uma parada para descanso um pouco mais longa. A partir dali começaria a parte que menos gosto da subida, que é a parte da floresta. Nessa parte quase sempre estamos subindo e tem muitos galhos, pedras, cordas e grampos para transpor. Para piorar, o terreno ali estava muito molhado, com barro e em algumas partes um lamaçal de dar medo.

Nosso plano inicial era chegar ao cume do Pico Paraná até 06h30min, para ver o sol nascer lá do alto. Mas quando vi como estava difícil a trilha na parte da floresta, percebi que não daria tempo de chegar ao cume no horário previsto. Por culpa da dificuldade do terreno, avançávamos mais lentamente do que deveríamos. Para mim o importante era avançar e chegar ao cume, já não importando mais o horário, tanto fazia chegar antes ou depois do sol nascer. Queria era chegar no cume e me concentrei e foquei muito nisso. Os demais membros do grupo seguiam com raça e vontade. Apenas a Carla mostrava sinais de estar sofrendo um pouco, o que era compreensível, pois essa era a primeira vez dela numa montanha. Ali na floresta cheguei à conclusão de que tinha sido um erro escolher o Pico Paraná como a primeira montanha dela. Seria melhor ter escolhido uma montanha mais fácil para o debute da Carla. Mas estando ali não dava mais para mudar isso.

Seguimos avançando pela floresta, vencendo os lisos, molhados e escorregadios obstáculos. Essa era a quarta vez que subia por ali, desde minha primeira vez no local em 2008. E confesso que foi a vez mais difícil, devido ao estado do terreno, ao frio e a chuva. Minha lanterna ficou fraca muito antes do previsto e isso me deixou um pouco preocupado, pois tinha baterias extras que previa utilizar somente dali umas duas horas. Segui com a lanterna clareando pouco, procurando enxergar o caminho através da lanterna da Eliane e do André, que seguiam na minha frente. Fizemos algumas paradas para descanso, que não podiam ser muito demoradas para que o corpo não esfriasse.

Passava um pouco das 04h30min quando o Roberto informou que ele e a Carla iam voltar, que o terreno estava muito difícil e perigoso e que ela estava tendo muita dificuldade. Achei a decisão dele assertiva, pois eu que tenho uma boa experiência em montanhas estava sofrendo um pouco, imagina a Carla em sua primeira experiência. O André resolveu voltar também, pois estava sentindo dores no joelho machucado e achou melhor parar ali do que seguir em frente tendo o risco de machucar ainda mais o joelho. Os três retornaram e junto com a Eliane segui em frente. A Eliane estava me surpreendendo, pois seguia na frente sem medo, escolhendo sempre o melhor lugar para pisar ou se segurar. E assim seguimos por mais 40 minutos até sair da floresta. A chuva parou e o céu ficou limpo e cheio de estrelas. Chegamos na parte das caratuvas (uma planta abundante naquela região) onde era possível avistar o Pico Paraná e o dia clareando por trás dele, o que deixava uma visão muito bonita. Ali achei que o pessoal devia ter seguido mais um pouco e dado meia volta naquele local, após a Carla ver o Pico Paraná. Seria um prêmio para o esforço dela ao menos ver a montanha. Mas como só pensei nisso ali, era tarde para dar tal sugestão. Vida que segue!

Fizemos rápida parada para descanso e para observar a beleza da paisagem, que mesmo a noite era maravilhosa. Voltamos para a trilha e tive um pouco de dificuldade para encontrar o caminho. Voltamos a caminhar pelo meio do mato, que cada vez ficava mais molhado e com barro. Minha lanterna morreu de vez e achei melhor trocar a bateria. Seguimos durante cerca de 20 minutos pela trilha enlameada e molhada, até que fiquei na dúvida sobre estar seguindo pelo caminho correto. Tinha passado outras vezes ali durante o dia, mas no escuro da madrugada acabei ficando com receio de estar seguindo pela trilha errada. Sugeri a Eliane voltarmos até as caratuvas e ali esperar o dia nascer. E assim fizemos o caminho de volta, mais 20 minutos pelo meio do mato até chegar nas caratuvas. Procuramos um local um pouco mais protegido e sentamos numa pedra para esperar o dia amanhecer.

O local que escolhemos não era dos mais protegidos e de vez em quando batia um vento de congelar. A temperatura era de seis graus e quando tinha vento a sensação térmica baixava bastante. Tirei meu casaco e dei ele para a Eliane, peguei o casaco mais quente que estava na mochila e vesti. Assim conseguimos nos proteger um pouco melhor do frio, mas não totalmente. Peguei minha garrafa térmica e tomei o capuccino que ainda estava quente. Cerca de uma hora depois descobriria que beber o capuccino foi uma péssima escolha, pois ele me fez mal ao estômago e fiquei um longo tempo sofrendo com tal incomodo. Ficamos meia hora sentados esperando o dia amanhecer e mesmo sofrendo um pouco com o frio, valeu apena ver o sol nascendo por trás do Pico Paraná.

Para não passar mais frio resolvemos voltar a caminhar, dessa vez sem precisar usar as lanternas. Seguimos pelo mesmo caminho pelo qual tínhamos retornado e mais tarde descobrimos que esse era o caminho correto. Esse trecho pela mata também foi bem difícil, por conta do barro e da trilha molhada. Chegamos no acampamento A1 quando o sol já aparecia no céu e amenizava um pouco o frio. Tinham algumas pessoas acampando no A1 e falamos rapidamente com algumas delas. Tivemos um pouco de dificuldade para encontrar a trilha e recebemos ajuda, com pessoas indicando a trilha correta a seguir. Essa trilha seguia pelo meio das caratuvas e não estava tão molhada. Paramos tirar algumas fotos e também para observar a linda paisagem do amanhecer no meio das montanhas. Voltamos a caminhar, dessa vez descendo pela trilha até chegar na encosta do Pico Paraná.

Pela frente mais um trecho desafiador, que era passar pela Carrasqueira, que são dois paredões de rocha quase na vertical, com cordas e grampos. Quem tem medo de altura ou sofre com vertigens, não pode encarar tal desafio. Ao menos subir da menos medo que descer, pois você olha para cima a procura do próximo grampo ou corda e dessa forma não se preocupa tanto com a altura em que está. A Eliane seguiu na frente e se sentiu medo não demonstrou. Não gosto de altura, mas já fiz tantas aventuras em altura, que aprendi como dominar meu medo e seguir em frente. Vencida a Carrasqueira seguimos em frente, alternando trilhas sob sombra, quando sentíamos um pouco de frio, e sob sol, quando nos sentíamos aquecidos. Paramos algumas vezes para tirar fotos rápidas e seguimos em frente. E assim chegamos no acampamento A2.

O A2 não estava muito cheio, mas tinha bastante gente acampada por lá. Fizemos uma breve parada para descanso e seguimos em frente. Nas outras vezes em que estive no Pico Paraná, do A2 até o cume levei uma hora. Mas dessa vez por culpa do terreno ruim fizemos o trecho até o cume em um tempo maior. Em algumas partes da trilha tinha um barro preto, fedido e em algumas partes muito fundo. Nunca tinha visto algo igual, tal barro fazia lembrar da areia movediça que vemos nos filmes. Teve um momento em que pisei nesse barro e minha bota do pé esquerdo quase ficou perdida no meio do barro. Pela trilhas fomos encontrando pessoas subindo e descendo, na verdade mais pessoas descendo do cume do que subindo. Esse pessoal devia ter subido na madrugada para ver o nascer do sol e agora estava descendo. Sempre que encontrávamos alguém, tanto descendo quando subindo, parávamos para dar passagem a eles. Dessa forma podíamos descansar um pouco e continuar seguindo no ritmo em que estávamos.

Nesse trecho da trilha existem alguns grampos e num deles ergui demais a perna para alcançar o próximo grampo e acabei dando mal jeito nas costas. Tenho duas hérnias de disco, que quando submetidas a esforço extremo costumam reclamar e doer e foi isso o que aconteceu. A partir desse momento em que senti dor nas costas, meio que perdi o encanto pela subida do PP. A partir daí segui na raça, superando as dores que sentia e cuidando para que o problema não ficasse mais grave. As dores, somadas ao cansaço, mais uma certa tremedeira que normalmente tenho, fez que em alguns trechos que demandavam mais esforço, minhas mãos tremessem muito. Isso fez com que uma moça que descia a montanha e me viu tremendo, ficasse preocupada achando que eu estava passando mal. Ela me ofereceu um carbogel, mas recusei e agradeci educadamente a oferta. Legal isso de um tentar ajudar o outro. Tal coisa é comum nas montanhas, mas sempre existem as exceções, aquelas pessoas que não estão nem aí para as outras, que não são nada gentis ou educadas. Felizmente isso é minoria!

Seguimos em frente e exatamente às 10h40min chegamos no cume do Pico Paraná. Estávamos no ponto culminante do sul do Brasil, sob um sol que se não era dos mais quentes, servia para queimar um pouco nossa pele. Era minha terceira vez no cume do PP e a primeira vez da Eliane. Estava mais cansado do que ela e com as dores nas costas não curti tanto estar ali no cume, como curti das outras duas vezes que ali cheguei. Nos sentamos numa pedra e enquanto descansávamos ficamos curtindo a linda paisagem em volta. Também aproveitamos para lanchar, beber água e dividir um Gatorade. E registramos nossos nomes no caderno de cume, que fica numa caixinha em cima de uma pedra. Estava preocupado com minhas dores, já pensando na descida. Sabia que descer com dor seria complicado e nos atrasaria. Outra preocupação era com relação a minha lanterna, pois sabia que ela não teria bateria suficiente para descer no escuro caso nosso atraso na descida fosse grande e o escuro nos alcançasse antes do previsto. Não externei muito minhas preocupações para a Eliane, pois não tinha porque deixá-la preocupada naquele momento. Queria que ela curtisse sua conquista e aproveitasse ao máximo os minutos que ficaria ali no cume. A descida e seus problemas, deixaria para me preocupar conforme eles acontecessem.

Continua na próxima postagem…

Prontos para sair no frio e encarar a montanha.
Vander, Carla, André, Roberto e Eliane.
Eliane chegando no Getúlio.
O dia nascendo por trás do Pico Paraná.
Frio de 6 graus.
Amanhecer com o Pico Paraná ao fundo.
No acampamento A1.
O sol apareceu para aquecer um pouco.
O sol surgindo ao lado do PP.
André, Carla e Roberto no retorno a Fazenda Rio das Pedras.
Já é possível ver pessoas no cume.
Último esforço antes de chegar ao cume…
Após quase 12 horas, finalmente chegamos no cume do Pico Paraná.

Feriado na Fazenda Rio das Pedras

Aproveitando o feriado da sexta-feira santa, peguei dispensa do trabalho na quinta-feira a tarde e junto com Eliane, André, Roberto e Carla, segui para a região de Campina Grande do Sul, cerca de 50 quilômetros após Curitiba. Nosso destino era a Fazenda Rio das Pedras, que fica ao lado da Fazenda Pico Paraná. As duas fazendas são o portão de entrada para as altas e belas montanhas que existem na região. As principais são o Pico Paraná e o Caratuva, respectivamente as duas maiores montanhas do sul do Brasil.

A viagem foi tranquila e conversamos e rimos muito. O mais difícil foi suportar a trilha sonora que o André colocou para tocar. Como o carro era dele, tinha direito de escolher as músicas. Fizemos uma parada no meio do caminho, pouco antes de chegar em Ponta Grossa. Nossa parada foi numa lanchonete especializada em pão de queijo. Depois dessa parada assumi a direção do carro e seguimos em frente, chegando em Curitiba quando já estava escuro. Por ser véspera de feriado o trânsito estava lento e atrasou um pouco nossa viagem.

Já quase no final da viagem, logo após sairmos da Rodovia Régis Bitencourt e entrarmos numa estrada de terra com muitas subidas e buracos, tivemos o primeiro problema da viagem. O carro morreu no meio de uma subida e para sair do lugar os passageiros tiveram que descer e alguns ajudarem a empurrar o carro, que por muito pouco não caiu em uma valeta ao lado da estrada. Felizmente deu tudo certo e chegamos em segurança na Fazenda Rio das Pedras. Passava um pouco das 21 horas, fazia frio e garoava.

Tiramos as bagagens do carro, nos ajeitamos nos três quartos do chalé de madeira que alugamos e nos reunimos para decidir o que fazer. O plano inicial era chegar e logo depois partir para o ataque ao Pico Paraná. Como estávamos cansados da viagem, que demorou mais que o planejado e fazia frio e chuviscava, por votação foi decidido adiar o ataque para a noite seguinte. Depois disso o jeito foi tomar banho e jantar uma deliciosa lasanha feita pelo Roberto. Em seguida cama, um merecido descanso após pouco mais de 500 quilômetros de viagem.

Na manhã seguinte cada um levantou num horário diferente. Após o café da manhã fomos passear pelo lugar, que é muito bonito. Fizemos uma rápida parada numa lanchonete para usar o wi-fi e depois fomos andar ao lado do rio que passa atrás do chalé. O rio é raso, a água transparente e muito gelada. Algumas fotos e voltamos para o chalé. Teve roda de chimarrão e bate papo e logo voltamos ao rio, dessa vez para entrar na água. Foi preciso muita coragem para entrar na água congelante. Era difícil entrar, mas após um minuto dentro da água o corpo acostumava com o frio e ficava relaxante a experiência.

De volta ao chalé teve almoço e a tarde foi de descanso. Aproveitei para dormir um pouco e depois deu até para assistir um filme da Netflix, devidamente baixado no aplicativo instalado no celular. Depois foi banho, janta e mais um pouco de descanso visando o ataque ao Pico Paraná logo mais tarde. Sobre tal ataque você pode ler na próxima postagem…

Pé na estrada…

Entrada da Fazenda Rio das Pedras e a direita o IAP.

Relaxando na água extremamente fria.
Roberto e o dog.
Vander e Eliane

Parque Estadual Marumbi

Comecei o ano junto com a Eliane, desbravando o Parque Estadual Marumbi. Passámos dois dias andando pelo Parque. Fazia alguns anos que não visitava o lugar e constatei que as casas e as estações Engenheiro Lange e Marumbi, estão em péssimo estado de conservação.

Também caminhamos um pouco pelo Caminho do Itupava. O mesmo está fechado desde o início da pandemia e a trilha está suja, com muito mato e cobras. O camping do Marumbi também está fechado e o horário restrito, você precisa sair do Parque até 17 horas. Isso atrapalhou muito nossos planos, pois tivemos que ficar num camping distante seis quilômetros do Parque. E por conta do horário restrito de visitação, não chegamos ao cume do Marumbi.

Apesar dos pesares, foram dois dias muito agradáveis visitando o Parque Estadual Marumbi. O que nos fez sofrer bastante foi o calor intenso, mas no geral valeu o passeio.

Tinha uma cobra no caminho…

Caminho do Itupava.
Caminho do Itupava.

Com Waldemar Niclevicz, o maior montanhista brasileiro.
Estação Marumbi.

O camping está fechado há muito tempo.

 

De volta ao Caratuva

No feriado de 15 de novembro, estive pela segunda vez no cume do Pico Caratuva, que é a segunda montanha mais alto do sul do Brasil, com 1.860 metros de altitude. A outra vez que estive nessa montanha foi em novembro de 2008. Na época eu ainda morava em Curitiba, então era mais fácil ir até a Fazenda Pico Paraná e iniciar a subida da montanha, pois a distância da fazenda até minha casa era de apenas 50 quilômetros. Atualmente moro a 500 quilômetros de distância, então a ida até lá demandou uma certa organização, tempo e gastos.

Saímos de Campo Mourão em dois carros, com quatro ocupantes cada um. Pegamos estrada no início da tarde de sábado, com um calor na casa dos 30 graus. Chegamos na Fazenda Pico Paraná a noite e com uma temperatura de 14 graus. Nós ficaríamos alojados em um chalé na Chácara Rio das Pedras, que fica ao lado da Fazenda Pico Paraná. Lá nos esperavam mais dois caras de Joinville – SC, que subiriam a montanha conosco e um amigo deles que não subiria. A viagem foi cansativa e após ajeitarmos as coisas e comermos, fui dormir.

Acordei às 02h30min, após ter dormido pouco mais de três horas. Fiz uma descoberta nem um pouco agradável. Cometi um erro de iniciante, esquecendo minhas botas. Tinha levado apenas um tênis velho, cujo solado estava completamente liso. Subir com aquele tênis por trilhas molhadas e cheia de barro era algo perigoso. Por alguns momentos cogitei desistir de subir o Caratuva, mas resolvi arriscar, sabendo que sofreria muitos escorregões com aquele par de tênis liso e teria que tomar muito cuidado para não sofrer nenhuma queda.

Fazia ainda mais frio. Rapidamente me arrumei e saí com os outros nove integrantes do grupo, rumo a montanha. O plano era ver o sol nascer lá do alto. O início da caminhada sempre é difícil, pois o corpo está meio frio e travado. Tinha chovido durante a semana naquela região e encontramos muito barro pelo caminho. Após duas horas de caminhada, um dos companheiros desistiu, devido a dores no joelho e deu meia volta. Começou a ventar forte e cair uma fina garoa.

A subida não foi das mais fáceis, mas seguimos em frente e nosso grupo acabou se separando, pois alguns seguiam mais rápidos e outros menos. Eu era um dos que ficou no grupo mais lento, pois desde o início vinha fechando o grupo. Devido a trilha ruim que encontramos, logo que o dia começou a clarear percebemos que não conseguiríamos chegar ao cume antes do nascer do sol. Logo baixou uma neblina densa o que era sinal de que no alto da montanha devia estar com o tempo fechado e não seria possível ver o sol nascer.

Quase que exatamente às 07h00min, atingimos o cume do Caratuva. Lá em cima estava tudo branco pela neblina, ventava e fazia muito frio. Após 13 anos eu voltava ao cume e encontrava o tempo igual da vez anterior. A vista lá do alto quando o dia está limpo é muito bonita, mas com o tempo fechado como estava não dava para ver nada. Estranhamos em não ter encontrado no cume quatro companheiros que tinham seguido na frente. Será que se perderam pelo caminho?

Ficamos uma hora no cume esperando para ver se o tempo limpava e que no mínimo pudéssemos ver o Pico Paraná lá do alto. Mas nada de o tempo limpar e ficar parado causava frio, então resolvemos descer. Na parte de trás da montanha, pelo caminho onde tínhamos subido, o tempo estava limpando e era possível ver a bela paisagem onde se destaca a Represa do Capivari. Ficamos alguns minutos admirando a paisagem e nos aquecendo ao sol.

Começamos a descer, o que teoricamente é mais fácil. Mas devido a trilha molhada e enlameada, não foi tão fácil a descida. Sem contar que ela estava mais perigosa. Era muito fácil escorregar e sofrer uma queda. Após pouco mais de uma hora de iniciarmos a descida, escorreguei e ao tentar me segurar numa árvore um pedaço de pau atravessou um dedo de minha mão esquerda. Saiu muito sangue e senti uma dor terrível. Fui socorrido pelos amigos Welison e Paulo, sendo que esse improvisou um curativo. Se a descida já estava difícil, com uma mão imobilizada e sentindo dor, o resto da descida foi ainda mais complicado. Mas ficar parado não era uma opção e o jeito foi seguir em frente.

Começamos a encontrar muita gente na trilha. Em razão do feriado, muitas pessoas tinham optado em seguir para as montanhas. Após passar frio de madrugada e no início da manhã, agora era vez de sofrer com o sol quente quando chegamos na região do Getúlio, onde a maior parte da trilha não é protegida pela sombra das árvores. Pouco antes do meio dia chegamos na Fazenda Pico Paraná e seguimos para nosso chalé. Me sentia muito cansando, com muita dor nas pernas e no dedo machucado.

Chegando no chalé, descobrimos que o Roberto, Ronaldo, Vitor e André, tinham errado a trilha e foram parar na montanha errada. Eles acabaram indo parar no Taipa. Tal erro foi motivo de muita zoação, principalmente com o Ronaldo e o André, que já tinham o histórico de ter tido problemas no Pico Paraná. Eles foram considerados pé frios de montanha.

Tomei um longo banho quente, limpei o dedo ferido e fiz um curativo mais caprichado. Fiz um lanche rápido e fui dormir. Dormi o resto do dia e a noite levantei para comer e conversar um pouco com o pessoal. O dedo machucado tinha inchado e estava latejando. Cogitei ir até um hospital em Curitiba, para dar uma olhada melhor no ferimento. Meu receio era de que alguma sujeira ou pedaço de madeira tivesse ficado dentro do dedo.

Nessa viagem o Roberto, que está fazendo um curso noturno de cozinha no Senac, foi nosso cozinheiro. Ele caprichou nas refeições e confesso que nunca comi tanto e tão bem durante uma viagem as montanhas. Ele se mostrou bem preocupado com meu dedo machucado e a noite tive tratamento vip por parte dele. A todo momento ele vinha me trazer churrasco e refrigerante, queria saber como estava meu dedo, perguntava se eu queria ir para um hospital e muita coisa mais.

Dormi cedo, tinha esfriado bastante e meu saco de dormir colocado em cima de um colchão no chão, estava bastante acolhedor. No dia seguinte levantamos cedo, arrumamos nossas coisas e pegamos a estrada de volta para casa. Meu dedo estava ainda mais inchado e doendo, o que me fez tomar alguns comprimidos para dor. Não vi necessidade de parar num hospital em Curitiba. Só fui buscar tratamento médico no dia seguinte, quando já estava em minha cidade e acordei com o dedo roxo, muito inchado e ainda mais dolorido. Tive que tomar antibióticos durante uma semana e também tomar vacina para tétano. A vacina (pra variar) me deu reação e fiquei um dia e meio muito mal, com dores pelo corpo, febre e desanimo. Mas no fim tudo deu cedo e o dedo está curado.

Essa foi uma viagem e uma aventura muito legal e nosso grupo se mostrou divertido e a parceria foi total. Agora que venham as próximas montanhas…

 

 

Vitor, Ronaldo e Cris.
Ao fundo a Represa do Capivari.
André, Vander, Roberto e Welison.

 

A Bela Adormecida do Everest

Francys Distefano Arsentiev se tornou a primeira mulher dos Estados Unidos a chegar ao cume do Monte Everest sem a ajuda de oxigênio em garrafa, em 22 de maio de 1998. Ela morreu durante a descida e ficou conhecida como “A Bela Adormecida”. Tinha 40 anos quando morreu.

