Viagem Europa 2025 – Dia 06

Dormi até mais tarde, ainda cansado dos passeios do dia anterior. Pela manhã, trabalhei um pouco, e na hora do almoço fui encontrar meu irmão da faculdade. Almoçamos no restaurante da faculdade, ele, eu e mais algumas pessoas do curso que ele está fazendo. Dessa vez, decidi não comer o carbonara. O professor português, que ministra o curso, me convidou para assistir a uma de suas aulas. Respondi que na próxima segunda-feira estarei lá.

O tempo estava fechado, com uma garoa fina e muito frio. Fui até o centro de Carcavelos, onde peguei o trem rumo a Cascais, no fim da linha, na direção oposta a Lisboa. Quase todo o percurso, de cerca de 11 quilômetros, segue próximo ao mar.

Em Cascais, caminhei bastante pelo centro da cidade e fui até a praia, que estava completamente deserta. A água estava congelante, e entrar nela seria arriscar uma hipotermia. Achei a cidade muito bonita e bem organizada, claramente voltada para o turismo. Poderia ser comparada a uma versão portuguesa de Balneário Camboriú, mas sem os enormes edifícios. A cidade tem origem no distante ano de 1364 e, hoje, é um dos principais destinos turísticos de Portugal.

Depois de explorar tudo o que achei interessante em Cascais, peguei o trem novamente, no sentido Lisboa. Após cerca de três quilômetros, desci em Estoril. A cidade faz parte do município de Cascais, mas seu centro não tem o mesmo apelo turístico. O que vi foram mais prédios e construções comerciais. No alto de uma grande praça está o Cassino Estoril, muito famoso e considerado o maior cassino da Europa.

Em Estoril, há também um autódromo que, entre 1984 e 1996, recebeu corridas de Fórmula 1. Foi lá, em 1985, que Ayrton Senna conquistou sua primeira pole position e sua primeira vitória na categoria, pilotando a icônica Lotus preta e dourada. Pensei em visitar o autódromo, mas descobri que ele fica no lado oposto e um pouco distante de onde eu estava. Como o dia já estava escurecendo, mesmo sendo pouco mais de 17 horas, decidi voltar para Carcavelos.

Embarquei novamente no trem e logo desci na estação de Carcavelos. Aproveitei para ir ao mercado próximo. Fiz algumas compras e segui para o alojamento da Nova. Meu irmão saiu para jantar com o pessoal do curso, então fiz um lanche no quarto e dormi cedo.

Cascais.

Cassino Estoril, o maior da Europa.

Estação de Estoril.
No trem para Carcavelos.

Viagem Europa 2025 – Dia 05

Acordei um pouco mais tarde do que o habitual e, depois de organizar algumas coisas, saí para fazer alguns passeios. Peguei o micro-ônibus ao lado da faculdade e dei sorte: o caixa estava com defeito, então não precisei pagar os 2 euros da passagem. Desci na estação de Carcavelos e, de lá, peguei o trem rumo a Lisboa. O trem não demorou muito a chegar e, mais uma vez, estava quase vazio. Após 20 minutos de viagem, desembarquei na estação Belém.

Comecei minha caminhada pela margem do rio Tejo até chegar ao Padrão dos Descobrimentos (também chamado de Monumento aos Descobrimentos ou Monumento aos Navegantes). Trata-se de uma caravela estilizada “zarpa ao mar”, levando na proa o Infante D. Henrique, acompanhado por 32 figuras que marcaram a expansão ultramarina e a cultura da época: navegadores, cartógrafos, guerreiros, evangelizadores, cronistas e artistas, todos retratados com os símbolos que os representam.

No local onde hoje está o monumento (ou, pelo menos, nas proximidades), saíram as caravelas de Pedro Álvares Cabral, em 1500, rumo ao Brasil. A ideia de que “descobriram” o Brasil é discutível, pois eles já sabiam da existência dessas terras. Esse discurso de “descobrimento” é algo mais para os livros de história. Na realidade, a expedição de Cabral foi mesmo para tomar posse das terras brasileiras.

Depois de observar o local e tirar algumas fotos, segui caminhando pela margem do Tejo. O sol brilhava e o frio deu uma trégua, o que me permitiu ficar só de camiseta. Notei que eu era o único sem blusa por ali. Alguns minutos depois, cheguei à Torre de Belém. Tinha comprado o ingresso pela internet para visitar o interior da torre, mas a fila estava tão grande que acabei desistindo. Tirei algumas fotos do lado de fora e decidi voltar mais tarde para ver se a fila diminuía.

Continuei minha caminhada e cheguei ao Museu do Combatente, um museu militar. Olhei o exterior, mas não vi nada no interior que justificasse uma visita. Mais adiante, encontrei o Monumento aos Combatentes do Ultramar, uma homenagem aos soldados portugueses mortos nas guerras coloniais de 1961 a 1974. Passei algum tempo ali, observando e contando cerca de 1.700 nomes gravados em paíneis de mármore que formavam um enorme muro.

Atravessei uma passarela que passa sobre uma larga avenida e os trilhos do trem e segui rumo ao Mosteiro dos Jerónimos. O mosteiro é gigantesco. Sua construção começou em 1502 e levou cem anos para ser concluída. Anexa ao mosteiro, há uma igreja, onde logo na entrada estão os túmulos de Vasco da Gama e Luís de Camões. Passei mais de uma hora visitando o mosteiro e a igreja, embora esta última estivesse em restauração, o que dificultou bastante a visão de seu interior.

Próximo ao mosteiro, fui experimentar os famosos e originais Pastéis de Belém. Esses pastéis de nata, que podem ser encontrados por todo Portugal (e até em alguns lugares do Brasil), têm uma diferença: são os autênticos, feitos na fábrica localizada na rua Belém, no bairro Belém. Havia fila para sentar nas mesas, então comprei dois pastéis para viagem e os comi encostado em uma grade, na calçada em frente ao estabelecimento, como várias outras pessoas faziam. Junto com os pastéis, vieram dois envelopes: um com açúcar de confeiteiro e outro com canela. Eles estavam quentes, e o sabor… simplesmente indescritível! Foi uma experiência gastronômica incrível. Tenho certeza de que jamais comerei outros pastéis de nata tão saborosos. É triste pensar que talvez nunca volte ali para provar novamente os pastéis, mas só de ter experimentado uma vez já valeu a pena.

Atravessei a praça em frente ao Mosteiro dos Jerónimos e segui novamente rumo à Torre de Belém. Descobri que há um túnel sob a praça que leva à calçada em frente ao Tejo. Atravessando o túnel, cheguei à torre, e dessa vez dei sorte: apenas 16 pessoas na fila. Após cinco minutos, entrei e explorei tudo o que era possível dentro da torre. Subi até o quarto andar, tirei várias fotos e aproveitei a visita. Originalmente, a torre ficava a 250 metros da margem do rio e era cercada por água. Hoje, a área nos fundos foi aterrada, permitindo o acesso a pé por uma passarela de madeira.

Passei mais de uma hora explorando a torre e fui um dos últimos a sair, já ao final do horário de visitação. Caminhei até a estação de trem Belém e peguei o trem até o Cais do Sodré. Já estava escuro. Segui caminhando para a Praça do Comércio, onde andei por cerca de uma hora e meia pelas redondezas, até que o frio começou a apertar. Decidi que era hora de ir embora. Caminhei até a estação Cais do Sodré e peguei o trem para Carcavelos.

Cheguei ao alojamento da faculdade pouco antes das 21 horas. Foi o dia em que voltei mais tarde. Depois de tomar banho e descansar um pouco, meu irmão me chamou para jantar no restaurante da faculdade. Mais uma vez, pedi o carbonara de 11 euros. Desta vez, experimentei uma Pepsi, e achei o sabor muito melhor que o da versão brasileira.

Soube que a Coca-Cola portuguesa é considerada uma das mais saborosas do mundo porque a única fábrica no país usa água de uma região específica. Um amigo que foi diretor da Coca-Cola já me disse que o que mais interfere no sabor do refrigerante é a qualidade da água utilizada. Curiosamente, é raro encontrar Coca-Cola portuguesa por aqui; geralmente, é mais fácil achar a versão fabricada na Espanha. A produção local, ao que parece, é mais cara e acaba sendo exportada para outros países da União Europeia. Dizem que a Coca mais gostosa é a de 290 ml na garrafa de vidro. Ainda não encontrei essa versão aqui, mas lembro de ter tomado uma em 2017, na Espanha, e realmente era deliciosa.

De volta ao meu quarto, passei algum tempo vendo notícias no celular e acabei perdendo o sono. Só consegui dormir depois das três da manhã. Isso era sinal de que, no dia seguinte, acordaria mais tarde do que de costume.

Em frente ao Padrão dos Descobrimentos.
Padrão dos Descobrimentos.
Torre de Belém.
Museu dos Combatentes.
Monumento dos Combatentes do Ultramar.
Travessia da Passarela.
Preça em frente ao Mosteiro dos Jerónimos.
Mosteiro dos Jerónimos e sua igreja.
Claustro do Mosteiro dos Jerónimos.
No antigo refeitório do Mosteiro.
Fabrica de Pastéis de Belém.
Interior de um dos andares da Torre de Belém.
Torre de Belém.

 

Viagem Europa 2025 – Pastéis de Belém

No início do século XIX, em Belém, próximo ao Mosteiro dos Jerónimos, funcionava uma refinaria de cana-de-açúcar associada a uma pequena loja de comércio variado. Com a Revolução Liberal de 1820, todos os conventos e mosteiros de Portugal foram fechados em 1834, resultando na expulsão do clero e dos trabalhadores.

Buscando uma forma de sobrevivência, alguém ligado ao Mosteiro começou a vender na loja alguns pastéis doces, que rapidamente passaram a ser chamados de “Pastéis de Belém”.

Naquela época, Belém era uma área afastada da cidade de Lisboa, e o trajeto até lá era feito por barcos a vapor. Apesar disso, a grandiosidade do Mosteiro dos Jerónimos e da Torre de Belém atraía muitos visitantes, que logo se acostumaram a saborear os deliciosos pastéis originários do Mosteiro.

Em 1837, teve início a produção dos “Pastéis de Belém” em instalações anexas à refinaria, seguindo a antiga “receita secreta” vinda do Mosteiro. Essa receita, transmitida exclusivamente aos mestres pasteleiros que os preparam artesanalmente na chamada “Oficina do Segredo”, permanece a mesma até os dias de hoje.

Atualmente, a única fábrica legítima dos “Pastéis de Belém” preserva o sabor autêntico da antiga doçaria portuguesa, graças à criteriosa seleção de ingredientes e ao rigoroso processo de fabricação. O único pastel de nata que pode ser chamado de “Pastel de Belém” é o feito na fábrica de pastéis localizada próximo ao Mosteiro dos Jerónimos, na Rua Belém, no atual Bairro Belém.

Balcão histórico.

Viagem Europa 2025 – Igreja Santa Maria de Belém

A Igreja do Mosteiro dos Jerónimos, também conhecida como Igreja de Santa Maria de Belém, apresenta uma planta em cruz latina, composta por três naves de igual altura, configurando uma imponente igreja-salão.

Logo à entrada, destacam-se os túmulos de Vasco da Gama e de Luís de Camões, esculpidos no século XIX pelo artista Costa Mota. Avançando pelo interior, na parede norte encontram-se confessionários trabalhados, enquanto no lado sul sobressaem grandes janelas decoradas com vitrais concebidos por Abel Manta.

A abóbada do cruzeiro, com uma largura impressionante de 30 metros, cobre o espaço de forma contínua, exemplificando a ambição tardomedieval de criar amplos vãos com o mínimo de suportes. Neste espaço grandioso, onde se concentram símbolos régios, a ornamentação atinge o seu auge, refletindo a riqueza e a sofisticação da época.

No transepto, os túmulos de figuras históricas reforçam a relevância do monumento. No braço esquerdo estão sepultados o Cardeal-Rei D. Henrique e os filhos de D. Manuel I. Já no braço direito encontram-se os restos mortais do Rei D. Sebastião e dos descendentes de D. João III.

A Igreja é reconhecida como monumento nacional e está classificada como Património Mundial pela UNESCO, um testemunho da sua importância histórica, artística e cultural. Atualmente passa por restauro e reforma, o que atrapalha um pouco a visita ao seu interior.

Trabalho de restauro.

Túmulo de Vasco da Gama.

Viagem Europa 2025 – Mosteiro dos Jerónimos

Obra-prima da arquitetura portuguesa, o Real Mosteiro de Santa Maria de Belém, comumente conhecido como Mosteiro dos Jerónimos, foi originalmente destinado à Ordem de São Jerónimo. Classificado como Monumento Nacional desde 1907, o mosteiro foi inscrito na Lista do Património Mundial da UNESCO em 1983.

Atualmente, a igreja, que ainda abriga serviços religiosos e está aberta para visitas patrimoniais, juntamente com o claustro, secularizado no século XIX, compõem o conjunto patrimonial mais visitado de Portugal.

