O programa Aventuras & Aventureiros de hoje, falou sobre a Trilha Salkantay, uma das trilhas que levam até Machu Picchu, Peru. O programa contou com a participação de Debora Rosa de Paula.
Assista ao programa na íntegra, através do link abaixo:
15 ANOS NO AR – Vander Dissenha
O programa Aventuras & Aventureiros de hoje, falou sobre a Trilha Salkantay, uma das trilhas que levam até Machu Picchu, Peru. O programa contou com a participação de Debora Rosa de Paula.
Assista ao programa na íntegra, através do link abaixo:
O programa Aventuras & Aventureiros de hoje, falou sobre a Trilha Inca e teve a participação de Karina Legnani e Andrey Legnani.
Para assistir ao programa na íntegra, acesse o link abaixo:
O programa Aventuras & Aventureiros de hoje, falou sobre Machu Picchu e teve a participação da professora Mirlene Moreira Melo.
Para assistir ao programa na íntegra, acesse o link abaixo:
Hoje a noite aconteceu na cidade de Peabiru, o evento: Por que Trilho? Na Casa da Cultura da cidade, teve exposição de fotos e palestras. As fotos eram sobre viagens e paisagens relacionadas a natureza. E as palestras foram sobre viagens pelo Caminho da Fé, Caminho da Luz, Caminho do Itupava, Vale Europeu, Machu Picchu e Caminho de Santiago de Compostela. Foi um evento interessante, principalmente para quem gosta de viagens. Sempre aprendemos um pouco ouvindo histórias de outros viajantes. Fui um dos palestrantes da noite, e contei um pouco sobre minhas duas viagens para Machu Picchu, e também sobre sua história e seu descobrimento cientifico em 1911.
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24/05/2012
Machu Picchu
Despertei assustado, pois sempre que tenho hora para levantar eu acordo sem despertador, mesmo que um pouco atrasado. Olhei no relógio e eram quase 4h00min. O corno do recepcionista não me acordou às 3h30min conforme eu tinha pedido. Levantei falando um monte de palavrões contra o recepcionista, fiquei muito bravo. Que o cara não ia com minha cara eu já sabia, só não sabia se ele não tinha me acordado por sacanagem ou incompetência dele. Tinha sido marcado um encontro às 4h00min em frente ao hotel onde o guia Daniel estava hospedado juntamente com a maioria do pessoal do grupo da Trilha Salkantay. Quem quisesse ir a pé até Machu Picchu, deveria ir a esse encontro. Quem quisesse ir de ônibus podia ficar dormindo e ir mais tarde, no primeiro ônibus que segue para Machu Picchu, logo ao amanhecer. Logicamente que eu queria ir a pé, pois gosto das coisas da maneira mais difícil, com mais emoção, mais aventura.
Em menos de dez minutos eu estava pronto e desci as escadas com minhas duas mochilas. Estava curioso para ver a cara do recepcionista e saber o que aconteceu para ele não ter me acordado. Ao chegar à recepção encontrei o recepcionista dormindo em um sofá, com a tv ligada. Tinha sido incompetência dele! De sacanagem joguei uma mochila no chão que fez um barulhão e o cara levantou assustado quase pulando do sofá. Ele olhou no relógio e ficou todo sem graça. Mesmo querendo falar um monte de bobagem a ele, dei um sorriso cínico e perguntei se ele podia guardar minha mochila grande no depósito do hotel. Ele disse que sim e entreguei a ele a mochila e saí xingando o cara em pensamento. Se eu brigasse com o cara por não ter me acordado, possivelmente ele não ia querer guardar minha mochila, então tive que ser politico, algo que não gosto de ser e agir e falar ao contrário do que gostaria de fazer naquele momento.
A madrugada estava muito fria e escura e segui para o hotel do encontro, torcendo para que o pessoal ainda não tivesse partido rumo à Machu Picchu. Como o pessoal sempre se atrasava, fui contando com tal possibilidade. E ao chegar ao hotel o pessoal ainda estava lá e o guia demorou uns minutos para aparecer. Apenas metade do grupo ia subir a pé rumo à Machu Picchu. O guia deu uns avisos e começamos a caminhar. Seguimos pelas ruas calçadas da pequena e adormecida cidade e logo chegamos à estrada, que leva a entrada secundaria de Machu Picchu. A estrada era a mesma que eu tinha percorrido no dia anterior, chegando à Aguas Calientes. Fui caminhando e conversando com o Alex, o outro brasileiro do grupo. Seguimos com as lanternas desligadas, afastados do restante do grupo e era possível ver claramente a estrada. Caminhamos ao lado do rio ouvindo seu barulho e olhando o céu estrelado. Após vinte minutos chegamos à entrada de Machu Picchu, na chamada Ponte Velha e ali já se formava uma fila de turistas. Entrei no final da fila e vi que a minha frente tinha um grupo de brasileiros. Comecei a conversar com eles e quando deu 5h00min em ponto os guardas começaram a verificar passaporte e ingressos de todos. Eu e o Alex passamos pelo guarda e atravessamos a Ponte Velha, que chacoalhou um pouco, mas nada que desse medo. Em seguida começamos a subir a montanha rumo ao portão principal de Machu Picchu. Os ônibus sobem a montanha pela estrada que segue em caracol. Já para os pedestres existe uma trilha, com degraus de pedra que sobe meio que em linha reta, atravessando a estrada em vários momentos. Seguir por esse atalho mesmo tendo a dificuldade dos degraus acaba tornando o caminho mais curto. Segui junto com o Alex durante um tempo, até que ele parou para descansar e beber água. Eu estava com frio e resolvi seguir em frente sem parar, pois assim me aquecia mais rapidamente. Não foi muito fácil subir tantas escadas, principalmente por me sentir cansado dos muitos quilômetros percorridos na Trilha Salkantay e por ter dormido pouco na última noite. Quando amanheceu eu estava quase no final da trilha e pude ver que o céu estava bastante nublado o que impossibilitaria ver o sol nascer em Machu Picchu.
Cheguei em frente ao portão principal de Machu Picchu pouco antes das 6h00min e na fila a minha frente tinham umas vinte pessoas. Mesmo estando frio eu sentia muito calor e resolvi tirar a blusa. Minha camiseta estava quase toda molhada de suor. A fila atrás de mim foi aumentando e alguns conhecidos foram chegando. Quando o portão abriu exatamente às 6h00min, o primeiro ônibus com turistas chegou e nele também vieram alguns membros do meu grupo. Entrando em Machu Picchu, segui por uma escadaria no lado esquerdo e subi por alguns minutos. Daí cheguei numa parte alta, onde existe uma antiga construção coberta com palha, uma das poucas construções cobertas do lugar. Desse local é possível ter uma vista completa de Machu Picchu e da montanha de Huayna Picchu ao fundo. Tirei algumas fotos, aproveitando que ainda não tinha ninguém circulando pelas ruínas. Comecei a sentir frio novamente e coloquei a blusa por cima da camiseta molhada. Acabei encontrando o Alex e nos sentamos num local para admirar a paisagem. Eu não pretendia circular muito por Machu Picchu, pois já conhecia tudo da visita no ano anterior. Minha intenção principal era subir a montanha de Huyna Picchu, pois nessa eu não tinha ido um ano antes.
Huayna Picchu
Pouco antes das 8h00min eu e Alex seguimos em direção à entrada de Huyana Picchu, que fica nos fundos das ruínas de Machu Picchu. O Alex não tinha a entrada, pois a agencia comeu bola e não comprou a entrada dele. Ele tinha conversado com o guia e esse disse que daria um jeito e que era para ele ir para a fila de entrada às 8h00min. E foi o que ele fez. Quando o pessoal começou a entrar em Huayna Picchu eu entrei e o Alex ficou do lado de fora esperando para ver se o “tal jeito” que o guia prometeu dar, ia funcionar. Mais tarde fiquei sabendo que não funcionou e que o Alex não entrou em Huayna Picchu. Eu segui por uma trilha em direção à montanha, mas estava tão cansado e sentindo frio que comecei a pensar em desistir de subir Huayna Picchu. Após andar alguns minutos cheguei num local onde existia uma grande pedra e de onde se tinha uma linda vista das montanhas, do rio correndo lá embaixo e de Machu Picchu. Deitei-me na tal pedra e cheguei a cochilar por alguns minutos. Depois me sentei e fiquei admirando a vista e pensando se subiria ou não Huayna Picchu. Então a Izabel, brasileira que era do meu grupo e seu namorado francês passaram por mim. Logo depois passaram três velhinhas, na casa dos oitenta anos e ao vê-las caminhando com dificuldade, mas com vontade rumo à montanha, decidi que ia subir também.
Subir Huayna Picchu não é tão fácil é algo cansativo. Primeiro tem uma trilha que começa descendo e depois sobe. Em seguida tem uma escadaria sem fim, que vai subindo em zig zag montanha acima. Aos poucos fui deixando a preguiça de lado e comecei a gostar da subida. Quanto mais subia mais bonita ficava a paisagem vista lá do alto. Por trás das montanhas verdes que estavam próximas, era possível ver mais ao longe muitas montanhas com o cume nevado. E Machu Picchu ia ficando pequena lá embaixo, sendo visível numa área descampada e na cor verde claro. Olhando para cima era possível ver algumas construções de pedra no alto da montanha e muitas escadarias. Fiquei impressionado com o que via e tentava imaginar como tinha sido difícil construir tudo aquilo na montanha. Fiquei imaginando quanto sofrimento e quantas mortes tal construção custou aos Incas. Em alguns trechos tinha mais de um caminho para subir, sendo um menos perigoso e outro mais perigoso, próximo à borda da montanha. Lógico que escolhi o mais perigoso! Em algumas partes da escadaria tinha congestionamento de pessoas subindo. E mais próximo ao cume comecei a encontrar pessoas descendo. Atualmente são permitidos apenas 400 acessos por dia até a montanha. São 200 acessos às 8h00min e mais 200 às 10h00min. Até ano passado quem tinha direito de subir eram os 400 primeiros que entravam numa fila de madrugada e pegavam uma senha. A partir desse ano o sistema mudou, e os 400 acessos diários são vendidos pelas agências de turismo ao preço de $ 10,00 soles cada.