Francys fez história no Everest ao atingir o cume, mas na descida algo deu errado e ela e o marido, Sergei, foram forçados a passar a noite na zona da morte e ficaram separados. Na manhã seguinte, Sergei sofreu uma queda fatal tentando resgatar Francys. Eles estavam por volta de 8.550m de altitude. Os escaladores Ian Woodall e Cath O´Dowd, chegaram até Francys às 5h00 e desistiram do cume, ficando com ela por uma hora em temperaturas extremas antes de serem forçados a deixarem agonizando e retornarem para a segurança do Campo 4. Algum tempo depois, Francys sucumbiu ao congelamento e à exaustão vindo a morrer.

Seu corpo ficou extirado próximo a trilha e devido a estar localizado em uma altitude muito alta, era muito difícil tirar ele de lá. O corpo de Francys passou a fazer companhia a outros cerca de 200 corpos que estão abandonados nas trilhas e encostas do Everest.

Anos se passaram e Woodall, que ficou com ela nas horas finais, se tornou assombrado pela incapacidade de salvá-la e muito chateado com o fato de seu corpo ter se tornado um ponto de referência. Em 2007, Woodall, retornou ao Everest especificamente para remover o corpo de Francys de vista. Woodall e um Sherpa que se voluntariou para ajudar, caminharam até o local onde ele lembrou ter deixado Francys. O plano original era criar uma lápide de pedras para ela, mas para o desânimo de Woodall, ele encontrou a área enterrada por um metro de neve. Os dois começaram a cavar e com um pouco de sorte encontraram Francys na segunda tentativa. Eles tinham corda o suficiente para abaixar o corpo dela ao longo da borda da montanha e foi isso que fizeram. Após envolverem seus restos mortais rígidos com a bandeira americana e dizerem algumas palavras, eles a desceram pela enconsta da montanha, aparentemente para o mesmo lugar onde Sergei estava. Levaram cinco horas para executar tal tarefa. Dessa forma o corpo de Francys desapareceu da vista dos montanhistas e deixou de ser ponto de referência.



Henrique Paulo Schmidlin (Vitamina)

As peripécias de Henrique Schmidlin sobre as montanhas começaram bem cedo. O menino, nascido em 1930, costumava passar as férias escolares na casa da família de sua mãe, na região de Bocaiúva do Sul. Lá, por horas admirava o sobe e desce que os morros faziam ao redor do terreno da propriedade. Um dia seu tio resolveu levá-lo até um deles. A subida exigente para as pernas de 8 anos, a possibilidade de encontrar algum bicho no caminho, a luta por entre a vegetação para alcançar o ponto mais alto, todo o percurso foi fascinante. Era apenas um morro, mas para Henrique, admirador dos aventureiros personagens dos livros do alemão Karl May, parecia um gigante desafio. Depois da primeira subida, as férias do menino passaram a ser uma alegria só. Henrique gastava todo o tempo que podia explorando cada morro que encontrava na região. Mas, ao voltar para Curitiba, onde morava, limitava-se a alguns passeios com a família, além disso, era preciso se dedicar aos cadernos e livros do colégio católico em que estudava. E foi lá que Henrique, na década de 1940, viu algo que mudaria sua vida

Um dia, em um quadro no colégio, viu pendurada uma folha que estampava a figura de uma montanha. O menino parou, encantado com aquele desenho: no mesmo instante em que seus olhos se fixaram sobre a imagem, ele soube que precisava subir aquela montanha. Em cima do cartaz havia um nome:

“Marumby”, na grafia da época. Com o sangue aventureiro pulsando forte, Henrique, com um amigo, embarcou em um trem em Curitiba, para descer na estação Marumbi. Lá, os dois pegaram uma trilha e alcançaram o cume do Olimpo, na época, considerada a montanha mais alta do Sul do Brasil, com uma altitude atribuída de 1.810 metros, numa região não muito distante da capital. A mesma sensação encontrada nos morros, quando mais novo, capturou Henrique, mas de uma maneira tão maior quanto a montanha que havia agora encarado. Fim de semana após fim de semana, o jovem voltou a subir as elevações. Pelas trilhas do conjunto Marumbi, conheceu ilustres montanhistas, muitos deles que haviam, inclusive, sido os primeiros homens a tocarem o alto das elevações daquele conjunto.

Simpático e falante, Henrique logo já era amigo de todos, e, seguindo a tradição da época, ganhou o apelido que deixaria seu nome completo sempre em segundo plano. Em uma época na qual sardinha e carne eram os alimentos preferidos de muitos brasileiros, o jovem de descendência alemã levava para todos os seus passeios uma mochila farta de frutas e verduras, ricas em vitamina.

Pertencendo agora a um grupo de montanhistas que era motivado por aventuras e conquistas, Vitamina participava de desafios inventados pelo engenhoso colega de montanha Rudolfo Stamm. As propostas incluíam ver quem subia mais montanhas, quem conseguia subir por uma trilha, voltar por outra, escalar as paredes rochosas, entre outras aventuras. Um grande alvo surgiu quando o geógrafo Renhard Maack descobriu outro ponto culminante na serra, mais alto do que o Olimpo, e lhe deu o nome de Pico Paraná. Com altitude inicial calculada de 1.979 metros, o pico foi conquistado por uma expedição que contava com Reinhard Maack, Rudolfo Stamm, Alfredo Mysing, Josias Armstrong e Benedito Lopes de Castro, em 1941, e logo viraria febre entre os outros montanhistas, que lutavam para chegar ao cume, em uma época em que se aproximar da região daquelas montanhas já era uma aventura. Outras competições surgiram para tentar chegar aos cumes da Serra da Graciosa, Serra da Farinha Seca e da Serra da Prata. Em 1947, Rudolfo Stamm e outros montanhistas fundaram o famoso Círculo de Marumbinistas de Curitiba (CMC) e o nome de Vitamina aparecia como um dos primeiros integrantes.

Aos poucos, com a maioria das montanhas já conquistadas, o interesse começou a se voltar para os paredões rochosos, convidativos à prática da escalada. As primeiras subidas surgiram com a Via dos Bandeirantes e a Chaminé do Gavião, essa última considerada o marco inicial da escalada em rocha no Marumbi. Vitamina, os irmãos Curial, Tarzan e Sobanski logo foram enfeitiçados pela grandiosa parede norte da montanha Esfinge. Ali, passaram quase quatro anos investindo em escaladas para abrir uma via. Como se já não bastasse a imensidão daquela rocha, primeiro, era necessário caminhar por uma trilha durante quase duas horas para chegar até o início da parede. Sem esquecer de levar nas costas os pesados equipamentos para a escalada, que incluíam talhadeira, grampos e outros aparatos para abertura da via, além da corda de sisal, pesada, que fazia a “segurança” do escalador. A parede começou a ser desbravada em fevereiro de 1950, por Orisel e Osires Curial. No dia 26 de fevereiro de 1954 lá estavam Vita e Tarzan, ainda investindo nessa via. Os dois iniciaram as grampeações já a noite, com a ajuda de um precário lampião que a certa altura os deixou na mão. Mesmo assim prosseguiram, agarrando a parede, juntando[1]se a ela até tornar-se um só na imensa escuridão. Na metade da madrugada resolveram descansar, dormiram sobre as rochas. Com o despontar forte do sol, retomaram o trabalho, com pouca reserva de água potável. A cada grampo fixado ao grande paredão, um sentimento de vitória, a cada esforço que o braço já cansado lutava para fazer, os montanhistas ficavam mais próximos de concluir a via. Com sede e um grande cansaço de repente avistaram o cume da montanha e, finalmente, puderam nela pisar a partir de um caminho até então inexplorado. Até hoje, os 230 metros desse pare[1]dão são respeitados como uma escalada de dificuldade técnica ainda alta, mesmo com o uso de equipamentos mais modernos.

Não contente em subir e escalar as elevações rochosas, Vita também promovia diversas atividades pela região da Serra do Mar, para atrair as pessoas para perto das montanhas e da natureza. A tão famosa descida de boia realizada ainda hoje pelo curso do rio Nhundiaquara teve uma de suas primeiras edições com o “boia-cross” de Vitamina — um evento idealizado por ele que separou 400 boias para os participantes. No dia programado para a descida mais de mil pessoas compareceram. A descida com carrinho de rolamento pelas belas curvas da estrada da Graciosa também era outra tradição, que Vita organizou durante nove anos. Além disso, pescas, passeio de caiaque, prova de mergulho, de orientação e até corrida pelas montanhas ele inventou.

Chamadas quase todo fim de semana para resgatar novatos que se perdiam na mata. Para dar um fim ao problema, ele começou a pintar as trilhas do conjunto Marumbi, mas, a força da floresta logo fazia questão de sumir com a tinta. Quando um amigo lhe trouxe fitas de plástico, o montanhista encontrou a solução para sinalizar o caminho. Escolheu uma cor para simbolizar cada trilha, amarrou as fitas em árvores ao longo dos percursos e seus serviços como “socorrista de montanha”, para seu alívio, foram se tornando desnecessários. Curador do patrimônio natural do Paraná, logo na criação do cargo, nele permaneceu por quase 20 anos, ajudando a preservar, não somente as montanhas, como também outras belezas naturais do estado. São muitas as histórias desse inquieto aventureiro, mas elas ainda não terminaram. Aos, 84 anos, em 2014, ele continua ativo, desbravando as elevações que tanto o fascinam, trilhando novos caminhos, fazendo jus ao apelido que a montanha carinhosamente o deu.

O incansável Vitamina também prestou socorro a muitos que se perdiam pelas trilhas. Muito antes do Cosmo (Corpo de Socorro em Montanha) chegar ao Marumbi, o montanhista recebia chamadas quase todo fim de semana para resgatar novatos que se perdiam na mata. Para dar um fim ao problema, ele começou a pintar as trilhas do conjunto Marumbi, mas, a força da floresta logo fazia questão de sumir com a tinta. Quando um amigo lhe trouxe fitas de plástico, o montanhista encontrou a solução para sinalizar o caminho. Escolheu uma cor para simbolizar cada trilha, amarrou as fitas em árvores ao longo dos percursos e seus serviços como “socorrista de montanha”, para seu alívio, foram se tornando desnecessários. Curador do patrimônio natural do Paraná, logo na criação do cargo, nele permaneceu por quase 20 anos, ajudando a preservar, não somente as montanhas, como também outras belezas naturais do estado. São muitas as histórias desse inquieto aventureiro, mas elas ainda não terminaram. Aos, 84 anos, em 2014, ele continua ativo, desbravando as elevações que tanto o fascinam, trilhando novos caminhos, fazendo jus ao apelido que a montanha carinhosamente o deu.

Texto do livro: O Chamado da Montanha (Letícia Toledo)

Vitamina (Foto: Gazeta do Povo)

PS: O Vitamina está com 90 anos, e junto com o Cesar Fiore acaba de lançar o livro Puro Montanhimo – Os Conquistadores.

Livro: Puro Montanhismo

Encontra-se em fase de pré-lançamento o livro PURO MONTANHISMO – Os Conquistadores. Obra de Cesar Fiore e do Vitamina (Henrique Paulo Schmidlin), tem 365 páginas e muitas fotografias de época. O livro conta sobre todas as fases do Montanhismo Paranaense, desde a conquista do Marumbi, em 1879, até os dias atuais.

Interessados em adquirir o livro, entrem em contato com o Fiore pelo Facebook:

https://www.facebook.com/cesar.fiori

80 anos da conquista do Pico Paraná

Oitenta anos atrás, cinco aventureiros molhados até os ossos saem das barracas de lona sem forro, para contemplar um amanhecer espetacular de frente para o majestoso Pico Paraná. No dia anterior avançaram para o Pouso da Sorte (A1) com o tempo levemente melhorando depois de suportarem três dias e noites de feroz aguaceiro no cume do Caratuva.

Alfredo Mysing, Benedito Lopes de Castro, Josias Armstrong, Reinhard Maack e Rudolf  Stamm, se preparam para o ápice de sua jornada épica. A frente uma profunda e desconhecida grota os separa do gigante de pedra que se ergue altivo em direção ao céu. A estreita crista do Fio de Ligação é povoada por arbustos duros e retorcidos que lhes oferecem aguerrida resistência até o fundo da grota, quando enfim começa a escalada. Sobem pela parede quase vertical carregando pesados fardos com instrumentos de medição, agarrados em frágeis moitas de capim que se desprendem ao mais leve toque. Unhas cravadas nas saliências da pedra, o sangue quente pulsando nas veias, a morte lambendo seus calcanhares.

Lentamente vencem cada obstáculo que a natureza, rija e cruel daquele lugar lhes impõe. Vencem o desconhecido e o medo para ás 13h45min plantarem firmemente os pés sobre o falso cume onde o vento feroz já não encontra freios. Uma parede magnífica de pedra vertical ainda se ergue a frente e o cientista volta a se impor sobre o aventureiro Reinhard Maack, que imediatamente passa a operar seus equipamentos de medição, auxiliado por Josias Armstrong.

Cinqueta metros de pedra nua e vertical os separam da vitória definitiva. O castelo de cume os desafia com sua altivez. A mente de aventureiros natos ardem em desejos, as mãos coçam e partem resolutos para a luta contra seus mais profundos temores. Seremos capazes de vencer o gigante? Benedito Lopes de Castro retorna abatido pela fadiga, mas Alfred Mysing e Rudolf Stamm prosseguem resolutos.

Gritos de júbilo e o espocar de 2 rojões anunciaram a vitória sobre o ponto mais alto do Paraná (e do sul do Brasil). Estavam no dia 13 de julho de 1941.

Texto: Cesar Fiori

Grupo Trilhas do Paraná (Facebook)

Reinhard Maack
Rudolf Stamm
Vander Dissenha no cume do Pico Paraná.

80 anos da Primeira Ascensão do Pico Paraná

Hoje fazem 80 anos que o Pico Paraná foi conquistado pela primeira vez. A montanha mais alta do sul do Brasil, com 1.877 metros, foi conquistada em 13 de julho de 1941, por Rudolfo Stamm e Alfred Mysing. Tal conquista foi motivada pela pesquisa científica realizada pelo famoso geógrafo alemão Reinhard Maack, que desejava descobrir a verdadeira altitude da montanha, num capítulo em comum entre a história do montanhismo e das geociências.

Pico Agudo – Sapopema

O despertador do celular me acordou às duas da manhã. Meu amigo André roncava ao lado, enrolado no meu saco de dormir, que ele tinha “roubado” durante a noite enquanto eu dormia. Fui ao banheiro fazer a higiene matinal e logo voltei para a barraca. Olhando em volta vi que mais algumas pessoas já tinham acordado no camping. Fui me vingar do André, que tinha me acordado quando chegou tarde da noite. Liguei a lanterna, virei a luz nele e comecei a gritar… Ele ficou puto, me xingou e tentou voltar a dormir, o que seria impossível. Ele sempre acorda mal humorado, e sendo acordado de uma forma tão delicada com certeza seu humor não seria dos melhores nas primeiras horas do dia.

Após pouco mais de meia hora todos estavam prontos e saímos em dois carros. Seguimos por uma estrada de terra cheia de curvas, subindo rumo aos pés do Pico Agudo. Há pouco mais de dez anos estive em outro Pico Agudo, que fica na região de Campos do Jordão, no Estado de São Paulo. O outro Pico Agudo possui plataformas para salto de asa delta, e do alto dele, onde se chega de carro por uma estrada ruim, se tem uma vista de 360 graus do Vale do Paraíba. Já o Pico Agudo paranaense, é considerado o pico mais alto do Norte do Paraná, com 1.100 metros de altitude. Do alto dele se tem uma vista muito bonita da região. Nos últimos anos ele se tornou um lugar bastante procurado, e meio que virou modinha tirar fotos no alto do pico. E como subir ele não é tão difícil, cada vez mais pessoas vão até seu cume.

Chegamos no posto de entrada do Pico Agudo pouco depois das três da manhã, e após preencher uma ficha de controle e pagar uma taxa de entrada, tivemos um pequeno briefing com o guia que nos acompanharia até o alto do pico. Eu que estava preocupado com meu joelho dolorido, me espantei com o mesmo não estar doendo e após andar um tempo no final do nosso grupo, passei a caminhar na frente logo atrás do guia. Segui num bom ritmo e não sentia nenhuma dor. Será que foi resultado da mina milagrosa do dia anterior? A primeira parte da subida foi tranquila, sem grandes dificuldades causadas pelo terreno e em muitos trechos a trilha era bem larga. Quando chegamos nos paredões, o problema maior foi o trânsito de pessoas subindo. Tinha muita gente, e alguns eram visíveis que tinham pouco preparo físico e iam subindo lentamente e muitas vezes parando pelo caminho, travando a subida de quem vinha atrás. O jeito foi negociar “ultrapassagens” e seguir paredão acima utilizando os degraus de ferro, cordas e correntes existentes na encosta do morro. Fui economizando a lanterna, apagando-a sempre que não via necessidade de ficar com ela ligada. A trilha para subir tem cerca de três quilômetros e meio, e com algumas paradas fizemos ela em uma hora e vinte minutos.

Chegamos no cume pouco depois das cinco da manhã e o sol começava a despontar no horizonte. Ao chegar no cume fiquei espantado com a quantidade de pessoas que estavam lá no alto. Já subi muitas montanhas em minha vida e nunca vi uma tão congestionada. Mal tinha lugar para se sentar e esperar o sol nascer. Fazia um pouco de frio, mas nada que um casaco não muito grosso não resolvesse. Conforme o sol foi levantando no horizonte a paisagem foi ficando cada vez mais bonita. Em alguns locais tinham filas para tirar fotos. Absurdo total! O lado onde fica o rio Tibagi, e que permite as fotos mais bonitas do alto do pico, infelizmente estava com muita neblina e não dava para ver quase nada daquele lado.

Tirei fotos minhas e dos amigos, andei de um lado a outro pelo cume, a procura de um novo ângulo para fotos ou observando algo novo na paisagem. E meu amigo Alemão me chamou para fotografar seu esperado pedido de casamento. Felizmente a Stefane mesmo ralada por conta da queda do cavalo no dia anterior, conseguiu subir o pico. Ele foi com ela até uma pedra que é famosa pelas belas fotos que proporciona lá do alto do pico. Mas por conta da neblina daquele lado, a paisagem não era das melhores. Lá na pedra ele se ajoelhou e fez o pedido de casamento. Fiquei de longe fotografando e foi difícil conseguir fotografar sem que não aparecesse mais ninguém além do novo casal de noivos. Algumas fotos ficaram com o pé de um cidadão aparecendo, pois não tinha mais o que fazer para evitar de que pessoas ou parte delas aparecessem nas fotos. Notei muita gente se arriscando na borda da montanha para tirar fotos. Infelizmente acho que não vai demorar para ver no noticiário que alguém despencou lá do alto…

Ficamos mais um tempo no alto do pico e finalmente revolvemos descer, pois tão cedo a neblina que existia do lado do rio não ia desaparecer. No caminho da descida encontramos alguns amigos da cidade de Peabiru. A descida foi bem travada, pois tinham muitas pessoas descendo e também subindo. Muitos que preferiram acordar mais tarde, estavam agora subindo. Sei que a descida demorou mais do que a subida, por conta do congestionamento na trilha. No final tiramos uma foto do nosso grupo reunido e partimos rumo ao camping.

Subir o Pico Agudo foi uma experiência boa e ao mesmo tempo frustrante. Não esperava o excesso de pessoas lá no alto. E a neblina de um dos lados no pico, acabou atrapalhando bastante. Pretendo voltar lá novamente, mas será no auge do inverno e durante a semana, para não correr o risco de encontrar novamente o cume do Pico Agudo super lotado.

De volta ao camping desmontamos acampamento e pegamos a estrada. A viagem de volta foi tranquila e fizemos uma breve parada em Londrina, para almoçar. Depois voltamos para a estrada e chegamos em casa no meio da tarde. Foi um final de semana gostoso e divertido, e valeu muito a pena ter ido para Sapopema, apesar das pequenas decepções. No geral foi muito valida a experiência!

Textão sobre como foi subir o PP

Por: Amanda Pichontcoski

Eu nunca tinha pensado em subir o Pico Paraná, mas sempre gostei de altura e sempre me imaginei voando, sobre montanhas, mergulhando no céu. Meus melhores sonhos são com a leveza de ver tudo do alto.

Também sempre quis sentir as nuvens, seria possível tocar? Acho que muita gente já pensou nisso também.

Posso dar mais detalhes do enrosco que foi pra conseguir ir, demorou pra dar certo, mas fui, e quando decidi e deu tudo certo, que eu ia mesmo, já comecei a treinar certinho todo dia, dando o meu máximo para melhorar meu condicionamento físico. Não sei se naquela altura conseguiria melhorar muito, mas foi uma ótima motivação para relembrar o quanto amo me exercitar e ter certeza do quanto detesto academia.

Eu era a criança que brincava o dia todo, era moleza brincar nos brinquedos de escalar (longe da minha mãe, que me fazia ter medo de quebrar o braço por isso evitava ir muito alto, mas quando dava eu ia!). Por um tempo perdi isso, mas tenho reencontrado cada vez mais disposição e capacidade física com atividades que realmente gosto!

Me sinto grata por ter conseguido chegar até onde cheguei e voltado com pouca dor no corpo! E carregando uma mochila de 6 kg! Foi subida, descida, escalar em troncos, em pedras, com cordas, com grampos, inclinação de até 90° num paredão de pedra, muita umidade, escorregadio, engatinhando, escorregando (rasgou minha calça), com muita lama (coitada das meias), trechos na beiradinha do precipício, que aventura!

Inclusive, eu não tinha nada pra ir, não tinha ideia do que levar, nem roupa pra um evento desses! Foi tudo se ajeitando da melhor forma, grata amigos! Inclusive não ter conseguido capa de chuva foi ótimo porque nem choveu! Otimismo é tudo (ou saber pedir com jeitinho, por favor chuva não, quero te ver nascer Solzinho!)

Mas, se forem acampar numa montanha, levem saco de dormir ou algo pra se esquentar bem, uma blusa de lã e xale de lã não são o suficiente se você é friorento como eu. Grata aos amigos que passaram frio pra eu não morrer de hipotermia, vocês vão pro céu direto! Mas dependendo do ponto de vista vocês estavam lá, comigo ainda!

Que vista! E nuvens… Não dá pra pegar, mas deixa o ar bem úmido e tinha hora que não dava pra ver quase nada.

O pôr do Sol ficou entre as nuvens, e logo apareceu Vênus, Júpiter e Saturno pertinho da Lua! Logo o céu ficou todo repleto de estrelas (mas com o frio que eu estava vi bem pouquinho).