O edifício foi construído por iniciativa do rei D. Manuel I, cujo reinado decorreu entre 1495 e 1521, e dependeu de meios financeiros avultados e de recursos artísticos exigentes, que este poderoso mecenas disponibilizou. Situa-se numa das zonas mais qualificadas de Lisboa, um cenário histórico e monumental junto ao rio Tejo, local de onde partiram as naus e caravelas no tempo das descobertas.

D. Manuel I mandou construir a Torre de Belém com a finalidade de proteger, não apenas o porto de Lisboa, a barra do Tejo, mas também o Mosteiro dos Jerónimos, então em construção. Na época, a configuração da barra do Tejo proporcionava efetiva proximidade e ligação visual entre os dois empreendimentos régios – a Torre construiu-se no rio, a 250 metros da margem, sobre um afloramento basáltico, e o Mosteiro foi erigido na margem, em frente da praia do Restelo.

A excelência do edificado é devedora da experiência do primeiro mestre, Diogo de Boytac, e de outros notáveis arquitetos e escultores provenientes de diferentes regiões da Europa. Entre estes, destacam-se o biscainho João de Castilho, que dirigiu as obras a partir de 1517, após ter concluído o portal sul da igreja – ricamente decorado, onde se destacam as imagens do Santo Patrono de Portugal, Arcanjo S. Miguel (ao cimo), e a imagem de Santa Maria de Belém (ao centro) –, e o escultor francês Nicolau Chanterene, a quem se deve o portal ocidental. Este portal ostenta com visível aparato os retratos dos reis patronos, D. Manuel I e D. Maria de Castela, referidos pelos cronistas como sendo “tirados do natural”.

O conjunto monástico conserva, além da igreja manuelina, grande parte das magníficas dependências conventuais que contribuíram para a sua fama internacional, incluindo o claustro quinhentista, o antigo refeitório dos monges e a sala da antiga livraria.

Claustro.

Capela.
Túmulo do poeta Fernando Pessoa.

Antigo refeitório dos monges.

Viagem Europa 2025 – Torre de Belém

A Torre de Belém, originalmente chamada de Torre de São Vicente a Par de Belém e oficialmente denominada Torre de São Vicente, é uma fortificação situada na margem direita do rio Tejo, onde outrora existia a praia de Belém. Inicialmente, a torre era completamente cercada pelas águas do rio em todo o seu perímetro. No entanto, ao longo dos séculos, o recuo das águas e a sedimentação fizeram com que a torre passasse a integrar a terra firme.

Com o tempo, a torre foi perdendo a sua função original de defesa da barra do Tejo. Durante a ocupação filipina, os antigos paióis militares foram convertidos em calabouços. Internamente, a torre mantém uma divisão clássica em quatro pisos: a Sala do Governador, a Sala dos Reis, a Sala de Audiências e, no topo, a Capela, com suas características abóbadas quinhentistas.

A Torre de São Vicente, cuja construção teve início em 1514, fazia parte de um sistema de defesa idealizado por João II de Portugal para proteger a entrada da bacia do Tejo. Esse sistema incluía ainda a Torre de São Sebastião da Caparica (1481), localizada na margem sul do rio, e a Torre de Santo António de Cascais (1488), situada a oeste.

O monumento é um exemplo marcante de nacionalismo, evidenciado pelas decorações que o adornam: brasões de armas de Portugal, inscrições com cruzes da Ordem de Cristo nas janelas do baluarte e outros elementos que remetem à época áurea do país como potência global durante o início da Idade Moderna.

A construção da torre foi iniciada em 1514, durante o reinado de D. Manuel I (1495–1521), sob a supervisão do arquiteto Francisco de Arruda. Erguida sobre um afloramento rochoso no leito do rio Tejo, em frente à antiga praia de Belém, a estrutura foi concebida para substituir uma nau artilhada que anteriormente exercia funções defensivas na área e marcava o ponto de partida das frotas para as Índias. Diogo Boitaca, responsável pelas obras do vizinho Mosteiro dos Jerónimos, também colaborou nos trabalhos iniciais da torre. A obra foi concluída em 1520, tendo como seu primeiro alcaide Gaspar de Paiva, nomeado em 1521.

Com a evolução das tecnologias de guerra, a torre foi gradualmente perdendo sua utilidade militar. Ao longo dos séculos, desempenhou diversas funções: registo aduaneiro, posto de sinalização telegráfico, farol e até prisão. Durante o reinado de Filipe II de Espanha (1580–1598), os seus paióis foram transformados em calabouços usados para deter presos políticos, função que também exerceu no reinado de D. João IV de Portugal (1640–1656). Um dos detidos mais notáveis foi o Arcebispo de Braga, D. Sebastião de Matos de Noronha, opositor do movimento restauracionista de D. João IV.

A torre passou por diversas remodelações ao longo dos séculos, destacando-se as intervenções do século XVIII, que incluíram a renovação das ameias, do varandim do baluarte, do nicho da Virgem voltado para o rio, e do claustrim. O design arquitetônico e volumétrico da torre, que remete à forma de uma nau, reflete uma síntese de beleza, originalidade e inovação.

Juntamente com o Mosteiro dos Jerónimos, a Torre de Belém foi classificada como Património Mundial da UNESCO em 1983 e eleita uma das Sete Maravilhas de Portugal em 2007.

Lareira.

 

Viagem Europa 2025 – Padrão dos Descobrimentos

De autoria do arquiteto Cottinelli Telmo (1897–1948) e do escultor Leopoldo de Almeida (1898–1975), o monumento representa uma caravela estilizada, avançando ao mar com o Infante D. Henrique à proa, ladeado por um conjunto de 32 figuras históricas, personagens emblemáticos da expansão ultramarina e da cultura portuguesa da época. Entre os representados encontram-se navegadores, cartógrafos, guerreiros, evangelizadores, cronistas e artistas, cada um caracterizado pelos símbolos que os individualizam.

Um mastro estilizado, orientado no eixo Norte–Sul, exibe em cada uma das suas faces dois escudos portugueses com cinco quinas, circundados por uma faixa com 12 castelos. Ao centro, diversas flores-de-lis adornam o conjunto. Adossadas ao mastro encontram-se três estruturas triangulares curvas, que dão a ilusão de velas enfunadas pelo vento, reforçando o simbolismo marítimo do monumento.

A face norte é marcada por dois gigantes de cantaria, que contêm as seguintes inscrições em letras metálicas:

  • À esquerda, sobre uma âncora:
    AO INFANTE D. HENRIQUE E AOS PORTUGUESES QUE DESCOBRIRAM OS CAMINHOS DO MAR;
  • À direita, sobre uma coroa de louros:
    NO V CENTENÁRIO DO INFANTE D. HENRIQUE 1460–1960.

O acesso ao interior é feito por uma escadaria central de nove degraus, que conduz a um átrio com vista privilegiada sobre a área circundante. Um segundo lanço, com cinco degraus, leva a um portal com arco de volta perfeita, decorado por uma moldura formada por aduelas.

O monumento é ladeado por duas esferas armilares metálicas, posicionadas sobre plataformas paralelepipédicas que reforçam a ligação ao tema da navegação.

Características técnicas:

  • Altura: 56 m
  • Largura: 20 m
  • Comprimento: 46 m
  • Fundações: 20 m
  • Figura central (Infante): 9 m
  • Figuras laterais (32): 7 m

Atualmente o acesso ao interior do monummento não é permitido, pois o mesmo passa por reforma e restauro.

Viagem Europa 2025 – Dia 04

O dia amanheceu frio, mas desta vez com sol. Passei a manhã no quarto trabalhando. No início da tarde, saí, peguei o ônibus até o terminal e de lá um trem para Lisboa. Sentei-me do lado direito do trem, que estava com poucos passageiros. Há um trecho em que o trem passa próximo à praia, oferecendo uma vista bonita. Desci na última estação, chamada Cais do Sodré, localizada no bairro que leva o mesmo nome. O Cais do Sodré é um animado destino de vida noturna e gastronomia em Lisboa.

Vi no mapa do celular que a Praça do Comércio ficava a apenas 800 metros de onde eu estava e fui caminhando até lá. Na minha viagem anterior a Portugal, em 2017, visitei a Praça do Comércio e seus arredores, mas naquela ocasião jamais imaginei que um dia voltaria a pisar naquele lugar. A Praça do Comércio está localizada junto ao rio Tejo, numa área que foi o local do palácio dos reis de Portugal durante cerca de dois séculos. Hoje, a praça é parcialmente ocupada por departamentos governamentais. É uma das maiores praças da Europa, com aproximadamente 36.000 m² (180m x 200m). Durante muito tempo, foi a entrada nobre de Lisboa. Nos degraus de mármore do cais em frente à praça, vindos pelo rio, desembarcaram chefes de Estado e outras figuras importantes.

A praça é enorme, cercada por construções antigas e embelezada por um portal monumental. Lembrei-me das aulas de história na faculdade: foi na Praça do Comércio que, em 1º de fevereiro de 1908, o rei D. Carlos (penúltimo rei de Portugal) e seu filho, o Príncipe Real D. Luís Filipe, foram assassinados enquanto passavam pelo local.

Depois de dar uma volta e tirar algumas fotos na praça, subi pela Rua Augusta, uma via fechada ao trânsito, famosa por sua concentração de lojas, muitas delas de grandes marcas internacionais. A rua é frequentemente tomada por turistas, artistas de rua, artesãos e vendedores ambulantes. Já conhecia a Rua Augusta e continuei caminhando até o final dela. A partir dali, tudo era novidade para mim. Comecei a explorar lugares desconhecidos, caminhando sem rumo por cerca de duas horas, subindo e descendo ladeiras, observando o que podia e tirando fotos do que achava interessante. Em alguns momentos, sentia-me completamente perdido, sem saber se estava me afastando ou me aproximando do rio Tejo, a região que conhecia melhor.

Gosto de me perder assim quando visito cidades novas ou pouco conhecidas. É uma forma de conhecer melhor o lugar e descobrir atrações e locais interessantes que não aparecem nos guias turísticos. Passei por uma parte da cidade com ruas estreitas, habitada majoritariamente por pessoas de origem árabe. Em uma das ladeiras, havia uma enorme escada rolante que usei para subir. Bem no meio da subida, começou a chover, e não havia onde me abrigar. Felizmente, a chuva foi fraca e rápida.

Voltei para a região mais próxima ao rio Tejo e continuei caminhando, descendo ladeiras. Passei em frente à Santa Casa da Misericórdia, que fica em um prédio antigo com uma igreja ao lado. Em frente, havia uma estátua do Padre Antônio Vieira e, na base da estátua, uma placa contando sobre seus anos de catequização de índios no Brasil. O Padre Antônio Vieira era jesuíta. Trabalhei por sete anos com padres jesuítas em Curitiba, em um colégio mantido por uma associação religiosa chamada Associação Antônio Vieira.

Quando começou a escurecer e esfriar mais, resolvi seguir em direção ao terminal de trens e metrô do Cais do Sodré. Recebi uma mensagem do meu irmão dizendo que estava no apartamento do Luís, amigo dele. Como o apartamento ficava perto de onde eu estava, decidi passar por lá. Chegando em frente ao prédio, sentei-me em um banco e mandei uma mensagem avisando onde estava. Mal enviei a mensagem e meu irmão e o Luís apareceram. Começou a chover, então resolvemos voltar para a faculdade, em busca do conforto e calor de nossos quartos. Em vez de pegar o trem, meu irmão achou melhor chamar um Uber. Assim que entramos no carro, a chuva apertou. Daquele ponto até nosso alojamento na Universidade NOVA eram 16 quilômetros. Mesmo sendo horário de pico e com chuva, a viagem foi rápida.

De volta ao meu quarto, descansei, tomei banho, escrevi um pouco e depois fui jantar com meu irmão. Mais uma vez comi o carbonara de todas as noites. Conversamos um pouco, e cada um foi para o seu quarto. Acabei dormindo cedo mais uma vez.

Caminho que fiz entre o Cais do Sodré e Praça do Comércio.

Praça do Comércio.
Elevador de Santa Justa.

Subindo ladeira de escada rolante.
Santa Casa de Misericórdia.
Estátua do Padre Antonio Vieira.

Ao fundo o rio Tejo.

Viagem Europa 2025 – Dia 03

Acordei cedo, após uma merecida noite de sono. Me ajeitei e fui encontrar meu irmão na portaria. Pegamos um ônibus ao lado da faculdade e fomos até o centro de Carcavelos. Estava sol, mas fazia um pouco de frio. A viagem de ônibus durou cerca de cinco minutos.

Demos uma volta pelo pequeno centro da cidade e paramos numa padaria para tomar café da manhã. A padaria era atendida por uma brasileira. Aliás, brasileiros víamos por toda parte. Nosso café da manhã foi misto quente e Pepsi. Depois do café, fomos até um supermercado próximo, chamado Pingo Doce, onde fizemos algumas compras. Pegamos o ônibus de volta para o nosso alojamento na faculdade. Meu irmão foi encontrar o pessoal do curso, e eu fui trabalhar no quarto.

Passei boa parte do dia trabalhando, pois esse era o dia de enviar a parte final do faturamento mensal para os clientes. Felizmente, levando meu notebook junto, consigo trabalhar em qualquer lugar que tenha conexão com internet. Meu plano era terminar o trabalho logo após o almoço e ir passear em Lisboa. No entanto, tive alguns problemas técnicos e, por conta disso, deixei o passeio para o dia seguinte.

