Caminho do Itupava
Parque Estadual Marumbi
Comecei o ano junto com a Eliane, desbravando o Parque Estadual Marumbi. Passámos dois dias andando pelo Parque. Fazia alguns anos que não visitava o lugar e constatei que as casas e as estações Engenheiro Lange e Marumbi, estão em péssimo estado de conservação.
Também caminhamos um pouco pelo Caminho do Itupava. O mesmo está fechado desde o início da pandemia e a trilha está suja, com muito mato e cobras. O camping do Marumbi também está fechado e o horário restrito, você precisa sair do Parque até 17 horas. Isso atrapalhou muito nossos planos, pois tivemos que ficar num camping distante seis quilômetros do Parque. E por conta do horário restrito de visitação, não chegamos ao cume do Marumbi.
Apesar dos pesares, foram dois dias muito agradáveis visitando o Parque Estadual Marumbi. O que nos fez sofrer bastante foi o calor intenso, mas no geral valeu o passeio.
Aventuras & Aventureiros – Caminho do Itupava
Hoje o programa Aventuras & Aventureiros falou sobre o Caminho do Itupava, que fica na serra do mar paranense. Os convidados que participaram do programa foram Gessiane Pereira, Arléto Rocha e Marcella Chinaglia.
Para assistir ao programa acesse o link abaixo:
Palestras: Por que trilho?
Hoje a noite aconteceu na cidade de Peabiru, o evento: Por que Trilho? Na Casa da Cultura da cidade, teve exposição de fotos e palestras. As fotos eram sobre viagens e paisagens relacionadas a natureza. E as palestras foram sobre viagens pelo Caminho da Fé, Caminho da Luz, Caminho do Itupava, Vale Europeu, Machu Picchu e Caminho de Santiago de Compostela. Foi um evento interessante, principalmente para quem gosta de viagens. Sempre aprendemos um pouco ouvindo histórias de outros viajantes. Fui um dos palestrantes da noite, e contei um pouco sobre minhas duas viagens para Machu Picchu, e também sobre sua história e seu descobrimento cientifico em 1911.
Casa do Ipiranga
A Casa do Ipiranga foi construída na época da abertura da estrada de ferro Paranaguá/Curitiba. Era residência do Engenheiro Fiscal do Trafego e também posto de telégrafo. O local onde ela foi construída, próximo ao Rio Ipiranga, no cruzamento com o Caminho do Itupava, tinha sido utilizado no inicio das obras da estrada de ferro, como acampamento de operários. Anos depois ela foi utilizada como clube de lazer pelos engenheiros da rede ferroviária, até a privatização da estrada de ferro em 1997. Antes da privatização a Casa do Ipiranga era preservada pela RFFSA – Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima. Após 1997, quem ficou responsável pela Casa do Ipiranga foi a FSA – Ferrovia Sul Atlântico, posteriormente tendo seu nome mudado para ALL – America Latina Logística. Após essa mudança de controle, infelizmente a Casa do Ipiranga foi sendo abandonada e aos poucos foi destruída por vândalos. Dessa forma uma construção de rara beleza e de importância histórica para o Paraná, acabou sendo destruída. Diferente da RFFSA, que além do lucro visava também á preservação do patrimônio da ferrovia, a ALL parece visar tão somente o lucro. Exemplo disso é que além da Casa do Ipiranga, várias outras casas de menor importância e beleza, que eram utilizadas por trabalhadores da rede ferroviária, estão abandonas ao longo da estrada de ferro, sendo depredadas e consumidas pelo mato.
Na Casa do Ipiranga viveu durante algumas temporadas um dos maiores pintores paranaenses, Alfredo Andersen, que era norueguês, mas passou a maior parte de sua vida no Paraná. Nessas breves temporadas Andersen registrou as lindas paisagens da Serra do Mar em suas telas a óleo.