No meio do caminho tinha um túnel estreito e uma escadaria que passava por dentro dele e outra ao lado. Passei por dentro do túnel meio que me arrastando num trecho, mas consegui sair do outro lado. Se a pessoa for meio gordinha ou ela não consegue passar ou fica entalada no túnel. Levei pouco mais de uma hora para chegar ao cume, pois fiz algumas paradas para admirar a vista e para tirar fotos. Lá no alto algumas pessoas se amontoavam para tirar fotos e admirar a vista. No cume existem algumas pedras enormes. Tinha um guarda lá em cima que ficava pedindo para o pessoal que tinha tirado fotos, descer para dar lugar aos que estavam subindo. Encontrei a Izabel e ela tirou algumas fotos minhas. Vi que numa pedra que avançava rumo ao vazio, algumas americanas de um grupo só de garotas, estavam subindo para tirar fotos. Achei que daria uma foto legal e fui até lá. A Izabel ficou de longe tirando as fotos com zoom. Quando cheguei ao local vi que em frente e do lado direito à montanha ia desaparecendo e lá em baixo, bem lá embaixo dava para ver o rio. Não senti medo nenhum ali, até que me virei e olhei para trás. Simplesmente eu estava na beirada de um abismo e nem conseguia ver o final da montanha. Na hora minha labirintite deu sinal de vida, minhas pernas ficaram moles e minha vista escureceu. Que medo!!! Abaixei-me e fiquei segurando na pedra até voltar a me sentir bem. A Izabel tirou mais algumas fotos e eu me mandei dali rapidinho, arrastando a bunda na rocha até chegar num local seguro. Melhor sair dali de uma forma meio humilhante do que cair lá de cima. De qualquer maneira valeu o susto, pois saíram boas fotos.
Desci da parte mais alta por trás das rochas, no sentido contrário de onde tinha subido. E foi então que descobri que existia outro caminho para sair da montanha, uma escadaria que seguia pela parte de trás e levava até uma caverna e uma gruta. Depois tinha que seguir por uma escadaria que passava pelo lado da montanha e ia até perto da pedra em que eu tinha cochilado no início da subida. Seria bem mais interessante seguir por outro caminho em vez de voltar pelo mesmo caminho que eu tinha subido. Mas seguir por esse novo caminho significava andar mais, o que levaria bem mais tempo para retornar à Machu Picchu. Fiquei pensando se seguia por esse caminho ou não, e nisso uma moça veio falar comigo. Ela era chilena, se chamava Joyce e estava esperando sua amiga. O sol apareceu, o que deixou a vista lá do alto da montanha ainda mais bonita. Resolvi tirar a blusa e a camiseta que tinha ficado novamente molhada de suor e coloquei uma camiseta limpa que estava na mochila. Nada como ser precavido! Então resolvi explorar umas construções que ficavam pouco abaixo do cume e pelas quais eu tinha passado pela lateral. Fiquei cerca de uma hora subindo e descendo escadas por estas construções, admirando a vista e tirando fotos. Voltei até o cume e encontrei a chilena Joyce e sua amiga, Carolina. Começamos a conversar e a conversa ficou tão animada que resolvi descer junto com elas, pela parte de trás da montanha. Elas iam até a gruta e eu fui junto. No caminho existiam algumas placas dizendo o tempo de caminhada até os locais, mas esses tempos assinalados eram menores do que realmente foi o tempo que levamos caminhando.
O sol começou a judiar um pouco, passou a fazer muito calor. E dizer que até pouco tempo antes eu estava morrendo de frio! Descer a montanha até que era fácil e levamos menos de uma hora até chegar numa gruta que leva o nome de “Gran Caverna”. Próximo a essa gruta existiam algumas ruínas e fiquei tentando imaginar como devia ser aquele lugar no passado, com pessoas vivendo ali. Logo parei de divagar e segui caminhando com minhas amigas. Dessa vez começamos a subir e minhas amigas passaram a caminhar mais lentamente. Segui no ritmo delas, pois estava cansado e não tinha pressa. Chegamos a “Gruta da Lua” e encontramos um guarda que estava com um rádio na mão e perguntou se as duas eram chilenas e eu brasileiro. Pelo visto só tínhamos nós perambulando pela montanha naquele momento e o pessoal do controle da entrada tinha passado essa informação a ele. O guarda se chamava Nolan, era bastante simpático e disse que não precisávamos ter pressa, que podíamos seguir nosso passeio tranquilamente. Ficamos um bom tempo na gruta, que não chegou a ser terminada, pois os espanhóis chegaram antes e quase dizimaram os Incas, destruindo boa parte de sua cultura e construções. De qualquer forma o que existia na gruta era interessante e tinha sido válido ir até ali.
Saindo da Gruta da Lua, seguimos em direção à saída de Hauyna Picchu, o guarda seguiu conosco. Para chegar até a saída seria preciso contornar a montanha, quase sempre subindo. Fizemos muitas paradas para descanso e logo fiquei sem água. Eu não tinha planejado ficar tanto tempo na montanha e por isso não levei muita água. Passamos por um local onde o Nolan disse existir ursos. Mas não era para ficarmos com medo, pois eles tinham mais medo de nós e geralmente ficavam no alto das árvores nesse horário. Cansamos de olhar para cima e não vimos nenhum urso. Minhas amigas cansaram de vez e passamos a fazer cada vez mais paradas para descanso. O tempo fechou e ao longe víamos a chuva e ouvíamos os trovões. Tivemos que descer uma escada de madeira muito alta e preferi não olhar muito para baixo. Depois percorremos um trecho de escadas de pedra bem ao lado da montanha, onde em algumas partes existiam muros de pedra como proteção para o caminhante não cair no abismo. A vista era muito bonita, achei o lugar impressionante. Também passamos por um local onde a escadaria subia a montanha por baixo da rocha, quase parecia um túnel.
Pouco antes do final da trilha de Huyna Picchu, aconteceu um fato que não entendi direito, mas que me deixou bastante espantado. Quem me conhece sabe que sou incrédulo e que para eu acreditar em algo geralmente tenho que ter boas provas ou ver com meus próprios olhos. Mas nos últimos dois anos passei por tantas coisas e vi tanta coisa estranha, que acho que nada mais me surpreende (ou quase!) e estou acreditando em quase tudo. Eu estava em pé no início de uma escadaria, ao lado de um precipício. Minhas amigas chilenas e o guarda peruano vinham um pouco mais atrás e fiquei esperando parado de frente para eles. Quando eles chegaram à minha frente falei que tinha gostado tanto da montanha que queria ficar ali. Na mesma hora parece que o local que eu estava pisando tremeu, eu me desequilibrei e quase caí para um lado. Me ajeitei, me desequilibrei de novo e quase caí montanha abaixo. Tomei o maior susto! A Carolina ficou olhando e disse que Pachamama (uma deusa dos povos andinos) tinha ouvido meu pedido de ficar na montanha. Na hora respondi que era brincadeira, que eu não queria ficar ali não. Virei-me e segui ainda assustado escadaria acima. Não sou de assustar fácil, mas aquilo foi estranho demais, não consigo explicar direito o que aconteceu, a sensação de que a pedra embaixo de meus pés estava se movendo, querendo me derrubar. Sei lá!! Mas sei que coisas estranhas e sem explicação acontecem em Machu Picchu e região.
Mais algumas escadas e chegamos à saída de Huayna Picchu. A chuva estava chegando perto e começou a garoar. Paramos um pouco no posto de controle para descansar. Eu estava com muita sede, com a boca seca e queria sair logo dali e ir até a entrada de Machu Picchu, onde tinha água à venda. Quem foi até Machu Picchu e não percorreu Huyana Picchu por inteiro, perdeu de ver muita coisa bonita e interessante. Eu acabei gostando mais de Huayna Picchu do que da própria Machu Picchu.
Machu Picchu
Atravessamos lentamente as ruínas de Machu Picchu, rumo à entrada. A Joyce é que parecia estar mais cansada, ia caminhando a passos lentos. Vimos algumas lhamas passeando pelas ruínas e fomos tirar fotos delas. Depois seguimos rumo à entrada. No caminho vi um cego caminhando pelas ruínas e fiquei pensado o que ele sente e pensa ao caminhar por um local bonito, mas que ele não pode ver? E se com sua sensibilidade mais treinada, será que ele consegue sentir mais fortemente a energia que emana em Machu Picchu? Em meio a mais essas divagações cheguei à entrada de Machu Picchu e comprei água, que ali tem preço de ouro. Acho uma sacanagem enorme cobrarem preços tão caros em locais turísticos. Eles pensam que todo turista é rico, quando na verdade a maioria vai até ali com muito sacrifício e economia.
Eram quase 17h00min e me sentei com Carolina num banco e fiz um lanchinho. Comi alguns biscoitos e tomei um suco de pêssego. Essa era minha primeira refeição do dia. Eu pretendia descer a pé até Aguas Calientes, mas estava tão cansado que resolvi descer no ônibus junto com as meninas. Comprei a passagem por U$ 9,00 e logo embarcamos num dos ônibus que partem a todo o momento dali. A viagem montanha abaixo até Aguas Calientes leva em média 20 minutos e dormi durante quase toda a viagem.
Aguas Calientes
Chegando à Aguas Calientes desembarcamos na entrada da cidade. Eu precisava encontrar o guia do meu grupo, pois estava com ele minha passagem de trem para logo mais a noite. Minhas novas amigas chilenas só iriam para Cusco no dia seguinte. Então fui com elas até em frente ao hotel delas, para saber onde era e depois de resolver meu problema da passagem eu ia até lá encontrá-las. Elas não eram fracas, estavam no hotel mais chique da cidade! Fui procurar o guia e no caminho encontrei o Alex, que disse que o guia tinha deixado as passagens de trem num restaurante ao lado do hotel onde ele estava. Fomos até lá e peguei minha passagem, que estava marcada para as 21h30min. Saindo dali fui até o Mercado Municipal comprar um lanche para comer no trem. Parei numa banca e pedi para uma mulher fazer três sanduíches de queijo. Fiquei olhando a mulher fazer os sanduíches e foi tanto relaxo e falta de higiene que achei que jamais fosse comer aqueles sanduíches. Ela pegou os pães, cortou ao meio e colocou a faca em cima de umas cenouras sujas. Daí pegou o queijo de dentro de um plástico e usou a mesma faca para cortar algumas fatias. Depois colocou as fatias dentro de uma cesta de plástico que estava suja e com um pouco de terra. Então apareceu um cachorro e pulou nas pernas da mulher. Ela coçou a cabeça do cachorro e com a mesma mãe que afagou o cachorro pegou o queijo e colocou dentro dos pães. Perguntei se o cachorro era dela e ela respondeu que sim, que ele passa o dia ali com ela. Paguei pelos sanduíches e saí perplexo com tanta falta de higiene. Pensei em jogar fora os sanduíches, pois não ia comer aquilo. Mas acabei guardando na mochila para o caso de encontrar algum cachorro faminto pelo caminho.
