Hoje começam os Jogos Olímpicos de Paris. E me lembrei que no dia que Paris foi anunciada como cidade sede dos Jogos Olímpicos de 2024, eu estava em Paris. Isso mesmo! Foi em setembro de 2017 e eu estava em Paris para uma rápida visita, antes de seguir para percorrer o Caminho de Santiago de Compostela, que tem início no sul da França e depois segue pela Espanha. Por acaso fui visitar o local onde seria feito o anúncio de Paris como cidade sede dos Jogos Olímpicos e acabei meio sem querer assistindo ao evento. Abaixo segue a narrativa desse momento, que consta em meu diário de viagens.
PARIS, 13/09/2017 (Quarta-feira)
Voltei a caminhar e fui até o final da avenida onde estava. A chuva voltou e fiquei na dúvida sobre o que fazer. Peguei o mapa e vi que a Torre Eiffel não estava muito distante. E no mapa vi menção à estação Trocadéro. Lembrei de já ter lido que a praça do Trocadéro é de onde se tem a vista mais bonita da Torre Eiffel. Não pensei duas vezes, e como estava perto de uma estação do metrô, fui até lá, comprei o bilhete e logo estava dentro de um vagão rumo ao meu último passeio por Paris. Poucas estações depois, desci na estação Trocadéro.
A praça do Trocadéro (Jardins du Trocadéro), é uma grande explanada não muito distante, e em frente à Torre Eiffel. O Trocadéro é o lugar ideal para tirar fotos frontais da Torre Eiffel. Por estar em um promontório, tem uma vista semi-panorâmica da cidade. Durante o inverno, as fontes de água ali existentes congelam e se transformam em improvisadas pistas de patinação no gelo. No verão, essas fontes de água refrescam os pés. Do local também faz parte o Palácio de Chaillot, museus, jardins e um grande aquário subterrâneo. Em 1878 foi construído no local o Palácio do Trocadéro, de inspiração bizantina. Ele foi construído para a exposição universal de 1878. Este imenso palácio era ocupado por um teatro e dois museus. Ele não deveria sobreviver muito após a exposição e sua demolição estava programada. Mas ele acabou sendo conservado por quase 60 anos. Foram anos de críticas ferozes sobre seu estilo e sua péssima acústica. E finalmente em 1935 ele foi demolido e parte de suas esculturas foram distribuídas por outras construções de Paris.
Mal saí da estação e coloquei o pé na rua, voltou a chover. Meu plano era tirar algumas fotos e ir embora. Mas o Trocadéro estava fechado! Tinham cercas provisórias impedindo a entrada, e muitos policiais controlando tudo e todos. Ia acontecer ali um evento com a presença de muitos políticos, artistas e esportistas, pois Paris seria oficializada como a cidade sede da Olímpiada de 2024. Em julho último, Los Angeles tinha desistido da candidatura para sediar a Olímpiada e sobrou somente Paris como candidata. Agora o COI – Comitê Olímpico Internacional, ia confirmar Paris como sede. Dei muito azar na minha visita! Dia e hora errados para visitar o local. Só me restou achar um cantinho de onde dava para ver a Torre Eiffel lá no fundo e tirar algumas fotos. Já estava de saída quando um grupo de pessoas apressadas passou por mim e uma mulher me acertou a testa com a lateral de seu guarda-chuva, que estava aberto. Ela percebeu que a pancada foi forte, então parou, colocou a mão no meu ombro e falou um monte de coisas em francês que entendi serem pedidos de desculpa e perguntando se eu estava bem. Respondi em inglês que estava tudo bem, que não tinha problema. Daí ela perguntou se eu queria entrar com ela no local do evento. Não entendi completamente o que ela falou, mas pelos gestos que ela fez, entendi que era esse o convite. Respondi sim em inglês e segui ao lado dela até uma entrada cheia de seguranças e policias. Foi aí que entendi que ela era uma repórter de TV, pois junto com ela seguiam dois cinegrafistas e um auxiliar. Parece que ela era famosa por lá! Ela falou com os seguranças e apontou em minha direção. Caprichei no sorriso e na cara de bom moço. Um dos seguranças fez sinal para eu entrar. Mal dei dois passos e dois policias me pararam, e um deles me revistou de ponta a ponta e o outro usou um detector de metais para me examinar. Em seguida me mostraram uma pequena lanchonete fechada, que ficava ao lado, e me mandaram ir para lá. A repórter deu tchau e seguiu para outra entrada, que levava até um palco, onde na parte de trás tinham os círculos olímpicos cobertos. Pelo visto estava preparada uma grande produção para comemorar o anúncio de Paris como sede da Olímpiada. Ao menos a pequena lanchonete tinha uma cobertura onde eu poderia me proteger da chuva. E mesmo não participando do show que estava montado ao lado, estava muito perto da festança, bem mais perto do que a maioria do pessoal que estava se amontoado na calçada em frente.
Ao meu lado se escondendo da chuva, tinham dois caras altos, fortes, com cara de poucos amigos e corte de cabelo militar. Tive quase certeza de que eram seguranças disfarçados, pois um evento daquele seria um prato cheio para algum tipo de ataque terrorista. Lembro que pouco menos de dois anos antes, Paris tinha sofrido uma série de atentados terroristas que ocasionou 180 mortes. Desde então todo e qualquer evento na cidade tinha segurança redobrada. A chuva deu uma trégua e resolvi ir tirar fotos na famosa mureta do Trocadéro, onde até mesmo Hitler foi fotografado quando os alemães invadiram Paris durante a Segunda Guerra Mundial. Mas não fui muito longe, pois um dos caras que eu achava ser segurança confirmou minhas suspeitas quando de forma ríspida gritou comigo e mandou eu voltar para o lugar onde estava. Ele disse que estava proibido andar por ali. Baixei a cabeça e voltei para o lugar na lanchonete onde estava antes. Minutos depois passou um policial com uma farda cheia de estrelas e falou com meus dois “companheiros”. E entendi que ele perguntou quem eu era, e os caras responderam, mas não tenho a mínima ideia do que falaram. Depois desse dia fiquei com vontade de aprender francês.
Resolvi ir embora, pois ficar parado estava chato. Antes que eu desse o primeiro passo, finalmente começaram a falar no palco ao lado. Teve uma apresentação, alguém cantou e depois mostraram no telão imagens de Paris, de atletas franceses e símbolos olímpicos. Daí tiraram o pano que cobria os círculos olímpicos e todos pularam, gritaram, fogos de artificio foram soltos. Depois teve show e muita festa. Voltou a chover e nisso apareceu um cara jovem, barbudo e ficou parado perto de onde eu estava. Logo ele veio para o meu lado fugindo da chuva. Um dos policias que estava próximo fez sinal para o outro e mostrou o cara do meu lado. Nisso um deles saiu e logo voltou com dois outros policias e foram falar com esse cara. O cara começou falar em árabe e estava muito nervoso. Usei o bom senso e saí dali rapidinho, pois vai que o árabe era um homem bomba. E notei que um dos policias me seguiu até eu sair da área protegida.