Reflexão de um montanhista

“Para mim chegar ao cume de uma montanha significa a coroação de um longo processo que um dia começou como um sonho, que logo se transformou em um objetivo concreto, o qual passou por uma fase importante de planejamento (de tempo, de dinheiro, etc.), seguida por um período de preparação e treinamentos, até culminar com a escalada e com a conquista propriamente dita. O cume “é a cereja do bolo”, como muitos montanhistas costumam dizer. Aliás, curiosamente essa expressão também é comumente utilizada para consolar montanhistas quando a conquista de um cume não é possível de ser atingida, como se “a cereja fosse somente um detalhe em relação ao resto do bolo”. Particularmente, apesar de respeitar todas as opiniões a respeito, penso que o bolo não está completo se não se pode comer a cereja também. Tenho a mais plena consciência de que muitas vezes não é possível continuar com uma ascensão, simplesmente porque a montanha não permite, independentemente se você é um montanhista principiante ou o Reinhold Messner. O montanhismo já cobrou muitas vidas de quem ousou pensar o contrário e é por isso que sempre peço a Deus que me ilumine e que me dê serenidade para que eu sempre possa tomar as decisões mais acertadas na montanha. Entretanto, pelo que me conheço, no dia em que isso acontecer comigo, certamente eu vou querer voltar para tentar de novo, ainda que seja na temporada seguinte. Faz parte da minha natureza não desistir tão fácil dos meus objetivos, apesar de saber que às vezes é necessário recuar um pouco para depois voltar a avançar”.

Cristiano Müller (montanhista)

Cristiano Müller.
Cristiano Müller.
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Cristiano Müller em ação no McKinley.