Fui até o hotel onde eu tinha ficado e peguei minha mochila. Conferi para ver se ela não tinha nada faltando, virei às costas e nem olhei para o recepcionista com o qual tinha tido alguns problemas. Não costumo ser mal educado, mas aquele cara não merecia um muito obrigado. Fui até o hotel de minhas amigas chilenas e a Carolina estava sentada na calçada em frente me esperando. Ela conversou com o pessoal da recepção e eles autorizaram minha entrada para deixar minhas mochilas no quarto delas até o horário de pegar o trem. Fui até o quarto e lá estava a Joyce descansando. Deixei as mochilas e saímos. Fomos até uma Termas que fica na parte alta da cidade, no pé do morro. A cidade se chama Aguas Calientes em razão dessas termas de água quente. Pagamos $ 10,00 soles para entrar. O local tem três piscinas, com temperaturas diferentes. Na mais quente a água fica em torno de 38 graus. Eu não tinha levado toalha e no local não alugavam toalhas, o que seria um problema na hora de sair da água. A água das piscinas era escura, meio com cor de ferrugem. Não era nada parecido com a Termas onde estive no terceiro dia de Trilha Salkantay, cuja água era límpida. Primeiro fomos numa piscina de 27 graus, mas com o anoitecer o frio chegou e a água não parecia ser tão quente. Então fomos para a outra piscina mais quente. Tão longo entrei nessa piscina, tive câimbra na parte da frente da coxa direita. A dor era tão forte que comecei a gritar e muita gente ficou olhando. Nunca tive câimbras tão fortes e doloridas iguais a essa. Me alonguei um pouco e as câimbras passaram, mas fiquei com um pouco de dor na coxa por uns dias. A energia elétrica acabou em toda a cidade e ficamos no escuro dentro da piscina conversando e olhando o céu estrelado. Foi algo bem interessante isso, de estar numa piscina de água quente, quase no meio do mato, no escuro, olhando as estrelas. Mais um tempo ali e chegou a hora de sair. Eu sem toalha acabei pegando a maior friagem e no vestiário me sequei com a camiseta. Minha garganta que já não estava muito boa depois do frio que passei na Trilha Salkantay, após essa friagem toda que peguei ficou ainda pior. Voltamos no escuro até o hotel das chilenas. No hotel as escadarias e corredores estavam cheios de velas. Ficamos conversando no quarto, eu deitado atravessado numa cama, pois estava morto de cansaço. Conversamos sobre vários assuntos, comemos pistache e depois de uma hora a energia voltou. Trocamos endereços e ficamos de nos encontrar em Cuzco na noite seguinte, quando as duas chegassem à cidade. Foi muito interessante à amizade que nasceu entre eu e as duas chilenas em tão pouco tempo.
Acabei deixando no hotel para ser jogado no lixo o meu bastão de caminhada. Ele quebrou uma mola interna e não fechava por completo. Daí seria difícil levar ele na mochila e achei melhor descartá-lo. Eu tinha comprado o bastão no ano anterior, em Cusco, para fazer a Trilha Inca. Levei ele para o Brasil, trouxe de volta ao Peru e agora ele ia para o lixo, após ter cumprido muito bem sua missão. Às 21h00min as duas chilenas me acompanharam até a Estação de Trem, onde conversamos mais um pouco. Comentei sobre a sensação de que as conhecia há muito tempo e não somente há poucas horas. Então elas disseram que tinham a mesma sensação e a Carolina disse algo interessante. Ela contou que dias antes de viajar contou a uma conhecida que ia para Machu Picchu e essa pessoa disse para ela dar um oi para a mãe dela, que já faleceu. É que segundo essa pessoa, existem alguns lugares na terra que funcionam como portais para outra dimensão, seja temporal ou espiritual. E que Machu Picchu é um destes lugares mágicos, que ali costumam se encontrar pessoas que já se conheceram em outras vidas, (para quem acredita em reencarnação) que de alguma forma estas pessoas se atraem e se reencontram nesse lugar. E que ali você também consegue contato com o espirito de pessoas que já morreram. Achei interessante o que ela contou e lembrei-me do sonho que tive na noite anterior, onde uma pessoa que já faleceu veio dar um recado para alguém que eu conheço. Já ouvi relatos de outras pessoas sobre experiências estranhas que tiveram em Machu Picchu e eu mesmo tive algumas experiências e sensações estranhas nas duas vezes em que estive nessa região. Então deixo em aberto tal assunto e cada um pensa o que quiser sobre o mesmo. Mas que tem algo estranho ali, isso tem!!! Li num lugar que: Quando for para Machu Picchu e região, tudo o que emocionalmente para lá você levar, será potencializado. E o que estiver guardado em seu coração, de uma forma ou outra, será revelado.
Despedi-me de minhas novas amigas e entrei na estação. Lá encontrei o pessoal do meu grupo e fiquei com eles num canto. Um dos israelenses pegou seu pequeno violão e começou a cantar e o pessoal junto. Outras pessoas que estavam na estação foram se aproximando. E encontrei mais uma vez sem querer, minha amiga Heverly. Na verdade foi ela que me viu e veio até onde eu estava. Conversamos um pouco, ela contando como tinha sido percorrer a Trilha Inca. Logo o trem chegou e descobri que eu era o único do meu grupo que seguiria em outro vagão. E coincidentemente fui no mesmo vagão que o grupo de Londrina, do qual a Heverly fazia parte.
Sentei em minha poltrona, ao lado de uma peruana e de frente a duas gurias que pareciam ser europeias. Elas logo pegaram no sono. Eu estava com muita fome e me arrependi de não ter comido nada antes de embarcar. Lembrei dos sanduíches de queijo que estavam na mochila. E também lembrei da “porca” que os fez! Mas a fome era tanta que pensei: dana-se! Tinha comprado uma Fanta antes do embarque, que junto com os três sanduíches de queijo foi minha janta. Depois de comer fui até a poltrona da Heverly e até o final da viagem fomos conversando e vendo fotos da trilha.
No desembarque me despedi da Heverly e fui encontrar meu grupo. Uma van nos esperava e embarcamos nela rapidamente, pois estava muito frio. Essa van nos levaria até Cusco, distante cem quilômetros dali. Desde as fortes chuvas de 2010 que destruíram boa parte da estrada de ferro, que o trem não vai até Cusco. Logo desembarcamos, pois com nosso peso o motorista não conseguia passar por uma elevação ao lado da estrada. Reembarcamos e fui no fundo da van, numa posição desconfortável e apertada. Mas estava tão cansado que não me importei. A garganta estava doendo muito e notei que estava com febre e tendo calafrios. Acabei dormindo até chegarmos a Cusco. Desembarcamos no centro da cidade e cada um foi para seu lado. No dia seguinte estava marcado um encontro para despedidas. Fui direto para o hostal, aonde cheguei às 2h00min. Bati na porta e demorou para o recepcionista abrir. Entrei e falei que tinha reservado e pago um quarto cinco dias antes. Ele olhou no livro de registros e disse que não tinha quarto livre e que eu teria que ir para um quarto coletivo. E que o preço tinha subido e que eu teria que pagar diferença de preço nesse quarto e também referente aos dias que tinha ficado no hotel junto como o Thiago. Eu não sou de brigar ou criar barraco, mas fiquei tão bravo que joguei as mochilas no chão e falei um monte de bobagens para o cara. Falei que pagava a diferença de quarto daquela noite, pois estava cansado, com sono, frio e febre e não ia sair atrás de outro hostal para dormir, que ia ficar naquela porcaria de hostal naquela noite. E que das noites anteriores eu não pagava de jeito nenhum, pois era absurdo querer cobrar algo que tinha sido pago antes dos preços aumentarem. Entre outras coisas até falei que ele podia chamar a Polícia, que mesmo assim eu não pagava. E que ia abrir uma reclamação por tal cobrança ilegal no Escritório de Turismo da cidade, pois aquilo era sacanagem. Acho que o cara ficou com medo de mim, pois ficou parado com cara de assustado e não falava e não fazia nada. Coloquei uma nota de $ 10,00 soles no balcão, que era a diferença que ele queria cobrar por aquela noite e disse para ele me mostrar onde eu ia dormir, senão eu já me deitava no sofá da recepção e ninguém ia me tirar dali. Ele então me levou até um quarto coletivo, que ficava nos fundos de outro quarto coletivo onde vi três camas ocupadas. No meu quarto vi que tinha uma garota oriental dormindo numa cama. O recepcionista foi acender a luz e eu disse não, mandei que sumisse o mais rápido dali, pois queria dormir. Eu estava muito bravo!!! Apenas tirei minhas botas e deitei na cama de solteiro, ao lado da cama da oriental. Demorei um bom tempo para pegar no sono, pois tinha ficado tão irritado que no dia seguinte a primeira coisa que faria seria sair da porcaria do Hostal Samanapata…
VÍDEOS
23/05/2012
Trilha Salkantay – 4° dia
Acordei às 6h00min e dei uma olhada fora da barraca. O acampamento estava no maior silêncio. Pelo visto o pessoal estava todo de ressaca! Olhei para meu companheiro de barraca que sempre era o primeiro a acordar e ele estava desmaiado dentro do saco de dormir. Não consegui voltar a dormir e fiquei ouvindo música até às 9h00mim, quando o pessoal começou a levantar. O suíço acordou com uma cara de ressaca que dava medo. Fui para o café, pois acordei com fome e finalmente bom do estômago. Para minha sorte naquele dia o café da manhã foi caprichado, com direito a panquecas com doce de leite, iogurte e salada de frutas. Para completar meu café, tomei uma Coca-Cola bem gelada. O pessoal foi aparecendo aos poucos para tomar café e um com cara pior que o outro. Até o guia, Daniel, estava de resseca.