Que aventura! Mesmo já estando ali pertinho do céu percebi o quanto quero viver, conversando com a Terra, com as pedras, “belas ancestrais me ajudem a subir mais um pouquinho”. Teve tremedeira e choro, medos que eu nem sabia que eu tinha e mais uma vez o universo deu um jeitinho de fazer passar as pessoas certas para me auxiliar e me dar coragem para mais um trecho. Realmente percebi o quanto quero viver.

Estou extremamente feliz em ver o quanto as pessoas se unem, se ajudam, são solidárias nessas situações. Não apenas do meu grupo, mas todos que foram fazer a trilha, e posso citar muitos exemplos, desde um “bom dia” para todos que passavam, “vocês estão quase chegando”, “fiquem no A2 porque o pico está lotado”, “eu tenho curativo”, “alguém quer água?”, “tem “banheiro” ali”, até uma mão e um apoio para conseguir subir.

Subi, subi e vi o Sol! Faltava 15 minutos para chegar no pico do Pico, fiquei por ali mesmo. De onde eu estava podia jurar que faltaria mais uma hora pra chegar, parecia muito longe, meu corpo até aguentaria, mas talvez eu quisesse uma desculpa para voltar lá de novo. Começamos a subir 4:30, minha lanterna estava fraca, pelo menos não estava mais tão úmido e não levei nem água. Mesmo não tendo ido até o topo, me senti realizada, era para ser assim. Foi emocionante, meu objetivo era ver o Sol nascendo ali mesmo e vi, com os passarinhos voando logo ali, acordando, vendo toda natureza e o cenário mudar, renascer.

Tudo está diferente agora.

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Amanda Pichontcoski (02/11/2019)

De volta ao Pico Paraná – Parte 2

“Depois de termos conseguido subir a uma grande montanha, só descobrimos que existem ainda mais grandes montanhas para subir.”

NELSON MANDELA

O pessoal levantou pouco depois das quatro da manhã e partiu rumo ao cume do Pico Paraná, pois queriam ver o sol nascer lá do alto. Resolvi dormir mais meia hora e depois seguir sozinho, pois não teriam pessoas na trilha e isso evitaria filas em alguns pontos, e consequentemente a lentidão. E também estaria menos frio e mais claro, eu não precisaria utilizar lanterna na trilha e isso seria mais seguro. Eu já tinha visto o sol nascer uma vez no alto do Pico Paraná, então não fazia questão de ver novamente, podia fazer o ataque ao cume mais tarde. Dormi mais um pouco e quando acordei o dia estava começando a clarear. Me arrumei rapidamente e saí da barraca. Não fazia tanto frio igual na noite anterior. Vi que um companheiro também tinha ficado dormindo e fui chamá-lo para subir comigo. Ele disse que não dava, que sentia muita dor no joelho e se tentasse ir até o cume, talvez não tivesse condições físicas para fazer a trilha de volta mais tarde. Então subi sozinho!

No inicio senti fortes dores nas costas, culpa da noite dormida no chão duro. Mas felizmente, conforme o corpo foi esquentando, as dores sumiram. O que incomodava muito desde a metade do dia anterior, era meu joelho esquerdo, que carece de cirurgia há tempos. Evitei ao máximo forçar tal joelho. O caminho até o cume era basicamente de subida, e segui rápido, tendo encontrado apenas cinco pessoas pelo caminho. Acabei errando a trilha e fui parar num canto do paredão da montanha, um lugar com a vista muito bonita. Tirei algumas fotos no exato momento que o sol surgiu e retornei em busca da trilha correta. Passaram alguns minutos e pouco antes de chegar ao facãozinho, que é uma parte da trilha ao mesmo tempo bonita e perigosa por ser estreita, encontrei três membros do meu grupo. Eles tinham desistido de tentar o cume e estavam voltando ao acampamento. Tentei argumentar que estavam bem próximos, mas os três estavam decididos a desistir e achei melhor não insistir. Segui em frente e após quatorze minutos cheguei ao cume do Pico Paraná, pela segunda vez em minha vida. Encontrei o restante do meu grupo lá em cima, todos radiantes de alegria.

No cume ventava e fazia um pouco de frio, mas nada comparado ao frio que encontrei da outra vez que lá estivera, seis anos antes. Curti um pouco do visual em volta, tirei fotos sozinho e com o pessoal, e depois de quase uma hora começamos a descida. Vim no final do grupo, curtindo ainda a paisagem. Ao passar numa parte estreita da trilha, deixei minha mochila de hidratação cair debaixo de umas pedras. Fiquei na dúvida se seria possível resgatar a mochila. Acabei encontrando um caminho para descer, mas antes pedi para um cara do grupo de Florianópolis esperar eu voltar. Quando cheguei ao lugar onde a mochila estava, olhei em volta e no meio das pedras estava cheio de buracos. Fiquei com receio de que fossem tocas de cobra e dei um jeito de pegar a mochila e sair dali o mais rápido possível. A rapidez e medo foi tanta, que ao sair do buraco onde estava, bati forte com o joelho machucado numa pedra, e descolei uma unha da mão esquerda. Acho que esse foi o pior momento do final de semana, por culpa do medo e das dores que senti. E o jeito foi seguir em frente, morro abaixo. Trinta minutos depois estava de volta ao acampamento e comecei a desmontar a barraca.

Iniciamos a descida com sol a pino e bastante calor. Nem parecia que há poucas horas fazia um frio medonho. Na descida demoramos um pouco para passar pela carrasqueira, pois mesmo com sol, tinha muito barro nos degraus. A partir dali foi mais tranquilo e seguro a caminhada e logo entramos no primeiro trecho de mata. O calor fez todos consumirem muita água, e logo tivemos que racionar. Pouco antes de chegarmos ao acampamento A1, ouvimos o helicóptero dos bombeiros, que tinha vindo resgatar a garota de Florianópolis que se machucou no dia anterior. Por muito pouco não presenciamos o resgaste.

Após uma parada mais longa antes de entramos na parte mais extensa da mata, lanchamos e tiramos fotos do Pico Paraná ao longe. No dia anterior ele estava encoberto pelo nevoeiro quando passamos por esse local. De onde estávamos também era possível ver o mar, distante alguns quilômetros. Entramos na mata, e mais uma vez foi difícil vencer esse trecho cheio de galhos, troncos e barro. Meu joelho esquerdo doía muito, e tive que tomar cuidado em não forçar ele. Procurava sempre colocar a perna direita primeiro como apoio. Isso dificultou bastante a caminhada e também me cansou muito. Quase no final da mata paramos numa mina d´água e ali bebi quase dois litros de água. Seguimos em frente, saímos da mata e passamos pelo Morro do Getúlio. Depois a maior parte da trilha foi de descida. Mas o sol e o calor judiaram bastante, bem como a ansiedade de terminar logo a descida. A mochila nas costas parecia estar cada vez mais pesada.

No fim tudo deu certo e todos chegaram bem na Fazenda Pico Paraná. Depois foi hora de tomar banho, lanchar e arrumar as coisas para a longa viagem de volta para casa. Alguns diziam que nunca mais subiriam outra montanha, outros já queriam marcar uma data para subir nova montanha. No geral todos estavam cansados, um pouco doloridos, mas felizes pela aventura e conquista. Com certeza todos lembrarão por muitos anos desse final de semana, onde o grupo todo se uniu em torno de um objeto comum. E muitos membros do grupo tiveram que superar seus medos, limitações físicas e encontrar forças para seguir em frente… Valeu pessoal!

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O sol nascendo.

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Facãozinho.

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Meditando no cume.

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No cume do Pico Paraná. (03/11/2019)

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Bando de loucos!

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Lucas Spider-Man.

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Contemplação…

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Vander e Roberto.

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Descendo a carrasqueira.

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Pico Paraná e a direita o mar…

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Com a Amanda, que foi guerreira…

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Vander, Taise e Ronaldo, quase do fim da aventura.

 

De volta ao Pico Paraná – Parte 1

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Com 1.877 metros de altitude, o Pico Paraná é a montanha mais alta da Região Sul do Brasil. Está situado entre os municípios de Antonina e Campina Grande do Sul, no conjunto de serra chamado Ibitiraquire. Foi descoberto pelo pesquisador alemão Reinhard Maack que entre 1940 e 1941, efetuou diversas incursões à Serra do Ibitiraquire com o objetivo de obter medições e anotações sobre a fauna e a geomorfologia da região. Maack juntamente com os alpinistas Rudolf Stamm e Alfred Mysing e com auxílio de tropeiros da região, partiu em 28/06/1941 com o objetivo de conquistar o cume da montanha. Rudolf Stamm e Alfred Mysing conseguiram chegar ao cume da montanha no dia 13/07/1941.

Após pouco mais de seis anos, voltei ao Pico Paraná. Fomos num grupo de 12 pessoas, onde o único que já tinha subido uma montanha antes, era eu. Nosso grupo era composto por nove homens e três mulheres. Quarenta dias antes tínhamos iniciado o projeto de subir o Pico Paraná. Nesses 40 dias algumas pessoas entraram e outras saíram do grupo. O pessoal também aproveitou para treinar, pois desde o início deixei claro que a empreitada não era nem um pouco fácil. Também treinei bastante, e só não treinei ainda mais, por culpa de dores no meu joelho esquerdo bichado e da tendinite no pé direito, que trato há quase um ano e não quer sarar. Mesmo com as limitações causadas pelas dores físicas, cheguei bem fisicamente no dia de subir o Pico Paraná. E eu podia contar com algo que os demais não tinham, que era a experiência.

Após uma longa noite de viagem numa van não muito confortável, chegamos em Curitiba e já começou a chover. Felizmente a chuva durou pouco e quando chegamos na Fazenda Pico Paraná, o sol estava alto e quente no céu. Tivemos um pouco de dificuldade para encontrar a entrada da Fazenda, mas no fim deu tudo certo. Logo que desembarcamos, já começamos a nos preparar para subir o morro. Cerca de uma hora depois já nos encontrávamos em fila indiana subindo os primeiros metros da trilha. Nosso grupo era formado por: Vander, Krisley, Igor (irmão do Krisley), Marilda (tia do Krisley e do Igor), Roberto, Lucas, Wellison, André, Amanda, Sidinei, Ronaldo e Taise (noiva do Ronaldo). O grupo era bastante heterogêneo, com idades que iam dos 17 aos 49 anos. Mas mesmo com suas diferenças, desde o início nosso grupo foi bastante unido e aguerrido. O tempo todo um ajudava ao outro, e essa união fez nossa jornada ser muito mais fácil.

Sempre achei o início da caminhada a parte mais difícil, pois o corpo está frio, a mochila parece mais pesada do que realmente está, e o lado psicológico joga contra nós. Você se sente mal e extremamente cansado logo no início, então acaba achando que não vai conseguir caminhar por várias horas e quer desistir logo no início. Tivemos tal problema com um integrante de nosso grupo, mas com a união de todos e um pouco de conversa, o problema se resolveu e ninguém desistiu. Felizmente o sol deu uma trégua após meia hora de caminhada e isso facilitou as coisas. Pelo caminho encontramos um grupo de 17 pessoas, vindas de Florianópolis, e nas horas e no dia seguinte, tivemos contato mais próximo com muitas pessoas pertencentes a esse grupo de catarinenses. Após quase duas horas de caminhada chegamos ao Morro do Getúlio e ali fizemos uma longa parada para lanche. Depois seguimos em direção a mata fechada e boa parte da tarde ficamos subindo e descendo morro em meio a galhos, raízes de árvores, rochas, riachos e muita lama. Tinha chovido na mata e a trilha ficou lisa e perigosa. Quando saímos da mata, não era possível ver o Pico Paraná, pois ele estava encoberto por um denso nevoeiro.

Ainda no meio do nevoeiro, iniciamos a parte mais complicada e perigosa da subida, que é superar a carrasqueira, um longo paredão de rocha, com degraus e correntes que ajudam a subida. Como estava tudo molhado, os degraus ficavam com um pouco de barro que tinha soltado dos calçados do que passaram antes por ali, então isso aumentava o perigo. Qualquer descuido poderia causar algum acidente grave. No fim tudo correu bem, os que tiveram mais dificuldade em subir esse trecho, foram auxiliados pelos demais. A união do grupo fez uma enorme diferença nessa parte da subida. Depois tivemos mais um longo trecho de caminhada e finalmente chegamos ao A2, acampamento onde passaríamos a noite.

Tinham mais pessoas acampadas no A2, então o lugar onde montamos nossas barracas não era dos melhores. Alguns saíram buscar água numa mina próxima e a maioria preferiu descansar. Após tomar um banho de gato utilizando lenços umedecidos e colocar roupas limpas, aproveitei para dormir um pouco. Tinha dormido pouco na viagem e depois do esforço do dia ao percorrer quase nove quilômetros com mochila nas costas, eu estava exausto. No final da tarde vimos um helicóptero dos bombeiros passar pelo acampamento. Depois ficamos sabendo que ele tinha tentado resgatar uma moça do grupo de Florianópolis, que machucou o pé gravemente e estava esperando resgate no A1. Por culpa do mal tempo, não conseguiram realizar o resgaste, o que só foi feito no final da manhã do dia seguinte.

A noite chegou no acampamento e com ela o frio e muito nevoeiro. Aproveitei para “jantar” uma lata de salsichas e mais algumas guloseimas. Fui fazer xixi num matinho ao lado da barraca, e deu para ter noção do quanto tinha esfriado. O nevoeiro deixava o acampamento com um visual incrível, mas achei melhor voltar logo para a barraca e tentar me aquecer. Tinha gente no grupo passando frio, pois é natural que algumas pessoas sintam mais frio que outras. Como tenho boa resistência ao frio, talvez por já ter passado muito frio na vida e também por ter quase certeza de que fui um urso polar em outra encarnação (detesto calor e amo o frio!), emprestei minha blusa para a Amanda. Mesmo sentindo um pouco de frio, e com o desconforto da barraca, pois para eliminar peso optei por não levar saco de dormir e isolante térmico, consegui dormir muitas horas. O plano era levantar pouco antes do sol nascer e partir para o ataque ao cume do Pico Paraná.

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Em pé: Wellison, Vander, Ronaldo, Taise, Marilda, Igor, Amanda e Roberto. Agachados: Krilsley, Lucas, Sidinei e André.

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Primeira longa parada para descanso.

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Almoço no Getúlio.

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Começando a difícil parte da floresta.

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Kit alimentação.

 

Reinhold Messner

Reinhold Messner é um alpinista italiano, considerado um dos melhores alpinistas de todos os tempos. Ele foi o primeiro, junto com Peter Habeler, a escalar o Everest (a maior montanha do mundo) sem utilizar garrafas de oxigênio, em 1978. E foi o primeiro a escalar o Everest sozinho, em 1980. Também foi o primeiro a escalar todas as catorze montanhas existentes com mais de oito mil metros. E foi o segundo a escalar as sete montanhas mais altas dos sete continentes (a mais alta de cada continente).

Existem bons livros em inglês e espanhol, que contam as aventuras de Reinhold Messner. Infelizmente não encontrei nada em português! E para quem quer conhecer um pouco mais sobre esse excelente alpinista, existe um filme (documentário) sobre ele. O filme passou algumas vezes no canal a cabo Off, mas creio que seja possível encontrar para compra ou baixar na internet.

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Reinhold Messner.

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Livro sobre Messner no Everest.

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Livro sobre Reinhold Messner.

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Cartaz do filme sobre Messner.

Reflexão de um montanhista

“Para mim chegar ao cume de uma montanha significa a coroação de um longo processo que um dia começou como um sonho, que logo se transformou em um objetivo concreto, o qual passou por uma fase importante de planejamento (de tempo, de dinheiro, etc.), seguida por um período de preparação e treinamentos, até culminar com a escalada e com a conquista propriamente dita. O cume “é a cereja do bolo”, como muitos montanhistas costumam dizer. Aliás, curiosamente essa expressão também é comumente utilizada para consolar montanhistas quando a conquista de um cume não é possível de ser atingida, como se “a cereja fosse somente um detalhe em relação ao resto do bolo”. Particularmente, apesar de respeitar todas as opiniões a respeito, penso que o bolo não está completo se não se pode comer a cereja também. Tenho a mais plena consciência de que muitas vezes não é possível continuar com uma ascensão, simplesmente porque a montanha não permite, independentemente se você é um montanhista principiante ou o Reinhold Messner. O montanhismo já cobrou muitas vidas de quem ousou pensar o contrário e é por isso que sempre peço a Deus que me ilumine e que me dê serenidade para que eu sempre possa tomar as decisões mais acertadas na montanha. Entretanto, pelo que me conheço, no dia em que isso acontecer comigo, certamente eu vou querer voltar para tentar de novo, ainda que seja na temporada seguinte. Faz parte da minha natureza não desistir tão fácil dos meus objetivos, apesar de saber que às vezes é necessário recuar um pouco para depois voltar a avançar”.

Cristiano Müller (montanhista)

Cristiano Müller.
Cristiano Müller.

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Cristiano Müller em ação no McKinley.

Sobre às montanhas…

“Montanhas não são estádios onde eu satisfaço a minha ambição, são as catedrais onde eu pratico a minha religião… Eu vou a elas como os seres humanos vão aos templos. De seus altivos píncaros eu vejo o meu passado, sonho do futuro e, com uma acuidade incomum, eu vivo a experiência do presente momento… A minha visão clareia, minha força renova. Nas montanhas celebro a criação. Em cada viagem rejuvenesço.”

Anatoli Boukreev – montanhista russo

Vander, 20 graus negativos. (Bolívia/2012)
Vander, 20 graus negativos, 6088 metros de altitude. (Bolívia/2012)

Monte Everest

Muito triste o terremoto que ocorreu no Nepal essa semana. Não conheço o Nepal, mas sei muito sobre o país e sua cultura. E tal conhecimento adquiri em anos lendo sobre escaladas ao Everest, a montanha mais alta do mundo. Consta em minha lista de desejos, uma visita ao Nepal, até o acampamento base do Everest, que é o local onde as expedições que seguem até o Everest se reúnem e dali os montanhistas partem para os acampamentos superiores na montanha, até o cume.

Durante o terremoto fiquei preocupado com a Ana Wanke, que é de Curitiba e estava guiando um grupo de brasileiros próximo a Katmandu, cidade que foi fortemente atingida pelo terremoto. Conheci a Ana Wanke em 2013, quando estive no Pico Paraná. Ela era a guia do grupo em que eu estava. Felizmente ela e seu grupo não sofreram nenhum dano e logo estarão de volta ao Brasil, assustados, mas bem…

O Monte Everest com seus 8.848 metros de altitude é a montanha mais alta da Terra. Está localizado na Cordilheira do Himalaia, entre a China (Tibete) e o Nepal. O Everest foi assim chamado por Sir Andrew Scott Waugh, o governador-geral da Índia colonial britânica, em homenagem a seu predecessor, Sir George Everest. Radhanath Sikdar, um matemático e topógrafo indiano de Bengala, foi o primeiro a identificar o Everest como a montanha mais alta do globo, de acordo com seus cálculos trigonométricos em 1852. Os indianos pensam que o pico deveria ser chamado Sikdar, e não Everest.

O monte Everest tem duas rotas principais de ascensão, pelo cume sudeste no Nepal e pelo cume nordeste no Tibete, além de mais 13 outras rotas menos utilizadas. Das duas rotas principais, a sudeste é a tecnicamente mais fácil e a mais frequentemente utilizada. Esta foi a rota utilizada por Edmund Hillary e Tenzing Norgay em 1953. Contudo, a escolha por esta rota foi mais por questões políticas do que por planejamento de percurso, quando a fronteira do Tibete foi fechada aos estrangeiros em 1949.

A maioria das escaladas tentando atingir o cume do Everest, são realizadas entre abril e maio, antes do período das chuvas. Ainda que algumas vezes sejam feitas tentativas de escalada em setembro e outubro, o acúmulo de neve causado fora do período entre abril e maio, torna a escalada muito mais difícil e perigosa, pois o risco de avalanches aumenta.

Desde 1921, diversas tentativas de escalada tentando atingir o cume do Everest foram feitas. Em 8 de junho de 1924, George Mallory e Andrew Irvine, ambos britânicos, fizeram uma tentativa de ascensão da qual jamais retornaram. Não se sabe se atingiram o pico e morreram na descida, ou se não chegaram até ele, já que o corpo de Mallory, encontrado em 1999, estava com objetos pessoais, mas sem a foto da esposa, que ele prometera deixar no pico. Também não foi encontrada a máquina fotográfica que carregavam e que podia ter fotos do cume, provando que tinham atingido o cume e morrido na descida. Como não foi possível provar que Mallory e Irvine atingiram o cume em 1924, fica sendo considerado como sendo Hillary e Norgay, em 1953, os primeiros a atingirem o cume, pois eles trouxeram fotos que comprovaram tal feito.

Em 16 de maio de 1975, Junko Tabei,  tornou-se a primeira mulher a alcançar o topo do Everest. A primeira ascensão sem oxigênio foi feita por Reinhold Messner e Peter Habeler, em 1978. Em 1980 Reinhold Messner realizou a primeira ascensão solitária até o cume do Everest.

Os primeiros brasileiros a atingirem o cume do Everest, foram Waldemar Niclevicz e Mozart Catão, em maio de 1995. Eles atingiram o cume juntos. Ambos escalaram utilizando oxigênio suplementar (bujão de oxigênio). O primeiro brasileiro a escalar o Everest sem ajuda de oxigênio suplementar, foi Vitor Negrete, em 2006. Mas infelizmente ele faleceu na descida, por culpa de um edema. Ele ficou sepultado no acampamento três do Everest, a 8.300 metros de altura.

O Everest também é conhecido como A Montanha da Morte, devido à enorme quantidade de montanhistas que morreram tentando atingir o seu cume. Calcula-se entre 150 e 200 mortos. Muitos montanhistas atingiram o cume e morreram na descida. Tal fato acontece devido ao grande esforço físico gasto na subida, e ao descer o montanhista está tão desgastado fisicamente que não tem forças para descer e acaba morrendo por diversos motivos. Outro motivo para o elevado número de mortes de montanhistas na descida é a rápida mudança do tempo, que muitas vezes acaba ocorrendo quando o montanhista está descendo.

Acima de 8.000 metros de altitude é praticamente impossível socorrer algum montanhista que esteja tendo problemas. Então é normal um montanhista passar por alguém que esteja morrendo e deixar o moribundo lá, pois se ele tentar resgatar quem está tendo problemas, pode vir a morrer também. Também é complicado resgatar os corpos daqueles que morrem no alto da montanha. Por essa razão existem dezenas de corpos congelados na montanha, num verdadeiro cemitério a céu aberto.