Quase no final da tarde consegui passear pela praia, onde cheguei atravessando um túnel que sai da faculdade e leva até a praia do outro lado. Ventava muito e fazia frio, mas mesmo assim consegui caminhar cinco quilômetros, indo pela pista de caminhada ao lado da praia e voltando por uma calçada ao lado da estrada, onde ventava menos.

Voltando da caminhada, peguei o ônibus que leva até o centro da cidade e fui fazer mais compras no Pingo Doce. Como tinha pago a passagem de ônibus pela manhã, guardando o comprovante você tem direito a andar no mesmo ônibus várias vezes no mesmo dia. Quando saí do mercado já estava escuro e logo peguei o ônibus de volta para a faculdade.

De volta ao meu quarto, trabalhei mais um pouco enquanto esperava meu irmão voltar. À noite, fomos jantar no mesmo restaurante da noite anterior e comi novamente um prato de carbonara. Começou a chover e, mesmo sendo dentro da faculdade, o restaurante fica no lado contrário do nosso alojamento. Tivemos que voltar para o alojamento debaixo de chuva, que estava muito gelada e chegava a doer as orelhas quando a água batia nelas.

No meu quarto, arrumei algumas coisas, conversei com minha mãe e irmã pelo celular e WhatsApp e fui dormir cedo. Chuva e frio do lado de fora, cama quente do lado de dentro. Fico com a cama…

Em frente ao alojamento.
Carcavelos.
Café da manhã.
No centro de Carcavelos.
Forte próximo a faculdade.
Caminhada a beira mar.
Trabalhando no quarto.
O carbonara de 11 Euros.

Viagem Europa 2025 – Dia 02

Após algumas horas de sono profundo, a comissária de bordo me despertou. Faltava cerca de uma hora para aterrissarmos em Lisboa. Fui ao banheiro fazer o que é costume fazer em um banheiro pela manhã e, ao retornar ao meu assento, serviram o café da manhã: farto e saboroso. Depois disso, fiquei olhando o monitor à minha frente, observando os dados do voo, especialmente a quilometragem restante até Lisboa. Acabei me distraindo e, como estava em um local sem acesso a visão das janelas, tomei um grande susto quando o avião pousou com uma pancada forte no chão. Não percebi que estávamos na fase final de aterrissagem. Ficamos parados na pista por alguns longos minutos antes de seguirmos para nossa posição de desembarque.

Fui o quarto passageiro a sair do avião. Lá fora, o tempo estava escuro, chuvoso e frio. Era minha segunda vez em Portugal. Em setembro de 2017, passei apenas um dia em Lisboa, depois de ficar um dia na cidade do Porto vindo da Espanha. Naquela ocasião, conheci muito pouco da cidade. Desta vez, com mais dias disponíveis, pretendo explorar melhor Lisboa e seus arredores.

Eu e meu irmão passamos pela imigração sem qualquer problema. O policial fez as perguntas básicas e logo nos liberou. Só não gostei do carimbo no passaporte, que estava com a tinta fraca, mal dando para ler. Para viajantes, os carimbos são como uma espécie de coleção: guardamos como lembranças dos países por onde passamos. Tenho um carimbo bastante raro que poucos brasileiros possuem. Mesmo meu irmão, que viaja mais do que eu, não tem. Trata-se de um carimbo do Brasil, que é exclusivo para estrangeiros. No entanto, anos atrás, ao voltar ao Brasil pela Bolívia, um agente de imigração sonolento carimbou meu passaporte brasileiro com o carimbo oficial. Quando percebeu o erro, pediu desculpas, mas eu disse que não havia problema. Sabia que tinha ganhado uma raridade.

Nossas malas demoraram bastante para aparecer na esteira e estavam um pouco molhadas. Seguimos para fora do aeroporto, pegamos um táxi e fomos ao centro de Lisboa, onde mora um amigo e sócio do meu irmão. Saí do táxi me sentindo mal, bastante enjoado. Acho que a culpa foi dos vários “cheirinhos” artificiais pendurados no carro. Tenho sensibilidade a alguns aromas, e esses artificiais em especial sempre me fazem mal.

O Luís, amigo do meu irmão, nos recepcionou calorosamente e logo entramos no espaçoso apartamento. Havia mais duas pessoas por lá, recém-chegadas do Brasil, que participariam do mesmo curso que meu irmão. Quando comentei com meu irmão que estava enjoado, Luís ouviu e me levou até a sacada, onde me fez sentar numa poltrona. Ele disse para eu respirar ar puro e trouxe uma garrafa de água gaseificada. Eu, que adoro água com gás, provei e aprovei a versão portuguesa de água com gás. Depois de alguns minutos na sacada, comecei a me sentir melhor.

Luís havia preparado um almoço especial para os visitantes: algo bem português. O problema é que eu, o enjoado da história, não como nada que venha da água. O almoço era bacalhau e polvo assados. Acabei comendo apenas os acompanhamentos: batatas e vagens assadas, que estavam deliciosas. Após o almoço, descemos para a garagem do prédio e embarcamos na van que Luís havia alugado para transportar os participantes do curso.

Dentro da van estava quentinho, enquanto do lado de fora o frio e a chuva predominavam. Seguimos por uma estrada à beira-mar rumo a Carcavelos, a 16 quilômetros dali. No caminho, passamos por construções históricas e Luís, se mostrando o melhor guia turístico possível (mesmo não sendo guia), nos contou suas histórias. Vimos a Torre de Belém de longe, parcialmente escondida por árvores. Esse é o ponto turístico de Lisboa, que mais tenho vontade de conhecer. Em 2017, na minha primeira passagem por Lisboa, não tive tempo de visitá-la. Desta vez, vou voltar para uma visita completa, o que certamente renderá uma postagem exclusiva no blog.

Chegamos à NOVA School of Business & Economics, onde o curso será realizado. Eu e meu irmão ficaremos hospedados no alojamento da faculdade. Como muitos alunos estão de férias, os quartos vazios são alugados para turistas. O alojamento fica a cerca de 300 metros do mar, mas, com o inverno rigoroso, não haverá chance de ir à praia. Fizemos o check-in, preenchi a ficha de hospedagem e a recepcionista, uma portuguesa chamada Maria, elogiou minha letra (de forma), que, segundo ela, é bonita. Pelo que me lembro, essa foi a primeira vez que alguém elogiou minha letra.

Os quartos são confortáveis, com cama, mesa, cadeiras, armários, frigobar, micro-ondas, utensílios básicos de cozinha e um banheiro aquecido a gás. Não gostei muito do estilo europeu do chuveiro tipo ducha, que você tem que fixar num cano se não quiser tomar banho com a ducha na mão. E tembém não gostei da cortina de plástico, que sempre deixa água ir parar no chão. Prefiro os chuveiros fixos e os boxes de vidro, ou acrilico, no estilo brasileiro. O aquecimento do quarto é central e fica ligado quase o dia todo.

Depois de ajeitar nossas coisas, fomos conhecer a faculdade. O campus é moderno, com uma estrutura que eu nunca vi no Brasil: restaurante, lanchonetes, mercado, academia, espaços de estudo e até um túnel que leva à praia. Passei a tarde sendo apresentado a pessoas e tentando ser discreto, pois não farei o curso que meu irmão e os demais brasileiros farão, então deixava o pessoal do curso trocar informações e conversar, evitava me intrometer na conversa deles. Ser discreto, ou seja, ficar quieto, só aumentava meu sono. No final do dia, nos levaram num local onde acontecem recepções e jantares. Duas máquinas de café gratuitas salvaram minha vida: três cappuccinos e um mocha resolveram o problema do sono sem fim.

Aqui escurece às 17h30min nessa época do ano, e estamos três horas à frente do horário do Brasil. Isso me deixa meio confuso: meu estômago fica maluco, sinto sono em horários errados. Demoro alguns dias para me acostumar com a mudança de horários e rotina. Daí, quando me acostumo, já estará na hora de voltar para o Brasil, e lá vou sofrer mais alguns dias para me adaptar à antiga rotina.

Após tomar banho e descansar um pouco, encontrei meu irmão na recepção, e fomos jantar em um restaurante que fica dentro da faculdade. Mesmo não sendo época de aulas normais, o lugar estava cheio. Sentamos em uma mesa em um canto, e meu irmão pediu um prato de macarrão com camarão. Vi no cardápio que a maioria dos pratos tinha peixe ou frutos do mar. Acabei escolhendo um macarrão carbonara, que é um dos tipos de macarrão que mais gosto. A alimentação nas lanchonetes e restaurante dentro da faculdade é subsidiada, ou seja, mais barata do que em estabelecimentos fora dali. Mesmo sendo mais barato, meu macarrão à carbonara custou 11,00 euros, o que dá cerca de R$ 66,00. Pensando em euros, é barato; já em reais, é caro. Mas, se você começar a calcular o preço das coisas em reais, fica meio maluco e passa fome. Então é melhor pensar no custo 1 x 1 e deixar para passar mal quando for pagar as faturas do cartão de crédito nos próximos doze meses, já que quase tudo estou parcelando em 10 ou 12 vezes.

Depois de comer, ficamos conversando com o garçom que nos atendeu, que é brasileiro e está há pouco tempo em Portugal. A recepcionista também era brasileira, com sotaque do Nordeste, enquanto o garçom nos contou que era do Rio de Janeiro. Eu e meu irmão voltamos para o alojamento, e cada um foi para o seu quarto. Terminei de arrumar minhas coisas e logo fui para a cama. Esse clima de inverno costuma me dar sono, e, após ter dormido poucas horas nos últimos dias, o que mais queria era poder dormir algumas horas numa cama quentinha e confortável… ZZZZzzz…

Café da manhã no avião.
Desembarque.
Água que curou meu enjoo.
Na van, vendo a Torre de Belém.
Nova School of Business and Economics.
Nova School.
Nova School.
Nova School.
Alojamento dos estudantes.
Momento de repouso.

Viagem Europa 2025 – Dia 01

Eu estava planejando tirar alguns dias de férias em janeiro e ir para a Serra do Mar paranaense. Pretendia subir o Pico Paraná mais uma vez. Nos últimos dois meses, vinha treinando intensamente quase todos os dias. Porém, precisei interromper os treinos duas vezes de forma não planejada: a primeira, por causa de uma cirurgia na boca, em que levei vinte pontos e fiquei vários dias sem poder fazer qualquer esforço físico; e a segunda, devido a uma forte gripe causada pelo vírus da influenza.

No entanto, os planos mudaram de última hora quando recebi um convite do meu irmão para viajar a Portugal com ele. Cancelei a ida a Curitiba e à Serra do Mar e comecei a me preparar para atravessar o Atlântico. Seria a minha terceira viagem à Europa. Meu irmão estava indo para Portugal para cursar a segunda fase de um programa em uma faculdade de negócios em Cascais, uma cidade litorânea próxima a Lisboa. Dois anos atrás, ele já havia concluído a primeira etapa do curso e agora retornaria para finalizá-lo.

Embora não fosse o momento ideal para visitar a Europa, especialmente com o euro nas alturas, não resisti ao convite. Eu tinha algumas economias guardadas e planejei parcelar os custos extras em suaves prestações no cartão de crédito. Além disso, senti que merecia uma viagem dessas após o terrível ano de 2024, que quase não me permitiu viajar.

Com tudo acertado, e depois de passar uma noite em claro por ter ido a uma festa, finalizei os preparativos, ajeitei minhas coisas e saí de madrugada de carro rumo a Maringá. Lá, deixei meu carro na garagem do meu irmão e seguimos juntos para o aeroporto. Pegamos um voo da Gol direto para Guarulhos, onde passamos o dia aguardando nosso voo para Lisboa. Optamos pelo primeiro voo do dia para evitar problemas com os temporais previstos para o dia, já que não queríamos correr o risco de o aeroporto fechar ou o voo atrasar.

No aeroporto de Guarulhos, almoçamos e demos uma volta pelo terminal. Acabei me deparando com a Mariana Becker, a repórter de Fórmula 1 da Band, que também trabalhou muitos anos na Globo cobrindo o mesmo esporte. Como fã de Fórmula 1 e acompanhando as corridas desde 1980, não resisti e, educadamente, pedi para tirar uma foto. Ela foi muito simpática e até se desculpou por estar com os olhos inchados.

Seguimos para a sala VIP da Latam, onde passamos a maior parte do dia cochilando, mexendo no celular e, principalmente, comendo. O espaço oferecia muitas opções de comidas, lanches, doces, sorvetes e bebidas, tudo de graça. Por volta das 21h, deixamos a sala VIP e fomos procurar nosso portão de embarque. Fazia muito calor, e parecia que parte do aeroporto estava sem refrigeração. O embarque começou às 22h30 e foi tranquilo. Graças a algumas milhas acumuladas, eu teria a chance de viajar pela primeira vez na classe executiva. Para um voo de quase 10 horas, o conforto extra seria muito bem-vindo. Só preciso tomar cuidado para não me acostumar mal, porque, no futuro, provavelmente terei que voltar à classe econômica.