A Casa do Ipiranga foi construída em alvenaria de tijolos sobre uma base de pedras. Ela possuía sala de estar com lareira, cozinha, sala de jantar e banheiro no térreo. No pavimento superior tinha três dormitórios e outro banheiro. Já no porão ficavam armazenadas ferramentas e outros materiais. Nos fundos foi posteriormente construído um apêndice, onde ficava uma sala de jogos toda envidraçada. Também nos fundos existia uma grande piscina com fundo em declive, alimentada de água corrente. Próximo a casa ainda existia uma pequena estufa construída com trilhos e a residência do caseiro.
Acho interessante contar que no inicio a estrada de ferro se chamava Paranaguá/Curitiba, pois a cidade de Paranaguá era mais antiga e importante comercialmente em razão do seu porto. Anos depois Curitiba acabou crescendo e ficando mais importante, então a estrada de ferro passou a ser conhecida como Curitiba/Paranaguá.
Caminho do Itupava
No sábado pela manhã, eu e Hiroo, meu vizinho, fomos fazer o Caminho do Itupava. Esse caminho foi aberto entre os anos de 1625 e 1650. Por quase três séculos foi o único caminho entre o litoral paranaense e a região de Curitiba. Algumas fontes contam que ele foi aberto pelos portugueses, outras dizem que foi por caçadores indígenas. Boa parte do caminho é calçado com pedras e alguns registros dizem que esse calçamento foi feito pelos Jesuítas, outros dizem que foi por escravos. A caminhada se inicia a 1.000 metros de altitude, sendo que o final está praticamente ao nível do mar. Nos últimos anos o caminho passou por algumas modificações, como a colocação de pontes por sobre os rios que cortam o caminho, mas a maior parte permanece da mesma forma como na época em que os primeiros viajantes a subir a Serra do Mar trafegavam por ali. Já percorri o caminho uma vez em 2002, mas seguindo um pouco pela estrada de ferro e atravessando a Represa da Copel que existe logo no inicio da Serra. Dessa vez seguimos pelo caminho original, sem atalhos.
Fomos de carona com o pai do Hiroo, até o ponto inicial do caminho, na cidade de Borda do Campo. Após preencher um cadastro obrigatório do Posto do IAP, iniciamos a caminhada ás 08h00min. O clima estava bom para caminhar, fazia sol e um friozinho simpático. Nossa meta era percorrer os 16,3 km do Caminho do Itupava e depois seguir mais 3,7 km até a Estação de trem do Marumbi, para pegar o trem de passageiros que segue para Curitiba quase no final da tarde. Caso ocorresse algum imprevisto e perdêssemos o trem, nossa meta seria andar mais 8 km até Morretes e voltar de ônibus para Curitiba.
No inicio da caminhada imprimimos um ritmo forte, que serviu para esquentar o corpo. Eu estava caindo de sono, pois tinha saído na noite anterior e dormido menos uma hora e meia. Ou seja, era algo insensato fazer uma caminhada tão longa após uma noite mal dormida. Mas resolvi arriscar, confiando em minha raça e força de vontade. Meu único receio continuava sendo o tendão do pé direito, que não está cem por cento.
O trecho inicial do caminho passa por uma pedreira abandonada e por algumas trilhas de terra em meio á mata. Alguns trechos de subida não muito forte se alternavam com descidas. Somente após uma hora de caminhada é que passamos a caminhar pelo trecho de pedras original do Caminho do Itupava. Daí o cuidado tinha que ser redobrado, pois estava tudo úmido e escorregadio. Ao chegar no primeiro rio, atravessamos pela ponte que foi colocada no local. Da outra vez que passei por ali, tinha atravessado o rio com água no meio da coxa. Era mais emocionante atravessar pelo rio, mais como a água estava gelada, resolvi deixar a emoção de lado e atravessar pela ponte. Nossa primeira parada foi na Casa Ipiranga (em outro post conto a história desse local). Tiramos algumas fotos, demos uma olhada pelo lugar, ou melhor, pelo que sobrou do lugar, e subimos alguns metros pelo trilho do trem até onde existe uma pequena cachoeira e uma roda d’agua. Tinha uma porção de gente acampada ali e ficamos um tempo descansando e conversando com dois caras que estavam totalmente bêbados e drogados. Os caras eram repetitivos e não falavam coisa com coisa. Verificando o relógio, o mapa de quilometragem e horário da trilha, descobrimos que estávamos pouco mais de uma hora abaixo do tempo estipulado no mapa. Ou seja, podíamos até diminuir nosso ritmo, que teríamos tempo de sobra para cumprir nossa meta, que era pegar o trem na Estação Marumbi.