Confesso que um dos meus sonhos é chegar ao cume do Everest. Mas infelizmente não tenho os cerca de oitenta mil dólares para bancar tal expedição. Então me contento em ler tudo o que encontro sobre escaladas ao Everest. Sei que muitos vão perguntar a razão de alguém querer arriscar a vida para chegar ao topo de um montanha perigosa como o Everest e logo em seguida descer dela. Infelizmente não tenho tal resposta! É algo inexplicável! Talvez seja a vontade de chegar com suas próprias pernas o mais próximo do céu e de Deus, pois o Everest é o ponto mais alto da Terra.

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Everest.

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Andrew Irvine e George Mallory.

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Tenzing Norgay e Edmund Hillary.

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Waldemar Niclevicz e Mozart Catão. (Imagem: Extremos Online)

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Montanhista morto no Everest.

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O corpo de George Mallory, encontrado no Everest em 1999.

Pico Paraná (Parte II)

Eu estava tão cansado, que dormi profundamente no desconforto da barraca. Acordei uma única vez durante a noite, olhei para o lado e vi o Rodrigo acordado. Virei de lado e voltei a dormir. Acordei novamente às 4h00min da manhã, que era o horário combinado para todos levantarem. O primeiro pensamento que tive foi o que estava fazendo ali, em pleno domingo acordando de madrugada, quando poderia estar muito bem em casa dormindo em minha confortável e espaçosa cama. Tal pensamento não durou mais de um minuto e finalmente acordei pra valer e fui arrumando minhas coisas para partir rumo o cume do Pico Paraná.

Após arrumar minhas coisas, saí da barraca para encontrar uma moita que servisse de banheiro. Ao redor todos estavam acordados se preparando para partir. Fui alguns metros trilha abaixo e após um xixi básico fui escovar os dentes. Estava meio sonolento e confundi o tubo branco e vermelho do creme dental, com o tubo branco e vermelho de uma pomada Hipoglós, que costumo usar para curar assaduras durante as caminhadas. Só percebi o engano após sentir um gosto estranho e gorduroso na boca. Soltei um palavrão e logo ri do engano, causado por culpa da sonolência em que me encontrava. Voltei para a barraca e já tinha gente tomando café. Peguei uma maçã para comer na trilha, uma garrafinha com água e estava pronto para partir.

Passava um pouco das 4h30min, quando partimos pela trilha que leva ao cume do PP. A Ana foi na frente, seguida pela Andy, pelo Eduardo e por mim. Logo atrás vinham a Maristela, o Jorge e o Rodrigo. No começo o grupo andou junto, mas logo se separou em dois, igual no dia anterior e segui no grupo da frente, que era mais rápido.

A noite estava bonita, com lua. A trilha seguia morro acima, com alguns trechos de mata fechada e outros com muitas pedras. Vez ou outra fazíamos uma rápida parada para descansar e beber água. Nessas paradas olhávamos para trás e era possível ver a luz de algumas lanternas, de pessoas que seguiam pela trilha atrás de nós. Fazia frio, mas nada muito intenso e ao caminhar, em alguns momentos cheguei a sentir calor.

Ainda estava escuro quando passamos pelo facãozinho, que é um trecho estreito da trilha, com precipício dos dois lados. Em razão do escuro não dava para ter noção do perigo, então passamos tranquilamente por esse trecho. Na última parte da trilha tivemos que subir muitos degraus fixados nas pedras, mas isso não foi nenhum problema. Chegamos ao cume do Pico Paraná quando passava um pouco das 5h30min. Ainda estava escuro e no horizonte era possível ver os primeiros raios solares surgindo atrás de um imenso mar de nuvens. Era uma visão muito bonita! Logo o restante do nosso grupo chegou, e todos se cumprimentaram e tiraram algumas fotos juntos. Estávamos a 1.877 metros de altitude, no ponto culminante da região Sul do Brasil.

Fui andar pelo cume e numa das extremidades alguns caras tinham acampado durante a noite. Há poucos dias tinha acontecido um incêndio na mata seca do cume e as marcas desse incêndio eram bastante visíveis. O que também era bem visível (infelizmente) era uma quantidade enorme de lixo deixada ali no alto.

Não demorou muito e o sol surgiu por trás das nuvens, num espetáculo muito bonito. Tirei muitas fotos e fiquei curtindo o momento, a sensação de conquistar mais um objetivo. Naquele momento eu e meus amigos de grupo, éramos as pessoas em terra que estavam em maior altitude em todo o Sul do Brasil.

Ventava bastante lá no cume e logo comecei a sentir frio. Tinha uma grande rocha numa das extremidades do cume e fiquei um tempo abrigado atrás dessa rocha, o que fazia a temperatura subir um pouco. Desse lado do cume a vista também era muito bonita, com muitas montanhas menores surgindo em meio ao mar de nuvens. Logo dois outros grupos chegaram ao cume. Fiquei mais um tempo abrigado atrás da rocha e logo voltei para próximo do pessoal do meu grupo. Então um dos caras que tinham chegado por último ao cume, veio me perguntar sobre a calça de ciclismo que eu usava, se ela era quente, confortável. Ele disse que tinha visto muitos caras usando calças de ciclismo na trilha e que estava querendo comprar uma para quando fosse subir outras montanhas. Eu que no dia anterior achei que seria um grande mico usar calça justa de ciclismo na montanha, agora estava dando dicas sobre tal calça.

Ficamos pouco mais de uma hora no cume e a Ana nos chamou para começar a descida. O dia seria longo, pois teríamos um longo trecho para percorrer até chegar à Fazenda Pico Paraná. Começamos a descer pela trilha e por muitos degraus cravados na rocha. Pudemos então ver melhor o caminho que tínhamos percorrido na subida, no escuro. A paisagem era muito bonita e eu não me cansava de olhar para os lados e sempre que possível tirava alguma foto. Ao passar pelo facãozinho foi possível ver o quanto a trilha naquele local é estreita e como o precipício de ambos os lados é profundo. Acho que ninguém do grupo sentiu medo ao passar por esse trecho e todos pareciam curtir a sensação de passar por um lugar perigoso e desafiador.

Mais alguns minutos de caminhada montanha abaixo e foi possível ver o acampamento (A2) onde tínhamos passado a noite. Caminhamos mais um pouco e chegamos ao acampamento. O Silvio já tinha desmontado as barracas e todos se colocaram a arrumar as mochilas para iniciar a descida final. Nesse meio tempo a Ana encontrou tempo para se maquiar e a Andy ficou em pé sobre uma pedra para conseguir sinal de internet e acessar o Facebook pelo celular. Mulheres!!!!

Começamos a descida e dei uma última olhada para o local onde tínhamos acampado, bem como para o cume do Pico Paraná. Algo me dizia que voltaria ali novamente! Após algum tempo de caminhada, chegamos a temida carrasqueira. Olhando de cima para baixo, ela parecia mais assustadora do que na subida. A Ana foi na frente e achou mais seguro descer as mochilas do pessoal do grupo por uma corda que existe ao lado da carrasqueira. Isso fez com que ocorresse um pequeno congestionamento na trilha. Eu que vinha no final do grupo, aproveitei o momento parado, para conversar e tirar fotos. Logo chegou a minha vez de descer e correu tudo bem. No fundo gosto da sensação de perigo ao passar por certos lugares. O risco de acidente é mínimo, pois nos trechos mais difíceis nossa atenção e reflexos parecem ficar mais aguçados.

Deixamos a carrasqueira para trás e começamos a percorrer o trecho de trilha de mata mais fechada e depois o trecho cheio de caratuvas. Ali tivemos a última visão completa do Pico Paraná e logo entramos num trecho de mata ainda mais fechada. Eu seguia no final do grupo, mas logo passei a caminhar mais a frente, próximo a Andy, o Eduardo e o Rodrigo, que dessa vez seguia a frente do grupo. A Ana resolveu ficar para trás e seguir junto com o pessoal mais lento.

Fizemos uma longa parada no A1 e ali alguns aproveitaram para fazer um lanchinho. O Silvio foi o último a chegar, pois a mochila dele era a mais pesada, sem contar os equipamentos que ele carregava espalhados pelo corpo. Tiramos uma foto com o Silvio e logo voltamos à trilha. Continuei andando junto com o Rodrigo, Andy e Eduardo. Andamos num ritmo bem forte e só paramos na bica, que era o local marcado para almoço. Me sentei em algumas pedras e comi algumas coisas que estavam no meu kit lanche. Depois me encostei em umas pedras e adormeci por alguns minutos. Levou pouco mais de uma hora para a Ana chegar, junto com o Silvio, Jorge e Maristela.

No local onde estávamos ficava a maior bica de toda a trilha e ela é cercada por pedras, formando uma pequena piscina. A água é muito gelada, sendo boa para beber, mas para se banhar nem tanto. E nessa fonte o Jorge, o pernambucano do grupo, resolveu cumprir algo que tinha prometido antes de partir, que era tomar um banho de bica. Ele colocou um calção e entrou na fonte, sentando na pequena piscina debaixo do cano por onde caí água. Senti frio só de olhar ele ali dentro!!  O Jorge provou que é corajoso, um cabra muito macho!!!

A Ana liberou o meu grupo para seguir a frente e só esperar os demais na Fazenda Pico Paraná. Dessa forma eu, Rodrigo, Andy e Eduardo partimos e logo estávamos num ritmo muito forte e assim seguimos até o final da trilha. Chegando na sede da fazenda encontramos o Gustavo, o guia que tinha se machucado no dia anterior e que acampou no A1. O pé dele estava muito inchado e logo a Andy o levou de carro para o hospital.

Tirei minhas botas e fui comer um pastel de queijo e tomar uma Coca-Cola bem gelada. Depois fiquei deitado no gramado, descansando. O restante do grupo chegou cerca de uma hora e meia depois. Estavam todos cansados, mas muito felizes por terem conquistado o cume. Ficamos um tempo conversando e logo foi hora de embarcar na van e seguir rumo à Curitiba. Mal chegamos na BR e começou a chover. Parece que a Ana tem sociedade com São Pedro, pois a previsão para o final de semana era de chuva e só foi chover após termos partido para casa.

Sei que o final de semana foi maravilhoso, pois cumpri mais uma das metas que constam em minha lista de coisas a fazer e lugares a conhecer. E fiz novos e bons amigos! Pretendo voltar outra vez ao Pico Paraná, bem como fazer alguma outra expedição pela Ana Wanke Turismo e Aventura, pois a organização da Ana foi perfeita.

No cume do Pico Paraná.
No cume do Pico Paraná.

O sol surgindo atrás das nuvens.
O sol surgindo atrás das nuvens.

Foto da foto...
Foto da foto…

Vista lá do alto.
Vista lá do alto.

No cume do Pico Paraná.
No cume do Pico Paraná.

Grupo unido.
Grupo unido.

Iniciando a descida.
Iniciando a descida.

Descendo do cume.
Descendo do cume.

O temido facãozinho.
O temido facãozinho.

Descendo a carrasqueira.
Descendo a carrasqueira.

Na carrasqueira.
Na carrasqueira.

Com o Sérgio no A1.
Com o Silvio (de bandana e mochila) no A1.

Almoço na bica.
Almoço na bica.

Jorge tomando banho de bica.
Jorge tomando banho de bica.

Parte final da descida.
Parte final da descida.

Descanso na Fazenda Pico Paraná.
Descanso na Fazenda Pico Paraná.

www.anawanke.com.br/
www.anawanke.com.br/

Pico Paraná (Parte I)

Fazia alguns anos que eu queria chegar ao cume do Pico Paraná, mas sempre acontecia algo e eu tinha que adiar. Cheguei a subir o Caratuva em 2008 e o Itapiroca em 2009, que são duas montanhas próximas ao Pico Paraná. Mas quando chegou a vez de subir o PP (apelido carinhoso dado ao Pico Paraná) me machuquei um pouco antes e levei meses para ficar bom e em forma novamente. Daí quando estava novamente planejando subir o PP, tive dois problemas sérios de saúde e em seguida me mudei de Curitiba. Três anos se passaram e o PP continuava em minha lista de locais onde queria colocar os pés.

Atualmente estou morando cerca de 500 quilômetros do Pico Paraná e sem tempo para arrumar um amigo e planejar a ida até o PP, achei melhor procurar uma agência de turismo que fizesse o serviço de guia. De início pensei que não existissem agências que levassem clientes até o PP, mas acabei encontrando a Ana Wanke Turismo e Aventura (http://www.anawanke.com.br/). Entrei em contato, troquei algumas informações com a Ana e logo fechei o pacote, que incluía transporte, alimentação, barracas e guias. Achei essa ser e melhor opção no momento, pois não estava a fim de ir sozinho e também não queria que mais uma vez acontecesse algum problema e eu tivesse que desistir de tentar subir o Pico Paraná.

Tudo pago e acertado, agora era torcer para o tempo ajudar e não chover no final de semana marcado para subida do PP. E uma coisa a fazer era melhorar o condicionamento físico! Eu não estava muito mal fisicamente, mas precisava melhorar, pois o Pico Paraná é a montanha mais alta da região sul do Brasil e para evitar problemas e acidentes era melhor estar bem fisicamente. E também precisava perder dois ou três quilos extras adquiridos nas comilanças de inverno. Tinha exatamente um mês para me preparar e foi justamente o que fiz. Caminhei e corri, fiz reforço muscular para as pernas e duas vezes por semana aula de spinning. Também fechei um pouco a boca e reduzi drasticamente o meu maior vicio, que é refrigerante. Mas na segunda semana de treinamento tive um problema de tornozelo e tive que diminuir um pouco o ritmo dos treinamentos. Mesmo assim cheguei tinindo fisicamente no dia do embarque rumo à Curitiba.

Encontrei o pessoal numa madrugada gelada em Curitiba e fomos de van até a Fazendo Pico Paraná, distante uns 40 quilômetros da cidade, no sentido São Paulo. Na van já tive o primeiro contato com o pessoal que fazia parte do grupo. O grupo seria formado por mim e mais sete pessoas. A Ana seria a guia principal, auxiliada pelo Rodrigo e pelo Gustavo. E de caminhantes tinham as curitibanas Andy e Maristela, o gaúcho Eduardo e o pernambucano Jorge. Se eu vinha de longe, o Eduardo e o Jorge vinham de ainda mais longe!

Chegando na Fazenda Pico Paraná tomamos o café da manhã, onde foi servido um delicioso chocolate quente que serviu para esquentar um pouco. Em seguida fomos nos arrumar e nos preparar para iniciar a caminhada. E logo de cara descobri que tinha esquecido de trazer minha calça de caminhada. Não acreditei que tinha deixado para trás um item tão importante. A opção seria caminhar de calça jeans, mais isso limitaria muito meus movimentos. Já estava ficando desanimado, quando lembrei que tinha levado minha calça de ciclismo, a qual costumo usar para dormir em acampamentos, pois ela é bem confortável e quente para utilizar dentro do saco de dormir. O problema é que ela é bastante justa e achei que pagaria um grande mico ao usá-la. Fiquei uns dois minutos pensando em qual calça utilizar e nisso dei uma olhada para o lado e vi que tanto o Rodrigo, quanto o Gustavo estavam utilizando uma calça de ciclismo. Então vi que não seria mico nenhum colocar minha calça de ciclismo para caminhar no mato e foi assim que fiz.

Todos prontos, mochilas nas costas, uma breve reunião para que fossem dados alguns avisos e iniciamos a caminhada. Eu conhecia boa parte do caminho a ser percorrido, pois parte do caminho que leva até o Pico Paraná é o mesmo caminho que percorri anos antes para ir ao Caratuva e depois ao Itapiroca. Segui quase no final da fila, pois queria sentir o ritmo de caminhada dos demais e saber como seria o meu ritmo comparado a eles. Nos primeiros minutos de caminhada aconteceu um incidente com a Maristela, que ao tentar pular de uma pedra a outra em um trecho de lama, escorregou e caiu no barro. Felizmente ela não se machucou (talvez o orgulho tenha ficado um pouco ferido) e assim seguimos em frente. O primeiro trecho é pelo meio do mato, subindo alguns degraus esculpidos na terra e depois seguimos por uma trilha relativamente tranquila, mas sempre subindo. Fizemos algumas breves paradas no início e logo resolvi ir mais para frente na fila, seguindo pouco atrás da Ana, que ia sempre na frente.

Levamos cerca de uma hora para chegar ao morro do Getúlio, que é um local descampado, cheio de pedras e de onde se tem uma bela visão para todos os lados. A visão mais bonita é da represa Capivari, alguns quilômetros abaixo. Ali fizemos uma longa pausa, ajeitamos as mochilas, tiramos fotos e seguimos em frente. Foi a partir do Getúlio que nosso grupo se dividiu, formando dois. No grupo que estava mais rápido seguiam a Ana, Andy, eu e Eduardo. Me sentia muito bem fisicamente e não tive nenhum problema em acompanhar o ritmo mais forte do pessoal da frente. De tempos em tempos fazíamos alguma parada para descanso e a Ana aproveitava para falar pelo rádio com o Gustavo, que seguia fechando a fila do segundo grupo. Caminhamos um bom tempo assim até que chegamos no cruzamento das trilhas que levam ao Pico Paraná e ao Caratuva. Ali ficamos esperando o restante do grupo. Eu conhecia o caminho até esse local, então a partir dali tudo ficaria mais interessante para mim, pois o caminho a seguir seria inédito.

Após descansar e tirar fotos, voltamos a caminhar e o grupo continuou dividido. A trilha seguia quase sempre pelo meio do mato, em um terreno cheio de raízes. Vez ou outra tinha algum trecho onde era preciso fazer uma pequena escalada segurando nos galhos e raízes de árvores e em alguns casos em cordas estrategicamente amarradas nos locais de mais difícil acesso. Tinham alguns trechos de rocha que eram bastante lisos e era preciso tomar cuidado para não cair. Num trecho de mata fechada e cheia de raízes eu seguia no final do meu grupo e acabei sofrendo um pequeno acidente. Ao pisar ao lado de um galho enorme, meu pé afundou no barro e virou. Para não torcer o pé, fiz um movimento brusco virando o corpo rapidamente e nisso bati muito forte com a canela num galho. A pancada foi forte e senti muita dor. Soltei alguns palavrões e me sentei para olhar o estrago. No local da pancada tinha levantado um caroço e a dor era forte. Por alguns momentos achei que minha caminhada tinha terminado ali, que eu não conseguiria pôr o pé no chão por culpa da dor e teria que desistir de chegar ao PP. Meus olhos se encheram de lagrimas por culpa da dor e da decepção e quando vi o pessoal voltando para ver o que tinha acontecido comigo, segurei as lágrimas e contive a vontade de chorar. O Eduardo é médico e a Andy é dentista e os dois se encarregaram de ver o estrago em minha canela e logo a Andy me deu uma pomada para passar no local da pancada. Fiquei em pé e vi que mesmo sentindo muita dor dava para seguir em frente, o que me deixou bastante aliviado. Voltamos a caminhar, mas a dor ainda era forte e comecei a achar que não conseguiria chegar até o fim do dia caminhando. Logo fizemos uma parada em um pequeno córrego para pegar água e ali a Andy me deu um remédio para dor. Aproveitei para colocar uma mochila com água (que ali era bem fria) na canela e isso aliviou a dor quase por completo.

Na parada que fizemos no córrego aproveitei para comer um dos sanduiches naturais que faziam parte do kit lanche entregue pela Ana. O sanduiche era muito saboroso e ajudou a levantar meu animo que tinha ficado um pouco baixo após a canelada que dei um pouco antes. Voltamos a caminhar e não demorou muito para sairmos do trecho de mata fechada e chegarmos em um trecho mais aberto e termos a primeira visão do Pico Paraná. A visão era maravilhosa, pois mostrava a enorme montanha imponente em meio a algumas nuvens. Olhando dali parecia ser meio que impossível atingir seu cume. Fiquei pensando nos primeiros montanhistas que passaram por ali, abrindo caminho pela mata em busca da melhor rota que os levassem até o cume. Esses caras eram valentes e persistentes, pois se hoje em dia com a rota conhecida e demarcada, bem como a facilidade que alguns equipamentos modernos dão aos montanhistas não é muito fácil chegar ao cume do Pico Paraná, no passado devia ser muitas vezes mais difícil.

Depois de passar pelo trecho de mata aberta, que era quase que completamente formado por uma planta chamada caratuva (o mesmo nome da montanha próxima dali), caminhamos mais um pouco e chegamos ao acampamento número um (A1). Ali encontrei um pessoal de Londrina, que fazem parte do grupo de caminhadas Londrinapé. Nesse grupo estavam o Arnaldo, amigo de outras caminhadas pelo interior, e também o Berti, que é guia de caminhadas na cidade de Faxinal, local famoso por suas cachoeiras. Conversei um pouco com o pessoal, tiramos fotos e logo retomamos a caminhada. Dessa vez a trilha era em descida, o que era menos cansativo, mas que exigia mais cuidado para não cair. Não demorou muito e chegamos a famosa “carrasqueira”, um paredão de rocha com escadinhas, que é considerado o trecho mais difícil para se chegar até o cume do Pico Paraná.

Com bastante cuidado meu grupo subiu a “carrasqueira”. A Ana foi na frente, seguida pela Andy. No meio da subida a alça da mochila da Andy arrebentou e quase provoca um acidente. Por sorte foi somente um susto e conseguimos chegar são e salvos no alto da “carrasqueira”. Dali para frente a trilha era tranquila. Logo chegamos em algumas rochas enormes, próximas ao acampamento dois (A2). A Andy adora tirar fotos sentada em pedras e quando a Ana mostrou a ela uma pedra enorme, ela não se conteve e correu para tirar muitas fotos. Essa pedra acabou sendo batizada como “Pedra da Andy”. Após muitas fotos seguimos mais um pouco morro acima, até o A2, local onde montaríamos nosso acampamento. Lá nos esperava o Silvio, um cara digamos meio exótico, mas muito prestativo e gente finíssima. Ele é gerente da loja Território Mountain Shopping, em Curitiba. Ele costuma dar suporte a algumas expedições promovidas pela Ana e nesse dia não foi diferente. Como ele chegou de manhã no A2, ele reservou o melhor lugar para que montássemos nossas barracas. Era uma pequena clareira, cercada por arbustos altos que protegiam do vento, que ali no alto costuma ser forte.

Foram montadas três barracas, com ajuda do Silvio e depois fizemos um lanche. A Ana falou pelo rádio com o pessoal do grupo que vinha mais atrás e as notícias não eram nada boas. O Gustavo tinha torcido o pé e ficaria acampado sozinho no A1. O restante do grupo seguiria ao nosso encontro no A2. Tínhamos levado seis horas para chegar até o A2. Segundo a Ana chegamos super rápidos, pois ela tinha previsto que levaríamos de dez a doze horas para chegar ali. Então ficou a dúvida se partiríamos dali para o ataque ao cume, o que levaria mais uma hora morro acima, ou se esperaríamos o restante do grupo e faríamos o ataque ao cume todos juntos de madrugada. Acabou ficando decidido que esperaríamos os demais membros do grupo.