O início da viagem foi tranquilo, e, mesmo estando acordado há quase 40 horas, eu não sentia sono. Aproveitei para assistir a um filme e, em seguida, jantar, com direito a um sorvete Häagen-Dazs de sobremesa. Mais luxo, impossível! Após cerca de três horas de voo e algumas turbulências ao sobrevoar a Bahia, o sono finalmente chegou. Ajustei minha poltrona, que ficava completamente horizontal, e dormi quase o resto da viagem.

Tietando a Mariana Becker no aeroporto.
Descansando na sala vip.
Fui sentando na última fileira da classe executiva.
Meu irmão foi sozinho na janela.

Carta ao meu pai

Oi, velhinho!

Hoje faz seis meses que o senhor se foi. Às vezes parece que foi ontem; outras, parece que já faz tanto tempo… Seis meses, 180 dias, meio ano… Não importa como eu conte, a saudade é a mesma. Antes, eu achava que sabia o que era sentir saudade, mas descobri que não sabia nada. Não sabia sobre a falta que dói no peito, nem sobre como é perder para sempre alguém que amamos tanto. É uma dor parecida com a de amor, mas, ao mesmo tempo, diferente. Tem suas semelhanças, como lembrar da pessoa em momentos aleatórios, quando uma música, um filme ou uma comida trazem de volta tantas memórias.

Nunca imaginei que sentiria tanto a sua falta. O que me consola é saber que fiz a escolha certa anos atrás, quando decidi não sair de Campo Mourão novamente. Escolhi ficar porque sabia que o senhor e a mãe não viveriam muitos anos mais, e eu queria aproveitar esse tempo perto de vocês. Queria compensar os vinte anos que fiquei longe, perdendo festas, comemorações em família e o convívio diário.

Quem mais sofre com sua ausência é a Dona Vanda. Para ela, não tem sido fácil, principalmente porque está cercada de lembranças suas. Ela tentou se desfazer rapidamente de muitas das suas coisas. Talvez tenha sido uma maneira de aliviar um pouco a dor. Mas seu sofá continua vazio. Ninguém mais senta nele — nem os gatos. Às vezes, vejo um deles parado perto do sofá, olhando fixamente para o cantinho onde costumavam ficar com o senhor. Parece que eles também sentem sua falta e tentam entender por que o senhor não voltou mais para casa.

Sua TV nunca mais foi ligada. Seu carro continua exatamente no mesmo lugar e do jeito que o senhor deixou há seis meses. Quando vou à sua casa, evito entrar na sala ou olhar para o sofá. Foi nele que te vi pela última vez bem, sentado com um dos gatos no colo, conversando comigo. Mas também foi nesse sofá que te vi após o AVC, numa agonia que nunca vou esquecer.

Na noite de Natal, entrei na sala cheio de saudade e, ao ver o sofá vermelho, não resisti: me deitei nele. Foi impossível conter as lágrimas. Senti sua presença de alguma forma.

Aqui seguimos a vida, tentando cuidar da Dona Vanda da melhor forma possível. Tem dias que são difíceis. Dia dos Pais, seu aniversário, Natal, Ano Novo… Foram datas especialmente dolorosas porque a saudade apertou ainda mais.

O Tande continua fujão, mas a Dona Vanda está tentando segurá-lo um pouco. Ele, que não gostava de mim, agora vem pedir carinho e colo quando me vê. Talvez eu lembre o senhor de alguma forma, e isso o ajude a matar a saudade.

Às vezes, sinto sua presença. Sei que a mãe e meus irmãos também já passaram por situações parecidas. Dentro do que acredito, sei que o senhor pode nos visitar. Espero estar certo nas minhas crenças.

A maior dor não foi te ver nos seus últimos dias, agonizando até partir. Não foi te ver na UTI dentro de um saco plástico, escolher seu caixão, participar do velório ou do enterro. A maior dor acontece no dia a dia, de forma aleatória. É quando vejo algo que o senhor gostava, como uma comida, ou quando algo acontece e eu quero te contar — e aí lembro que o senhor não está mais aqui.

Fiquei com sua camisa do Santos, mesmo não sendo santista. Guardei como lembrança, porque sei o quanto o senhor gostava dela. Também fiquei com a camisa verde do grupo de caminhadas. Lembro de quando comprei aquela camisa e o senhor gostou tanto que acabei te dando a minha, pois não tinha mais delas a venda. Brinquei que era para cuidar bem dela, porque quando o senhor morresse, eu queria ela de volta. Nunca imaginei que isso realmente aconteceria, e que seria tão cedo. Na última terça-feira, usei a camisa e senti algo estranho que não consigo explicar.

Desde que o senhor partiu, tentamos resolver tudo que ficou pendente. Pagamos as contas, fomos às lojas onde o senhor tinha costume de assinar notas. Não queríamos que nada ficasse para trás. Se o senhor manteve o nome limpo em vida, não seria depois da morte que isso mudaria. Ainda falta cumprir uma promessa sua: levar uma muda de fruta-do-conde para sua otorrino. Em breve faremos isso.

Lembrei que, há quase um ano, o senhor veio me visitar pela última vez (foto no final da carta). Sentou ao meu lado, aqui onde estou escrevendo agora, e ficamos conversando. Não imaginei que seria sua última visita. Da mesma forma, não sabia que nossa conversa na sala de sua casa, no dia do AVC, seria a última. Agora percebo que, de alguma forma, o senhor sabia, pois não queria me deixar ir embora. Se pudesse imaginar que seria nossa última conversa, teria me sentado e passado a tarde contigo, conversando e vendo futebol na TV.

Não sei se um dia nos encontraremos novamente. Talvez sim, talvez não. Espero que o que acredito sobre espiritualidade seja verdade, mas não tenho certeza. Se eu demorar muito para partir, talvez o senhor já não esteja mais aí. Pode ser que tenha retornado ao mundo dos vivos, talvez até na mesma cidade ou na mesma família. Mas o que acredito pode estar completamente errado, porque ninguém sabe exatamente como são as coisas depois que morremos. O que temos são suposições e crenças, mas a verdade permanece desconhecida. Um dia eu vou saber. Mais cedo ou mais tarde, também terei que partir, e então descobrirei se existe um reencontro ou não. Seja como for, foi um privilégio te encontrar nesta vida.

Quero te agradecer por tudo, especialmente pela minha vida. Tivemos nossas diferenças, mas as resolvemos. Nos últimos anos, nossa convivência foi harmoniosa e amorosa. Conversando com a mãe e meus irmãos, percebemos que, nos últimos meses, o senhor parecia saber que sua hora estava chegando. Agora, algumas coisas que o senhor me falou e pediu nas suas duas últimas semanas de vida, fazem todo sentido.

Acredito que o senhor tenha visto, aí do outro lado, que não consegui chorar ao saber da sua morte. Também não chorei no velório nem no enterro. Eu queria chorar, mas não conseguia. De alguma forma, me fechei para encontrar forças e superar aquele momento de extrema dor. Só consegui chorar 29 dias depois, justamente no dia do seu aniversário. E foi assistindo a um filme! Não poderia ser diferente, já que os filmes, por alguma razão que desconheço, sempre foram a maneira mais fácil de me fazer chorar. Depois daquele primeiro choro, as lágrimas não pararam mais. Choro sempre que lembro do senhor ou vejo algo que me traz sua memória. Outro dia, chorei no Paraguai, ao olhar para um pacote de balas da marca que o senhor gostava e que eu sempre lhe trazia quando ia até lá.

Estou chorando agora, enquanto escrevo esta carta. Mas não me importo. Chorar é a minha forma de mostrar o quanto o senhor foi importante para mim.

Sinto muito a sua falta.

Até um dia (ou não)!

JVD

José Amilton e Vander (25/01/2024).

Vídeo que viralizou…

Em 11 de setembro passado, estava na cama, certa noite, sem sono, pensando numa conversa que tive pouco mais de um mês antes com uma pessoa que foi, e ainda é, muito importante para mim. Sentia uma enorme saudade dela e uma vontade imensa de entrar em contato, mas me segurava, pois havia decidido não incomodá-la mais.

Na insônia, resolvi assistir a vídeos no Instagram. Foi então que encontrei um vídeo com uma música que me tocou profundamente. Decidi repostar o vídeo no meu perfil e incluir uma mensagem dedicada à pessoa de quem sentia tanta falta. Não tinha nenhuma esperança de que ela visse o vídeo ou a mensagem, afinal, ela não me segue nas redes sociais e acredito que também não fique me stalkeando.

Dois meses depois, notei que o vídeo começou a viralizar. Agora, quatro meses após a postagem, ele já acumulou 43.679 curtidas e quase um milhão e oitocentas mil visualizações. Sinceramente, nunca esperei que isso fosse acontecer.

O mais irônico é que, apesar de o vídeo ter sido visto por quase 1,8 milhão de pessoas, acredito que a pessoa para quem ele foi dedicado ainda não o tenha visto. Coisas da internet. Coisas da vida!

Fonte: Instagram vander_dissenha

 

 

Adeus 2024!

Houve um tempo em que o blog funcionava como uma terapia para mim. Quando eu não estava bem, escrevia aqui, especialmente em 2010, um ano marcado por uma terrível depressão. Apaguei muitos textos daquela época e, hoje, não sei se fiz certo ou não ao apagá-los.

Agora, com o fim de 2024 se aproximando, percebo que esse ano não deixará saudades. Ainda estou em dúvida se 2024 foi o pior ano da minha vida ou se 2010 ocupa esse posto, ou se os dois empatam em termos de dificuldade. A principal diferença entre esses anos é que, em 2010, quase perdi a vontade de viver e, por muito pouco, não tomei uma decisão drástica. Já em 2024, apesar de todos os desafios e acontecimentos tristes, senti uma vontade ainda maior de viver. Talvez isso tenha ocorrido porque consegui resolver dúvidas, traumas e complexos que me acompanharam por quase toda a vida. Finalmente deixei essas coisas para trás e, hoje, tenho clareza sobre o que quero para meu futuro.

Este foi um ano muito difícil, repleto de situações complicadas e problemas de saúde, tanto meus quanto de familiares. Minha mãe quase morreu, meu pai morreu, minha irmã se acidentou, e até a cachorrinha que esteve conosco por 16 anos se foi. Nunca vou esquecer a cena de enterrá-la debaixo de um pé de manga no quintal da casa dos meus pais, com minha mãe e meu pai chorando ao meu lado. Foi um momento profundamente triste e simbólico de como 2024 acabou sendo marcado de forma negativa.

Passei o ano de mãos dadas com a resiliência e, sem dúvida, termino 2024 sendo uma pessoa diferente da que começou o ano. Posso afirmar que sou uma pessoa melhor, porque não é possível enfrentar tantas situações difíceis sem ser transformado por elas. Algumas das decisões e escolhas que fiz ao longo do ano não tiveram o resultado esperado, mas isso é parte da vida. Nem tudo acontece como desejamos, e estou em paz com isso. Não vou lamentar ou chorar pelo que deu errado. Sou do tipo que levanta, sacode a poeira, enxuga as poucas lágrimas e segue em frente sem olhar para trás.

Apesar dos pesares, 2024 também trouxe momentos bons. Como sempre acontece, pessoas entraram e saíram da minha vida. Algumas entraram e saíram no mesmo ano, enquanto outras permaneceram nos momentos mais complicados, ajudando-me a atravessar as dificuldades. Também houve pessoas que eu acreditava que nunca se afastariam, mas se foram. Talvez tenha sido melhor assim.

Neste ano, minha família se tornou ainda mais unida, especialmente diante das dificuldades que enfrentamos juntos. Sempre fomos próximos e solidários, mas em 2024 nos superamos. O amor entre nós prevaleceu e cresceu. Meu pai esteve ao nosso lado quando minha mãe enfrentou uma grave doença, e, após a morte inesperada de meu pai, minha mãe encontrou forças para nos ajudar a seguir em frente e eu e meus irmão ajudamos ela a seguir em frente. Quando nos reunimos para tomar decisões importantes, não houve brigas por herança como acontece em tantas famílias. Pelo contrário, todos estavam dispostos a abrir mão de qualquer coisa para que os laços de amor e união permanecessem intactos. Isso nos uniu e nos fortaleceu ainda mais. Hoje, sinto ainda mais orgulho de ser filho da Dona Vanda e do Seu Amilton, e irmão da Vanerli e do Wagner. Apesar de tudo, o amor venceu e cresceu, e é isso que levo comigo ao encerrar 2024.

Este ano enfrentei situações para as quais não estava preparado, coisas pelas quais não queria ter passado, mas que foram inevitáveis. Presenciei acontecimentos que jamais gostaria de ter visto e vi cenas que nunca vou esquecer. Foram muitas coisas tristes, mas que, de certa forma, contribuíram para que eu amadurecesse ainda mais. Sempre me considerei uma pessoa forte, mas, durante um período, me senti enfraquecido. Contudo, neste ano, recuperei minha força, porque, se não tivesse sido forte, não teria conseguido lidar com tantas coisas ruins que aconteceram.