Resolvemos partir e alguns metros abaixo seguindo pelo trilho do trem, reencontramos o Caminho do Itupava. Esse trecho se mostrou difícil, com muita subida e alguns lamaçais que mais pareciam areia movediça. Tivemos que tomar muito cuidado para não escorregar e nem ficar atolados ao passar pelos lamaçais. Começamos a encontrar vários grupos de pessoas, que aproveitando o feriadão e o tempo bom, também se aventuravam por ali. Em alguns trechos tínhamos que diminuir o ritmo e andar atrás destas pessoas. Mas logo passávamos por elas e continuávamos em nosso ritmo. E assim seguimos por toda a manhã, subindo morro, descendo morro, cuidando pra não cair. O Hiroo caiu sentado duas vezes, eu passei ileso. Foram apenas alguns escorregões sem queda e alguns furos de espinho na mão. Teve um momento em que tive que escolher entre cair ou segurar numa árvore cheia de espinhos. Escolhi os espinhos.
Atravessamos alguns riachos e rios não muito grandes, quase sempre pulando de uma pedra a outra. Todos eram de água cristalina e serviam para matarmos nossa sede. Logo começamos a ouvir o barulho dos trens e sabíamos que nossa meta para descanso e almoço estava próxima. O pior trecho acabou sendo a descida do morro que leva até o Santuário de Nossa Senhora do Cadeado (em outro post conto sobre esse local). É uma descida muito inclinada e por sorte, na parte final foram colocados abençoados corrimões. No Santuário aproveitamos para descansar e lanchar. Parece que os demais grupos também tiveram a mesma ideia. A vista dali é muito bonita, em frente da para ver boa parte da estrada de ferro e muitos morros.
Após o “almoço” e o descanso, retornamos ao caminho, dessa vez morro abaixo. Esse trecho final é complicado, pois a descida é íngreme e as pedras escorregadias. Mas correu tudo bem e após quase uma hora de caminhada chegamos na parte plana, e atravessamos por pontes dois rios e alguns riachos por pinguelas. E finalmente chegamos ao fim do caminho. O caminho original seguia até Paranaguá, mas ele não existe mais, sobre seu trajeto original foram construídos estradas e até uma BR.
Tínhamos tempo de sobra até pegar o trem, então subimos tranquilamente morro acima em direção ao Marumbi. Paramos na Estação Engenheiro Langue, que está abandonada, mas foi reformada faz alguns anos. Ali existe um vitral muito bonito, mas que está com vários pedaços quebrados. O que dá pena mesmo são das casas abandonadas. No passado elas eram utilizadas pelo trabalhadores da Rede Ferroviária Federal. Bem que a ALL (America Latina Logística) que tem a concessão da Rede Ferroviária naquele lugar, poderia reformar estas casas e utilizá-las como pousada ou algo parecido. Após um breve descanso e algumas fotos, seguimos pela trilha de 850 metros que leva até a Estação Marumbi. Essa trilha corta caminho e passa pelo trilho do trem. O trilho faz algumas voltas até chegar a Estação. No caminho paramos para ver um trem de carga descendo a serra carregado. É algo bonito e barulhento de se ver. Mais alguns minutos de caminhada e finalmente chegamos na Estação Marumbi. Foram 07h10min de percurso, sendo 06h10min de efetiva caminhada e 01h00min de descanso. A estação estava cheia de gente e ficamos descansando até a chegada o trem, que atrasou um pouco.
Ás 16h10min, embarcamos no trem e fomos observando a maravilhosa vista da serra do mar. Alguns lugares por onde passamos são de dar medo, mas a beleza da paisagem compensa qualquer coisa. Chegamos em Curitiba no inicio da noite, cansados, doloridos, mas felizes e realizados por termos cumprido com exito o desafio proposto. Agora é descansar e planejar a próxima aventura.