Eu, Ana e Andy, descemos até a “Pedra da Andy” e lá ficamos esperando o restante de nosso grupo. A Ana ficou em comunicação via rádio com o Gustavo, que ficou no A1. Enquanto esperávamos ficamos admirando a paisagem e tirando algumas fotos. Abaixo de nós existia um verdadeiro mar de nuvens, que ao mesmo tempo que não nos permitia admirar por completo a paisagem, era um espetáculo à parte. As nuvens se moviam com o vento, hora cobrindo parte de algumas montanhas menores que estavam abaixo de nós, hora escondendo partes do cume do Pico Paraná, que estava acima de nós. O Pico Paraná fica numa região onde existe uma pequena cadeia de montanhas, sendo que ele é a maior montanha dessa cadeia. Então de onde estávamos era possível ver várias montanhas próximas, bem como o Conjunto Marumbi, bem mais distante dali, no meio da Serra do Mar.

Após um tempo de espera, a Ana resolveu descer até a “carrasqueira” para auxiliar o pessoal de nosso grupo quando eles lá chegassem. Eu e Andy ficamos na “Pedra da Andy” com o rádio. Logo a Andy resolveu explorar algumas pedras abaixo de onde estávamos e que ficavam na beira do abismo. Acabei indo atrás dela, em parte com receio de que ela pudesse se meter em encrenca e em parte por que ficar parado olhando a paisagem estava me dando sono. Sei que acabamos encontrando um local muito legal, uma espécie de janela entre as rochas e ali ficamos vendo a paisagem e tirando fotos. Comentei com ela que poucas pessoas deveriam ter estado naquele local antes de nós. E isso me atrai muito, estar em locais onde poucas pessoas colocaram o pé antes! Resolvemos parar com nossa pequena exploração no meio das pedras, com receio de encontrar alguma cobra e voltamos para o alto da “Pedra da Andy”. Tiramos mais algumas fotos e logo vimos a Ana chegando a frente do restante de nosso grupo.

Cumprimentamos o pessoal e eles pararam na “Pedra da Andy” para tirar fotos. Logo todos seguimos para o local onde estava montado nosso acampamento. A segunda parte do grupo, formado pelo Jorge, Maristela e Rodrigo, chegou no A2 duas horas e quinze minutos depois da chegada da primeira parte do grupo. Achei sensata a forma como a Ana conduziu a expedição, quando deixou que os dois grupos, que tinham preparo físico e velocidade diferentes, se separassem. Se ela mantivesse o grupo sempre junto, estaria fazendo o pessoal mais veloz ir lentamente, o que não seria legal, ou então faria que o grupo mais lento andasse num ritmo mais forte, o que poderia desgastar demais o pessoal. Tal divisão só foi possível graças ao grupo ter três guias. Mesmo com a contusão do Gustavo, foi possível manter os dois subgrupos com um guia cada, o que tornou a subida até o A2 bastante segura.

Antes de escurecer fui com a Ana e a Andy até um mina próxima buscar água. No caminho paramos na “Casa de Pedra”, que é a ruína de uma construção feita de pedras. Não sei o motivo da construção em tal local, nem sua datação e muito menos o motivo de estar em estado de abandono. Me ocorre que no momento não tive a curiosidade de perguntar isso a Ana ou alguma outra pessoa que estivesse pelas imediações. De lamentável é a quantidade de lixo deixado pelas imediações da Casa de Pedra. Parece que muita gente que sobe até o Pico Paraná, não tem nenhuma consciência ecológica e na descida resolve aliviar um pouco do peso da mochila, deixando no A2 muito lixo, bem como toalhas, mantas, pedaços de lona plástica e diversas garrafas pet. E como não existe nenhum tipo de controle por parte do IAP (Instituto Ambiental do Paraná) ou dos proprietários da Fazenda Pico Paraná (que cobram para permitir o acesso até o Pico), cada dia que passa vai ficando mais lixo acumulado. Infelizmente existe muita falta de educação por parte das pessoas, que costumam jogar lixo na rua e deixar lixo no alto de um morro. Lá não tem coleta de lixo, não existe caminhão de lixo passando toda semana.

O sol foi embora e a noite chegou com muito vento e frio. Fui para a barraca e lá tomei meu banho de gato, utilizando uma pequena toalha molhada e lenços umedecidos. Em seguida coloquei roupa limpa e me senti um novo homem. Não consigo ficar sem banho, não importa onde eu esteja! A Ana começou a preparar o jantar, cujo cardápio consistia de estrogonofe, arroz e purê de batata. A comida era liofilizada, que resumindo quer dizer que era um tipo de comida que foi desidratada e depois reidratada ao ser adicionada água quente nela. Durante o preparo da comida quase todos ficaram ao redor da Ana, vendo ela preparar o delicioso jantar e também ajudando. A ajuda consistia de ficar chacoalhando os envelopes com comida liofilizada após a Ana colocar água quente neles. O resultado foi muito bom, pois a comida ficou saborosa.

Após jantar fui escovar os dentes e achar um banheiro. Ventava muito e fazer as necessidades no meio do mato, com vento e escuridão não era das tarefas mais agradáveis. Mas em minhas aventuras já passei por situações mais difíceis ao ter que usar banheiros, então não tive grandes problemas. Antes de ir dormir fui dar uma volta e fiquei olhando o céu. O céu estava limpo e com muitas estrelas. Consegui até mesmo ver uma estrela cadente! Fiz um pedido a ela, mas até agora tal pedido não se realizou…

Encontrei a Ana pelo caminho e fomos nos juntar a Andy, Rodrigo e Maristela, que estavam do outro lado de nosso acampamento. Ficamos um tempo deitados no chão, conversando e vendo o céu estrelado. O frio aumentou e como estava muito cansado, achei melhor ir para a barraca. Eu dividiria a barraca com o Rodrigo. Me ajeitei dentro do saco de dormir e logo fiquei quentinho. Olhei no relógio e passava um pouquinho das 21 horas. Estava dormindo cedo para um sábado à noite, mas isso não importava. O que importava é que dali poucas horas eu estaria pisando no cume do Pico Paraná, realizando mais um sonho, mais um item da lista de realizações que formulei há pouco mais de três anos. ZZZZZZZZZZZzzzzzzz…

Com 1.877 metros de altitude, o Pico Paraná é a montanha mais alta da Região Sul do Brasil. Está situada entre o município de Antonina e Campina Grande do Sul, no conjunto de serra chamado Ibitiraquire. Foi descoberto pelo pesquisador alemão Reinhard Maack. Entre 1940 e 1941 Maack efetuou diversas incursões à Serra do Ibitiraquire com o objetivo de obter medições e anotações sobre a fauna e a geomorfologia da região. Maack juntamente com os alpinistas Rudolf Stamm e Alfred Mysing e com auxílio de tropeiros da região, partiu em 28/06/1941 com o objetivo de conquistar o cume da montanha. Stamm e Mysing conseguiram o intento em 13/07/1941.

Rodrigo, Andy, Vander, Ana, Eduardo, Gustavo, Maristela e Jorge.
Rodrigo, Andy, Vander, Ana, Eduardo, Gustavo, Maristela e Jorge.

Descanso no Getúlio.
Descanso no Getúlio.

Cruzamento de trilhas: Pico Paraná e Itapiroca.
Cruzamento de trilhas: Pico Paraná e Caratuva.

Subindo com ajuda da corda.
Subindo com ajuda da corda.

Primeira visão completa do Pico Paraná.
Primeira visão completa do Pico Paraná.

Com o pessoal de Londrina e Faxinal.
Com o pessoal de Londrina e Faxinal.

No meio das caratuvas.
No meio das caratuvas.

Subindo a carrasqueira.
Subindo a carrasqueira.

Na Pedra da Andy.
Na Pedra da Andy.

Acampamento.
Acampamento.

Observando a paisagem.
Observando a paisagem.

Lanche no A2.
Lanche no A2.

O Eduardo admirando a paisagem.
O Eduardo admirando a paisagem.

O jantar...
O jantar…

Livro: As Montanhas do Marumbi

Para aqueles que gostam de montanhas e principalmente para aqueles que conhecem as montanhas do Paraná, segue a dica de um livro que fala sobre o tema. O livro As Montanhas do Marumbi é muito bem escrito e possui belas fotos. Tenho o livro há pouco mais de três anos e através dele aprendi muitas coisas sobre um dos locais que mais gosto no Brasil.

Aos cinco anos de idade vi pela primeira vez as montanhas da Serra do Mar paranaense, ao descer de caminhão com meu pai pela BR-277, para descarregar uma carga de soja no porto de Paranaguá. Fiquei encantando ao ver as altas montanhas cobertas pela mata e fiquei me perguntando como seria estar no alto de uma montanha daquelas. Levei vinte e três anos para saber a resposta! Em novembro de 1998 cheguei pela primeira vez ao cume do Olimpo, no Marumbi. Na descida sofri uma queda e me ralei todo, tendo que ser socorrido pela enfermeira do trem, na volta à Curitiba. Mas isso não me assustou e acabei voltando muitas outras vezes a região e subindo outras vezes ao cume do Olimpo, bem como outras montanhas menores. Na região do Marumbi passei muitos momentos bons, tanto sozinho, quanto na companhia de amigos e de amores. Namorar dentro de uma barraquinha montada no camping do Marumbi, numa noite fria de inverno e ouvindo o apito do trem é uma experiência surreal e inesquecível.

As Montanhas do Marumbi, de Nelson Luiz Penteado Alves, o Farofa, é um dos livros mais importantes do Paraná lançados neste ano (2008). E pode figurar, com certeza, entre os melhores, mais ricos e bem fundamentados livros sobre o montanhismo de todo o planeta.

É uma obra exemplar, porque representa, diante da extensão da pesquisa histórica, da preciosa documentação fotográfica e do cuidado técnico-científico, o esforço, o ideal e o amor de várias gerações pela prática deste esporte. Foi nestas célebres montanhas paranaenses, com a primeira conquista liderada por um farmacêutico nascido na baía de Antonina, Joaquim Olympio “Carmeliano” de Miranda, em 21 de agosto de 1879, que nasceu o montanhismo brasileiro.

O livro é igualmente importante por revelar muitas qualidades da natureza humana, hoje cada vez mais escassas e difusas. Que podem se traduzir de muitas maneiras, mas, do modo marumbinista, pelo desafio da conquista, o prazer juvenil da aventura, o estímulo do espírito de irmandade e pelo respeito voluntário à natureza.

Não é por nada que Farofa levou 40 anos para escrever e publicar este livro. Na acepção da palavra, ele disseca as montanhas do Marumbi e sua história. Tudo com o entusiasmo do montanhista iniciante, o fôlego de um maratonista e a preocupação do professor catedrático. Sem deixar de ser espontâneo e didático e mediar os 12 capítulos com histórias alegres e as minúcias de um ourivesador.

Compartilha as conquistas, na escrita, com seus companheiros de jornadas e outros amantes do Marumbi e da exuberante natureza da Serra do Mar. Este olhar especializado, abordando áreas como geologia, clima, rios, orquídeas, samambaias, bromélias, mamíferos, aves, anfíbios e répteis, amplificam o livro, mostrando toda a riqueza deste fantástico microcosmo natural, hoje felizmente preservado como Parque Estadual Pico do Marumbi (1990), numa área de 2,3 mil hectares.

Figuras humanas de todo o tipo e de todas as classes sociais subiram o Marumbi. Mas, no momento de percorrer as trilhas, escalar os monumentais paredões de pedra, transpor a bruma e enfrentar o perigo e as intempéries, Farofa mostra que as diferenças tão complexas e peculiares de cada indivíduo tornam-se secundárias. Na busca dos desafios, dos mistérios da montanha e do desfrute da natureza, prevalece um objetivo muito acima das idiossincrasias humanas. Esta é uma grande lição deste livro.

Além do pioneiro “Carmeliano”, Farofa revela muitos personagens marcantes dessa história. Como Rudolfo Augusto Stamm (1910-1959), eletricista de profissão, natural de Joinville (SC), que viveu toda a sua vida num quarto da Pensão Otto, em Curitiba. Desde que pisou pela primeira vez na Serra do Mar, em 1935, este célebre montanhista parece que viveu só pelo Marumbi. Em 1950, completou a sua centésima escalada ao Olimpo, o pico mais alto.

As suas extraordinárias contribuições como desbravador e os registros precisos e abrangentes que deixou mostram que o gosto pelo desafio e o prazer de estar junto à natureza também revelam grandes homens.

Outro deles é Henrique Paulo Schmidlin, o Vitamina, que continua liderando empreitadas aos cumes da Serra do Mar, em dias de sol ou chuva, e emprestando o seu carisma e experiência para as causas marumbinista e da natureza.

Organizador dedicado de caminhadas na floresta e de escaladas na montanha, incentivador nato das boas companhias e cantorias, Vitamina, com sua energia e crença fervorosa nesse estilo de vida, é um exemplo emocionante da tão necessária preocupação com a ligação social e cultural entre as gerações do passado e do presente, pensando no futuro.

O trem! Seriam muito diferentes as montanhas do Marumbi sem esta incrível linha férrea, que desafiou a Serra do Mar. Obra de arte da engenharia da era do vapor, ponto privilegiado de visão e instigador de sonhos românticos e juvenis, o trem cativou milhares de adeptos para este esporte e lazer, ao apresentá-los às montanhas, na Estação do Marumbi, por muitos e muitos anos, nas alegres manhãs ensolaradas dos sábados.

Farofa consegue transmitir justamente este estado de espírito em seu trabalho, que até pode parecer um pouco nostálgico, mas é essencial para a alma humana, em todos os tempos. Suas fotos preciosas e mesmo o sintético registro histórico sobre o trem não deixam de ser eloqüentes. Quem sabe, sem a maria-fumaça, Alfredo Andersen (1860-1935) e outros pintores paranaenses com o gabarito de Theodoro de Bona (1904-1990) não tivessem eternizado as paisagens e as montanhas nos seus óleos sobre tela.

Neste aspecto, cabe uma menção muito especial ao lendário Erwin Gröger, o Professor, próximo de completar 100 anos de idade, que Farofa também dá o merecido destaque no livro. Marumbinista também pioneiro, o Professor tem se dedicado a pintar as cálidas montanhas do litoral paranaense há décadas, tanto em óleos como em aquarelas.

Apaixonado orquidófilo, é um mestre que registra principalmente em aquarelas estas belas e exóticas plantas. Erwin Gröger é uma dessas figuras raras que, pelo seu elevado espírito humano e simplicidade, é merecedor de grande admiração.

O paranaense Waldemar Niclevicz, o maior montanhista brasileiro, primeiro a levar a bandeira do Brasil aos sete cumes do mundo, é seguidor desta geração. Conquistou o Everest porque aprendeu com os mais antigos escaladores da Serra do Mar a sempre persistir.

Henrique Paulo Schmidlin, o Vitamina, aos 78 anos, diz: “o mais importante de tudo é que o Marumbi o ensinou a nunca desistir. Tanto na luta pela natureza como (e muito mais) pelas causas da justiça e da dignidade do ser humano”.

Nelson Luiz Penteado Alves deixou registrado, para todos nós, este e outros testemunhos históricos de muito valor.

Eduardo Sganzerla (Gazeta do Povo – 26/10/2008)

Livro: AS Montanhas do Marumbi
Livro: As Montanhas do Marumbi

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Mapa

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Marumbi

O chamado da montanha

Desde os primórdios os homens buscam o alto de uma montanha sem um motivo aparente. O que leva as pessoas às alturas de um pico? Superação da condição humana? Transcendência? Ou somente a sensação da conquista? Essas são questões tão antigas como a própria humanidade. A montanha sempre esteve presente no imaginário das pessoas em todas as civilizações, através da mitologia que fundamenta e guia a história dos povos. 

O Monte Olimpo era a residência dos deuses para os antigos gregos, e através da mitologia, influenciou diretamente toda a cultura ocidental.

No folclore japonês, as montanhas são sagradas e todas possuem uma atmosfera sobrenatural. O Monte Fuji, por exemplo, seria a passagem para o outro mundo. Na mitologia Taoista, os imortais iam viver no cume dos grandes montes. O Monte Roraima, sustenta a morada do Deus Macunaíma.

Onde existir um pico imponente, marcando a paisagem, foi, ou é, para alguns um lugar sagrado ou a morada de um deus.

O fato é que as montanhas causam no homem perplexidade diante de sua natureza descomunal. Instigam a percepção de seu tamanho, insignificante, ínfimo diante da grandeza do mundo e da natureza que o cerca. A montanha simboliza a ruptura entre os níveis, do racional para o imaginário que ilustra os sonhos. Faz a ligação entre o céu e a terra.

Para a filósofa Zelita Seabra, O amor à montanha, naqueles que o sentem, tem raízes profundas. O ritual de preparação, o ato da subida, a busca pela imensidão faz parte do íntimo de muitos indivíduos, que não se contentam apenas à contemplação. É um momento de introspecção, a viagem se interioriza. O sentimento de subir é indizível, o silêncio é rompido pela respiração ofegante. O cume se aproxima!

Por que o ser humano é tomado pela inquietude, por essa ânsia de buscar o encanto no desconhecido? O Escritor Jon Krakauer, cita as encenações grosseiras em filmes e metáforas banais ao que o tema se presta, no excelente livro “Sobre homens e Montanhas”. Lembra ainda a interpretação equivocada de alguns psicanalistas que nunca romperam os limites de um consultório.

A palavra “montanhismo”, na concepção do público contemporâneo, causa a mesma repulsa da ideia de estar diante de tubarões ou abelhas assassinas. Porém, o êxtase das alturas está ligada ao ser humano, incontestavelmente, como a experiência de algo sublime, que nos permite enxergar e sentir que fazemos parte de um todo muito maior, que nunca vamos compreender. 

Andre Dib

Vista do alto do Caratuva (Paraná, 2008)
Vista do alto do Caratuva (Paraná, 2008)

Pico Paraná (Paraná, 2009)
Pico Paraná (Paraná, 2009)

Conjunto Marumbi (Paraná, 2009)
Conjunto Marumbi (Paraná, 2009)

Visto do alto de Huayna Potosi (Bolívia, 2011)
Vista do alto do Huayna Potosi (Bolívia, 2012)

Salkantay (Peru, 2011)
Huayna Potosi (Bolívia, 2012)

Montanhas próximas a Machu Picchu (Peru, 2011)
Montanhas próximas à Machu Picchu (Peru, 2012)

Descendo Huayna Picchu (Peru, 2011)
Descendo Huayna Picchu (Peru, 2012)

Huayna Potosi

De todas as minhas aventuras, com certeza chegar ao cume de Huayna Potosi foi a mais desafiadora, difícil, perigosa e fria aventura. Quando desci de Hauyna Potosi jurei que nunca mais subiria outra montanha nevada. Mas menos de 24 horas depois de tal juramento já estava fazendo planos para subir outra montanha gelada. E se tudo der certo, ano que vem vou subir o Illimani (também na Bolívia) que é mais alta, mais desafiadora, mais difícil, mais perigosa e mais fria que Huayna Potosi. Acho que fui acometido pela famosa “febre da montanha”!

Huayna Potosi (Foto: André Dib)
Huayna Potosi (Foto: André Dib)

O amor à montanha

O amor à montanha, naqueles que o sentem, tem raízes profundas. O ritual de preparação, o ato da subida, a busca pela imensidão faz parte do íntimo de muitos indivíduos, que não se contentam apenas à contemplação. É um momento de introspecção, a viagem se interioriza. O sentimento de subir é indizível, o silêncio é rompido pela respiração ofegante. O cume se aproxima!

Zelita Seabra

No alto da montanha de Huayna Picchu. (Peru, maio/2012)

Montanhas próximas à La Paz. (Bolívia, junho/2012)

Viagem ao Peru e Bolívia (21° Dia)

04/06/2012 

Huayana Potosi – 3° dia

Era meia noite quando o suíço me chamou, estava na hora de partirmos para o ataque ao cume do Huayna Potosi. Fiquei um minuto criando coragem para levantar, para sair do saco de dormir quentinho e ir enfrentar a noite fria, caminhando na neve. Peguei minha mochila que estava pronta ao lado com algumas coisas que levaria no ataque ao cume. Antes de sair olhei do lado e vi que a Bruna dormia. Peguei meu saco de dormir, o abri igual um cobertor e a cobri. Como ela era friorenta uma coberta a mais lhe faria bem. Desci para a sala de refeições e comecei a colocar a roupa para andar na neve.

Levei meia hora para colocar as roupas e equipamentos de segurança. O que deu mais trabalho foi colocar as botas. Minha maior preocupação era com meus pés, pois não queria ter bolhas e também não queria sentir frio neles. Quando meus pés ficam gelados costumo sentir muito frio, então coloquei três meias. Primeiro uma meia de algodão, especial para caminhadas e depois uma de lã, que comprei em Laz Paz. Por último outra meia de caminhada, igual à primeira. E coloquei no nariz um dilatador nasal, que é um adesivo que ajuda a respirar melhor. Foi servido o café, mas não comi nada, preferi tomar somente um chá de coca bem quente. Foi feita mais uma reunião, onde nosso guia Cecilio explicou como seria o ataque ao cume. Tinha chegado outro guia no meio da tarde e ele seguiria junto comigo. O Cecilio seguiria com o casal de suíços e o guia da Bruna ficaria dormindo, já que ela não faria o ataque ao cume.

Era uma hora em ponto quando saímos do refúgio. No momento em que pisei do lado de fora tive duas surpresas. A primeira foi o frio e o vento que eram intensos. Já a segunda supresa foi agradável, era a lua cheia que estava bem alta no céu e clareava a noite. A luz da lua era refletida na neve e deixava tudo muito claro. Nunca tinha visto uma noite igual aquela, estava muito linda. Caminhamos cerca de cem metros até chegar num local onde começava a neve mais alta. Ali colocamos os grampões nas botas e o guia deu os últimos avisos. Jhony, o meu guia seguiu na frente e eu alguns metros atrás atado a ele por uma corda amarrada em um equipamento preso em minha cintura, parecido com um cinto. O Cecilio vinha logo atrás, seguindo a frente do casal de suíços e também atado a eles por uma corda. Nos primeiros metros eu e meu guia caminhamos com nossas lanternas de cabeça ligadas, mas logo percebemos que não era necessário gastar pilhas, pois a noite estava tão clara que não precisava de lanterna. Caminhar na neve sendo iluminados pela lua cheia foi uma experiência inédita e inesquecível para mim. Era possível ver dezenas de metros para os lados, e para cima era possível enxergar o perfil da montanha. Teve um trecho de subida onde dava para ver alguns metros abaixo nossas sombras, seguindo em linha indiana. Aquela imagem parecia coisa de filme e só não parei para fotografar ou gravar, por que eu usava duas luvas, sendo que uma delas era muito grossa e seria impossível manusear a câmera utilizando tal luva. E tirá-la e recolocá-la nas mãos era muito trabalhoso.