Foi estranho passar pelo primeiro Natal e Ano-Novo sem meu pai. Além disso, nunca fui a tantos velórios em um só ano como fui em 2024. Parece que todos que conheço estão partindo. Já vinha sentindo algo parecido nos últimos anos, mas, neste ano, essa sensação se intensificou. Talvez seja algo natural à medida que envelhecemos: as pessoas que conhecemos, principalmente as mais velhas, acabam nos deixando. Mas isso é muito triste!

O ano de 2024 me judiou até o final, pois os dois últimos dias do ano passei doente, não conseguindo comer. Enquanto pôde 2024 me testou, me desafiou, me fez sofrer, mas ele morre daqui poucas horas e eu continuo vivo e mais forte do que nunca. No fim quem venceu fui eu!

Vou encerrar por aqui, pois o que era para ser uma retrospectiva de 2024 acabou se transformando em um desabafo. Vou postar isso, mas talvez, depois de dez minutos ou um dia, eu me arrependa e apague…

Desejo, do fundo do coração, que 2025 seja melhor que 2024. Historicamente, anos ímpares costumam ser melhores para mim. Embora tenha nascido em um ano par, os anos pares geralmente me trazem mais desafios e tristezas.

Feliz 2025!

 

LIVRO: Muito Além do Grid

O jornalista especializado em Fórmula 1, Reginaldo Leme, lança oficialmente hoje a sua autobiografia, “Muito Além do Grid”. O livro explora mais de 50 anos de uma trajetória marcante no jornalismo esportivo e na Fórmula 1. Reginaldo Leme, atualmente comentarista na Band é um dos maiores nomes da cobertura esportiva no Brasil. Com 436 páginas divididas em 30 capítulos, o livro narra episódios memoráveis, como os títulos mundiais de Emerson Fittipaldi, Ayrton Senna e Nelson Piquet, e bastidores de grandes escândalos do automobilismo, como a batida proposital de Nelsinho Piquet no GP de Singapura de 2008.

O livro foi escrito em colaboração com o jornalista Alfredo Bokel e editado por Tiago Mendonça, fruto de cinco anos de depoimentos e pesquisas. O livro também inclui um caderno de fotos e reflexões sobre a vida pessoal e profissional de Reginaldo Leme, que descreve os momentos difíceis e as grandes vitórias de sua carreira com a honestidade e a paixão que marcaram sua trajetória.

O livro “Muito Além do Grid” está disponível para compra por R$ 79,90 no site da editora Oficina 259:  www.automotoresporte.com/loja ou pelo e-mail vendas@oficina259.com.br. O lançamento oficial está marcado por uma noite de autógrafos hoje, dia 11 de dezembro, na Livraria da Vila, que fica na Rua Fradique Coutinho, 915, Vila Madalena, São Paulo, a partir das 19h00min.

Reginaldo Leme.

 

O Vampiro morreu

Hoje faleceu aos 99 anos, Dalton Trevisan, “O Vampiro de Curitiba”. Maior escritor paranaense, deixou muitas obras publicadas. Li algumas de suas obras e gosto de seu estilo literário. Vi ele na rua uma vez, em meados da década de 1990.

 

O paranaense Dalton Trevisan, um dos maiores escritores brasileiros do século XX, morreu nesta segunda-feira, 9, aos 99 anos. A informação foi confirmada pela agente do autor.

Conhecido pelo apelido de “Vampiro de Curitiba”, ele morreu em casa. Segundo a agente, informações sobre a causa da morte e o velório do autor não foram reveladas para manter a privacidade.

Nascido em Curitiba, no Paraná, em 14 de junho de 1925, filho de um proprietário de fábrica de vidros, Trevisan cresceu sonhando em ser atleta, mas se descobriu mesmo nos livros – e, em especial, no conto, gênero do qual é considerado um dos grandes mestres no país.

Em suas quase oito décadas de carreira, venceu todos os grandes prêmios da literatura brasileira (Jabuti, Machado de Assis, Biblioteca Nacional) e lusófona (como o prestigioso Camões, pelo conjunto da obra, em 2012). Entre 1945 e 2023, publicou cerca de 50 obras, marcadas pelas repetição de temas como a solidão, a angústia e a complexidade da vida urbana.

Em seus livros e em sua imagem pública, Trevisan construiu uma mitologia particular, que passa por uma Curitiba anacrônica e idealizada, um espaço em ruínas que já não existe nem mais nos cartões-postais. Assim como o autor que buscava a economia narrativa até o limite do desaparecimento, o homem Trevisan parecia desejar a invisibilidade.

Além do minimalismo, que podia se manifestar em microcontos de poucas linhas, suas marcas são o pastiche e a metaficção. Sua linguagem peculiar se apropria de termos populares e chulos, explorando artifícios como o kitsch e o grotesco. A obsessão pela síntese alcançou sua mais perfeita expressão na coletânea “Ah, é?”, de 1994. De tão reduzidos, os textos da publicação foram comparados a haikais pelo próprio autor. Trevisan, por sinal, costumava dizer que seu vocabulário não ultrapassava 80 palavras. Seu único romance publicado é “A polaquinha”, de 1985, sobre uma moça de classe média que se prostitui para pagar seus estudos.

Em 2025, ano de seu centenário, a Todavia passará a publicar toda a sua obra. Além disso, a editora prepara também uma antologia de contos, organizada por Felipe Hirsh e Caetano Galindo. O livro será lançado em junho e ainda não tem título.

O apelido “Vampiro de Curitiba” surgiu por conta de um de seus personagens, que aparece pela primeira vez em uma obra homônima publicada em 1965. Mas a alcunha também tem origem na sua personalidade folclórica, com aversão a fotos e entrevistas. Nos anos 1970, uma repórter de televisão tentou uma entrevista com o escritor e foi recebida por um senhor atencioso e gentil, que a mandou esperar por Trevisan. Durante a longa conversa com a jornalista, o homem sempre reforçava que o escritor estava a caminho. No fim, era o próprio Trevisan, pregando uma peça na imprensa.

Quando lançou “A trombeta do anjo vingador”, em 1977, Trevisan conversava com a jornalista paranaense Adélia Maria Lopes quando a orientou a não publicar nada do que estava dizendo. Para comprovar a seriedade do assunto, avisou que cortaria relações com quem descumprisse o seu pedido. “Não falo mais com quem trair o compromisso de não divulgar minhas conversas”, teria dito. Depois disso, os amigos mais fiéis passaram a dedurar os repórteres que tentavam se aproximar do autor através de sua “entourage”.

A distância da mídia alimentou a fama de “recluso”, sempre rechaçada por amigos e próximos. Trevisan circulava a pé pelas ruas de Curitiba. Alguns dizem que ele só andava em público disfarçado com boné e cavanhaque, mas há fotos em que ele aparece de cara limpa. O autor, por sinal, costumava espalhar pistas falsas sobre os seus hábitos, o que torna impossível dizer hoje se realmente almoçava em restaurantes vegetarianos ou se batia ponto no Clube de Xadrez da cidade. Seu endereço, por outro lado, era bem conhecido e frequentado por muitos amigos.

Durante 68 anos, viveu em uma casa centenária, simples e sem muros, no Centro da capital paranaense. O autor não gostava de fazer obras e não se preocupava sequer em camuflar as pichações na fachada. Nos anos 2000, ele protestou contra o barulho de uma sala gay que havia se instalado na vizinhança. O episódio inspirou o poema “Amintas 749”, do livro “Rita Ritinha Ritona”.

Apesar do aspecto decadente e das marcas do tempo, que davam ela uma aura de mistério, estava longe de ser uma fortaleza onde o “Vampiro” ia se esconder. Em 2021, Trevisan se mudou para um apartamento em uma área agitada do centro da capital paranaense.

Formado em direito pela Universidade Federal do Paraná, ele abandonou a profissão após sete anos e passou a trabalhar na fábrica da família. Liderou, entre 1946 e 1948, o grupo literário responsável pela publicação da revista “Joaquim”, que tornou-se símbolo e porta-voz daquela geração de artistas. O próprio Trevisan controlava a tipografia, a montagem e a distribuição da revista, que reunia escritos de autores como Antonio Cândido, Mário de Andrade e Carlos Drummond de Andrade, além de ilustrações de Di Cavalcanti e Heitor dos Prazeres.

A publicação chegava por mala direta aos amigos de Trevisan no Rio de Janeiro, como Rubem Braga, Ledo Ivo e Vinicius de Moraes, tornando pela primeira vez Curitiba uma cidade conhecida no meio literária. Mais do que isso: graças a “Joaquim”, a cidade se tornou uma espécie de “meca da vanguarda” na época. Junto com outras publicações artesanais do gênero, como a carioca “Orpheu” e a paulista “Revista Brasileira de poesia”, consolidou a Terceira Geração Modernista, conhecida como “Geração de 45”.

Foi na “Joaquim” que Trevisan publicou seus dois primeiros livros (“Sonata ao luar”, de 1945; e “Sete anos de pastor”, de 1948), que depois foram renegados pelo autor. Sua estreia “oficial” seria em 1959, com a coletânea de contos “Novelas nada exemplares”, pela qual ganhou o Prêmio Jabuti, o mais tradicional do país, no ano seguinte. Ele venceria o Jabuti outras três vezes ao longo da carreira: em 1965 (“Cemitério de elefantes”), 1995 (“Ah, é?”) e 2011 (“Desgracida”).

Em 2012, o escritor foi eleito por unanimidade vencedor do Prêmio Camões. No mesmo ano, recebeu o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras.

Fonte: https://oglobo.globo.com/cultura/noticia/2024/12/09/morre-o-escritor-dalton-trevisan-aos-99-anos.ghtml 

Dalton Trevisan.
Algumas obras de Dalton Trevisan. (Brazil Journal)

FILME: Aumenta que é Rock’n Roll

Não sou muito de ver filmes nacionais, pois é raro algum que preste. Mas acabei assistindo ao filme, Aumenta que é Rock’n Roll, em razão da temática Rock Nacional dos anos 80 e adorei o filme. O filme, que é baseado em acontecimentos reais, conta a história do jovem Luiz Antônio, responsável por criar a primeira rádio de rock brasileira na década de 1980: a Rádio Fluminense, que ficou popularmente conhecida como “A Maldita”. Luiz, de forma inesperada acaba no comando de uma rádio falida e faz dela um grande sucesso, se não comercial, ao menos de público. Foi a Rádio Fluminense que abriu as portas para muitas bandas nacionais que estavam em começo de carreira e eram pouco conhecidas. Blitz, Paralamas do Sucesso, Legião Urbana, Barão Vermelho (com Cazuza) e outras bandas, começaram a ficar conhecidas pelo público ao terem suas músicas tocadas pela Rádio Fluminense. Também foi através de uma votação entre os ouvintes da rádio, que foram escolhidas as bandas e cantores que participaram do primeiro Rock in Rio, em 1985.

Um personagem importante no filme e melhor amigo de Luiz Antônio, é Samuel Wainer Filho, que foi produtor musical e jornalista. Ele foi repórter da Rede Globo e faleceu em um acidente de carro, ao voltar da cobertura da morte de um outro repórter da Globo, que tinha morrido num acidente de avião ao voltar da gravação de uma reportagem. O filme não menciona que Samuel trabalhava para a Rede Globo, então somente quem conhece um pouco da história do jornalismo brasileiro nos anos 1980 é que vai entender um pouco mais sobre Samuel. Em breve pretendo fazer aqui no Blog uma postagem sobre ele.

E por falar sobre entender, acredito que somente a minha geração é que vai curtir o filme tanto quanto eu curti, pois vai coneguir entrar na atmosfera do filme e com certeza vai ter muitas lembranças de sua vida na primeira metade da década de 1980. Os mais novos não vão entender muito bem o filme, não vão conseguir linkar muitas passagens que acontecem no filme e que não são tão explicitas.

Umas da atrizes do filme é Flora Diegues, filha do cineasta Cacá Diegues. Flora, entre outros trabalhos fez novelas na Rede Globo e morreu em 2 de junho de 2019, aos 34 anos, em decorrência de um câncer no cérebro. O que me chamou atenção foi que Flora faleceu em junho de 2019 e o filme foi lançado nos cinemas em abril de 2024, ou seja, quase cinco anos após sua morte. Isso mostra que o filme demorou muitos anos entre sua produção e lançamento.

Luis Antônio e Samuel.
Rádio Fluminense: A Maldita.
Elenco do filme.
Flora Diegues.

Família Dissegna/Dissenha

A origem da família Dissegna/Dissenha é a cidade de Romano d´Ezzelino, que fica no norte da Itália. Os primeiros Dissegna/Dissenha chegaram no Brasil em 1870, e depois de rodarem por algumas regiões do Paraná, próximas ao litoral, se estabeleceram na Colônia Italiana do Barro Preto, onde hoje fica o bairro Barro Preto, na cidade de São José dos Pinhais, próxima a Curitiba.

