Museu do Louvre

Tinha planejado acordar bem cedo, para aproveitar o dia de passeio por Paris. Acordar até que acordei, mas não consegui sair da cama e dormi por mais três horas. Levantei pouco antes das nove, tomei um banho rápido e fui tomar café. Não costumo tomar café da manhã, mas o café da manhã servido pelo hotel era tão bom, com tantos pães, frios e doces gostosos, que comi até não aguentar mais. O café da manhã acabou sendo um almoço adiantado.

Meu primeiro passeio seria uma visita ao Museu do Louvre. Peguei o metrô, depois de demorar um pouco para encontrar o que me levaria até uma estação próxima ao Louvre. Dentro do vagão notei que tinha muita gente me olhando com cara feia. Achei estranho, mas não me importei muito. Depois de alguns minutos vi meu reflexo no vidro e descobri o motivo dos franceses me olharem com cara feia. Eu estava usando uma camiseta com os dizeres “I Love London”. Existe uma rivalidade histórica de séculos entre franceses e ingleses, então utilizar em Paris uma camiseta dizendo que amava Londres, era meio que uma provocação aos franceses. Tenho certeza de que todos achavam que eu era inglês. Outra coisa que me chamou atenção dentro do vagão do metrô, foi a quantidade de perfumes diferentes que eu sentia no ar. Estando em Paris, praticamente todos usavam perfume francês, que são considerados os melhores do mundo. Mas não passei vergonha, já que também estava cheirosinho, pois usava um perfume da Lacoste. Ou seja, eu também usava perfume francês. Meu perfume tinha sido comprado no Paraguai, mas era Lacoste original.

Chegando ao Museu do Louvre, me espantei com a enormidade do lugar. E sofri um pouco até encontrar o local onde comprar o ingresso que dava acesso ao museu. E me assustei com o tamanho da fila. Realmente eu deveria ter levantado mais cedo! Depois de quase uma hora esperando na fila, finalmente entrei em um dos mais importantes e famosos museus do mundo. Eu que adoro visitar museus, estava radiante de alegria em estar ali. Para visitar todo o museu, é necessário no mínimo um dia inteiro. Eu não tinha todo esse tempo, poderia dispensar no máximo duas horas para conhecer o que fosse possível do Louvre. Com tão pouco tempo disponível, optei por conhecer as partes principais, as obras mais conhecidas em exposição no local. E a maior de todas, era o quadro da Monalisa.

Inaugurado a finais do século XVIII, o Museu do Louvre é o museu mais importante da França e um dos mais visitados do mundo. Atualmente recebe mais de oito milhões de visitantes a cada ano. Formado a partir das coleções da monarquia francesa e das espoliações realizadas durante o Império Napoleônico, o Museu do Louvre abriu as suas portas em 1793. O Museu do Louvre está instalado no Palácio do Louvre, uma fortaleza do século XII que foi ampliada e reformada em diversas ocasiões. Antes de que se tornasse um museu, alguns monarcas como Carlos V e Felipe II utilizaram o palácio como residência real onde acumulavam suas coleções artísticas. Em 1989 foi construída a pirâmide de cristal, que atualmente serve como porta de acesso.

A coleção do Louvre compreende cerca de 300.000 obras, das quais são expostas aproximadamente 35.000. A imensa coleção está organizada de forma temática em diferentes áreas: antiguidades orientais, antiguidades egípcias, antiguidades gregas, romanas e etruscas, história do Louvre e o Louvre medieval, pintura, escultura, objetos de arte, artes gráficas e arte do Islã.

As pinturas mais importantes do museu são:

  • Monalisa de Leonardo da Vinci.
  • A Liberdade Guiando o Povo de Delacroix.
  • As Bodas de Caná de Veronese.

As esculturas mais destacadas são:

  • Venus de Milo da Antiga Grécia.
  • O escriba sentado do Antigo Egito.
  • Vitória de Samotrácia do período Helenístico da Antiga Grécia.

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Mona Lisa
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Vitória de Samotrácia do período Helenístico da Antiga Grécia
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Venus de Milo

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Madri / Paris

Acordei pouco depois das 06h00mim no horário local, que é de quatro horas à frente do horário oficial de Brasília. Os meus vizinhos de poltrona espanhóis estavam acordados e antes que eu pedisse licença para poder sair de minha poltrona, eles se levantaram e me deixaram passar. Fui até o fundo do avião, e mesmo com boa parte dos passageiros ainda dormindo, tinha fila para utilizar os quatro banheiros do fundo. Aproveitei para me alongar, na esperança de que minha dor nas costas melhorasse um pouco. Fiz meu xixizinho matinal e escovei os dentes o mais rápido possível, pois estava ficando difícil ficar dentro do banheiro. Ao sair do banheiro tinha uma dona de meia idade esperando para entrar. Olhei para ela com uma cara de pena, pois ela mal sabia o que a esperava dentro daquele banheiro.