O primeiro quilômetro de caminhada foi tranquilo, pois a subida não era tão ingrime. Seguimos por uma trilha na neve, que atravessava um vale. O frio era abaixo de zero e o vento era cortante. Antes de sair o Cecilio nos deu bataclavas, que é um tipo de capuz onde só os olhos ficam de fora. Meu guia seguiu num passo rápido e eu conseguia acompanhá-lo numa boa, sinal de que estava em boa forma e também aclimatado a altitude. Após meia hora de caminhada fizemos a primeira parada para descanso. O casal de suíços logo parou ao nosso lado. A guria estava mal do estômago desde o início do dia e estava tendo dificuldades para caminhar. Ali vi que eles dificilmente chegariam até o cume e entendi por que o Cecilio tinha ficado com eles, mesmo após ter me dito no meio da tarde que subiria junto comigo. Ele sendo o guia principal podia escolher quem acompanhar e sendo experiente na profissão ele tinha notado que a suíça não ia aguentar subir, que não ia demorar em desistir. Então acompanhando o casal de suíços ele tinha boas chances de logo poder voltar para a cama. Para os guias tanto faz levar o pessoal até o cume ou não, pois eles recebem a mesma coisa. E sempre é mais confortável ficar dormindo no refúgio do que passar a noite caminhando na montanha. E no caso de Cecilio, que trabalha há doze anos como guia, chegar uma vez mais ao cume do Huyama Potosi, não faria diferença alguma.

Eu estava suportando bem a caminhada, onde a cada metro percorrido aumentava a altitude e diminuía a quantidade de oxigênio para respirar. A segunda parada foi quando completamos uma hora de caminhada. Nessa parada já não vimos mais o casal de suíços ou o Cecilio. Ou eles estavam caminhando muito lentamente e tinham ficado bem para trás, ou tinham desistido e retornado ao refúgio. Já fazia alguns minutos que estávamos vendo cinco pessoas caminhando próximo a nós, vindo por uma trilha que levava a outro refúgio, pouco acima do nosso. Nessa segunda parada eles nos alcançaram, eram três alemães e dois guias bolivianos. Voltamos a caminhar e seguimos atrás do grupo de alemães no mesmo ritmo que eles. A trilha passou a ficar mais difícil e tivemos que passar por alguns trechos ingrimes, onde a subida exigia bastante esforço. Mesmo assim eu estava curtindo o “passeio” e olhando o céu estrelado, a lua, a montanha branca iluminada pela lua.

A terceira parada foi após uma hora e meia de caminhada e foi um pouco mais longa que as paradas anteriores. Se o guia não tivesse parado, acho que eu teria pedido para ele parar, pois estava começando a me cansar. Sentei-me na neve ao lado dos guias e procurei respirar profundamente, pois estava sentindo falta de ar. Ajeitei a bataclava de uma forma que meu nariz e boca ficassem livres, pois não estava conseguindo respirar direito com a boca tapada. Após o descanso voltamos a caminhar e de cara enfrentamos uma subida bastante ingrime e que exigiu muito esforço nosso. Quando chegamos ao alto dessa subida eu estava exausto e comecei a pensar que não conseguiria chegar até o cume. Mais um trecho plano e nova subida, onde gastei o restante do meu preparo físico. No Exército aprendi que quando nosso preparo físico chega ao fim, ainda temos cinquenta por cento de forças para utilizar. Éssa força extra é a famosa força de vontade. Em minha vida muitas vezes utilizei esses cinquenta por cento de força extra, geralmente quando minhas pernas não tinham mais forças. E para a força de vontade funcionar, você precisa ficar falando para você mesmo que vai conseguir, que vai chegar onde quer, que vai ser fácil. E foi o que fiz, fiquei o tempo todo tentando me convencer de que eu conseguiria, de que eu tinha forças para chegar ao cume. Minha preocupação principal passou a ser conseguir seguir em frente, dar o próximo passo, então parei de olhar a paisagem, a lua e as estrelas. Eu precisava me concentrar e arrumar forças para o passo seguinte e foi o que fiz.

Eu segurava o piolet com a mão esquerda, pois até ali as únicas vezes que precisei usá-lo, foi com a mão esquerda. O guia avisava quando chegavámos num trecho perigoso e que era preciso utilizar o piolet como apoio, qual era a mão para usá-lo de uma forma que fosse mais seguro. E de tanto ficar com o piolet que era de ferro, numa mesma mão, meus dedos começaram a congelar mesmo utilizando duas luvas grossas. Na parada que fizemos às 3h00min, eu sentia muita dor na mão esquerda, principalmente nos dedos. Isso era sinal de que estavam ficando congelados. Durante a parada para descanso, eu me sentei e coloquei a mão semi congelada no meio de minhas coxas e fiquei apertando-as contra a mão. Após dez minutos as dores cessaram e consegui mover a mão normalmente. Eu trazia água, biscoitos e chocolates na mochila, mas em nenhuma das paradas senti vontade de beber água ou de comer algo.

Voltamos a caminhar e dessa vez a trilha era mais estreita e passámos por algumas subidas. Eu já estava quase esgotado e vi que o guia começou a apertar o passo, inclusive ultrapassámos o grupo de alemães. Eu já não estava aguentando mais e cheguei a pensar em desistir. Daí entendi qual era a do guia, que de bobo não tinha nada. Ele viu que eu estava cansado e resolveu apertar o passo para me fazer cansar de vez e desistir, pois dessa forma voltaríamos ao refúgio mais cedo. Não caí na dele e comecei a parar toda vez que me sentia muito cansado. Quando eu via que não aguentava mais, eu dizia a ele que precisava parar e sentava no chão. Ele não estava gostando muito disso, mas não pôde fazer nada quanto a isso. E se bem lembrava (e creio que ele também) era eu que estava pagando, era eu o cliente, então acho que tinha o direito de parar quando achasse melhor. Teve um momento em que eu parei e ele puxou a corda, quase me arrastando. Falei para ele ir com calma, que não precisava fazer aquilo. Depois disso ele ficou calminho e toda vez que eu parava ele parava junto e não falava nada. E assim segui caminhando um pouquinho, descansando um pouquinho. E sou guerreiro, não me entrego facilmente, principalmente depois de todos os problemas que tive em 2010 e 2011. Acabei me tornando mais forte em todos os sentidos e é difícil eu me entregar ou desistir do que eu quero. Continuei arrumando forças não sei onde para seguir em frente. Teve um momento em que até olhei para o céu e falei – “Deus, dá uma ajudinha aí! Estou tão perto!” -. O mais difícil foi ter chegado até ali, a centenas de quilômetros de casa, tinha gastado muita grana, tinha treinado e me preparado muito para estar ali. Então não desistiria tão próximo de alcançar meu objetivo.

O que atrapalhou bastante meu preparo físico foi que essa viagem era para ter acontecido  15 dias antes do que aconteceu. Tive que cancelar a passagem e mudar a data de embarque em razão de ter machucado minha coluna durante os treinamentos que estava fazendo para subir Huayna Potosi. Eu treinava pesado durante duas, três horas por noite e acabei me machucando. Com isso perdi boa parte do condicionamento adquirido, após ter ficado 12 dias em repouso total, tomando remédios para me curar do problema na coluna. Ali naquele trecho da montanha esse condicionamento fisíco que perdi acabou fazendo falta.

Eu estava decidido a não desistir, ia tentar chegar até o cume. Mas não faria igual fiz com relação a algumas coisas meses antes, quando eu seguia na base do “consigo o que quero ou morro tentando”. Já tinha passado dessa fase de fazer loucuras e desafiar a morte de forma idiota. Dessa vez, em Huayana Potossi eu não ia morrer tentando, eu queria era viver tentando e principalmente conseguir o que queria. Minha maior preocupação era ficar esgotado em razão do pouco ar, pois fazer atividade física em alta montanha é muito desgastante. Se eu passasse a sentir tontura ou muita dor de cabeça, aí sim eu teria que analisar minhas condições e decidir se desistia ou não. Mas em nenhum momento tive dor de cabeça ou tontura. O que faltava era um pouco de perna por culpa de meu preparo físico estar se deteriorando.

Chegamos num trecho onde a trilha seguia pela lateral da montanha, numa parte com aclive e com a neve muita fofa. Algumas vezes eu pisava e minha perna afundava na neve até quase o joelho. Esse trecho de neve fofa tinha uns 500 metros de extensão. Foi terrível passar por esse trecho e quando chegamos ao final dele e fizemos uma parada para descansar, pensei em desistir. Perguntei ao guia quanto tempo faltava e ele disse que mais duas horas de caminhada. Aquilo me desanimou e vi que não aguentaria caminhar mais duas horas. Comecei a sentir cada vez mais frio, em parte porque estava ficando mais frio. E também por que o vento em alguns trechos em que ficavámos afastados da montanha era muito forte. Sentado na neve fiquei pensando no que fazer, se seguia em frente até cair ou se voltava dali. Então me lembrei de algo que o Rodrigo Raniere, que é alpinista e que já chegou ao cume do Everest (montanha com 8.848 metros, que é o ponto culminante do planeta terra) disse. Segundo o Rodrigo chegar ao cume de uma montanha é somente a metade do caminho. E ele tem toda razão, pois você após chegar ao cume de uma montanha, precisa descer e para isso tem que percorrer todo o caminho de volta. Em altas montanhas, e principalmente no Everest, a maioria das mortes que ocorrem são justamente na descida. O cara gasta toda sua energia para subir e depois não tem forças para descer e acaba morrendo, pois com o cansaço e o desgaste, o raciocínio fica lento e o cara fica mais sujeito a sofrer acidentes.

O guia puxou a corda e eu me desliguei de meus pensamentos. Nos minutos em que fiquei pensando tinha decidido apenas que seguiria em frente até onde aguentasse, ou então que sentisse que estava tão desgastado que ficaria perigoso seguir em frente. Eu já nem sabia mais que horas eram e olhar o relógio dava muito trabalho, pois estava cheio de casacos e luvas que cobriam o relógio. O passo seguinte era passar ao lado de uma enorme rocha e em seguida subir por um caminho estreito e com neve fofa. Quando cheguei ao início desse caminho estreito, vi que dos dois lados existiam um precípicio enorme, que em razão da escuridão (mesmo tendo a luz da lua) eu não conseguia enxergar direito. Eu estava tão cansado que achei melhor não me preocupar com isso e principalmente não olhar para os lados. Segui com todo o cuidado olhando no máximo um metro à frente e para o chão. Após atravessar o trecho estreito, subi alguns metros e encontrei os alemães parados e se cumprimentando uns aos outros. Antes que eu entendesse o que estava acontecendo o guia falou CHEGAMOS! Foi então que me dei conta de que tínhamos chegado ao cume do Huyana Potosi e que o guia tinha sido sacana quando um pouco antes me disse que ainda faltavam duas horas para chegar ao cume. E eu quase que desisto de chegar ao cume justamente quando estava muito próximo dele.

O cansaço era tanto que me sentei na neve e fiquei olhando em volta. De um lado dava para ver as luzes de La Paz e do outro lado o sol nascendo. Olhei no relógio e eram 05h32min. Olhei no meu termômetro que estava no fundo da mochila e a temperatura era de exatos 15 graus negativos. E com o vento que soprava lá em cima, a sensação térmica devia ser de uns 20 graus negativos ou mais (ou seria menos?). O sol foi surgindo, tudo foi clareando e a vista lá do alto foi ficando cada vez mais bonita. Comecei a sentir muito frio e estava tão cansado que nem cheguei a sentir algum tipo de emoção diferente. Pôxa! Eu estava realizando um antigo sonho, que era subir uma montanha nevada. Desde muito jovem que eu leio e coleciono livros sobre narrativas de viagens e escaladas. Li muitos livros que falavam sobre as dificuldades de subir montanhas nevadas e essas leituras fizeram nascer em mim à vontade de um dia chegar ao cume de uma alta montanha. E quem sonhou com o Everest, chegou ao Huayana Potosi! E chegar ao Huyana Potosi com seus 6.088 metros era bem mais do que eu tinha imaginado. Uma coisa é sonhar, pois muitas vezes sonhamos coisas impossíveis. E outra coisa é realizar tais sonhos. E como sempre digo: SONHOS NÃO TEM PREÇO!

Fiquei alguns minutos sentado olhando a paisagem em volta da montanha. Eu estava à 6.088 metros e tinha quebrado mais uma vez o meu recorde de altitude. Agora quebrar esse novo recorde será muito difícil. Quando comecei a tremer de frio, resolvi me levantar e movimentar um pouco os braços e pernas. Foi então que o meu guia veio me dar parabéns e tirámos uma foto juntos. Eu tinha levado uma garrafa de Coca-Cola para tomar no topo da montanha, mas de tão cansado que estava nem me lembrei da tal Coca. Tirei algumas fotos, curti um pouco a vista e o guia falou para pegar minhas coisas, pois tinhámos que descer a montanha o quanto antes. Com o sol a neve fica mole, o que dificulta caminhar sobre ela. E outro problema são os buracos e gretas (fissuras) que ficam sob a neve. No frio a neve fica compacta e tais buracos e gretas não são muito perigosos. Já com o sol alto, a neve amolece e o risco de você cair num desses buracos é bem maior. Então o plano era descer a montanha o mais rápido possível.

Me aprontei e o guia falou que para descer era diferente, que eu seguiria na frente e ele atrás segurando a corda. Desde o início da subida eu tinha dúvidas sobre o guia conseguir fazer a ancoragem com a corda no caso de eu cair em um precípicio. Ele era menor que eu, então achei que em caso de eu cair, das duas uma, ou ele caía junto ou soltava a corda e me deixava cair sozinho.  Alteramos a posição da corda e ele disse para eu seguir em frente. Os Alemães ainda estavam tirando fotos no cume e iam demorar um pouco para descer. Comecei a caminhar e quando cheguei ao trecho estreito de neve, levei um susto e parei. Na ida ao passar por ali no escuro e sem ver direito onde estava passando, achei aquele trecho perigoso e agora ver o mesmo trecho com dia claro me causou pânico. Não sou medroso, mas quando vi por onde teria que passar eu senti muito medo e falei para mim mesmo que por ali não passaria. Fiquei parado olhando para a trilha e o guia disse para eu não ter medo, que não tinha perigo. Pedi para ele esperar um pouco e então vi que eu teria que passar por ali de qualquer jeito, pois não existia outra opção. Ou passava por aquele trecho estreito, ou ficava no cume congelando. Na hora lembrei que tinha visto na internet algumas fotos daquele trecho e que nas fotos ele não era tão estreito. Daí me ocorreu que as fotos podiam ser da época de nevascas, onde aquele trecho em razão de cair mais neve ficava mais largo. Meus pensamentos foram interrompidos pelo guia, mais uma vez dizendo para eu não ter medo e seguir em frente. Respirei fundo e dei o primeiro passo. Achei que a trilha estava mais estreita do que na ida e foi então que me dei conta de que na ida, no escuro, eu tinha caminhado por cima de uma espécie de mureta na neve, com uns 40 centímetros de altura. E que essa espécie de mureta ficava justamente na borda da montanha. Ao lado dela era um precípicio que descia pela montanha e parecia um tobogã de neve, o qual não conseguia enxergar o fim. Fiquei me perguntando se no escuro da subida somente eu tinha passado por aquela parte mais perigosa, ou todos passaram por ali? Com dia claro era impossível passar por essa espécie de mureta. Seu eu passase ali com certeza minha labirintite ficaria atacada, eu teria tontura, as pernas tremeriam e eu correria o risco de cair no abismo. O jeito foi seguir caminhando pela faixa estreita de neve ao lado da tal mureta de neve, dando um passo por vez e colocando um pé na frente do outro. E a todo custo evitei olhar para os lados, me concentrava no próximo passo e nada mais. Dei uma rápida olhada para o lado direito e vi que ali o precípicio era menor do que do outro lado. Mas cair ali também significaria morrer. E ali eu tinha certeza que em caso de queda o guia não conseguiria fazer a ancoragem, que ele soltaria a corda e me deixaria cair montanha abaixo. Atravessar a trilha estreita durou poucos minutos, mas para mim pareceu que demorou bem mais. Quando cheguei ao final da trilha, desci até uma rocha que ficava um pouco abaixo e que foi ao lado dela onde fizemos a última parada para descanso durante a subida. Comecei a sentir o suor escorrer pelas axilas e costas. Num frio de muitos graus negativos eu estava sentindo calor.

Fizemos uma curta parada para descansar e começamos a descer a montanha. Atravessámos a parte inclinada ao lado da montanha e que tinha neve fofa. Sofri para atravessar esse trecho e afundei na neve mais vezes do que tinha afundando na subida. E passamos ao lado de alguns buracos enormes que eu não tinha visto durante a subida. Após atravessar esse trecho de neve fofa, fizemos nova parada para descanso. Ali tirei o casaco grosso que usava por cima e coloquei óculos de sol, pois o reflexo do sol na neve estava me incomodando. Tenho problema com claridade em excesso e quando era criança usei durante dois anos óculos com lentes escuras, por culpa de uma insolação que peguei na praia. Estava com sede e ao pegar minha garrafa de água na mochila, descobri que ela estava congelada. Minha água tinha virado um cubo de gelo. Lembrei-me da garrafa de Coca-Cola e ao pegá-la vi que também estava congelada. A água do guia também tinha congelado, então o jeito foi ficar com sede.

Descer a montanha era bem mais fácil do que subir, mas era bastante cansativo também, principalmente em razão do desgaste que foi subir. Dei algumas olhadas para os lados e vi que a paisagem era muito bonita, mas não deu para curtir muito. Eu me concentrava em olhar para frente e buscar forças não sei onde. Comecei a ficar cada vez mais com sede, a boca ficou seca e senti meus lábios e bochechas ardendo. Foi aí que descobri que eles estavam queimados pelo frio. Como não conseguia respirar direito durante a subida, eu afastei a bataclava do rosto e nariz e o vento gelado causou algumas queimaduras leves. Não me importei muito com isso naquele momento, pois tinha problemas maiores para me preocupar e o maior deles no momento era a forte dor que eu sentia na parte da frente dos meus dedos dos pés. Por estar descendo os dedos eram forçados contra a parte interna do bico das botas e isso estava me causando muita dor.

Descemos numa boa velocidade, mas logo fui perdendo forças e comecei a caminhar mais devagar. O guia ficava o tempo todo me mandando ir mais rápido, até que chegou um momento em que me estressei e respondi que não dava para ir mais rápido que aquilo. E depois disso passei a fazer muitas paradas, onde eu me sentava ou deitava na neve e tentava respirar. O guia não gostou muito disso, mas não falou nada. Numa dessas paradas, no meio de uma vale, vi que por todo o vale próximo a nós existiam dezenas de pedras de gelo espalhadas. Algumas pedras eram pequenas, outras tinham o tamanho de uma moto. Perguntei ao guia de onde vinham aquelas pedras e ele me mostrou numa parte da montanha atrás de nós uma pequena geleira. Segundo ele quando esquentava, algumas pedras se soltavam e desciam pelo vale numa espécie de avalanche. Na mesma hora levantei e disse a ele para seguirmos em frente, pois aquele local não era bom para descanso. Depois de todo o esforço para subir a motanha, o que menos queria era ser atropelado por um cubo de gelo gigante.

A sede foi apertando, comecei a ficar tonto e as pernas não obedeciam direito. Vi que estava ficando desidratado e minha água continuava congelada. Passamos a descer por uma trilha estreita e eu tropecei com a ponta do pé direito no calcanhar do pé esquerdo, caindo literalmente de boca na neve. O guia fez rapidamente a ancoragem esticando a corda e não deixando que eu saísse rolando trilha abaixo. Ali o guia conseguiu fazer a ancoragem, mas continuei achando que se fosse num local mais inclinado e perigoso, ele não conseguiria. Seguimos montanha abaixo, fazendo algumas poucas paradas para descanso e para tirar fotos. Eu que sou de bater muitas fotos, nesse dia não estava com ânimo para ficar a todo instante tirando as luvas e batendo fotos. Os lugares pelos quais estávamos passando dariam boas fotos, mas preferi guardar tais imagens na memória, pois isso dava menos trabalho.

Os alemães passaram por nós e desceram rapidamente pela montanha. Depois pegaram uma trilha a direita e sumiram de vista atrás de umas pedras. Mais abaixo já era possível ver o nosso refúgio que parecia estar perto, mas que levou meia hora para chegarmos até ele. Essa meia hora foi uma das mais longas de minha vida, pois eu não me aguentava mais e meus dedos dos pés estavam cada vez mais doloridos. Ao todo levamos quase três horas de descida até chegarmos ao refúgio. Paramos tirar os grampões e para isso sentamos numa pedra. Eu não estava conseguindo tirar os meus e o guia veio me ajudar. Em seguida atravessamos os poucos metros até a entrada do refúgio, onde encontrei o Cecilio, o guia da Bruna e o casal de suíços, todos sentados tomando sol. Perguntaram se eu tinha chegado ao cume e diante de minha resposta vieram me cumprimentar. Os suíços contaram que desistiram da subida após a primeira hora, e colocaram a culpa no problema de estômago da guria. Eu mal conseguia estender a mão para eles e só agradeci rapidamente e entrei no refúgio em busca de água. Depois de beber um litro de água, sentei-me e tirei as roupas para neve e as botas que estavam esmagando meus dedos. Então encontrei a Bruna, que me deu parabéns por ter chegado ao cume.

Subi até o dormitório e entrei no saco de dormir, pois estava começando a sentir muito frio. O Cecilio subiu para falar comigo e disse que era para arrumar minhas coisas, pois precisávamos descer até o primeiro refúgio aonde o taxi iria nos buscar. Pedi a ele que me desse meia hora para descansar, pois eu estava exausto e desidratado. A Bruna subiu e se sentou no colchão ao lado do meu. Ficamos conversando, eu contando um pouco de como tinha sido a subida. Logo o guia dela veio chamá-la, pois eles iam embora primeiro. Eu e Bruna nos despedimos e voltei a deitar. Após 15 minutos o guia veio me chamar e não sei onde encontrei forças para levantar e arrumar minhas coisas. Coloquei minhas botas de caminhada e elas que sempre achei serem pesadas agora pareciam leves. A sensação era de estar com um chinelo nos pés. Após tantas horas com as pesadas botas para gelo nos pés, minhas botas de caminhada pareciam plumas.