Após o café teve uma rápida reunião com todo o grupo e até surgiu o papo de ninguém caminhar naquele dia e todos seguirem de van até Aguas Calientes, povoado que fica próximo a Machu Picchu. Eu não concordei, pois queria fazer a trilha inteira caminhando e não era culpa minha se todos encheram a cara na noite anterior e não conseguiam caminhar. No final das contas eu e mais quatro caras (os dois israelenses, o inglês e o italiano) seriamos os únicos que faríamos a pé os 24 km que faltavam para terminar a trilha. Fiquei surpreso com meu companheiro de barraca, o suíço triatleta que tinha o melhor condicionamento físico do grupo e que não ia caminhar naquele dia. Quando vi ele cabisbaixo dentro da van, entendi que ele estava mesmo mal, com ressaca de Pisco. Acho que ele até queria caminhar, mas pelo visto não tinha mesmo condições. A única parte chata é que os caminhantes teriam que levar todas as suas coisas, pois a partir dali não teria mais transporte para a segunda mochila de até 5 quilos. Caminhar 24 km com duas mochilas seria desgastante, mas se não existia outra opção, então o jeito era caminhar com todas as minhas coisas.
As 10h30min o pessoal saiu na van, iam até a estação de trem que ficava próximo a uma hidrelétrica, distante 14 km dali. Alguns iam começar a caminhar a partir da estação e outros iam de van até Aguas Calientes. Eu e meus quatro companheiros seriamos guiados pelo Brian, um garoto que estava acompanhando nosso grupo desde o início, pois estava aprendendo a profissão de guia. Antes da partida o guia nos entregou uma sacola com o almoço do dia. Nem olhei o conteúdo da sacola, apenas a guardei na mochila.
Iniciamos a caminhada pela estrada que passava em frente e fomos seguindo rumo a saída da pequena cidade. Eu fui carregando uma mochila nas costas e outra na frente, o que dificultava um pouco caminhar. Um cachorro que estava no local do acampamento passou a nos acompanhar. Tentei faze-lo voltar, mas ele não voltou. O engraçado é que todo carro que passava por nós ele corria atrás latindo ferozmente. Andamos pouco mais de um quilômetro e o italiano retornou ao acampamento, pois tinha esquecido algo. Seguimos pela estrada e após uma longa subida passamos a caminhar ao lado do rio. A estrada era meio movimentada, passavam alguns carros da hidrelétrica que está sendo construída ali perto. E o nosso novo mascote corria atrás de todos os carros que passavam. Algumas vezes eu fechava os olhos, pois o cachorro era meio atrapalhado e vez ou outra entrava quase embaixo dos carros. Ele não sabia que era mais seguro correr atrás dos carros em vez de correr ao lado deles.
A estrada era poeirenta e cada vez que passava um carro o ar ficava irrespirável. As duas mochilas estavam fazendo meus ombros doerem, mas segui em frente, pois desde meus tempos de Exército aprendi que após doer um pouco os ombros ficam amortecidos e você não sente mais a dor. Fizemos algumas breves paradas para descanso e logo o italiano nos alcançou. Caminhei um bom tempo conversando com o Brian, e ele passou a ser de uma vez por todas meu fotógrafo oficial. Ele até sabia que prefiro fotos com a câmera na horizontal e não na vertical.
O tempo estava nublado desde cedo e começou a ficar quente, sinal de que viria chuva. Atravessámos uma grande ponte sobre o rio e logo chegamos num local de onde saía uma cachoeira de dentro da montanha. Eu nunca tinha visto algo igual. Fizemos uma longa parada em frente a essa cachoeira e ficamos admirando a beleza e a força da água caindo da montanha direto no rio. Voltamos a caminhar e passamos a andar entre grandes montanhas muito bonitas. Mais uma hora de caminhada e chegamos à hidrelétrica que estava sendo construída. Ali existia um posto de controle onde tivemos que mostrar nossos passaportes. A partir deste posto de controle passaríamos a caminhar dentro da região que faz parte do Parque Nacional de Machu Picchu. Enquanto estávamos parados no posto de controle saiu uma caminhonete de dentro da hidrelétrica e nosso mascote canino pra variar foi correr atrás dela. E não é que o cachorro foi atropelado bem na nossa frente! Ele calculou mal o espaço lateral e a roda traseira da caminhonete acertou ele de lado. Ele saiu ganindo e mancando e foi se esconder debaixo de um banco. Fomos dar uma olhada nele e aparentemente não tinha sido nada grave. Mas pela cara de dor, devia tê-lo machucado. Tentamos dar água e comida a ele, que acabou recusando. O cachorro era mesmo atrapalhado, pois foi ser atropelado justamente pelo último carro que passou por nós naquele dia.
A partir do posto de controle não caminharíamos mais pela estrada, mas sim por uma trilha no meio do mato. Não demorou muito e chegamos à estação de trem. O guia nos mandou entrar em um dos pequenos e precários restaurantes que existiam no local, pois seria ali o lugar do nosso almoço. Nosso mascote continuou nos seguindo mesmo mancando e ao entrar no restaurante foi devidamente espantado pela dona do local e junto com ele mais dois cachorros que estavam dentro do recinto também foram expulsos. Eu fui entrar justamente no momento em que os cachorros saiam correndo do restaurante e quase fui derrubado por eles. Escolhemos uma mesa e enquanto os dois judeus foram preparar sua comida na pequena e suja cozinha do lugar, eu e os demais tiramos das mochilas nossas sacolinhas com o almoço. O almoço vinha dentro de uma marmita de isopor e junto tinha uma caixa de suco de pêssego. Ao abrir minha marmita, levei um tempo para descobrir o que era o almoço. Estava tudo misturado, por culpa da marmita ter sido chacoalhada durante muitos quilômetros dentro da mochila. Sei que tinha arroz, macarrão, uns pedaços minúsculos de frango, batata frita e salada. Identifiquei algumas fatias de pepino, que foi a única coisa que tirei da marmita, pois pepino cru eu não como. E meio com receio dei a primeira garfada naquele almoço, que para minha surpresa estava bom. Ou seria a fome que fez ele ficar bom? Eu não tinha comido nem metade do meu almoço, quando o guia peruano de um grupo de norte americanos que tinha acampado no mesmo local que o meu grupo na noite anterior, veio até onde eu estava e após olhar o que eu comia perguntou se a “merda” estava saborosa. Respondi que sim e ofereci um pouco a ele. O grupo dele estava almoçando comida feita na hora, por cozinheiros do grupo. E como existe certa concorrência entre as várias empresas e guias que levam grupos pela Trilha Salkantay, entendi que ele queria desfazer da nossa comida e da empresa que nos guiava. Se fosse em outros tempos eu tinha mandado ele para algum lugar nada agradável por tal brincadeira sem graça. Mas como estou numa fase zen, achei melhor não me estressar e muito menos arrumar briga. Mas faltou pouco para eu dizer coisas nada agradáveis a ele. Voltei a comer e deixei um pouco da comida para dar ao nosso mascote canino. Fui até fora do restaurante e encontrei nosso amigo de quatro patas deitado debaixo de um banco na pequena estação de trem em frente. Chamei ele até um canto e coloquei a marmita com o resto da comida no chão. Ele chegou perto, cheirou a comida e deu meia volta sem ao menos tocar na comida. Daí apareceram os outros dois cachorros que a dona do restaurante tinha expulsado quando cheguei. Os dois também cheiraram a comida e deram meia volta sem comer nada. Depois disso comecei a achar que o guia do outro grupo estava certo e que a comida era mesmo uma merda, pois nem cachorros famintos queriam come-la.
Começou a chover e ficamos cerca de meia hora no restaurante descansando. Ouvimos alguns trovões fortes e tudo indicava que o os 14 km de caminhada que faltavam, seriam feitos debaixo de chuva. Colocamos capa de chuva, pegamos nossas mochilas e fomos caminhar. Não encontramos mais nosso mascote canino. Acredito que ele tenha encontrado outra pessoa, ou grupo de pessoas para seguir. Tiramos uma foto na saída e seguimos em frente. O primeiro trecho era por uma trilha estreita, subindo um morro. Essa trilha ligava o final de uma linha férrea até outra linha mais acima. Levamos uns dez minutos para percorrer essa trilha, que foi bastante difícil. Quando chegamos no final dela paramos para tirar capa de chuva e blusas, pois tinha ficado muito quente. A chuva parou e passamos a caminhar ao lado dos trilhos do trem. Em alguns trechos existia uma trilha ao lado, o que facilitava a caminhada. Já em outros trechos tínhamos que caminhar sobre os trilhos e pedras soltas, o que era ruim. Andamos um tempo próximo a um rio e depois em meio à mata. Passámos a encontrar algumas pessoas que vinham caminhando em sentido contrário, sem mochila. Isso era sinal de que perto existiam casas e também que algumas dessas pessoas vinham de Aguas Calientes até ali e voltavam.
Atravessamos uma grande ponte metálica e nessa travessia dei muitas risadas. O italiano atravessou a ponte andando devagar e com todo o cuidado, pois tinha medo de altura. E ele não queria ninguém andando perto dele, pois o medo aumentava com alguém perto. Os quilômetros seguintes de caminhada foram tranquilos, o caminho era uma reta só. O trem que leva turistas até Machu Picchu passou por nós. Fiz algumas paradas para tirar fotos e numa delas esqueci meu bastão de caminhada encostado numa pedra. Pensei em voltar para buscá-lo, mas achei que não valia a pena. Daí lembrei que o italiano estava bem mais atrás caminhando e fiquei esperando, pois talvez ele tivesse encontrado meu bastão. E não demorou muito o italiano apareceu e ao me ver ergueu o bastão, que ele tinha encontrado no caminho e sabia que era meu. Andamos mais alguns minutos e chegamos numa pequena estação desativada, ao lado da entrada secundária de Machu Picchu. Para chegar à Machu Picchu você passa por essa entrada e depois sobe a montanha em caracol até chegar ao portão principal. A partir dessa entrada parámos de caminhar ao lado do trilho do trem e seguimos pela estrada ao lado do rio. Logo começamos a ver as construções de Aguas Calientes. No ano anterior eu cheguei à Aguas Calientes também caminhando ao lado dos trilhos do trem, mas pelo outro lado da cidade. Conforme fomos chegando à cidade senti uma forte emoção, a sensação de mais um desafio cumprido, mais uma meta alcançada. Esse tipo de sensação é inexplicável. Fiquei com os olhos marejados e aproveitei para gravar um vídeo enquanto caminhava, onde falei coisas meio sem nexo, mas sinceras. No vídeo até errei a data, pois falei que era dia 24 quando na verdade era 23. Num momento desses, após percorrer 82 km em quatro dias não tinha como não lembrar de todos os problemas pelos quais passei dois anos antes. E foi planejar e realizar coisas iguais a que eu estava acabando de fazer que me deram forças e coragem para enfrentar o longo e dolorido tratamento que hoje me permite andar normalmente e não sentir dor. E são estes desafios que me motivam a continuar me cuidando, a ir diariamente numa academia fazer exercícios para fortalecimento de minha coluna. Mesmo quando estou cansado no final do dia, ou o dia está frio, eu encontro motivação para ir à academia, pois sei que sem tais exercícios corro o risco de que minhas hérnias de disco voltem a doer e me deixem novamente com as pernas atrofiadas, sem poder caminhar. Então pelo resto de minha vida terei que encontrar motivação para continuar frequentemente me exercitando, cuidando para não ganhar peso, pois somente assim é que poderei levar uma vida normal e sem dores.