O café da manhã até que foi saboroso, sanduíche de presunto e queijo, mamão, biscoitos e suco de laranja. Após o café da manhã comecei a ver um filme no monitor a minha frente e dei uma rápida olhada pela janela. O GPS informava que estávamos entrando no espaço aéreo espanhol. Passou algum tempo e deram o aviso para apertar cintos e voltar ao lugar as poltronas que estavam inclinadas, pois logo começaria o procedimento para aterrissagem. Sabiamente a aterrissagem é a parte mais perigosa do voo e a que menos gosto. Até hoje não consigo acreditar como algo tão pesado igual ao avião consegue voar. Para mim isso sempre será algo insano. Parabéns aos irmãos Wright, os inventores do avião! Você vai discordar de mim e dizer que foi Santos Dumont que inventou o avião. Mesmo sendo brasileiro, discordo que tenha sido Santos Dumont. Eu e a maior parte do mundo discordamos, e damos o crédito da invenção do avião aos norte-americanos. Poucos países dão crédito pela invenção do avião a Santos Dumont. Entre eles estão Brasil, França, Portugal e a maioria dos países sul americanos. E só! Se você quiser saber mais sobre essa história e então tirar sua própria conclusão, pesquise, leia livros sobre o assunto. Tem livros interessantes sobre o tema.

Pouco antes das 10h00min horário do Brasil e 14h00min horário local (a partir daqui vou usar como referência somente a hora local), pousamos na cidade de Madri. A Espanha era o décimo país que eu ficava conhecendo, sem contar o Brasil. Avião parado na pista e uma eternidade para poder descer. Aquele monte de gente espremida no corredor, outros muitos sentados por não terem espaço para ficar em pé. Sempre acho essa parte chata e demorada, e em um avião com mais de trezentas pessoas a bordo, a demora é terrível. O desembarque em voos internacionais, sempre acontecem pela porta da frente. Fiquei imaginando se no caso de um pouso de emergência o pessoal seria tão lento para desembarcar igual estavam sendo naquele momento. Finalmente pés no chão! Ficar mais de dez horas trancado dentro de um avião é cansativo e desgastante. Após uma longa caminhada pelos corredores do aeroporto, cheguei ao local da imigração. A fila estava longa e eu começando a me preocupar com o horário de minha conexão. Eu não ficaria em Madri, seguiria para Paris, com escala em Barcelona.

Finalmente pude passar pela imigração, onde fui atendido por um funcionário bastante simpático. Sabendo da fama da imigração espanhola que costuma barrar brasileiros quando tem a mínima suspeita de que vão ficar ilegalmente na Europa, eu fui bem preparado para passar pela imigração. Levei cópia de minhas reservas de voos internos pela Europa, do hotel em Paris, de dois albergues no Caminho de Santiago, onde já tinha feito reserva. E levei meu passaporte vencido, que é cheio de carimbos e possui o visto norte americano valido, o que abre portas em quase todos os países pelo mundo. O funcionário da imigração perguntou qual eram meus planos na Europa. Respondi que seguiria dali para Paris e depois voltaria a Espanha para percorrer o Caminho de Santiago, sendo que posteriormente sairia da Europa via Portugal. Ele fez um sinal de afirmativo com a cabeça e carimbou meu passaporte. Agradeci e segui em frente!

Próximo passo for seguir para o setor de bagagens, para retirar minha mochila. E aí começou o pesadelo. Demorou muito para que as bagagens fossem liberadas. Por culpa do atraso, quando peguei minha mochila tive que sair correndo para pegar minha conexão rumo Barcelona. Mas por oito minutos apenas perdi o voo. Talvez devesse ter marcado passagem com uma folga maior de horário, já prevendo possíveis atrasos. Perguntei quem vendia passagem para Paris e fui atrás me informar. Só achei a Ibéria, mas eles não tinham mais voos naquele dia. Então entrei em contato via WhatsApp com meu irmão no Brasil e pedi ajuda. Ele rapidamente conseguiu marcar uma passagem pela internet, numa empresa de baixo custo, direto de Madri para Paris. O preço da passagem achei melhor nem perguntar. Precisava seguir para Paris de qualquer jeito, pois senão perderia também a reserva do hotel para aquela noite, e todo meu planejamento para os dias seguintes estaria comprometido.

Meu novo voo para Paris seria pela Transavia, uma companhia aérea de baixo custo que opera como uma empresa independente do Grupo Air France – KLM. Fiquei mais tranquilo quando soube que a empresa pertencia a um grupo grande, pois tenho trauma de companhias aéreas de baixo custo. Os maiores sustos que já tomei em voos, foram com a Web Jet e a Ocean Air, companhias aéreas de baixo custo que operavam no Brasil utilizando aviões velhos.