Com dificuldade comecei a descida por entre o gelo e as pedras na trilha abaixo do refúgio. O Cecilio pegou minha mochila menor e colocou nas costas, o que foi uma grande ajuda. Os dois guias e o casal suíço desceram na frente, caminhando num bom ritmo. Eu fui atrás, me arrastando. Fiz algumas paradas para descansar e ao longe vi que os guias paravam de vez em quando e ficavam me olhando. Eles tentavam nunca me perder de vista. Quase no final do trecho cheio de pedras, escorreguei e caí de bunda no chão. Por sorte caí num trecho onde não tinha pedras na trilha, então somente o orgulho ficou machucado. Felizmente ninguém me viu caindo.

Antes de chegar ao segundo trecho da trilha, encontrei os dois guias sentados, me esperando. Sentei ao lado deles e ficamos conversando por alguns minutos. Depois voltamos a caminhar, eles na frente e eu cada vez mais atrás. Segui me arrastando e torcendo para chegar logo o final da trilha, pois não tinha mais forças. E numa curva da trilha dei de cara com a Bruna, sentada em uma pedra. Foi bom encontrá-la ali, principalmente por que imaginava que não fosse revê-la tão cedo. Mesmo saindo na frente, ela seguia devagar e fazia paradas para descansar, então acabei a alcançando. Passámos a caminhar juntos e foi à vez dela retribuir o favor do dia anterior e me dar apoio moral para eu seguir em frente. Encontramos os três guias parados num canto da trilha e quando viram que estávamos caminhando juntos, os três se mandaram na frente e só fomos encontrá-los novamente quando chegamos ao refúgio.

Nosso taxi, o mesmo da ida, já estava lá nos esperando. Arrumei minhas coisas e guardei tudo no taxi. Me despedi novamente da Bruna, que seguiria com o seu guia em outro carro. Também me despedi do pessoal do refúgio e do Jhony, o guia que subiu junto comigo. Ele disse que eu era forte. Agradeci a ele pela ajuda e entrei no taxi, no banco de trás junto com os suíços. Eu estava muito cansado e só pensava em chegar ao hostal e dormir. Tentei dormir no carro, mas era apertado, desconfortável e na estrada esburacada chacoalhava muito. Ao passarmos em frente ao velho cemitério que fica ao lado da estrada, me virei para trás e dei uma última olhada na montanha de Huayna Potosi. Ela aparecia majestosa iluminada pelo sol, com o céu azul por trás e com seu manto branco de neve. Olhando para a montanha eu não acreditei que tinha chegado até seu cume. A ficha ainda não tinha caído! E jurei que nunca mais subiria uma montanha nevada novamente.

Foi torturante a quase uma hora que levamos para chegar até a casa do Cecilio. Como era descida o taxista parou em frente a casa, na beirada do abismo. O Cecilio descarregou suas coisas, despediu-se de todos e embarcamos no taxi. Dessa vez me sentei no banco do carona e quando olhei para frente e vi o tão próximo que estávamos da beira do abismo, achei melhor não colocar o cinto de segurança e fiquei segurando na fechadura da porta. Vai que o motorista erra a ré, ou acontece algum outro problema? Achei melhor me garantir e ter uma chance de me atirar para fora do carro caso fosse necessário. Felizmente nada de ruim aconteceu e após mais uma hora andando por ruas sem asfaltdo e parte do centro de La Paz, finalmente chegámos ao Hostal.

La Paz

Fui até a recepção do Hostal El Solário e pedi um quarto e também minha mochila grande que tinha ficado guardada no depósito. Dessa vez me deram um quarto próximo a recepção e com um banheiro ao lado da porta. Fui primeiro ao banheiro e na hora de sair bati a porta com força e escutei um click. Só então li um aviso pregado na porta, escrito em espanhol e inglês e que dizia para não trancar a porta, pois tinham perdido a chave. Olhei para os lados e não vi ninguém que testemunhasse a cagada (não literal) que eu tinha acabado de fazer. Entrei no meu quarto, dei uma olhada rápida nele e vi que era melhor do que o quarto onde tinha ficado anteriormente. Tirei minhas botas, sentei na cama e a testei para ver se era confortável e vi que a exemplo do quarto, a cama era bem melhor do que a anterior. Depois disso não me lembro de mais anda, pois dormi.

Acordei às 15h30min com barulho de vozes no corredor ao lado. Olhei para os lados e demorei um pouco para entender o que estava acontecendo e onde eu estava. Foi aí que me lembrei de que eu estava sujo, sem comer nada a umas 15 horas e que tinha chegado ao cume do Hyaina Potosi, realizando o antigo sonho de escalar uma montanha nevada. Finalmente a ficha caiu e senti aquela sensação gostosa de missão cumprida. Sei que parece insano você se arriscar, sofrer e levar horas para chegar ao alto de uma montanha, onde fica poucos minutos e depois desce. Mas isso não é insano, isso para quem gosta não tem preço e para saber como é tal sensação o único jeito é você fazer algo igual. Não é possível explicar como é tal sensação, só é possível sentir e sentimentos não são explicavéis, eles são sentidos, são vividos, são exercitados…

Fui tomar banho e fiquei longos minutos debaixo do chuveiro, com a água quente caindo sobre meu corpo. Após ter enfrentado as menores temperaturas de minha vida, um banho quente era uma espécie de prêmio que eu dava a mim mesmo. Fui para o quarto e tirei minhas coisas das mochilas, separei o que era sujo do que era limpo, dei uma organizada em tudo e senti o estômago roncando. Saí a rua e mais uma vez ao passar pelos muitos salões que existem na vizinhança o pessoal ficou me chamando para entrar e fazer a barba. Eu já estava cansado disso, que acontecia toda vez que saía do hostal e passei a fazer de conta que não os ouvia. Deixei de ser educado e responder a todos dizendo não e passei a olhar para frente e não dar bola para ninguém. Fui ao restaurante da esquina de baixo, onde já tinha comido algumas vezes. Pedi o maior prato de arroz, frango frito e batata fritas que eles tinham e uma Coca-Cola gelada. Almocei lentamente e ao sair do restaurante parei na vendedora de abacaxis que ficava na rua em frente e comi duas enormes fatias de abacaxi. Depois fui caminhar e desci por uma longa avenida que passava ao lado e que atravessava o centro da cidade. Estava com dor nas pernas, mas continuei caminhando lentamente. Minha calça jeans (a única que levei na viagem) ficava caindo, sinal de que eu tinha perdido ainda mais peso do que já tinha perdido desde que saí do Brasil.

Fiquei duas horas andando pelas ruas, olhando vitrines, construções e pessoas. Parei tomar um delicioso sorvete de pêssego, com muitos pedaços de pêssego. Antes de voltar ao hostal entrei em uma lan house, onde telefonei para casa e depois fiquei usando a internet. Quando anoiteceu fui para o hostal e descansei um pouco. Mais tarde saí e fui jantar em outro restaurante cujo prato principal também era arroz, frango frito e batata frita. Fiquei olhando o cardápio e para comemorar minha recente façanha pedi o prato mais caro, que era frango parmegiana. O prato mais caro custava $ 26,00 bolivianos (R$ 8,20). O frango parmegiana deles é diferente do frango parmegiana brasileiro. Não tinnha molho de tomate e nem queijo por cima. Na verdade era uma mistura de frango, massa de trigo e ovo, tudo misturado, prensado e assado na chapa. Mas o que me surpreendeu foi o tamanho, era enorme e achei que não conseguiria comer tudo. Mas comi, pois precisava recuperar minhas forças que tinham sido perdidas em Huayna Potosi. Voltei para o hostal de pança cheia e caí na cama pensando qual seria a próxima montanha nevada que eu subiria. A promessa de nunca mais subir novamente uma montanha nevada não tinha durado muitas horas. Apesar do sacríficio tinha gostado da experiência e queria repeti-la um dia. Logo dormi curtindo a cama confortável e quente.

Pronto para o ataque ao cume do Huayna Potosi.

Momento de descanso.

Cume (la cumbre) do Huayna Potosi.

Descansando numa temperatura de -15 graus.

O sol nascendo.

Com Jhony, o meu guia na montanha.

Descendo Huayna Potosi após chegar ao seu cume.

Trecho de neve fofa.

Descendo o Huayna Potosi.

Huayna Potosi.

Em Huayna Potosi.

Huayna Potosi.

Huayna Potosi.

Admirando a paisagem.

Huayna Potosi.

Quase chegando ao refúgio Alta Rocha.

Refúgio Alta Rocha.

Me despedindo de Bruna, no primeiro refúgio.

A última imagem que tive do Huayna Potosi.

Vista de La Paz a partir da casa do Cecilio, o guia.

Viagem ao Peru e Bolívia (20° Dia)

03/06/2012 

Huayana Potosi – 2° dia

Tive que ir de madrugada ao banheiro, que ficava do lado de fora do refugio. Fazia um frio de três graus. Na volta do banheiro parei para brincar com um cachorro que estava dormindo num canto da sala onde guardamos os equipamentos. Passei a mão nele, que não gostou e tentou me morder. O cachorro mesmo sendo pequeno era bastante bravo e se eu não fosse ligeiro tinha levado uma bela de uma mordida. Depois do susto voltei para a cama, olhei no relógio e vi que passava um pouco das cinco horas.

Levantamos cedo, tomamos café, arrumamos nossas coisas e saímos do abrigo. Seguimos montanha acima rumo ao segundo refúgio, de onde partiríamos para o ataque ao cume do Huayna Potosi. Foi complicado arrumar todas as minhas coisas e fazer caber tudo em minhas duas mochilas. Tive que amarrar fora da mochila a bota para gelo, que era bastante pesada. A trilha pela qual seguimos era a mesma que tinhamos percorrido no dia anterior, quando fomos até o Glaciar Velho. Antes de chegar ao cruzamento que leva ao glaciar, encontramos duas mulheres em uma mesa ao lado da trilha. Elas estavam ali para registrar os dados de quem estava seguindo para Huayna Potosi e cobrar uma taxa de manutenção no valor de $ 10,00 bolivianos. Após fazermos o registro e pagar a taxa, voltamos à trilha. Quando chegamos próximo ao Glaciar Velho, viramos a direita e seguimos por uma trilha que subia a montanha.

Conforme íamos subindo o ar ia ficando ainda mais rarefeito em razão da altitude. E com sol na cabeça e o peso das mochilas, o desgaste e o cansaço foram enormes. Caminhei o tempo todo junto com a Bruna, conversando com ela e incentivando-a a seguir em frente. Ela quando comprou o pacote para Huayana Potosi, não sabia o quanto difícil era chegar até o alto da montanha. E também não estava preparada fisicamente, então sofreu bastante para caminhar no ar rarefeito carregando sua mochila. A trilha no início era larga e conforme subia ia ficando estreita e cercada de pedras. Na parte final da trilha os guias seguiram na frente, pois iam preparar o almoço. O casal de suíços caminhava lentamente, fez várias paradas, mas seguiu em frente. Eu fiquei o tempo todo junto com a Bruna e quando ela parava eu parava, quando andava eu também andava. Ela estava muito cansada, mas foi guerreira e encontrou forças para seguir em frente.

Na parte final da trilha, alcançamos a parte da montanha onde tinha gelo. No início era pouco gelo, no meio das pedras. Conforme subíamos, o gelo ia aumentando e era sólido e liso, então tinhámos que tomar bastante cuidado para não escorregar. Não estavámos usando as botas para gelo, então todo cuidado era pouco. Já morreu gente ali, que escorregou e caiu montanha abaixo no meio das pedras. Na parte final da trilha a Bruna estava nas últimas, e para ajudar até carreguei algumas coisas dela. Após três horas de desgastante caminhada, finalmente chegamos ao segundo refugio de Huayna Potosi, chamado de Campo Alta Rocha (Rock Camp). Esse refugio é feito de pedra, uma bela construção situada a 5.130 metros de altitude. Ao ver o refugio fiquei imaginando o trabalhão que deu para construí-lo, levando o material nas costas montanha acima.

O refugio não era tão limpo e arrumado igual o refugio anterior, mas era aconchegante. Suas paredes internas eram revestidas de compensado e estavam cheias de inscrições, desenhos, mensagens e até algumas bandeiras deixadas por pessoas do mundo todo que passaram por aquele abrigo nos últimos anos. O dormitório era na parte de cima e para chegar até ele era preciso subir uma escada de madeira. Escolhi um colchão e ali estendi meu saco de dormir e deixei minhas mochilas ao lado. Na sala de refeições deixamos todo o equipamento de escalada sobre uma mesa e debaixo dela.

Pouco depois do meio-dia o almoço foi servido. Arroz, linguiça, tomate e pepino (que dispensei) era o cardápio. A comida estava boa, creio que mais em razão da fome que eu sentia do que em razão da qualidade culinária dos guias que a fizeram. Após comermos teve uma rápida reunião, onde o guia informou a programação do dia. Basicamente era descansar, dormir, comer, descansar mais, comer mais e dormir de novo. Saíriamos a uma da manhã para fazer o ataque ao cume do Huayna Potosi. A meia noite deveríamos nos reunir na sala de refeições para colocarmos as roupas e o equipamento. Fui para meu colchão e tentei dormir, mas não consegui. Resolvi sair e ver a vizinhança do abrigo. Mesmo com sol fazia frio e ventava, então não me demorei muito do lado de fora e voltei para minha cama. Conversei com a Bruna durante um longo tempo, ela estava achando que não conseguiria subir a montanha, pois a subida até o segundo abrigo tinha esgotada suas forças.

Fui ao banheiro, que ficava fora do refugio e no meio da neve. O banheiro era sinistro, feito com restos de madeira e ficava na borda da montanha. O vaso sanitário era um balde com um assento de privada, e o que se fazia dentro dele ali ficava até ele ficar cheio e algum guia levar o balde montanha abaixo para despejar seu conteúdo em algum canto. E eu que tinha achado ruim o banheiro do primeiro refugio! E chegar até o banheiro era complicado, principalmente a noite. Se o cara tivesse apurado ele podia pisar no gelo em volta do banheiro, escorregar e quebrar o pescoço! Tomei meu banho de gato, troquei a roupa e fui descansar mais um pouco.

As 17h00min a janta foi servida e o prato foi macarrão. Depois de comer saí com Bruna para tirar fotos do lado de fora do refugio. A noite estava chegando e junto com ela uma bela lua cheia. Estava muito frio do lado de fora e após tirar algumas fotos e admirar a vista, voltamos para nossas camas. A noite chegou de vez e junto com ela uma ventania que dava medo. Em alguns momentos o vento era tão forte, que fazia um barulho parecido com um uivo. Fiquei deitado em meu colchão, me aquecendo dentro do saco de dormir e pensando na insanidade que seria sair com aquele vento, no frio abaixo de zero que devia estar fazendo lá fora, para caminhar de madrugada rumo ao cume da montanha. Mas se eu tinha chegado até ali, não ia desistir. E sou insano o suficiente para encarar frio, vento, altitude e madrugada na montanha.

Conversei um tempo com Bruna e ela contou que estava decidida a não subir a montanha, que para ela tinha terminado ali. Quem ficaria feliz seria o guia dela, que poderia ficar dormindo em vez de passar horas caminhando no frio. Falei a Bruna que a escolha dela era sensata, pois mesmo eu tendo me preparado fisicamente e feito uma boa aclimatação para subir a montanha, eu não sabia se conseguiria chegar ao cume. Falei que ela era uma vencedora por ter chegado até onde chegou, pois conheço muito marmanjo que não teria a coragem e a força de vontade que ela teve em chegar até ali onde estavámos.

O interior do dormitório foi ficando cada vez mais frio e somado a falta de sono e a ansiedade, ficou difícil pegar no sono. Fiquei um longo tempo ouvindo o ruido assustador do vento do lado de fora e pensando na vida. Finalmente consegui adormecer, mas logo fui acordado pela Bruna que acendeu a lanterna e procurava algo em sua mochila. Consegui dormir novamente e mais uma vez fui acordado pela Bruna fazendo barulho, creio que procurando mais roupas para vestir, pois ela parecia sentir muito frio. Voltei a dormir novamente e dessa vez não fui mais acordado.

Trilha para o segundo refugio.

Bruna em uma de suas muitas paradas para descanso.

Abaixo a esquerda, o Glaciar Velho.

O casal de suíços e os guias.

A exausta Bruna.

Quase no final da trilha.

Refugio Alta Rocha (5.130 metros de altitude).

Almoço no segundo refugio.

Dois brasileiros e dois suíços partilhando a mesa no refugio.

Sob a mesa, parte de nosso equipamento.

O banheiro sinistro.

Interior do banheiro.

Entardecer no Campo Alto Rocha.

Descansando no dormitório.

Ao anoitecer surgiu a bela Lua Cheia.

Com Bruna, a corajosa gauchinha.

Vista que tinhamos de um dos lados do refugio.

Viagem ao Peru e Bolívia (19° Dia)

02/06/2012 

Huayana Potosi

O Huayna Potosi é uma montanha de 6.088 metros, que faz parte da Cordilheira dos Andes e une a Cordilheira Real ao maciço de Mamacora Taquesi e do Condoriri, através de uma cadeia de montanhas menores. O Huayna Potosi é o destino de muitas pessoas com pouca ou nenhuma experiência em alpinismo. São amadores do montanhismo que sonham escalar uma montanha com mais de seis mil metros, e o Huayna Potosi oferece a rara oportunidade para que estes alpinistas realizem o sonho de escalar uma alta montanha. Acompanhados por guias eles chegam até o cume do Huayna Potosi utilizando a rota normal, que é relativamente fácil se comparada com a rota oeste ou noroeste da montanha, que possuem dificuldades técnicas que somente montanhistas experientes conseguem transpor. Huayna Potosi fica distante cerca de 25 quilômetros de La Paz. É possível chegar de carro até o primeiro refugio de Huayna Potosi, localizado acima de quatro mil metros. A estrada que leva até o refugio não é asfaltada, mas está sempre em boas condições, o que permite que até mesmo carros de passeio transitem por ela sem problemas.

Huayana Potosi – 1° dia

Pulei cedo da cama e corri para o banheiro. Acordei muito mal do estômago e o culpado era o Salchipapas que comi na noite anterior. Eu estava mal, com muita dor na barriga, diarreia e enjoo. Justamente quando ia partir para o maior desafio de toda a viagem, quando ia fazer o que mais desejava nessa viagem, fui ficar mal. Por outro lado a garganta estava totalmente curada e em boa parte graças aos antibióticos salvadores que o Enrico tinha me dado. Entre dores e enjoos acabei de arrumar minhas coisas. Depois levei a mochila grande para guardar no depósito do hostal e paguei a conta referente aos dias que tinha ficado hospedado ali.

Na agencia de turismo que fica na entrada do hostal, encontrei o guia e o casal de suíços com os quais eu iria para Huayana Potosi. O guia nos disse que teríamos que ir a pé até o local onde um táxi nos aguardava. Era aniversário da Bolívia e as ruas próximas ao hostal estavam todas fechadas, pois aconteceria um grande desfile comemorativo pelo centro da cidade. Saímos à rua seguindo o guia e eu me sentindo cada vez mais enjoado. Não conseguia deixar de lembrar do gosto do tal Salchipapas. Sempre que algo me faz mal isso acontece, meu estômago fica me lembrando do gosto do que me fez mal, para que eu nunca mais volte a comer tal coisa. As ruas estavam sem carros, mas cheias de gente. E ao atravessar uma grande avenida tivemos que dar uma corridinha, pois estava se aproximando o desfile, com muitas pessoas usando roupas típicas. Mais alguns quarteirões e chegamos até um velho táxi que nos esperava. Fomos guardar nossas coisas no porta malas e foi então que o guia percebeu que tinha esquecido minhas roupas para frio. Ele voltou até a agencia enquanto eu e os suíços ficamos esperando no táxi. Resolvi tomar uma Coca-Cola numa barraquinha próxima, para ver se aliviava minhas dores de estômago. Não tinha Coca gelada, então foi uma quente mesmo! O dono da barraquinha viu que eu era brasileiro e contou que já morou em São Paulo e que trabalhou com costura no Braz. A quantidade de bolivianos que conheci e que moraram e trabalharam em São Paulo, era impressionante! Voltei para o táxi e comecei a conversar com o taxista. Falamos muito sobre futebol e política. Após 40 minutos o guia voltou com as coisas que tinha esquecido.

Antes de seguir rumo à Huayana Potosi fizemos uma parada numa feira, em um bairro afastado. O guia ia comprar algumas coisas que faltavam para as refeições e eu aproveitei para ir numa farmácia. Contei a atendente sobre meu problema e ela me indicou uns comprimidos. Tomei um comprimido ali mesmo na farmácia. Antes de voltar ao táxi fui comprar água e uma garrafa de Coca-Cola, que pretendia levar para beber no cume do Huayana Potosi. Voltei ao táxi, me sentei e fiquei curtindo meu mal estar. O guia demorou em voltar e quando voltou estava cheio de sacolas com comida. Partimos e após atravessar alguns bairros distantes do centro de La Paz, chegamos até um bairro que fica na parte alta da cidade, com ruas esburacadas e empoeiradas. Paramos numa rua e o guia perguntou se eu podia ir com ele até sua casa, para pegar algumas coisas, inclusive minha bota para gelo. Fui com ele e fiquei impressionado com a vista que se tinha a partir da casa do guia, que ficava bem perto da beira do barranco. Da casa dava para ver boa parte de La Paz, e o Illimani, que é uma enorme montanha nevada próxima a La Paz. O guia demorou um pouco e logo começou a sair com mochilas, sacos e cordas. Peguei metade das coisas, joguei nas costas e subi rumo ao taxi. Eram uns 300 metros rua acima e sofri com o peso e a falta de ar.

Era quase meio-dia quando finalmente pegamos a estrada poeirenta que leva até o Huayana Potosi. Até certo ponto a estrada era a mesma pela qual eu tinha passado no dia anterior rumo ao Chacaltaya. Dobramos a esquerda e seguimos por uma longa estrada de onde dava para ver uma represa morro abaixo. Passamos por um velho cemitério abandonado, que fica ao lado da estrada e de onde se tem uma vista muito bonita do Huayana Potosi. Chegamos a um posto de controle e entramos numa mineradora abandonada. Mais um pouco e chegamos ao refugio Casa Blanca, situado a 4.740 metros de altitude. A possibilidade de chegar de carro até tal altitude é o que faz o Huayana Potosi ser uma das poucas montanhas no mundo com mais de 6.000 metros, onde pessoas sem experiência e com um pouco de preparo físico conseguem chegar ao cume.