Na entrada da cidade o guia Daniel nos esperava e cumprimentou cada um de nós. Ele ainda tinha cara de ressaca e não perdemos a oportunidade de zoar com ele sobre isso. Seguimos até uma praça no centro da cidade e de lá ele levou cada um para o seu hotel. É isso mesmo, naquela noite dormiríamos em hotel! Eu não sabia disso e fiquei muito contente com tal noticia. Após três noites dormindo no chão duro da barraca, dormir numa cama confortável era um bom presente. Fui o último a ser levado até o hotel e tive a falta de sorte de ficar justamente no hotel mais distante, no pé de um morro. O guia me deixou na portaria e enquanto um mal humorado atendente procurava minha reserva vi que três brasileiras conversavam na recepção. Puxei conversa com elas e descobri que eram de Fortaleza e que iriam embora dali a pouco. O recepcionista me chamou e disse que não tinha nenhuma reserva em meu nome. Mostrei o voucher da agencia de turismo e ele ligou em Cusco, na agencia. Levou uns 15 minutos até que ele entrar num acordo com a agencia e me dar à chave de um quarto. O quarto era no terceiro andar, tive que subir escada acima morto de cansado carregando minhas mochilas.
Quando entrei no quarto me joguei numa das camas e vi que a mesma era confortável. Daí gravei um pequeno vídeo mostrando o quarto e em seguida tirei todas minhas coisas das mochilas e espalhei pelo chão. Era um monte de roupas sujas, molhadas, cheias de barro. Em seguida fui tomar banho e fiquei um longo tempo debaixo da água quente do chuveiro. Depois me deitei para descansar e logo bateram na porta. Era o cara da portaria e outro cara que dizia ser o guia do dia seguinte para Machu Picchu. Achei estranho ter outro guia para nos levar até lá, mas mesmo assim deixei os dois entrarem. O tal guia me passou os detalhes sobre a ida à Machu Picchu e depois o cara da portaria pediu minha carteirinha de estudante. Respondi a ele que não tinha carteirinha, pois já era formado, não estudava mais. Então ele disse que eu tinha que pagar uma diferença de valor no ingresso de Machu Picchu, pois tinha declarado ser estudante. Acabei me irritando com o cara, pois ele além de querer me cobrar algo indevido, estava sendo bastante grosso comigo. Mostrei novamente a ele o voucher da agencia e que ali não dizia nada sobre meio ingresso. O cara falou que eu tinha mentido ser estudante, que eu ia ter que pagar a diferença e bla bla bla… Sei que me estressei pra valer e já estava quase pegando o cara pelo pescoço, pois ele estava falando muita bobagem e sendo grosseiro. Nesse meio tempo o tal guia saiu do quarto, enquanto eu fiquei batendo boca com o cara da recepção. Logo o guia voltou e me pediu desculpas, disse que tinha se enganado de quarto, pois tinha outro hospede no hotel com o sobrenome Dissenha, e era esse hospede que ele tinha que guiar no dia seguinte. O cara da recepção saiu rapidinho e nem olhou para trás. O guia pediu mil desculpas e eu de cara amarrada não disse nada, apenas pedi para ele me dar licença, pois eu precisava descansar. Nesse rolo todo perdi quase uma hora de precioso descanso. E nem tive a curiosidade de verificar se tinha mesmo outro Dissenha hospedado no hotel.
Cochilei um pouco e logo que anoiteceu saí. Dei uma rápida volta pelo pequeno centro de Aguas Calientes e fui até a praça central, onde o pessoal tinha marcado de se encontrar. Fui o primeiro a chegar e o restante do pessoal se atrasou. Todos reunidos, seguimos até um restaurante, onde seria servido o jantar de despedida do grupo. Antes do jantar o guia pegou o número de passaporte de alguns membros do grupo e ficou resolvendo questões relativas aos ingressos de Machu Picchu e tíquetes de trem para o retorno à Cusco no dia seguinte. Sei que ocorreram alguns problemas com relação à falta de ingressos para Huayna Picchu, que é a montanha que fica dentro de Machu Picchu. O meu ingresso estava correto e fui informado que meu tíquete de trem seria entregue no dia seguinte. Enquanto esperava o jantar ser servido conversei com a Izabel e seu namorado. Em seguida foi servido o jantar, que estava bom, mas cuja quantidade era pouca e me deixou com fome. Após o jantar tivemos mais uma reunião do lado de fora do restaurante, em frente à linha do trem. Avisos dados e só ficaram lá aqueles que tinham tido problema com relação ao ingresso de Machu Picchu. Como eu não tinha nenhum problema com isso resolvi ir embora, pois teria que acordar às 3h30min, já que pretendia ir a pé até Machu Picchu, para ver o sol nascer.
No caminho até o hotel passei em frente a um restaurante e vi que numa tv enorme estava passando o jogo Corinthians x Vasco, pela Copa Libertadores. Me encostei num poste em frente ao restaurante e fiquei vendo o jogo que estava quase no final. E fui pé quente, pois logo saiu o gol que deu a vitória e a classificação ao Corinthians. Segui para o hotel e na porta vi que o recepcionista estava conversando com um cara. Fiquei 13 minutos esperando a conversa terminar e o recepcionista vir me entregar à chave do quarto. Definitivamente ele não ia com a minha cara! Pedi que ele me acordasse às 3h30min e ele anotou meu nome, o número do quarto e o horário em uma folha. Subi para o quarto e arrumei toda a bagunça que eu tinha deixado. Quando deitei olhei no relógio e era 2h00min. Fiquei desanimado, pois teria que levantar dali uma hora e meia. Logo me dei conta de que meu relógio estava no horário do Brasil, que é duas horas à frente em relação ao Peru. O relógio tem dois horários e sem querer devo ter apertado o botão errado e ele estava mostrando o horário brasileiro em vez do horário local. Fiquei contente, pois teria um pouco mais de tempo para dormir. A cama estava muito confortável e quentinha, pena que ficaria pouco tempo nela. De qualquer forma era bem melhor dormir ali do que na barraca. Nessa noite tive dois sonhos estranhos com o pai já falecido de uma guria que conheço (cujo pai não conheci e nem o nome dele sei). Nunca tive sonhos desse tipo e achei tais sonhos muito estranhos, principalmente por que o pai dessa guria, no sonho falava o nome dele e meio que dava um recado para a mãe dela. Foi muito estranho, acordei e demorei um pouco para conseguir dormir novamente. Naquela região coisas estranhas acontecem, então não sei se tais sonhos tem fundamento ou não. Sei lá, entende!
VÍDEOS
E chega ao fim às postagens sobre minha viagem ao Peru, que foi bastante detalhada. Em próximas viagens não devo detalhar tanto, pois não terei tempo disponível igual tive agora. Agradeço a todos que acompanharam essa narrativa e viajaram comigo pelas terras incas. Também agradeço pelos elogios e comentários que recebi via blog, email, MSN, Skype, Facebook, celular e pessoalmente. Recebi somente uma crítica, de uma amiga de Campinas que achou as postagens muito detalhadas e ficou com preguiça de ler tudo.
A narrativa sobre a Trilha Inca também foi publicada num site especializado em viagens e está tendo muitos acessos, dezenas de vezes acima do que eu esperava. E nesse site também recebi elogios e perguntas, além de pedidos de dicas da parte de pessoas que vão fazer a Trilha Inca em breve.
E para finalizar essa série sobre o Peru, deixo para vocês duas visões sobre Machu Picchu, pela ótica de duas pessoas que lá estiveram muito antes que eu. Um deles é bem conhecido, trata-se do famoso guerrilheiro Che Guevara. O outro é um viajante e escritor, com alguns livros publicados, sendo um sobre Machu Picchu.
“Não importa muito, de todo modo, qual tenha sido a origem da fortaleza (Machu Picchu), ou melhor, é mais fácil deixar o debate para os arqueólogos. O que é inegável, entretanto, o mais importante, é que temos à nossa frente uma expressão pura da mais poderosa raça indígena das Américas, intocada pelo contato com a civilização invasora e cheia de tesouros imensamente evocativos em suas paredes, paredes que morreram em decorrência do tédio de não mais existir…” Ernesto CHE Guevara (médico e guerrilheiro)
“Dois tipos de pessoa vão a Machu Picchu. O primeiro não se interessa exatamente pela filosofia e cultura dos incas; quer apenas a atração turística. Esse não costuma seguir o caminho inca, preferindo o conforto da subida de ônibus. O outro vai até lá atendendo a um chamado interior, em busca da energia divina que impregna o Vale Sagrado. Esse geralmente opta por seguir a Trilha Inca e tentar aprender um pouco da sua espiritualidade evoluída. Segue o caminho sem pressa, detendo-se nas ruínas e observando a beleza da paisagem, preparando-se, aos poucos, para o ritual que envolve o encontro com a cidade perdida”. Sérgio Motta (escritor)
Em seu livro “Machu Picchu”, o escritor Sérgio Motta conta que durante sua viagem ao Peru, ele encontrou o mesmo índio três vezes. Primeiro no trem da morte, depois em uma cidade no interior do Peru e por último em Machu Picchu. Foi uma coincidência interessante.