Os italianos (inclusive os Dissegna / Dissenha), deixaram seu país basicamente por motivos econômicos. A emigração, que era muito praticada na Europa, aliviava os países de pressões socioeconômicas, além de alimentá-los com um fluxo de renda vindo do exterior, em nada desprezível, pois era comum que imigrantes enviassem economias para os parentes que haviam ficado. Entre 1870 e 1930, vigorou no Brasil a imigração subvencionada pelo governo com o objetivo de estimular a vinda de estrangeiros. Nesse período, cerca de sete milhões de italianos deixaram sua terra de origem em busca de uma nova vida.  Na Itália, depois de um longo período de mais de 20 anos de lutas para a unificação do país, sua população, particularmente a rural e mais pobre, tinha dificuldade de sobreviver quer nas pequenas propriedades que possuía ou onde simplesmente trabalhava, quer nas cidades, para onde se deslocava em busca de trabalho. Nessas condições, portanto, a emigração era não só estimulada pelo governo italiano, como era, também, uma solução de sobrevivência para as famílias. A imigração subvencionada se estendeu de 1870 a 1930 e visava a estimular a vinda de imigrantes: as passagens eram financiadas por fazendeiros e pelo governo brasileiro, bem como o alojamento e o trabalho inicial no campo ou na lavoura. Os imigrantes se comprometiam com contratos que estabeleciam não só o local para onde se dirigiriam, como igualmente as condições de trabalho a que se submeteriam.

Como a imigração subvencionada estimulava a vinda de famílias, e não de indivíduos isolados, nesse período chegavam famílias numerosas, de cerca de uma dúzia de pessoas, e integradas por homens, mulheres e crianças de mais de uma geração. Muitos desses imigrantes italianos vieram ao Brasil para trabalhar nas lavouras de café, substituindo a mão de obra escrava, após a abolição da escravatura no Brasil, em maio de 1888.

Meu trisavô, Antonio Dissegna, juntamente com sua esposa e seus oito filhos, embarcaram no porto de Genova rumo ao Brasil,  em 7 de dezembro de 1886. Viajaram no vapor Righi e após uma longa e sofrida viagem, desembarcaram no Brasil em 22 de janeiro de 1887. Como a maioria dos imigrantes italianos que chegaram ao Brasil, eles desembarcaram na Ilha das Flores, em São Gonçalo, Rio de Janeiro. O vapor atracava na Bahia de Guanabara e barcos menores iam buscar os imigrantes e os levava até a Hospedaria de Imigrantes, que funcionava na Ilha das Flores. No local os imigrantes ficavam de quarentena por um tempo e depois seguiam para os locais que constavam em seus contratos de trabalho.

O sobrenome original de minha família é Dissegna. Por muito tempo se pensou que ele foi mudado para Dissenha, quando da chegada ao Brasil, onde tinham mudado a escrita do nome para ficar igual a sua pronúncia. Mas verificando registros antigos, descobri que ainda na Itália, em 1877, meu trisavô Antonio registrou seu quinto filho (no caso filha), como Margherita Dissenha. Esse é o primeiro registro do sobrenome Dissenha que encontrei. Posteriormente (já no Brasil) meu trisavô registrou mais dois de seus filhos com o sobrenome Dissenha, inclusive meu bisavô José Benjamin. Dos doze filhos que meu trisavô teve, nove filhos ele registrou com o sobrenome Dissegna e três filhos com o sobrenome Dissenha. O meu bisavô José Benjamin registrou todos os seus treze filhos (oito  do primeiro casamento e cinco do segundo casamento, pois ficou viúvo) com o seu sobrenome, com a escrita Dissenha. E a partir daí toda a minha família levou o sobrenome Dissenha. O motivo da mudança da escrita do sobrenome de Dissegna para Dissenha é um segredo que ninguém sabe e acredito que tal segredo morreu com meu trisavô.

Após longa pesquisa consegui cópias de vários documentos de minha família e consegui montar a Árvores Genealógica de nove gerações, chegando a cerca de trezentos anos no passado. Ainda continuo minhas pesquisas, procurando mais informações para preencher as lacunas que faltam na Árvore Genealógica e na história da Família Dissegna/Dissenha.

Primeiros registros com o sobrenome DISSENHA.
Lista de passageiros do Vapor Righi.
Na lista de passageiros, os nomes de meus Trisavós e seus oito filhos.
Documento de embarque (frente). Aqui constavam as informações de saída da Itália. É como se fosse um passaporte para todos os membros da família em um único documento.
Documento de embarque (verso). Aqui contavam as informações da chegada ao Brasil. Observe o carimbo do Império, pois chegaram ao Brasil ainda no tempo da Monarquia, pouco antes da Proclamação da República.
Desembarque de imigrantes na Ilha das Flores.
Ilha das Flores.
Recepção aos imigrantes na Ilha das Flores.
Refeitório na Ilha das Flores.
Alojamento na Ilha das Flores.
Ilha das Flores.
Árvore Genealógica – parte 1.
Árvore Genealógica – parte 2.
Árvore Genealógica – parte 3.
Árvore Genealógica – parte 4.
Romano d´Ezzelino.
A marca vermelha indica Romano d´Ezzelino.

 

*Atualmente na Ilha das Flores, no local onde funcionava a Hospedaria de Imigrantes, funciona um Batalhão dos Fuzileiros Navais.

Dia de Nossa Senhora Aparecida

Não sou católico, mas já estive três vezes no Santuário de Nossa Senhora Aparecida, sendo que duas vezes fui até lá de bicicleta em viagens de mais de 500 km. Em todas às vezes senti uma energia muita forte no lugar e chorei ao ver a imagem de Nossa Senhora Aparecida. Não sei explicar o motivo do choro…

Concurso de Fotografia Imagens da Cidade – Edição 2024

Participei mais uma vez do Concurso de Fotografia Imagens da Cidade, promovido pela Fundação Cultural de Campo Mourão. Dessa vez fiquei em sexto lugar e minha irmã ficou em nono.

Eu e minha irmã…
Minha foto que ficou na sexta colocação.
Vanerli, em nono lugar.

Palestra com Flávia Alessandra

 

 

Flávia Alessandra Martins da Costa nasceu em Arraial do Cabo, região dos lagos do Rio de Janeiro, no dia 7 de junho de 1974. Aos sete anos ela começou a estudar teatro e participou das primeiras edições das oficinas de atores da Globo, quando fez figuração em algumas produções. A sorte começou a mudar em 1989, quando ela participou de um quadro do Domingão do Faustão que escolheria uma jovem atriz para participar da novela Top Model.

Palestra com Orkut Büyükkökten

 

Cristhiane, Tefa, Alemão e Vander.

 

Orkut foi uma rede social filiada ao Google, criada em 24 de janeiro de 2004 e desativada em 30 de setembro de 2014. Seu nome é originado no projetista chefe, Orkut Büyükkökten, engenheiro turco do Google. O alvo inicial do Orkut era os Estados Unidos, mas a maioria dos usuários foram do Brasil e da Índia. No Brasil a rede social teve mais de 30 milhões de usuários, mas foi ultrapassada pelo líder mundial, o Facebook. Na Índia também foi a segunda rede social mais visitada.

 

Show com Bruna Viola

Após seis anos, voltei a assitir show com a Bruna Viola. Dessa vez foi em praça pública, na cidade de Peabiru. Apesar de ter começado com duas horas de atraso, por culpa do padre da cidade que não queria o show antes da missa, o show foi muito bom e teve pouco mais de duas horas de duração. De negativo foi a Bruna ter cantado poucas músicas dela. Cantou mais músicas de outros cantores famosos do que muitas de suas músicas de sucesso.

Vala dos 21

Aconteceu na noite de 22 de outubro de 1912, o confronto entre as tropas do Regimento de Segurança Pública do Paraná, comandado pelo coronel João Gualberto e os caboclos, comandados pelo monge José Maria. Este confronto entrou para a história como sendo o primeiro combate da Guerra do Contestado (1912 – 1916) denominado de Combate do Irani (ou Batalha do Irani). Na ocasião morreram, entre outros, o coronel João Gualberto e o monge José Maria. Ali foram enterrados o coronel e outros 21 corpos, entre caboclos e militares, no que foi chamado de “vala dos 21”. O monge José Maria foi enterrado em separado. O corpo do coronel João Gualberto permaneceu enterrado por apenas três dias e logo após foi transladado para Curitiba.

Guerra do Contestado

Com a criação da Província do Paraná no ano de 1853, o Governo dessa nova Província passou a contestar junto ao Supremo Tribunal Federal uma área de 48 mil quilômetros quadrados da área territorial catarinense, alegando pertencer primeiro à Província e com a proclamação da República ao Estado do Paraná, fato esse que ficou denominado como Questão Contestada.

Além da questão litigiosa entre os dois estados; Paraná e Santa Catarina, havia, nas primeiras décadas do século XX, a questão social no meio oeste catarinense, de um lado o capital estrangeiro representado pelos empreendimentos de Percival Farquhar: Estrada de Ferro e a Lumber em Três Barras – SC, e os interesses dos Coronéis fazendeiros, e do outro lado, os habitantes mais antigos da região, os Caboclos que contestavam as ações dos primeiros, os quais ancorados pelos governos federal e estaduai, exploravam as riquezas vegetais da área contestada, alijando do território o Caboclo. Assim visto, haviam duas questões contestadas, o litigio territorial entre os dois estados e a questão social no meio oeste catarinense.

Todavia, até que se chegasse a uma solução para o litígio entre os dois estados foi definido um limite territorial provisório, ficando o oeste catarinense sob a jurisdição do Paraná. E, no meio oeste, na região de Curitibanos, Caboclos e Coronéis disputavam terras. No linguajar caboclo, em conversa com o Capitão Matos Costa, enviado à região para apaziguar os ânimos: “Nóis só queremos um parminho de terra, porque os coroné querem tanto? ”

Em Curitibanos, nesse ano de 1912 estava ocorrendo uma grande concentração de caboclos aconselhados pelo monge José Maria. Os Coronéis temendo um grande conflito na região solicitam apoio armado do governo estadual catarinense, que de imediato os atende, enviando o contingente da Força de Segurança Pública de SC para prender o líder e desfazer o movimento. Tomando conhecimento dos fatos o monge decide sair da região seguido pelos seus “Pares de França” e outros caboclos, deslocando-se para os Campos do Irani, de domínio paranaense, para evitar derramamento de sangue. Entretanto, esse deslocamento foi visto como “Manobra de invasão”. O governo do Paraná, não aguardando a decisão do supremo Tribunal Federal, o qual estava a julgar o litígio entre Paraná e Santa Catarina, decidiu mandar suas tropas expulsarem os posseiros. Os caboclos que cercavam José Maria nos campos de Irani estavam em fase de exaltação mística, pois se ocupavam da reza a maior parte do tempo.

A 20 de outubro, o Coronel João Gualberto intima o Monge a comparecer a sua presença para explicar-lhe os motivos do agrupamento armado, alarmando os habitantes da região. José Maria prometeu ir, mas não foi. Os emissários do comandante, que haviam visto os homens do Monge, tentaram dissuadi-lo de atacar, com os poucos soldados que lhe tinha restado, um bando tão numeroso, mas João Gualberto não os atendeu. A 22 de outubro se deu o ataque. As primeiras horas do amanhecer, os soldados da vanguarda trocaram tiros com uma guarda supostamente dos fanáticos. A qual se retirou. A tropa chegou no lugar de nome Banhado Grande, onde se daria o combate. O regimento de Segurança do Paraná havia partido de Curitiba com aproximadamente 400 homens, dos quais o Coronel João Gualberto tirou 43. Reunidos estes ao contingente do Tenente Busse, somavam uma força de apenas 64 homens, que assim atacaram os fanáticos do Irani. Sob as ordens de João Gualberto, a tropa do governo enfrentou pouco mais de 200 sertanejos. Uns a cavalo, outros a pé, eles evitaram ao máximo o tiroteio e atravessando uma funda canhada onde desapareciam da vista das forças legais, caíram de supetão, a garrucha e a facão de pau sobre os soldados. O combate terminou com a morte do Coronel João Gualberto, com a morte de muitos soldados e com a morte do Monge José Maria. No Irani, o palco desse primeiro conflito ficou conhecido, nas palavras de Vicente Telles: “A vala dos 21”.

Para o Paraná foi o maior conflito armado do Contestado, porém houve um engano, pois não foi o Estado Catarinense que invadiu a área em litigio, mas sim pessoas simples correndo das Forças de Segurança de Santa Catarina. E, para muitos historiadores foi o Primeiro Grande Combate do Contestado.

Lembrando o Prof. Dr. Nilson Thomé “Em Canudos com a morte de Conselheiro acabou a guerra. No Contestado com a morte do Monge José Maria, começou a guerra”.

Prof. Ms Sandro César Moreira (Historiador)

No mapa aparece a região do Contestado.
O Coronel João Gualberto (o segundo da direita para a esquerda) embarcando em Curitiba, para dias depois morrer na primeira batalha da Guerra do Contestado.
Caboclos.
Pintura mostrando João Gualberto em batalha no Constestado.

Museu Histórico do Contestado

A Guerra do Contestado foi uma das maiores e mais sangrentas batalhas da história do Brasil. O confronto aconteceu em Irani, no Oeste catarinense. Para entender melhor essa história, existe um museu dedicado a contar como foi esse confronto no qual um dos resultados foi a mudança da divisa entres os estados do Paraná e Santa Catarina. O Paraná “encolheu” em 1916, ao perder a região do Contestado para Santa Catarina. A nova definição de limites tirou do território paranaense 28.000 km².