Fazia sol, mas fazia frio no refugio e achei interessante algumas poças d’agua no chão, que estavam congeladas. Entramos no refugio e logo na entrada tinha um local para guardar a roupa e equipamento de escalada. Depois entramos numa sala com uma grande mesa e nas paredes diversos quadros e fotos de montanhas enfeitando o local. Uma senhora veio nos receber e falou que era para deixarmos nossas mochilas no andar de cima, onde ficava o dormitório. Para subir ao dormitório era preciso tirar o calçado e o deixar no pé da escada. O dormitório estava muito organizado e limpo, com colchões espalhados pelo chão. Escolhi um colchão no canto e ali estendi meu saco de dormir. Aliás, o saco de dormir tinha sido emprestado pelo guia, pois o meu é para zero graus e o guia achou melhor que eu levasse um saco de dormir para temperaturas negativas, então me emprestou um para até 15 graus negativos. O casal de suíços (não anotei e não consigo lembrar o nome deles) se ajeitou nos colchões ao meu lado. Na hora de descer a escada de madeira, que era estreita e íngreme, escorreguei e quase caí de cabeça escada abaixo. Era o que me faltava, chegar tão perto do Huayana Potosi e me machucar ao cair da escada do abrigo, antes mesmo de começar a subir a montanha. 

Era 13h50min quando o almoço foi servido. O cardápio era arroz e peito de frango assado. A comida estava fria, quase gelada, mas saborosa. Eu que gosto de comida fria não me importei, mas os suíços fizeram cara feia e reclamaram um pouco. Após comermos, o guia fez uma rápida reunião ali mesmo na mesa. Depois fomos deitar para descansar um pouco e vi os suíços tomando chimarrão. Isso mesmo!! Perguntei onde eles tinham conhecido tal bebida e me contaram que foi durante um mês que passaram na Argentina. O remédio fez efeito, pois as dores na barriga e o enjoo desapareceram.

Às 15h00min descemos para a entrada do abrigo e ali aprendemos como vestir as roupas de frio e o equipamento de segurança. Colocar a bota de neve deu um trabalhão, pois ela é muito pesada e tem uma parte interna com cordão e depois a parte da bota propriamente dita, com outro cordão. Sofri para amarrar os cordões, que não ficavam firmes o suficiente e se desamarrariam muitas vezes. Saímos equipados e fomos subir rumo a uma geleira que fica montanha acima. A trilha era estreita, no meio das pedras e logo comecei a sentir muito calor em razão de estar usando a roupa para gelo. Senti-me bem adaptado com relação à altitude e consegui caminhar no mesmo ritmo que o guia. O casal suíço subiu lentamente,  fizeram várias paradas e estavam com dificuldade para respirar. E o que piorava a situação deles é que ambos eram fumantes. Então para eles era ainda mais difícil respirar ali, com pouco ar em razão da altitude. Após 45 minutos de caminhada chegamos ao Glaciar Velho, uma geleira que é utilizada para treinamento dos novatos em prática de escalada em gelo. Quase no final da trilha passamos por uma garota que tinha cara de norte americana, e seu guia boliviano. Ao chegar à geleira o guia olhou para mim, mostrou a garota pela qual tínhamos acabado de passar e disse que ela era brasileira. Logo a guria e seu guia pararam ao nosso lado e fiquei olhando para ela, vendo suas roupas e acessórios em busca de algum sinal que mostrasse que ela era mesmo brasileira. Como não encontrei nada, falei algo a ela em português. Ela se virou e me respondeu em espanhol. Achei que ela não era brasileira e que o guia estava equivocado, mas logo ela pediu desculpas por ter me respondido em espanhol (questão de hábito) e desandou a falar em português, com sotaque gaúcho. O nome da gauchinha era Bruna, e logo ela se transformaria numa das pessoas mais especiais que conheci nessa viagem.

Na geleira o guia nos ensinou a colocar os grampões (garras para andar no gelo) nas botas e também explicou como utilizar o piolet (espécie de machadinha) para caminhar no gelo e subir paredões gelados. Em seguida ele nos mostrou as várias técnicas para caminhar sobre o gelo, tanto para subir, como descer e andar lateralmente. No começo tomei cuidado, pois não me sentia seguro e parecia que ia cair a todo o momento. Logo peguei prática e comecei a andar de cima para baixo sem medo. A lição seguinte foi subir em paredão de gelo utilizando os grampões. Você tinha que literalmente chutar o paredão, para cravas as garras do grampão no gelo. E ao mesmo tempo que chutava o gelo tinha que utilizar o piolet cravando ele no gelo para ir subindo paredão acima. No começo deu um pouco de medo, mas logo peguei o jeito e ficou divertido. E a última lição foi escalar um paredão de gelo utilizando os grampões, dois piolets e com uma corda amarrada em você, tendo outra pessoa fazendo a ancoragem. Achei que o guia por ser pequeno não ia conseguir fazer a ancoragem e me segurar caso eu caísse. Ele disse que eu podia confiar e foi o que fiz, já que não tinha outra opção. Essa subida foi divertida, pois ao fixar os grampões no paredão voava gelo para todo lado. Eu subi de uma vez e quando cheguei ao alto do paredão fiquei sem fôlego e pedi para o guia esperar eu me recuperar, para então eu poder descer. O paredão que subi tinha uns doze metros e somente quando cheguei ao alto é que olhei para baixo e senti um pouco de medo. Cair lá de cima seria perigoso, ainda mais que existia uma fenda no gelo em baixo, logo no final do paredão. Após descansar uns minutos o guia puxou a corda e mandou-me descer. Resolvi confiar nele e soltei meu corpo, deslizando em segurança paredão abaixo. Foi tão divertido que deu vontade de repetir a experiência. Após eu descer foi a vez dos suíços subirem, sendo primeiro o marido e depois a esposa, que mostrou muita prática em subir. Enquanto eles subiam fiquei vendo a Bruna subir outro paredão próximo de onde estávamos. A gauchinha era corajosa!

Treinamento feito, tiramos os grampões e seguimos trilha abaixo de volta para o abrigo. Chegamos ao abrigo pouco depois das 17h00min e fomos tomar café. Logo chegaram a Bruna e seu guia. Eles tinham tido um desentendimento e a Bruna não quis ficar sozinha com ele em outro abrigo ali perto, onde eles estavam instalados. Então ficou decidido que a Bruna faria parte de meu grupo e ficaria no nosso alojamento. Para mim foi uma boa notícia a vinda da Bruna para o meu grupo, pois eu teria com quem conversar, já que os suíços e o guia se isolavam e não eram de conversa. E foi isso que aconteceu entre a hora do café e a janta. Eu e Bruna ficamos conversando sem parar, sentados a mesa. Nossas conversas foram sobre vários assuntos e nasceu ali uma boa amizade. A Bruna tem 24 anos e está no interior da Bolívia fazendo trabalho voluntário em um orfanato. Ela é recém-formada em enfermagem e antes já tinha feito um trabalho semelhante na Venezuela. A Bruna ganhou muitos pontos comigo, ao dizer que eu tinha uns 26 anos. Um quarentão como eu ser taxado como um jovem de vinte e poucos anos é uma excelente massagem ao ego. Ou então a Bruna não enxergava muito bem!! Vai saber? Kkk….

A janta foi servida às 18h10min e estava um pouco melhor do que o almoço. De entrada foi servida sopa quente e depois macarrão com carne moída. Depois da janta subimos todos para o alojamento, onde arrumei minhas coisas e me preparei para tomar banho. Ao me virar para sair do alojamento dei de cara com a suíça, que estava abaixada, de calcinha preta, trocando de calça e com o traseiro virado para meu lado. Na hora fiquei sem jeito, pois não sabia se seguia para fora e passava por trás dela, se virava o rosto e não olhava, ou então se olhava para ela se trocando. O marido dela estava do meu lado e isso me deixou ainda mais sem graça. Olhei para a Bruna, que estava sentada em seu colchão e a cara dela era de espanto. Mais uma vez tive a prova de que as mulheres europeias não são cheias de pudores iguais a sul americanas e asiáticas. Para elas trocar de roupa ou andar com pouca roupa em frente de estranhos não é nenhum problema. (Teve o caso da holandesa no hostal na Isla del Sol).

Fui tomar meu costumeiro banho de gato. O banheiro ficava cerca de cem metros distante do abrigo, numa área descampada. Não tinha luz, o vaso sanitário era velho e quebrado e a descarga era alguns galões com água que ficavam num canto do banheiro e que cuja água você despejava no vaso após usá-lo. A janela do banheiro não tinha vidro e a porta era cheia de buracos e não fechava direito. Resumindo, utilizar banheiro ali era um problema sério. E nesse banheiro tomei meu banho de gato, passando uma toalha molhada pelo corpo e depois lenços umedecidos. Em seguida coloquei camiseta, meias e cueca limpas. Quase congelei ao realizar tal procedimento. Acabei emprestando meus lenços umedecidos para a Bruna tomar o banho de gato (no caso dela banho de gata!). Os suíços não sei se tomaram banho ou algo parecido. Pouco depois das 19h30min todos se recolheram para seus sacos de dormir. Eu não sei e não gosto de dormir cedo, então para mim foi um problema ir deitar tão cedo. E para piorar meu MP3 tinha passado o dia todo ligado dentro da mochila e ficou sem bateria. O jeito foi ficar quieto dentro do saco de dormir, pensando na vida. E de hora em hora eu ouvia o bip de meu relógio dentro da mochila jogada num canto e ficava sabendo que horas eram. Acabei dormindo depois das 23h00min e pouco antes tinha olhado meu termômetro, que marcava sete graus.

 

História – Huayna Potosi

A história do Huayna Potosi é confusa e parece que o grande especialista inglês dos Andes Meridionais, Sir Martín Conway haveria tido dúvidas quanto a geografia deste “senhor” dos Andes Bolivianos. Em 1877, quando o francês Charles Wiener e seus companheiros de Illimani fazem uma tentativa de escalada que, como temos visto, se viu coroada com êxito, um grupo de alpinistas alemães tenta a ascensão do Huayna Potosi. Sem equipamento, desprovidos de víveres e praticamente sem nenhuma informação, se lançam para o alto desconhecido apesar de sua proximidade da cidade. Quatro deles teriam de encontrar um destino trágico, acima dos 5.600 metros de altitude; os outros dois, desesperados tentaram uma descida arriscada pelo glaciar. Porém a neblina estava ali fazia uma semana e com dois metros de neve profunda recém-caída, o que impede uma progressão rápida. Depois de 11 dias passados e em condições climáticas espantosas, os dois alpinistas chegam ao colo de Zongo a 4.890 metros, onde morrem de esgotamento. Em 9 de setembro de 1898, outra expedição provavelmente austríaca tenta sua vez na aventura; desceram também depois de 5 dias passados a 5.900 metros.

Em 1919, os alemães R. Dienst e O. Lhose, chegam enfim ao cume da ponta sul, ligeiramente mais baixa que a norte, neste mesmo momento, os italianos e os suíços fazem várias incursões no cume vizinho e fracassam em seu intento, o que os leva ao Condoriri sem lograr maior êxito. Este último se encontra muito próximo do Huayna Potosi.  A partir de 1940 que os italianos junto com Pietro Chiglione, chefe da expedição chegaram a pisar pela primeira vez alguns cumes vizinhos do Huayna Potosi, como o Taquesi, Cumacutincora e Michuloma, dos quais nenhum chega aos 6.000 metros. Sem embargo, levando em conta as possibilidades técnicas da época, estas escaladas representam dimensões de verdadeiras explorações que bem podem ser consideradas como façanhas. Em 1950, o Huayna Potosi é objeto de uma ascensão internacional; sua proximidade da capital unida a sua beleza fazem dele, junto com o Condoriri, o Illimani e o Illampu, um dos cumes mais cobiçadas da Cordilheira Real.  Depois das vias normais, sudeste e noroeste, que se unem a outro cume, as faces oeste, as arestas norte se impõem como linha direta para alcançar o ponto culminante. Várias tentativas franco bolivianas, alemãs e americanas, fracassaram. Somente em 1969 que o americano, Roman Labat abre uma via lógica até o cume pela aresta Noroeste cortando uma parte da face oeste. Pouco depois, uma equipe alemã faz a aresta integralmente (Rudolf Knott, Peter Schleyer e Otto Ekkehart).  

Em 1970, a verdadeira rota desta face, partindo da base do cume norte, estava por abrir. Ernesto Sánchez e Alain Mesili trataram de escalar sem êxito, depois de passados 4 dias em péssimas condições climáticas e quase sem material; uma queda de Mesili sob as estrias entre os blocos de gelo deteriora a situação moral e física dos dois escaladores.  Acima dos 5.600 metros, um bloco de pedra corta a corda em várias partes e eles decidem pela descida. Seriam necessárias 15 horas de cramponagem de descida metro a metro, entre nevascas e trovoadas, pelas pendentes de 55º a 60º graus para chegar à rota principal. Em 1977 os franceses Cristian Jacquier, Dominique Chapuis e Christian Charriere, abrem exitosamente a primeira via, pelo extremo lado direito da parede, saindo assim pela parte baixa do pico sul.  Em julho de 1978, Michel e Jean Affansief traçaram uma via quase idêntica a anterior. Em setembro do mesmo ano, Frederic Faure, Guy Challeat, Yves Levy e Alain Mesili, abrem uma via pela borda do cume principal. O Huayna Potosi apresenta um atrativo especial, uma atração estética para o alpinista.

Nestes últimos anos, a via normal tem sido escalada centenas de vezes por temporada, o que é comparável ao Huascarán na Cordilheira Blanca do Peru, o que denota por outro lado uma mudança de atitude no que se refere ao interesse que despertam as montanhas situadas nos confins dos Andes para o europeu acostumado aos Andes peruanos. 

Fonte: http://www.rumos.net.br

Huayna Potosi e suas rotas de subida.

Refugio Casa Blanca.

Trilha que leva até o Glaciar Velho.

Glaciar Velho.

Treinando práticas de escalada em gelo.

Piolet cravado no gelo.

Minhas botas de gelo com os grampões.

Aprendendo a subir paredões de gelo.

Bruna, a gauchinha corajosa.

Aprendendo escalada com ancoragem.

Escalando um paredão de gelo.

Escalar o paredão era divertido, mas muito cansativo.

Retornando ao refugio após o treinamento em gelo.

No dormitório do refugio, prontos para dormir cedo.

Parque Estadual do Marumbi

Todos nós temos nossos locais preferidos, seja um restaurante, um bar, um cinema, uma praça. No meu caso, um dos lugares que mais gosto no  mundo (e olha que conheci muitos lugares!!) é o Parque Estadual do Marumbi, uma cadeia de montanhas na Serra do Mar paranaense. A primeira vez que passei por esse lugar foi em 1989, de trem. E a primeira vez que coloquei os pés na região do Marumbi foi em 1995. A partir daí voltei várias vezes ao lugar e subi algumas vezes até o topo do Olimpo, que é um dos picos do conjunto Marumbi.

Acampei muitas vezes no camping próximo a Estação Marumbi, e passei ali a virada de ano de 1999 para 2000. Era a virada do milênio, todo mundo querendo festar e eu preferi me isolar e passei o réveillon sozinho no Marumbi, com muita chuva e frio. Foi um réveillon inesquecível em vários aspectos!

E além de meus momentos solitários no Marumbi, também tive momentos acompanhados por lá. Levei meu irmão e alguns amigos até o alto da montanha, com direito a muitas risadas e também alguns sustos. O Luis Cesar que o diga, pois ele quase morreu por lá!! E também levei alguns amores, com os quais passei momentos agradáveis e inesquecíveis tendo como testemunha o Marumbi. Mas sobre isso é melhor não contar aqui, pois esses amores hoje em dia estão casadas e são mães…

Atualmente vivendo no interior do Paraná, distante da Serra do Mar e das montanhas que tanto gosto, sinto falta de passar alguns momentos naquele lugar paradisíaco. Mas tenho certeza de que voltarei muitas vezes lá, pois quando gostamos de algo ou de alguém, sempre achamos um jeito de ficar perto do que gostamos.

Marumbi.

Estação Marumbi.

Sede do Parque Estadual do Marumbi.

Vander, tendo ao fundo o Marumbi.

IAP e ao fundo o Marumbi.

Estação Marumbi, vista do alto do Rochedinho.

Subindo o Rochedinho.

Mapa do Conjunto Marumbi.

Subindo o Olimpo.

Descansando na subida do Olimpo.

Camping do Marumbi.

Camping.

Fazendo almoço no camping.

Estação Marumbi.

Litorina chegando na Estação Marumbi.

Reveillon no Marumbi, 01/01/2000.

No alto do Olimpo, em 07/01/2001.

Grouse Mountain

A Grouse Mountain é uma das montanhas que ficam ao norte da cidade de Vancouver e a mais próxima da cidade. Ela tem pouco mais de 1.200 metros de altitude. Possui uma pequena área para esqui alpino e é um local bastante visitado, tanto no inverno para atividades na neve, quanto nos períodos sem neve. Para chegar ao seu topo existe um serviço de teleférico e uma trilha de quase três quilômetros, muito utilizada por quem gosta de caminhadas na mata.

Teleférico subindo a montanha.

Estação de esqui no alto da montanha.

Escultura de um urso grizzly.

No alto da montanha, após subir pela trilha.

Descendo a montanha de teleférico.

Grouse Grind Trail

Subi a Grouse Mourtain pela Grouse Grind Trail, uma trillha de 2,9 quilômetros que segue pelo meio da mata montanha acima. O grau de dificuldade da trilha não é dos maiores, mas é preciso ter um condicionamento físico razoável para percorrê-la. Ela é bastante utilizada por quem gosta de caminhadas na mata e cerca de cem mil pessoas a percorrem todos os anos. Logo no início da trilha existe uma placa alertando para tomar cuidado com ursos. Para quem não está acostumado é meio assustador. Pela proximidade com a cidade, a presença de ursos na trilha não é tão comum. Mesmo assim existe o risco de aparecer algum urso, então sempre procurei ficar próximo a outros caminhantes que estavam subindo a montanha, pois não tinha intenção de virar comida de urso. Não tive muita dificuldade em chegar até o topo e levei 1h02min para percorrer toda a trilha, o que é um bom tempo. Estava bem frio quando fiz a trilha, mesmo assim tirei minha blusa logo no início da caminhada, pois passei a sentir calor e a transpirar muito. O problema foi quando cheguei ao topo e minha camiseta estava molhada e a temperatura lá no alto era ainda mais fria. Desci a montanha utilizando o teleférico e pude observar a bela vista que se tem da cidade lá do alto.

Grouse Grind Trail.

Cuidado com os ursos.

Parte da trilha que tinha percorrido.

Grouse Grind Trail.

Momento de descanso e água.

Quase no final da trilha.

Sempre subindo.

Chegando ao fim da trilha.

Mount Seymour

O Mount Seymour é uma das montanhas que ficam na parte norte de Vancouver e que pode ser vista de quase todas as partes da cidade. Tem 1.449 metros de altura e nele funciona uma estação de esqui desde 1937. Por causa de seu fácil acesso rodoviário e estacionamentos amplos, Mount Seymour é muito utilizado como local de filmagem. Alguns filmes e séries de TV foram rodados em suas florestas e encostas nevadas. Os mais conhecidos foram a série Arquivo X e o filme Eclipse, da saga Crepúsculo.  Em dias de tempo bom a vista do alto do Mount Seymor é muito bonita e ampla, onde entre outras coisas é possível ver ao longe o Mount Baker, um vulcão ativo e com neve eterna em seu topo, que fica em território dos Estados Unidos a dezenas de quilômetros de distância.

A esquerda na foto o Mount Baker.

No alto do Mount Seymour.

Em Mount Seymour.

Pico Agudo

O Pico Agudo fica próximo a Santo Antônio do Pinhal. Com 1650m de altitude em relação ao nível do mar, proporciona uma vista espetacular de 360 graus, pois o pico em forma de pirâmide está afastado de outras montanhas, e pode-se observar várias cidades do Vale do Paraíba, da Mantiqueira Paulista e do Sul de Minas Gerais. No alto do morro existem rampas para prática do vôo livre.

No alto do Pico Agudo. (08/08/2010)

Vista do alto do Pico Agudo. (08/08/2010)

Asa Delta pronta para voar.

Voo de asa delta no Pico Agudo. (08/08/2010)

Complexo Pedra do Baú

Outro passeio interessante que  fizemos na região de Campos do Jordão,  foi ir até o  Complexo Pedra do Baú. Após rodar um tempo por uma bonita estrada asfaltada e depois por uma esburaca estrada de terra chegamos ao complexo. Uma curta caminhada pelo mato e pudemos nos maravilhar com a bela vista do local. Caminhamos um pouco por sobre as pedras do Bauzinho até um mirante de onde se tem uma vista linda da Pedra do Baú, bem ao fundo e bem próxima. Foi uma experiência inesquecível. A Andrea não chegou até o último estágio de subida das pedras, pois estava utilizando um tênis de solado liso, e correu sério risco de cair no precipício. Eu cheguei até o fim, mas na hora de descer acabei forçando minha hérnia de disco que não está curada, senti fortes dores e coloquei a perder boa tarde do tratamento que fiz nos últimos meses. De qualquer forma valeu o sacrifício e as dores, pois o passeio foi muito bom.

Complexo Pedra do Baú: Com altitude de 1.950 metros o Complexo do Baú é uma enorme formação rochosa que compõe um dos principais cartões postais de Campos do Jordão. Localizada na Cidade de São Bento do Sapucaí, o melhor acesso se dá por Campos do Jordão. O complexo é formado por três rochas: a Pedra do Baú, a maior e mais alta pedra com 1.950 metros de altitude; O Bauzinho com 1.760 metros; e a Ana Chata com 1.670 metros de altitude. Estas duas últimas localizadas ao redor da principal. Por Campos do Jordão é possível chegar tranqüilamente de carro ao Bauzinho, sendo possível alcançar a sua parte mais íngreme com facilidade. No ponto mais alto da Pedra os visitantes podem andar em sua base, apreciando uma visão espetacular. É possível ver de um lado boa parte da serra de Campos do Jordão, e de outro as lindas montanhas de Minas Gerais. Na ponta da Pedra do Baú vê-se um enorme precipício de granito, capaz de dar vertigem a qualquer pessoa.

Pedra do Baú. (07/08/2010)

Vista do alto do Bauzinho. (07/08/2010)

Andrea no Bauzinho. (07/08/2010)

Vander no Bauzinho. (07/08/2010)

Esquilos. (08/08/2010)