Eu não encontrei nenhum índio, mas sim um cachorro em vários lugares. Dei a ele o nome de “cão inca”. O vi pela primeira vez no anoitecer do terceiro dia de trilha. Eu estava sentando tirando fotos quando o cachorro apareceu do nada e lambeu minha câmera. Na madrugada seguinte, quando descíamos a montanha em direção a Aguas Calientes, o cachorro passou por nós e pouco depois ele estava deitado na trilha, bem a minha frente. Horas depois ele apareceu novamente, dessa vez quando eu caminhava ao lado dos trilhos do trem, o cão passou correndo ao lado do trem. E a última e mais surpreendente aparição foi em Machu Picchu. Quando eu e meu irmão estávamos indo embora, pouco antes da saída pedi para ele entrar em uma construção, uma das poucas que possui cobertura de palha, pois queria tirar as últimas fotos. E ao entrar na construção encontramos o “cão inca” deitado, dormindo. Fui perto dele para ver se era o mesmo cachorro, e para minha surpresa era ele mesmo. Peguei um biscoito e ofereci a ele. Ele pegou o biscoito, virou-se e saiu da construção. Fui atrás para tirar mais fotos, mas o cachorro desapareceu, não consegui ver para onde ele foi. Fiquei me perguntando como ele tinha ido parar em Machu Picchu? Se tinha subido a montanha caminhando? E por que ele tinha ido até lá? Do acampamento onde o vi pela primeira vez, até Machu Picchu, é uma distância considerável.
Quando voltamos para Aguas Calientes, contei sobre o cachorro para algumas pessoas do grupo. Alguns o viram nos trilhos do trem e até tiraram fotos com ele. Os colombianos foram os únicos além de mim e de meu irmão que viram o cachorro em Machu Picchu. O assunto acabou virando um debate sobre se era ou não o mesmo cachorro em todos os lugares. A maioria disse que sim, dois disseram que não. Um analisou as manchas pelas fotos e disse que eram diferentes. Eu analisei as manchas e para mim eram iguais e principalmente reconheci ser o mesmo cachorro em todos os lugares. Meu irmão comentou que o cachorro foi muito “educado” quando pegou o biscoito que ofereci a ele em Machu Picchu, sinal de que ele me conhecia. O casal Juan e Cecília ficou dividido, ela disse que era o mesmo cachorro e o Juan disse que não. No dia seguinte os encontrei em Cuzco e na despedida o Juan me disse que era sim o mesmo cachorro. Não sei se encontrar o cachorro em tantos lugares foi apenas coincidência ou se tem algum significado que ainda não descobri. Mas que achei tais acontecimentos estranhos, isso achei…
Fiquei um bom tempo pensando no “cão inca” e a razão dele ter cruzado (sem trocadilhos, por favor!) meu caminho tantas vezes. Então fui pesquisar se o cachorro tinha algum significado especial na cultura incaica e descobri que existia um tipo de cão, pequeno e sem pelo que era cultuado pelos antigos incas. Os estudiosos afirmam que o “cachorro sem pêlo” chegou ao Peru há mais de dois mil anos e foi o fiel companheiro dos nobres incas e amigo dos famosos guerreiros (pré-incas) do Sipão (norte). Este cachorro singular foi idolatrado pelos antigos peruanos, que o imortalizaram em diferentes cerâmicas e jóias encontradas nas tumbas e templos.
Sair de Machu Picchu e voltar a Águas Calientes, me deixou com uma sensação de quero mais. Não ter entrado em Machu Picchu caminhando pela Trilha Inca, e não ter subido até Wuayna Picchu, me deixou meio frustrado e com vontade de voltar ao Peru o mais breve possível para fazer o que ficou faltando.
Descer a montanha de ônibus foi mais rápido do que subir. Descemos na rua, na esquina do restaurante onde deixei a mochila. Eram 15h00min e mal entramos no restaurante começou a chover forte. Os guias peruanos estavam todos ali, tomando cerveja. Fui cumprimentá-los e acabei sofrendo o maior acidente de toda a viagem. Escorreguei no piso molhado e bati a mão em uma coluna. Senti uma dor terrível e o local logo ficou inchado. Coloquei gelo, mas não aliviou muito. No final do dia toda a região em volta do lugar da batida estava roxa e muito dolorida. Fiquei com receio de que fosse algo grave, tamanha era a dor e a aparência ruim com que o ferimento ficou. Achei isso irônico, pois tinha passado dias no meio do mato, correndo enormes riscos de me machucar, talvez até morrer (muitos já morreram na Trilha Inca) e fui me machucar justamente ao entrar num restaurante, o que parecia ser um lugar seguro. Meu escorregão acabou chamando a atenção de todos que estavam no restaurante naquela hora, muitos turistas, até um casal de brasileiros. Em seguida chamamos atenção novamente, pois meu irmão e a garçonete meio que se atrapalharam ao arrumar a mesa e ela derrubou um copo no chão. Mais uma vez todos olharam em nossa direção e para piorar os peruanos gritaram em coro: Brasil, Brasil, Brasil, Brasiiiiiillll !!!! Foi um grande mico e tive vontade de me esconder debaixo da mesa.
Eu meu irmão almoçamos uma pizza e tomamos um litro de Coca-Cola gelada. Após alguns dias comendo a horrível comida servida na trilha, foi muito bom comer algo descente. Os peruanos logo foram embora, deram tchau e dificilmente voltarei a ver algum deles novamente em minha vida. Ainda estávamos comendo quando algumas pessoas do meu grupo chegaram para pegar suas mochilas. E aos poucos foi chegando o restante do pessoal. A chuva tinha aumentado muito e ninguém mais quis ficar passeando por Machu Picchu debaixo de tanta água. Logo meu irmão foi para a estação de trem e fui com ele. Despedimos-nos e dei uma volta por uma enorme feira de artesanato que existe ao lado da estação. Tem muita coisa bonita, mas os preços são para turistas endinheirados, o que não é meu caso. Vi muita coisa feita de prata, algo que achei que seria barato ali. Mas não, é tudo mais caro que no Brasil. Acho que os espanhóis roubaram todo o ouro e prata do Peru, que agora qualquer objeto feito com esses metais é muito caro. A cidade é pequena e como chovia muito resolvi voltar logo para o restaurante.
Até o horário de ir pegar o trem, fiquei no restaurante conversando com o pessoal. Acabei ficando numa mesa muito animada, junto com os dois colombianos do grupo, o Juan e sua esposa Cecília, a Carolina, a Roxana e por último chegou o Che. Fizeram alguns brindes com um tipo de caipirinha feita com pisco, uma bebida local. Acabei tendo que participar dos brindes e tive que tomar um pouco de pisco. O chato nesse tipo de viagem onde você acaba fazendo parte de um grupo de desconhecidos, é que a viagem termina justamente quando você finalmente ficou enturmado e fez muitas amizades. Daí todos se separam e nunca mais se encontram novamente.
Já estava escuro quando fomos para a estação e a chuva continuava firme. Fui um dos últimos a embarcar e logo o trem partiu. Gosto de viajar de trem, mas a noite não da para ver nada, ainda mais com chuva. Os locais por onde íamos passar são interessantes, com paisagens bonitas, mas não dava para ver nada. O jeito foi ficar olhando para dentro do trem. O pessoal ficou jogando baralho do meu lado. Conversei um pouco e depois fiquei quieto pensando na vida. Estava cansado e as duas horas de viagem não foram das melhores. Descemos na estação de Ollantaytambo, pois o trecho até Cuzco está interrompido desde ás fortes chuvas de março do ano passado. Fomos caminhando até um enorme estacionamento onde estavam muitas vans e ônibus esperando o pessoal que desembarcava do trem. Logo encontramos nosso ônibus e tivemos que esperar que fizessem uma chamada demorada e confusa, até que pudéssemos embarcar. Acabei indo parar no ônibus onde estava quase todos do outro grupo que sempre andou próximo a nós. Sentei-me na segunda poltrona atrás do motorista e ao meu lado estava o inglês com quem caminhei junto no final do terceiro dia de trilha. Na poltrona a minha direita duas australianas, a Kylah e sua amiga cujo nome não lembro. O ônibus era desconfortável, e teríamos mais duas horas de viagem pela frente, até Cuzco. Tentei dormir mas foi impossível quando vi as manobras imprudentes que o motorista fazia. Ele corria feito louco e fazia somente ultrapassagens perigosas. Era de dar medo e o sono logo foi embora. O radio do ônibus estava ligado, tocando umas músicas peruanas. Teve uma hora que começou a tocar Leonardo, cantando em espanhol. Comecei a rir…
Chegamos a Cuzco com chuva e muito frio. O ônibus parou numa praça perto da Plaza de Armas e ali desembarquei junto com mais cinco conhecidos. Despedi-me do pessoal e fui para o hotel, distante 200 metros. Cheguei à portaria do hotel e logo encontraram a reserva que eu tinha deixado feita antes de partir para a Trilha Inca. Aproveitei para pegar a mochila que tinha deixado guardada no depósito do hotel. Estava tudo em ordem, nada faltando ou sobrando. Era quase meia noite quando entrei no quarto. Tomei um banho não muito quente, pois a água não esquentava direito e caí na cama. Após seis noites mal dormidas, ou dormidas com pouco conforto, finalmente eu poderia dormir muitas horas numa cama confortável e quentinha. Para garantir dormi com o aquecedor do quarto ligado. A sensação era boa, de missão cumprida. Eu vivi quatro dias intensos e inesquecíveis percorrendo a Trilha Inca e conhecendo Machu Picchu. Agora era descansar, pensar na volta ao Brasil e depois na próxima viagem, na próxima aventura…
Em Aguas Calientes, por ordem dos guias peruanos todos do grupo deixaram suas mochilas no restaurante de um argentino. O dono do restaurante cuidava das mochilas, pois sabia que no retorno de Machu Picchu o pessoal ficava no restaurante consumindo até a hora da partida do trem para Cuzco, o que era um bom negócio para ambas as partes. Fomos para o ponto de ônibus, que era bem próximo ao restaurante. Tinha um ônibus estacionado e muita gente embarcando. Nosso guia achou melhor esperar o próximo ônibus e embarcar todo o grupo junto. Não demorou muito e estávamos todos acomodados dentro do ônibus, seguindo para Machu Picchu. Essa não era a forma que todos nós do grupo gostaríamos de chegar a Machu Picchu. Desde o início o plano era chegar caminhando, mas em razão dos problemas que ocorreram na trilha, o importante agora era chegar. O ônibus leva cerca de meia hora para chegar até a entrada de turistas em Machu Picchu. Ele segue um pouco por uma estrada ao lado do rio Urubamba e depois começa a subir a montanha, fazendo muitas curvas por uma estrada relativamente perigosa.