Pedi informações num balcão e não demorei para encontrar o balcão da Transavia e logo entrei na fila. Enquanto esperava fiquei observando as pessoas ao redor. Tinha gente de todas as cores, tipos e nacionalidades. Logo fiz o chekin, despachei a mochila grande e corri para encontrar o portão de embarque, pois o embarque para meu voo já estava liberado. Fui o último a embarcar e minha poltrona ficava no meio, na terceira fila do lado direito de quem entra no avião. Ao meu lado esquerdo estava sentada uma jovem, bela e cheirosa francesa, que durante o voo de pouco mais de duas horas, em nenhum momento tomou conhecimento de minha existência ou olhou para mim.  Do meu lado direito ia sentado um francês jovem, feio e também cheiroso. Será que todos os franceses são cheirosos? Me lembrei da Florence, uma francesa que conheci no Peru em 2012, quando percorremos no mesmo grupo a Trilha Salkantay. Por ter morado na Guiana Francesa durante alguns anos e ter tido um namorado brasileiro, a Florence falava fluentemente o português e por isso conversávamos muito na trilha. Certa vez ela me disse que as francesas não precisam tomar banho, pois são cheirosas por natureza. Estava começando a acreditar na Florence!

O voo foi tranquilo e dormi quase todo o tempo, pois me sentia muito cansado. Devo ter roncado! Desceríamos no aeroporto de Orly, que fica no sul de Paris e é o segundo maior da França. O maior aeroporto francês também fica em Paris, é o Charles de Gaulle e fica do outro lado da cidade. Eu conhecia ambos os aeroportos somente de nome, principalmente porque trabalhei oito anos em uma agência de turismo em Curitiba. Mas o aeroporto de Orly eu tinha vivo na mente por outro motivo, algo bem trágico. Em julho de 1973, um voo da Varig partiu do Rio de Janeiro e seguia para Londres, na Inglaterra, com escala em Paris. Por culpa de um cigarro que um passageiro jogou aceso no lixo de um dos banheiros (naquela época era permitido fumar em aviões), um pequeno incêndio começou na parte traseira do avião, que foi todo tomado pela fumaça. Por culpa disso o ar ficou irrespirável dentro do avião e o piloto se viu forçado a fazer uma aterrissagem de emergência em uma plantação de repolhos existente há cerca de quatro quilômetros do aeroporto de Orly. O incêndio, a fumaça e a aterrissagem forçada causaram a morte de 123 pessoas, sendo sete tripulantes. Onze pessoas sobreviveram, sendo um passageiro e dez tripulantes.  Caso queira saber mais sobre essa história, recomendo a leitura do livro “Caixa Preta”, de Ivan Sant’Anna, que detalha em pormenores tal acidente.

Depois de lembrar do acidente com o avião da Varig ocorrido perto de Orly, ainda tive tempo de lembrar de mais bobagem. Estiquei o pescoço para tentar enxergar a Torre Eiffel pela janela do avião, mas não a vi, talvez por estarmos voando sobre os subúrbios de Paris e não sobre o centro da cidade. Nesse momento me veio à mente o filme Impacto Profundo, mais precisamente a cena que mostra Paris e um meteoro derruba a Torre Eiffel. Acho que sou campeão em lembrar de bobagens e tragédias quando estou dentro de um avião. De qualquer forma a aterrissagem foi tranquila e o desembarque rápido. Ao pisar em solo francês, estava conhecendo meu décimo primeiro pais, sem contar o Brasil. Era o segundo pais no mesmo dia! Junto com Nova York e Londres, Paris sempre foi uma das cidades que sonhava conhecer desde muito jovem. Em Nova York já estive duas vezes, e Londres fica para a próxima viagem à Europa.

* Você leu um resumo…

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Próximo destino: Paris!

Viagem à Europa

O dia de partida para minha segunda viagem à Europa foi bastante corrido. Era sábado e passei o dia arrumando coisas, definindo o que levaria ou não na viagem. Eu não podia levar muita coisa, pois como teria que carregar tudo durante a peregrinação pelo Caminho de Santiago, era necessário levar o menor peso possível. E fica difícil ser minimalista na hora de arrumar a mochila para uma viagem tão longa e tão distante. Graças a certa experiência que possuo em viagens ao exterior e também em cicloviagens, consegui definir o que era prioridade e dessa forma ajeitei as duas mochilas que levaria na viagem, uma grande e uma pequena. Mas tinha convicção de que algumas coisas eu não usaria e que sentiria falta de outras.

No início da noite meu irmão me levou até a rodoviária. Saí de casa ainda na dúvida sobre estar levando a blusa de frio correta. Levei uma mais fina e menos de uma semana depois me arrependeria amargamente de tal escolha. Na rodoviária embarquei em um ônibus da Brasil Sul, rumo São Paulo. Meu voo para a Europa, mais precisamente para Madri, na Espanha, seria na segunda-feira à noite, dali 48 horas. Queria aproveitar para passear por São Paulo e visitar amigos, por isso estava viajando antes. No início da viagem comecei a sentir dor nas costas e essa dor nos dias seguintes iria atrapalhar muito minha viagem.