O Museu Histórico do Contestado está localizado próximo a cidade de Irani – SC, no Sítio Histórico e Arqueológico do Contestado, onde além do Museu, fazem parte o Local do Primeiro Combate da Guerra do Contestado (Combate do Irani), a Sepultura do Monge José Maria, o Cemitério do Contestado,  a Vala dos 21 e o Monumento do Contestado.

Monumento do Contestado

Museu Histórico do Contestado.

Cemitério do Contestado

O Cemitério do Contestado é um marco da história brasileira, principalmente no que diz respeito aos episódios que passaram a ser conhecidos como a Guerra do Contestado. O local onde hoje se encontra o cemitério era próximo a uma extensa área à margem direita do rio do Peixe, mais precisamente, no que era denominado por Banhado Grande. Neste terreno já existia um pequeno cemitério. A região era disputada pelos estados do Paraná, Santa Catarina e pela Argentina.

Houve, na noite de 22 de outubro de 1912, o confronto entre as tropas do Regimento de Segurança Pública do Paraná, comandado pelo coronel João Gualberto e os caboclos, comandados pelo monge José Maria. Este confronto entrou para a história como sendo o primeiro combate da Guerra do Contestado (1912 – 1916) denominado de Combate do Irani (ou Batalha do Irani). Na ocasião morreram, entre outros, o coronel João Gualberto e o monge José Maria. Ali foram enterrados o coronel e outros 21 corpos, entre caboclos e militares, no que foi chamado de “vala dos 21”. O monge José Maria foi enterrado em separado. O corpo do coronel João Gualberto permaneceu enterrado por apenas três dias e logo após foi transladado para Curitiba.

A partir deste episódio, o local entrou no esquecimento até ser reconstruído, no final da década de 1970, por ocasião da construção de uma rodovia. Nas escavações para esta obra foram encontrados, numa vala comum, os restos mortais dos personagens que tombaram na longínqua noite da primavera de 1912. Diversas cruzes de madeira, a maioria sem identificação, indicam as sepulturas de vítimas da guerra. Até meados da década de 1990, os moradores da região podiam sepultar seus entes no local; mas atualmente o cemitério é considerado campo histórico, não sendo mais permitida a abertura de novas sepulturas.

Mesmo sabendo que os corpos dos comandantes do episódio, de ambos os lados, não se encontravam entre as ossadas achadas na vala comum, foram instaladas lápides para o monge José Maria e para o coronel João Gualberto no cemitério.

Hoje o Cemitério do Contestado faz parte do Sítio Histórico do Contestado, que fica em frente à rodovia BR-153, km 64, precisamente, a 4 km de distância do centro da cidade de Irani no estado de Santa Catarina.

Jogos Olímpicos de Paris 2024

Hoje começam os Jogos Olímpicos de Paris. E me lembrei que no dia que Paris foi anunciada como cidade sede dos Jogos Olímpicos de 2024, eu estava em Paris. Isso mesmo! Foi em setembro de 2017 e eu estava em Paris para uma rápida visita, antes de seguir para percorrer o Caminho de Santiago de Compostela, que tem início no sul da França e depois segue pela Espanha. Por acaso fui visitar o local onde seria feito o anúncio de Paris como cidade sede dos Jogos Olímpicos e acabei meio sem querer assistindo ao evento. Abaixo segue a narrativa desse momento, que consta em meu diário de viagens.

PARIS, 13/09/2017 (Quarta-feira)

Voltei a caminhar e fui até o final da avenida onde estava. A chuva voltou e fiquei na dúvida sobre o que fazer. Peguei o mapa e vi que a Torre Eiffel não estava muito distante. E no mapa vi menção à estação Trocadéro. Lembrei de já ter lido que a praça do Trocadéro é de onde se tem a vista mais bonita da Torre Eiffel. Não pensei duas vezes, e como estava perto de uma estação do metrô, fui até lá, comprei o bilhete e logo estava dentro de um vagão rumo ao meu último passeio por Paris. Poucas estações depois, desci na estação Trocadéro. 

A praça do Trocadéro (Jardins du Trocadéro), é uma grande explanada não muito distante, e em frente à Torre Eiffel. O Trocadéro é o lugar ideal para tirar fotos frontais da Torre Eiffel. Por estar em um promontório, tem uma vista semi-panorâmica da cidade. Durante o inverno, as fontes de água ali existentes congelam e se transformam em improvisadas pistas de patinação no gelo. No verão, essas fontes de água refrescam os pés. Do local também faz parte o Palácio de Chaillot, museus, jardins e um grande aquário subterrâneo. Em 1878 foi construído no local o Palácio do Trocadéro, de inspiração bizantina. Ele foi construído para a exposição universal de 1878. Este imenso palácio era ocupado por um teatro e dois museus. Ele não deveria sobreviver muito após a exposição e sua demolição estava programada. Mas ele acabou sendo conservado por quase 60 anos. Foram anos de críticas ferozes sobre seu estilo e sua péssima acústica. E finalmente em 1935 ele foi demolido e parte de suas esculturas foram distribuídas por outras construções de Paris.

Mal saí da estação e coloquei o pé na rua, voltou a chover. Meu plano era tirar algumas fotos e ir embora. Mas o Trocadéro estava fechado! Tinham cercas provisórias impedindo a entrada, e muitos policiais controlando tudo e todos. Ia acontecer ali um evento com a presença de muitos políticos, artistas e esportistas, pois Paris seria oficializada como a cidade sede da Olímpiada de 2024. Em julho último, Los Angeles tinha desistido da candidatura para sediar a Olímpiada e sobrou somente Paris como candidata. Agora o COI – Comitê Olímpico Internacional, ia confirmar Paris como sede. Dei muito azar na minha visita! Dia e hora errados para visitar o local. Só me restou achar um cantinho de onde dava para ver a Torre Eiffel lá no fundo e tirar algumas fotos. Já estava de saída quando um grupo de pessoas apressadas passou por mim e uma mulher me acertou a testa com a lateral de seu guarda-chuva, que estava aberto. Ela percebeu que a pancada foi forte, então parou, colocou a mão no meu ombro e falou um monte de coisas em francês que entendi serem pedidos de desculpa e perguntando se eu estava bem. Respondi em inglês que estava tudo bem, que não tinha problema. Daí ela perguntou se eu queria entrar com ela no local do evento. Não entendi completamente o que ela falou, mas pelos gestos que ela fez, entendi que era esse o convite. Respondi sim em inglês e segui ao lado dela até uma entrada cheia de seguranças e policias. Foi aí que entendi que ela era uma repórter de TV, pois junto com ela seguiam dois cinegrafistas e um auxiliar. Parece que ela era famosa por lá! Ela falou com os seguranças e apontou em minha direção. Caprichei no sorriso e na cara de bom moço. Um dos seguranças fez sinal para eu entrar. Mal dei dois passos e dois policias me pararam, e um deles me revistou de ponta a ponta e o outro usou um detector de metais para me examinar. Em seguida me mostraram uma pequena lanchonete fechada, que ficava ao lado, e me mandaram ir para lá. A repórter deu tchau e seguiu para outra entrada, que levava até um palco, onde na parte de trás tinham os círculos olímpicos cobertos. Pelo visto estava preparada uma grande produção para comemorar o anúncio de Paris como sede da Olímpiada. Ao menos a pequena lanchonete tinha uma cobertura onde eu poderia me proteger da chuva. E mesmo não participando do show que estava montado ao lado, estava muito perto da festança, bem mais perto do que a maioria do pessoal que estava se amontoado na calçada em frente.

Ao meu lado se escondendo da chuva, tinham dois caras altos, fortes, com cara de poucos amigos e corte de cabelo militar. Tive quase certeza de que eram seguranças disfarçados, pois um evento daquele seria um prato cheio para algum tipo de ataque terrorista. Lembro que pouco menos de dois anos antes, Paris tinha sofrido uma série de atentados terroristas que ocasionou 180 mortes. Desde então todo e qualquer evento na cidade tinha segurança redobrada. A chuva deu uma trégua e resolvi ir tirar fotos na famosa mureta do Trocadéro, onde até mesmo Hitler foi fotografado quando os alemães invadiram Paris durante a Segunda Guerra Mundial. Mas não fui muito longe, pois um dos caras que eu achava ser segurança confirmou minhas suspeitas quando de forma ríspida gritou comigo e mandou eu voltar para o lugar onde estava. Ele disse que estava proibido andar por ali. Baixei a cabeça e voltei para o lugar na lanchonete onde estava antes. Minutos depois passou um policial com uma farda cheia de estrelas e falou com meus dois “companheiros”. E entendi que ele perguntou quem eu era, e os caras responderam, mas não tenho a mínima ideia do que falaram. Depois desse dia fiquei com vontade de aprender francês.

Resolvi ir embora, pois ficar parado estava chato. Antes que eu desse o primeiro passo, finalmente começaram a falar no palco ao lado. Teve uma apresentação, alguém cantou e depois mostraram no telão imagens de Paris, de atletas franceses e símbolos olímpicos. Daí tiraram o pano que cobria os círculos olímpicos e todos pularam, gritaram, fogos de artificio foram soltos. Depois teve show e muita festa. Voltou a chover e nisso apareceu um cara jovem, barbudo e ficou parado perto de onde eu estava. Logo ele veio para o meu lado fugindo da chuva. Um dos policias que estava próximo fez sinal para o outro e mostrou o cara do meu lado. Nisso um deles saiu e logo voltou com dois outros policias e foram falar com esse cara. O cara começou falar em árabe e estava muito nervoso. Usei o bom senso e saí dali rapidinho, pois vai que o árabe era um homem bomba. E notei que um dos policias me seguiu até eu sair da área protegida.

 

 

Adeus ao meu pai!

A partir de hoje minha vida mudou, pois, meu pai faleceu e nada será como antes. Vivi minha vida toda tendo um pai e agora ele se foi… A preocupação maior no momento é cuidar da minha mãe, que não está bem de saúde. E tentar seguir a vida com esse vazio que nunca será preenchido. Essa semana foi uma das mais difíceis de minha vida, pois vi e fiz coisas, passei por situações para as quais não estava preparado. Mas consegui ser forte e dei conta de tudo. E tudo o que vivi nesses últimos dias, me ajudaram a amadurecer e a rever certas coisas em minha vida, certos conceitos e opiniões.

No passado eu e meu pai tivemos sérios problemas de relacionamento, que felizmente nos últimos anos foram resolvidos, pois nos perdoamos, deixamos o passado no passado. Hoje entendo que o furacão que aconteceu em minha vida em 2010 e que me fez voltar para minha cidade natal e viver perto da minha família, tinha muitas razões e uma delas era para eu viver os últimos anos de qualidade de vida de meu pais, junto com eles. Eu tinha ficado 20 anos distante e perdi muitos aniversários, natais, dia das mães, dia dos pais e uma infinidade de momentos em família. E nos últimos 14 anos pude compensar os 20 anos de ausência e participei de tudo o que foi importante junto de minha família.

Nos últimos dois anos fiz muitas viagens para consultas médicas e exames, levando meus pais. E nessas viagens pude saber de histórias da vida deles que eu jamais tinha ouvido. As duas últimas noites que meu pai passou sedado num quarto de hospital, dormi numa cama ao lado da cama dele. Eu ouvia a respiração dele ao meu lado, e isso me fez lembrar de quando era criança e viajava com ele de caminhão e dormíamos lado a lado no sofá cama do caminhão. Fiquei ao lado de meu pai quase todas as últimas horas de vida dele e só não pude ficar o tempo todo ao lado dele quando ele foi transferido para a UTI. Eu que nunca tinha entrado numa UTI, de repente fiz várias visitas ao meu pai, vendo ele conectado a uma infinidade de aparelhos. E o pior momento foi quando ele faleceu e ao entrar na UTI vi ele dentro de um saco plástico. Esse foi um dos momentos mais difíceis da minha vida. Depois tive que passar pela desgastante função de avisar sobre a morte dele, ir no cemitério providenciar o enterro, ir no Prever escolher caixão, no cartório fazer a certidão de óbito. Meu irmão me ajudou, pois acho que sozinho não teria dado conta.

E então veio o velório, algo que não gosto e procuro nunca ver a pessoa falecida dentro do caixão. Muitas pessoas se fizeram presentes, sendo familiares, amigos de meu pai, de minha mãe, de meus irmãos e meus. Alguns amigos passaram a noite toda no velório me fazendo companhia. Nem sei como agradecer todo esse carinho. Recebi dezenas de abraços e palavras de carinho. E me mantive forte, preocupado em cuidar de minha mãe. Quase no final do velório uma amiga usou as palavras certas e me convenceu a ver meu pai no caixão. Toquei na mão dele e baixinho falei as últimas palavras de despedida. Fiquei um longo tempo ali ao lado do caixão e finalmente perdi minha fobia de ver as pessoas dentro de um caixão.