Ao desembarcar em frente ao portão de entrada de Machu Picchu e passar pela catraca após entregar meu ingresso, eu estava realizando um sonho de quase trinta anos. Foi em 1982 nas aulas do Professor Jader, no Colégio Estadual de Campo Mourão que vi pela primeira vez no livro de Estudos Sociais da 5ª série, uma foto de Machu Picchu coberta por nuvens. Depois o Professor Jader contou que conhecia tal lugar e fez um breve relato. Eu, então com 11 anos senti uma vontade enorme de um dia conhecer tal lugar. Os anos foram passando, cheguei a planejar tal viagem algumas vezes, e nunca dava certo. E eis que quase trinta anos depois eu estava realizando o antigo sonho. Ainda na entrada fui até uma sala onde peguei um mapa e ganhei um carimbo no passaporte. O carimbo é mais para enfeitar o passaporte, pois não é obrigatório. A chuva tinha parado fazia mais de uma hora e o sol surgiu quente. A primeira visão que tive das ruínas logo após subir algumas escadas que ficam após o portão de entrada, foram de tirar o fôlego. A sensação foi estranha. Realizar sonhos antigos pôde ser estranho. Ao mesmo tento que vem aquela sensação de missão cumprida, de sonho realizado, também surge uma sensação de vazio. De qualquer forma eu estava feliz. Eram 10h30min quando nossos guias separaram nosso grupo, para que ficasse mais fácil de caminharmos pelo lugar. Meu irmão logicamente ficou no meu grupo e já começamos a bater muitas fotos.
Uma outra decepção foi não poder subir até Huayna Picchu, que é aquela montanha que aparece atrás das ruínas nas fotos clássicas de Macchu Picchu. A subida até Huayna Picchu é limitada a 200 pessoas por dia. São distribuídas senhas; 100 para ás 07h00min e mais 100 para ás 10h00min. Se tivéssemos chegado a Machu Picchu pela Trilha Inca, teríamos conseguido as senhas para subir a Huayna Pichu. Infelizmente termos tido que descer a montanha e seguir até Aguas Calientes para pegar o ônibus, acabou nos atrasando e perdemos a chance de conseguir as concorridas senhas. Isso mostrou que realmente devo retornar a Machu Picchu mais uma vez, pois subir até Huayna Picchu era uma de minhas metas iniciais.
Não vou contar detalhes sobre Machu Picchu e sua história, pois já fiz isso em outras postagens. Também não vou me demorar detalhando as várias partes do local que visitamos, pois muitos nomes não recordo direito. Resumindo, visitamos as construções mais importantes, onde os guias paravam e contavam detalhes sobre a funcionalidade e história das construções ou outros locais. Segui sempre caminhando junto com meu. Por ser domingo o lugar estava cheio de turistas vindos de todas as partes do mundo. Em muitos lugares era preciso fazer fila para entrar. Lá do alto a vista é muito bonita, existem muitas montanhas em volta e abaixo o rio Urubamba percorre o pé de outras montanhas. Uma vista inesquecível sem dúvida!
O sol não ficou muito tempo nos fazendo companhia e logo a chuva voltou forte. Isso fez com que os guias antecipassem o fim da excurção guiada. Fizeram a última reunião, entregaram as passagens do trem e se despediram de todos. Para finalizar o grupo foi reunido para tirar uma foto. Meu irmão foi escolhido como fotográfo oficial e ficou com as mãos cheias de câmeras fotográficas. Depois da foto eu e meu irmão ficamos caminhando sozinhos por Machu Picchu, entrando em várias construções. Fomos até um local que parece um pasto, para tirar fotos com as Lhamas. Evitamos uma grande aproximação, para evitar levar uma cuspida. A chuva aumentou e muitos turistas foram embora. Minha câmera molhou e parou de funcionar, fato que não me agradou. Ainda bem que isso aconteceu praticamente no final da viagem e após ter terminado de percorrer a Trilha Inca.
Olhei para a montanha de Huayna Picchu e vi que ela estava coberta pela neblina. Quem subiu até ela no horário das 10hmin00 acabou se dando mal. Além de não verem muita coisa lá de cima por culpa da chuva e da neblina, devem ter tido sérias dificuldades para subir e depois descer pelas escadas molhadas. Normalmente se leva em média duas horas para subir e uma hora e meia para descer de Huayna Picchu. A chuva só aumentava e caminhar por Machu Picchu acabou ficando ruim. Ás vezes encontravámos alguém do nosso grupo e trocavámos algumas palavras. Chegou um momento em que a chuva aumentou tanto que resolvemos parar ao lado de uma construção que fica na parte mais alta e dali ficams observando Machu Picchu. Vez ou outra as nuvens se dicipavam e tentavámos tirar alguma foto. Mas chegou um ponto em que não deu mais, pois além da chuva o frio começou a incomodar. Então resolvemos ir embora. Meu irmão tinha passagem marcada no trem das 17h00min e eu no trem das 19h00min, junto com a maior parte do pessoal do meu grupo. A chuva diminuiu um pouco quando pegamos o ônibus e descemos a montanha rumo Aguas Calientes. Tinhamos acabado de visitar uma das atrações turisticas mais visitadas do mundo. Eu tinha acabado de realizar um antigo sonho…
Na verdade o mundo exterior simplesmente topou de repente com Machu Picchu, pois ela nunca havia sido perdida para aqueles que viviam próximos a ela. E essas mesmas pessoas que viviam nas proximidades da cidade “perdida”, foi que levaram o explorador e professor americano Hiram Bingham e sua equipe para o local em 1911. Inicialmente Bingham não viajou para a América do Sul para explorar a terra dos Incas. Na verdade, ele viajou para a América do Sul para concluir seu estudo sobre Simón Bolívar. Em dezembro de 1908, Bingham participou do Primeiro Congresso Científico Panamericano, em Santiago, Chile. Foi aí que ele decidiu seguir a antiga rota de comércio espanhola que ia de Buenos Aires até Lima. E foi assim que ele acabou passando por Cuzco, onde conheceu J. J. Nunes, então prefeito da região de Apurimac, que o convidou para uma árdua viagem até as ruínas de Choquekirau. Bingham, pensou na época que esse poderia vir a ser o local de Vilcabamba, o há muito procurado “último lugar de descanso dos Incas“.
Em seu retorno aos Estados Unidos, Bingham decidiu organizar uma expedição ao Peru. Ele chegou a Lima em junho de 1911, onde começou a estudar as crônicas de Antonio de la Calancha e Fernando de Montesinos, escritas no século XVII. Estas crônicas inspiraram Bingham a buscar as duas últimas capitais dos Incas: Vilcabamba e Vitcos. Saindo de Lima em julho, Bingham voltou a Cuzco, de onde viajou a pé e de mula pelo Vale do Urubamba, Ollantaytambo e garganta do Urubamba. Em 23 de julho, Bingham e sua comitiva acamparam junto ao rio, em um lugar chamado Mandor Pampa. Isso despertou a curiosidade de Melchor Arteaga, um agricultor local. Através do Sargento Carrasco, o policial que foi seu guia e intérprete, Bingham ouviu de Arteaga que havia extensas ruínas no alto da serra em frente ao acampamento de Arteaga. O local era chamado de Machu Picchu, ou “velha montanha”.
Segundo Bingham, “A manhã de 24 de julho amanheceu com uma garoa gelada. Arteaga tremia e parecia inclinado a ficar em sua cabana. Ofereci-me para pagar-lhe bem, se ele me mostrasse as ruínas. Ele recusou e disse que era muito difícil uma subida em um dia tão molhado. Mas quando ele descobriu que eu estava disposto a pagar-lhe três ou quatro vezes seu salário normal, ele finalmente concordou em ir. Quando perguntado onde ficavam as ruínas, ele apontou para cima, para o topo da montanha. Ninguém supôs que elas seriam particularmente interessantes, e ninguém se interessou em ir comigo”. Acompanhado apenas pelo Sargento Carrasco e Arteaga, Bingham deixou o acampamento por volta das 10h00min. Depois de algum tempo de caminhada atravessou uma ponte tão provisória, que o intrépido explorador precisou rastejar de joelhos sobre ela. Depois de atravessar o rio, subiram uma ladeira íngreme até que chegaram ao cume da montanha por volta do meio-dia. Ali Bingham descansou em uma pequena cabana onde apreciou a hospitalidade de um grupo de camponeses. Eles lhe disseram que viviam ali há cerca de quatro anos e que haviam encontrado um extenso sistema de terraços em cujo solo fértil tinham decidido aumentar as suas colheitas. Disseram a Bingham que as ruínas que ele buscava estavam perto. Então lhe cederam como guia um garoto de 11 anos de idade, Pablito Alvarez. Após caminhar um pouco, Bingham visualizou uma grande quantidade de terraços antigos. Eles somavam mais de uma centena e tinham sido recentemente retirados da floresta e reativados. Liderado pelo menino, ele entrou na floresta que seguia além dos terraços e começou a avistar uma série de paredes de granito branco, que o historiador imediatamente considerou os melhores exemplos de alvenaria, que ele jamais tinha visto. Eles eram os restos do que hoje se chama túmulo real, o templo principal, e o Templo das Três Janelas. Hiram Bingham ficou extremamente inspirado pela beleza da região que ele estava explorando.
Outras pessoas viram e viveram em Machu Picchu antes de Hiram Bingham sequer botar os pés no Peru, mas não tinha nem meios e nem a oportunidade de trazer a “cidade perdida” para a atenção do mundo exterior. Já em 1894, um fazendeiro local chamado Agustín Lizárraga levou um senhor de nome Luis Ugarte até a cidade antiga. Então Luis Ugarte convidou dois amigos para uma viagem até as ruínas em busca de tesouros. Em 14 de julho de 1901, os três amigos visitaram todas as partes acessíveis de Machu Picchu. Quando Bingham chegou às ruínas, encontrou a rocha que os três amigos tinham assinado com os seus nomes e a data de sua visita. Em seus escritos, porém, Bingham minimizou essa descoberta.
