O chamado da montanha

Desde os primórdios os homens buscam o alto de uma montanha sem um motivo aparente. O que leva as pessoas às alturas de um pico? Superação da condição humana? Transcendência? Ou somente a sensação da conquista? Essas são questões tão antigas como a própria humanidade. A montanha sempre esteve presente no imaginário das pessoas em todas as civilizações, através da mitologia que fundamenta e guia a história dos povos. 

O Monte Olimpo era a residência dos deuses para os antigos gregos, e através da mitologia, influenciou diretamente toda a cultura ocidental.

No folclore japonês, as montanhas são sagradas e todas possuem uma atmosfera sobrenatural. O Monte Fuji, por exemplo, seria a passagem para o outro mundo. Na mitologia Taoista, os imortais iam viver no cume dos grandes montes. O Monte Roraima, sustenta a morada do Deus Macunaíma.

Onde existir um pico imponente, marcando a paisagem, foi, ou é, para alguns um lugar sagrado ou a morada de um deus.

O fato é que as montanhas causam no homem perplexidade diante de sua natureza descomunal. Instigam a percepção de seu tamanho, insignificante, ínfimo diante da grandeza do mundo e da natureza que o cerca. A montanha simboliza a ruptura entre os níveis, do racional para o imaginário que ilustra os sonhos. Faz a ligação entre o céu e a terra.

Para a filósofa Zelita Seabra, O amor à montanha, naqueles que o sentem, tem raízes profundas. O ritual de preparação, o ato da subida, a busca pela imensidão faz parte do íntimo de muitos indivíduos, que não se contentam apenas à contemplação. É um momento de introspecção, a viagem se interioriza. O sentimento de subir é indizível, o silêncio é rompido pela respiração ofegante. O cume se aproxima!

Por que o ser humano é tomado pela inquietude, por essa ânsia de buscar o encanto no desconhecido? O Escritor Jon Krakauer, cita as encenações grosseiras em filmes e metáforas banais ao que o tema se presta, no excelente livro “Sobre homens e Montanhas”. Lembra ainda a interpretação equivocada de alguns psicanalistas que nunca romperam os limites de um consultório.

A palavra “montanhismo”, na concepção do público contemporâneo, causa a mesma repulsa da ideia de estar diante de tubarões ou abelhas assassinas. Porém, o êxtase das alturas está ligada ao ser humano, incontestavelmente, como a experiência de algo sublime, que nos permite enxergar e sentir que fazemos parte de um todo muito maior, que nunca vamos compreender. 

Andre Dib

Vista do alto do Caratuva (Paraná, 2008)
Vista do alto do Caratuva (Paraná, 2008)
Pico Paraná (Paraná, 2009)
Pico Paraná (Paraná, 2009)
Conjunto Marumbi (Paraná, 2009)
Conjunto Marumbi (Paraná, 2009)
Visto do alto de Huayna Potosi (Bolívia, 2011)
Vista do alto do Huayna Potosi (Bolívia, 2012)
Salkantay (Peru, 2011)
Huayna Potosi (Bolívia, 2012)
Montanhas próximas a Machu Picchu (Peru, 2011)
Montanhas próximas à Machu Picchu (Peru, 2012)
Descendo Huayna Picchu (Peru, 2011)
Descendo Huayna Picchu (Peru, 2012)

Huayna Potosi

De todas as minhas aventuras, com certeza chegar ao cume de Huayna Potosi foi a mais desafiadora, difícil, perigosa e fria aventura. Quando desci de Hauyna Potosi jurei que nunca mais subiria outra montanha nevada. Mas menos de 24 horas depois de tal juramento já estava fazendo planos para subir outra montanha gelada. E se tudo der certo, ano que vem vou subir o Illimani (também na Bolívia) que é mais alta, mais desafiadora, mais difícil, mais perigosa e mais fria que Huayna Potosi. Acho que fui acometido pela famosa “febre da montanha”!

Huayna Potosi (Foto: André Dib)
Huayna Potosi (Foto: André Dib)