Ver o sepultamento foi outro momento muito difícil. E dizer que uma semana antes eu tinha ido ao cemitério visitar o túmulo da Família Dissenha. Naquela visita eu jamais podia imaginar que uma semana depois meu pai estaria sepultado naquele túmulo. O que mais me incomodou nisso tudo, foi que não consegui chorar. O tempo todo não derramei nenhuma lágrima. Eu queria chorar, pois sentia algo me sufocando, mas não consegui chorar. Isso não significa que eu não amo meu pai, que não tenho sentimentos. Sempre tive grande dificuldade para exteriorizar sentimentos, falar o que sinto. Tive problemas em relacionamentos passados, por culpa disso, pois nunca conseguia demonstrar o que sentia pela companheira. Ainda não chorei pela morte do meu pai e não sei se vou chorar. Mas sei que a dor que sinto é enorme, é intensa e só vai diminuir com o tempo. O que conforta é saber que ele morreu sabendo que eu o amava e eu sabendo que ele me amava. Nos perdoamos pelo passado. A última lembrança que vou levar dele é de horas antes do AVC que o levou a morte, quando na tarde de domingo me despedi dele, que estava sentado no sofá da sala de sua casa, com seu gato favorito ao seu lado, repousando a cabeça em sua perna. Os dias seguintes, as imagens dele sofrendo no hospital, morrendo aos poucos, essas quero apagar da minha mente.

E a vida não pode parar… Minha preocupação agora é cuidar e apoiar minha mãe, pois ela perdeu o grande amor de sua vida, o homem que entre altos e baixos dividiu o mesmo teto com ela nos últimos 58 anos. A saúde de minha mãe está frágil, mas vou cumprir uma promessa que fiz ao meu pai ao lado de seu caixão, que é cuidar e proteger ela até os seus últimos dias.

Vai em paz meu pai!

A útima foto com a família toda reunida. (28/04/2024)

 

F1 – Filme de Fórmula 1 com Brad Pitt

Acompanho as corridas de Fórmula 1 desde 1980 e desde entao nenhum filme sobre o assunto foi lançado. Mas isso mudou, pois está em fase final de gravação um filme sobre Fórmula 1 estreado pelo astro Brad Pitti. Hoje foi lançado um teaser sobre o filme e pelas imagens dá para ver que estão caprichando. O filme tem sido gravado em muitas corridas que aconteceram esse ano e em muitas cenas os atores se misutram com os pilotos verdadeiros.

Brad Pitt vive Sonny Hayes, um veterano piloto de Fórmula 1 fictício. A trama traz uma história original no cenário das corridas. Hayes deixou as corridas após um acidente, mas retorna como mentor de um jovem piloto, Joshua Pearce, interpretado por Damon Idris (Zona de Perigo, Snowfall). O teaser também destaca que o filme será em IMAX, com direção de Joseph Kosinski, de “Top Gun: Maverick”.

O problema é que o cinema com tela IMAX mais perto de casa, fica a quase 500 quilômetros de distância. Mas tudo bem, em 2025 quando o filme estrear dou um jeito de viajar para ver o filme…

Morte do Rodrigo Raineri

O alpinista Rodrigo Raineri, morreu hoje em um acidente de parapente no norte do Paquistão. Raineri fazia parte de um grupo com sete pessoas que estavam a caminho de um acampamento na base do K2, que é a segunda montanha mais alta do mundo. Ele foi o único do grupo que decidiu praticar parapente durante a expedição. O acidente fatal ocorreu após o rompimento do paraquedas de Raineri durante o voo, resultando em uma queda fatal.

Rodrigo Raineri tinha 55 anos e era um dos alpinistas mais experientes do Brasil. Engenheiro de Computação pela Unicamp, foi empresário, palestrante e consultor. Grande escalador, possuía vasta experiência em rocha, gelo e alta montanha. Formou com Vitor Negrete (falecido no Everest) a única dupla brasileira a escalar a temida Face Sul do Aconcágua, uma das escaladas mais difíceis do mundo. Ele foi o 6º brasileiro a escalar o Everest e o 7º a completar o projeto 7 Cumes. Ele escalou o Everest três vezes. Rodrigo foi autor dos livros No Teto do Mundo e Imagens do Teto do Mundo e fazia palestras pelo Brasil.

Li o seu livro alguns anos atrás e achei muito bom. Em 2012 fui confundido com ele no aeroporto de Campo Grande, acontecimento que achei muito engraçado.

Que descanse em paz!

Rodrigo no topo do Everest.
De parapende, pouco antes de morrer.
Livro: No Teto do Mundo (Rodrigo Raineri)

 

Paulo Betti em Autobiografia Autorizada

Hoje foi noite de ir ao teatro com alguns amigos, para assistir a peça “Autobiografia Autorizada”, com o ator Paulo Betti.

“Autobiografia Autorizada” é um monólogo caprichado com iluminação, figurino, trilha sonora, cenário e belas projeções escritas e protagonizadas por Paulo Betti, dirigidas por ele e por Rafael Ponzi. O espetáculo é um amálgama do Brasil profundo, inspirada pela inusitada história de superação de Paulo, que percorre o trajeto riquíssimo da roça à cidade, contando um pouco da história da Imigração Italiana no Brasil.

Quando foi que o Dia dos Namorados ficou chato para todo mundo?

Saindo do pilates na terça (11), alguém pergunta se é hoje o Dia dos Namorados. Três amigas casadas se olham meio preocupadas (mas não muito): “ih, é hoje?” Alguém diz que não, é na quarta. Ninguém que é casado sabe muito bem quando é o Dia dos Namorados mais.

A data criada pelo pai de João Doria ficou chata para quem namora e é cobrado para gastar R$ 300 para pegar fila em um restaurante de fondue meio brega e ficou mais chata ainda para quem é solteiro e é soterrado por manifestações amorosas nem tão sinceras assim na internet. Tudo que é obrigatório perde a graça — inclusive achar um namorado em pleno outono.

É isso, você provavelmente acordou essa manhã ensolarada vendo as redes sociais repletas de gente declarando amor eterno enquanto, por cima do muro para a vizinha, confessa que não aguenta mais o par. O que tem de cônjuge que não sabe onde ficam os pregadores da casa porque nunca pendurou um varal de roupa dizendo no Instagram que faria tudo por seu amor…

Tiago Leifert disse outro dia que quando a galera posta muito é porque tem alguma coisa errada. Precisa declarar amor eterno na frente de todo mundo? No meu tempo, era uma vergonha quando alguém chamava um carro de som para mostrar para a vizinhança toda que gosta de você. Faixa de amor pregada nos postes? Cafona.

Mas, pior do que postar sem sentir, é sentir que precisa postar para existir. E aí entra mesmo na lista de afazeres dessa semana complicada, entre fazer musculação quatro vezes até sábado e ir no hortifrúti na quinta, o item: arrumar um par. Em terra de carente, uma curtida no story é aliança dourada.

Ai, mas a colunista não acredita no amor? Nossa, acredito demais. Amor me levanta da cama todos os dias, às vezes, antes da hora certa. Sem amor, a gente nem existe. Eu não acredito é nessa patacoada de todo mundo bem hoje, uma quarta-feira qualquer, eleger um dia para amar demais — ou para sofrer demais por ser amado de menos.

Com tanta série boa na Netflix, tanto restaurante tailandês para pedir pad thai no Ifood, tanto malbec que o Pão de Açúcar entrega em casa, tanto grupo bom de meme no WhatsApp… é sério que hoje é dia de pensar no que poderia ser, mas não é?

Deve estar cheio de casal por aí que está ensaiando sozinho para começar o debate do Papo de Segunda, na segunda (10): a famosa crise da monogamia. Um monte de gente sem o rompante de sinceridade de Francisco Bosco no programa, mas pensando igual (“casamento é muito chato”, “desejo transar com outras pessoas todo dia”).

E enquanto uns estão ok com isso, outros sofreriam demais com o desejo do ser amado por um terceiro elemento. Nem acho casamento chato, mas que não é legal todo dia também não é.

Nada é fácil — ficar sozinho, ficar junto, ficar postando, ficar sem postar, ficar na fila do Chalezinho para comer um fondue de Lindt, ficar reclamando que não recebeu uma florzinha sequer. No fundo, gostoso mesmo é cuidar de si e saber estar só. Aí, todo resto acontece. E ninguém precisa reclamar de ninguém para vizinha (mas se quiser também pode).

Eu desejo uma excelente quarta-feira para você. E se for tomar um malbec, lembra de mim.

Luciana Bugni – www.uol.com.br

30 Anos da morte de Ayrton Senna

Comecei a acompanhar às corridas de Fórmula 1 pela TV, em 1980, influenciado por alguns amigos. Mas desde 1978 assistia uma ou outra corrida, sem entender direito o regulamento ou conhecer os pilotos. Mas a partir de 1980 tomei gosto pela coisa e foi através da narração do Luciano do Vale, na Globo, que comecei a me interessar para valer por Fórmula 1. Logo me tornei piquetista e no ano seguinte o Nelson Piquet conquistou seu primeiro título na Fórmula 1. Passei a assistir quase todas as corridas pela TV e em 1984 surgiu Ayrton Senna. Eu ainda torcia muito pelo Piquet, mas após a corrida de Mônaco, quando o Senna só não venceu a prova com seu fraco carro Toleman, por culpa dos juízes que encerraram a prova na metade em razão da chuva, passei a torcer muito pelo Senna.

E a partir de 1985, com o Senna na Lotus e vencendo suas primeiras corridas, passei a assistir todas as provas da temporada de Fórmula 1. Eu organizava minha vida e meus compromissos, para sempre poder assistir as corridas. E assim acompanhei o fenômeno Ayrton Senna desde o começo de sua carreira na Fórmula 1. Assisti ao vivo quase todas as provas de que Senna participou. Continuei tendo uma grande admiração pelo Piquet e também torcia por ele. Mas o Senna era diferente, ele era meio maluco e dirigia além do limite, corria mais riscos. Talvez seja por isso que o Piquet ainda esteja vivo e o Senna morreu há exatos 30 anos.

A morte do Senna foi um momento daqueles que você lembra para o resto da vida, principalmente para aqueles que gostavam de Fórmula 1. Eu que raramente perdia alguma corrida de Fórmula 1, acabei perdendo justamente a corrida em que o Senna morreu. Já tinha acompanhado as notícias do grave acidente do Rubens Barrichello na sexta-feira de treinos e da morte do Roland Ratzenberger, no treino de sábado. Naquela época eu vivia em Curitiba e não assisti a corrida no domingo, pois tinha dormido com um grupo de amigos na igreja que frequentava na época e íamos fazer uma apresentação no culto da manhã. Lembro que estava batendo papo na calçada em frente a igreja e meu amigo Cornélio veio contar que o Senna tinha sofrido um grave acidente e que dificilmente sobreviveria. Achei que ele estava exagerando, pois o Senna era meio que um super-herói imortal. Não me preocupei mais com o assunto, até que fomos almoçar no apartamento da Sônia e da Rosane e ligamos a TV. Estavam falando ao vivo sobre o estado de saúde do Senna. Sei que o almoço foi em clima de velório, onde ninguém falava nada. E finalmente veio a notícia confirmando a morte. Naquele momento todos perderam á fome e alguns que estavam a mesa ficaram com os olhos cheios de lágrimas.

No resto daquele domingo e nos dias seguintes, fiquei o tempo todo em busca de notícias na TV e nos jornais. A internet ainda caminhava a passos lentos naquele início de maio de 1994 e por essa razão não era tão fácil saber das notícias, igual é hoje em dia. E o mais comovente de tudo foi o dia do sepultamento do Senna, quando milhares de pessoas saíram às ruas de São Paulo para se despedirem do grande ídolo. Para um país carente de heróis, Senna foi o grande herói que o Brasil teve e que levava alegria e enchia de orgulho o sofrido povo brasileiro. Ver as vitórias de Senna pela TV, muitas conquistadas heroicamente e depois ouvir o hino nacional era motivo de orgulho para os brasileiros.

Depois da morte do Senna, a Fórmula 1 e o Brasil nunca mais foram os mesmos. E minha paixão pela Fórmula 1 foi esfriando um pouco. Cheguei a assistir uma corrida de Fórmula 1 ao vivo, no autódromo de Interlagos em 2000, mas nem isso fez meu velho interesse pelo automobilismo ser igual era antes da morte do Ayrton Senna. Entre 2010 e 2019, fiquei alguns anos sem ver corridas e no período da pandemia de Covid, meu antigo interesse e paixão pela Fórmula 1 voltou. Tenho assistido todas as corridas e acompanhado o noticiário. Mesmo não tendo piloto brasileiro atualmente na Fórmula 1, tenho achado os campeonatos interessantes e os carros de hoje são bem mais modernos e seguros do que os carros de 30 anos atrás, quando o Senna se acidentou.

Trinta anos se passaram desde a morte do Senna, o Brasil mudou, eu mudei, mas às lembranças do antigo ídolo e herói nacional permanecem e com certeza jamais teremos outro Senna e outros momentos de alegria iguais aos que ele nos proporcionava, principalmente nas manhãs de domingo.

Capacete do Ayrton Senna em 1994.
Lápide de Ayrton Senna, Cemitério do Morumbi – São Paulo, 1995.
Visitando o túmulo do Ayrton Senna – Julho /1995.