Bingham chamou Machu Picchu de ”A Cidade Perdida dos Incas”. Em 1912 Bingham voltou ao local à frente de uma expedição e acompanhado de especialistas, escavadores, topógrafos e assistentes para explorar, desflorestar e realizar pesquisas arqueológicas. Os trabalhos foram patrocinados pela Universidade de Yale e pela National Geographic Society. Em 1914 e 1915, Bingham com ajuda de outros exploradores, fez mapas e explorou detalhadamente o local e seus arredores. Fez escavações consideradas pouco ortodoxas em diversos lugares de Machu Picchu. Reuniu dezenas de objetos, entre vasos, peças de bronze, cobre, prata e de pedra, entre outros materiais. Bingham reconheceu também outros importantes grupos arqueológicos nas imediações: Sayacmarca, Phuyupatamarca, a fortaleza de Vitcos e importantes trechos de caminhos (Trilha Inca), todos eles interessantes exemplos da arquitetura desse império. A expedição de Bingham, patrocinada não somente pela Universidade de Yale como também pela National Geographic Society, foi registrada em uma edição especial da revista, publicada em 1913, contendo um total de 186 páginas, que incluía centenas de fotografias.
Hiram Bingham declarou não ter encontrado objetos de ouro em Machu Picchu, mas até hoje essa informação é questionada. Muitos acreditam que ele possivelmente retirou peças de ouro do local e levou para os Estados Unidos de forma clandestina. De acordo com especialistas do Peru, vários lotes importantes de objetos saíram do território peruano de forma irregular, através da Bolívia. Já o material retirado legalmente por ele, cerca de 5.000 mil objetos declarados, foi enviado para a Universidade de Yale, com autorização do governo peruano. O presidente peruano da época, Augusto B. Leguía, havia concedido temporariamente a saída desses objetos do Peru. As peças saíram do país emprestadas em 1912, como recompensa pelo trabalho dos exploradores e estudiosos, mas com a condição de serem devolvidas posteriormente, o que nunca aconteceu. A National Geographic, confirmou esta interpretação dos documentos assinados na altura da saída das peças. Yale, pelo contrário, defende que o código civil peruano de 1852, vigente na altura em que os objetos saíram do Peru, permitia que quem encontrasse vestígios arqueológicos podia mantê-los de forma permanente.
No que diz respeito a repatriar esses objetos, nos últimos anos o governo peruano tem insistido na devolução dos mesmos, mas até o momento não obteve êxito. Um inventário minucioso dos tesouros de Machu Picchu, realizado recentemente na Universidade de Yale mostrou que não foram somente cerca de 5.000 objetos que Bingham teria retirado de Machu Picchu e região e levado para os Estados Unidos, mas sim que a quantidade de objetos é 10 vezes maior. Segundo o inventário, são 46.332 objetos, distribuídos em 5.728 lotes: 3.497 lotes de cerâmica, 126 lotes de restos humanos, 11 lotes de metais, e 1.038 lotes relacionados à fauna. O inventário foi feito nas instalações do Museu Peabody, na Universidade de Yale. As negociações entre o governo peruano e a Universidade de Yale, que detém os objetos na sua coleção permanente, arrastavam-se há anos. As duas partes não chegaram a um acordo sobre o número de peças que Yale tem a devolver. O governo peruano contratou advogados nos Estados Unidos, e tenta a devolução dos objetos.
Hiram Bingham tornou-se rico e famoso, publicou vários trabalhos relacionados as suas aventuras no Peru e depois foi eleito governador do Estado de Connecticut e senador em Washington. O personagem de cinema Indiana Jones, foi inspirado nele. E a pergunta que muitos fazem hoje em dia é se Bingham é mocinho ou vilão? Eu particularmente acho que o cara foi um safado que se aproveitou de seu papel de professor e explorador, para roubar tesouros e enriquecer.
Machu Picchu, em quíchua Machu Pikchu (Velha Montanha) é também chamada de “Cidade Perdida dos Incas”. A 2.400 metros de altitude, Machu Picchu está situada no alto de uma montanha, cercada por outras montanhas e circundada pelo rio Urubamba, o que lhe proporciona uma atmosfera única de segurança e beleza. Encontram-se na margem esquerda do chamado Canyon do Urubamba. Ao pé dos montes e praticamente rodeando-os, corre o rio Urubamba (Vilcanota). As ruínas incas encontram-se a meio caminho entre os picos de duas montanhas. A superfície edificada tem aproximadamente 530 metros de comprimento por 200 de largura e contém 172 edifícios em sua área urbana. Foi construída no século XV, sob as ordens de Pachacuti. O local é provavelmente, o símbolo mais típico do Império Inca, quer devido à sua original localização e características geológicas, quer devido à sua descoberta tardia em 1911. Apenas cerca de 30% da cidade é de construção original, o restante foi reconstruído. As áreas reconstruídas são facilmente reconhecidas, pelo encaixe entre as pedras. A construção original é formada por pedras maiores, e com encaixes com pouco espaço entre as rochas.
Consta de duas grandes áreas: a agrícola formada principalmente por terraços e recintos de armazenagem de alimentos; e a outra urbana, na qual se destaca a zona sagrada com templos, praças e mausoléus reais. A disposição dos prédios, a excelência do trabalho e o grande número de terraços para agricultura são impressionantes, destacando a grande capacidade dos Incas. No meio das montanhas, os templos, casas e cemitérios estão distribuídos de maneira organizada, abrindo ruas e aproveitando o espaço com escadarias. Segundo a história inca, tudo planejado para a passagem do deus sol.
Há diversas teorias sobre a função de Machu Picchu, e a mais aceita afirma que foi um assentamento construído com o objetivo de supervisionar a economia das regiões conquistadas e com o propósito secreto de refugiar o soberano Inca e seu séquito mais próximo, no caso de ataque. Pela obra humana e pela localização geográfica, Machu Picchu é considerada pela UNESCO como Patrimônio Mundial da Humanidade.
Em 1885, no curso de suas viagens de exploração pelo Peru, o naturalista italiano Antonio Raimondi passou ao pé das ruínas sem sabê-lo e menciona o quão escassamente povoada era a região na época. Porém, tudo indica que foi por esses anos que a região começou a receber visitas por interesses distintos dos meramente científicos. Foi nesta época que os mapas de prospecções mineiras começam a mencionar Machu Picchu. Em 1870, o norte-americano Harry Singer coloca pela primeira vez em um mapa a localização do Cerro Machu Picchu . Um segundo mapa de 1874, elaborado pelo alemão Herman Gohring, menciona e localiza em seu local exato a montanha. Por fim, em 1880 o explorador francês Charles Wiener confirma a existência de restos arqueológicos no lugar (afirma “há ruínas na Machu Picchu”), embora não se possa chegar ao local. Em qualquer caso está claro que a existência da suposta “cidade perdida” não se havia esquecido, como se acreditava até há alguns anos.
Foi o professor norte-americano Hiram Bingham que à frente de uma expedição da Universidade de Yale, redescobriu e apresentou ao mundo Machu Picchu em 24 de julho de 1911. Hiram Bingham realizou uma investigação da zona próxima a Machu Picchu. Naquela época, a meta de Bingham era outra: encontrar a legendária capital dos descendentes dos Incas, Vilcabamba, tida como baluarte da resistência contra os invasores espanhóis, entre 1536 e 1572. Ao penetrar pelo cânion do Urubamba, Bingham ouviu do camponês Melchor Arteaga o relato de que no alto de cerro Machu Picchu existiam abundantes ruínas. Alcançá-las significava subir por uma empinada ladeira coberta de vegetação. Embora cético, Bingham insistiu em ser guiado ao lugar. Chegando ao cume, um dos meninos das duas famílias de pastores que residiam no local o conduziu aonde efetivamente apareciam imponentes construções arqueológicas cobertas pelo manto verde da vegetação tropical e em evidente estado de abandono há muitos séculos. A cidade estava tomada por vegetação nativa e árvores. Depois desta expedição, Bingham voltou ao lugar em 1912 e nos anos de 1914 e 1915. Com ajuda de outros exploradores, foram feitos mapas e uma exploração detalhada do local e dos arredores. Suas escavações, não muito ortodoxas, em diversos lugares de Machu Picchu, permitiram-lhe reunir 555 vasos, aproximadamente 220 objetos de bronze, cobre, prata e de pedra, entre outros materiais. A cerâmica mostra expressões da arte inca e o mesmo deve dizer-se das peças de metal: braceletes, brincos e prendedores decorados, além de facas e machados. Ainda que não tenham sido encontrados objetos de ouro, o material identificado por Bingham era suficiente para inferir que Machu Picchu remonta aos tempos de esplendor inca, algo que já evidenciava seu estilo arquitetônico.
Aguas Calientes é o nome coloquial para Machu Picchu Pueblo. Pequena cidade, pacata e charmosa é mais conhecida como o ponto de acesso mais próximo à cidade sagrada inca de Machu Picchu, que fica a 6 km de distância. É de Aguas Calientes que parte todos os dias, a partir da 5h30min da manhã e a cada 15 minutos, os ônibus que sobem 700 metros de altitude para levar os visitantes ao Santuário Histórico de Machu Picchu. Como o próprio nome sugere, Aguas Calientes possui agradáveis piscinas naturais de água quente a apenas 15 minutos de caminhada da sua praça principal. Conhecidas por suas propriedades medicinais, são chamadas de Baños Termales, em castelhano, e são utilizados especialmente para o uso recreativo da população e dos turistas.
Originalmente ocupada por poucas famílias de fazendeiros em 1901, o pequeno povoado foi transformado em moradia para os trabalhadores da ferrovia que foi construída por lá a partir de 1920. A cidade foi o ponto central para acomodação dos trabalhadores e os seus equipamentos até que a ferrovia fosse concluída em 1931.
Aguas Calientes serve como um terminal para a Perurail. Os trens servem os habitantes locais e turistas que chegam a partir de Cuzco e Ollantaytambo para visitar Machu Picchu. Um grande mercado de souvenirs funciona ao lado da estação ferroviária. O mercado de artesanato da pequena cidade é um dos mais importantes centros de exposição e comercialização de produtos artesanais da região de Cuzco. Artesãos de diferentes comunidades campesinas e, inclusive, de outras zonas andinas do Peru, trazem seus produtos aos turistas de Machu Picchu.