Sei me virar bem em São Paulo e não tive dificuldade em pegar o Metrô, fazer conexão e desembarcar na estação Bresser-Mooca. Bem em frente à estação moram meus amigos Arthur e Bianca. Na portaria do prédio onde eles moram liguei para o Arthur e ele logo desceu para me receber. Já no apartamento encontrei a Bianca e depois de deixar minhas coisas em um quarto, ficamos conversando. Eles tinham ficado noivos na noite anterior e eu era o primeiro a saber do noivado. Nem mesmo a família deles sabia da boa nova. Conheci os dois quando namorei uma tia da Bianca e a amizade com eles foi tão forte que sobreviveu e até se fortaleceu após o fim do meu namoro.  Passamos o domingo entre conversas, jogo de UNO, almoço no shopping e passeio pela Avenida Paulista, que atualmente é fechada para veículos aos domingos e os pedestres tomam conta. A noite jantamos pizza, jogamos mais um pouco de UNO e fomos dormir cedo.

Na segunda-feira peguei o Metrô e fui para o centro da cidade. Dei uma volta e peguei o Metrô e depois um trem para Santo André. Até então tinha andado de trem somente uma vez em São Paulo. Eu ia para Santo André encontrar a Andrea, uma carioca que conheci uns meses antes quando ela visitava a família em Fênix, uma cidade perto de Campo Mourão, onde moro. A Andrea mora em São Bernardo do Campo, mas trabalha em Santo André. Almoçamos num clube local, lugar agradável e comida saborosa. E foi ela que pagou o almoço! Depois demos uma volta e conversamos, ela me mostrou o local onde trabalha e em seguida me devolveu na estação de trem de Santo André.

De volta à São Paulo andei mais um pouco pelo centro, comprei uns itens de farmácia para levar na viagem e voltei para o apartamento do Arthur e Bianca. Conversamos, arrumei minhas coisas e acabei deixando com o Arthur alguns itens que eu tinha levado e que já achava dispensáveis para a viagem à Europa. Então o Arthur ficou encarregado de levar tais itens para mim em Campo Mourão na próxima vez que fosse para lá. Me despedi da Bianca e saí com o Arthur, ele ia me acompanhar até o aeroporto de Guarulhos. E melhor ainda, ele se ofereceu para carregar minha pesada mochila, pois percebeu que minha dor nas costas estava ficando séria. Pegamos o Metrô e depois um ônibus que nos levou até o aeroporto de Guarulhos. Eu ainda não tinha estado em Guarulhos após a ampliação realizada no aeroporto para a Copa do Mundo de 2014.

Já no aeroporto fiz o chekin automático em um terminal da Latam e despachei a mochila grande. Eu e Arthur demos uma volta e logo nos sentamos em uma mesa na lanchonete Rei do Mate que fica dentro do aeroporto. Fizemos um lanche leve e ficamos por mais de uma hora conversando. Foi um papo agradável e depois que o Arthur foi embora segui para o embarque onde fiz o processo migratório. Em Guarulhos existe uma Sala Vip da Amex, e como tenho cartão de crédito da Amex, tive acesso a essa Sala Vip. O lugar é grande e agradável com comida e bebida à vontade. Aproveitei para “jantar” e depois fiquei usando o wifi do local até o horário do meu embarque.

Segui para meu portão de embarque e com o meu cartão de crédito Tam Fidelidade, tive direito a embarque prioritário. Minha poltrona era no meio do avião, na janela. Logo me arrependi de ter escolhido janela, pois em voo longo igual eu iria enfrentar ficar na janela é desconfortável, pois fica chato ficar pedindo licença a todo momento para quem está ao lado, principalmente à noite quando estão dormindo. Levou cerca de uma hora para terminar o processo de embarque e iniciarmos a decolagem. Apesar de já ter voado muito na vida, não gosto de voar. E um voo com duração de quase dez horas e que sobrevoa o Oceano Atlântico, para mim não é dos programas mais agradáveis. Mas no momento tinha outra preocupação mais importante. Minha dor nas costas tinha aumentado e já começava a temer que tal dor pudesse comprometer a execução do principal motivo de tal viagem, que era percorrer o Caminho de Santiago de Compostela, de bicicleta.

O avião da Latam (união da Tam e Lan) era novo e muito confortável. O modelo era um Airbus A350-900, com capacidade para transportar 350 pessoas. Olhei em volta e até onde podia enxergar não vi nenhuma poltrona vazia. Ao meu lado estava sentado um casal de espanhóis na faixa dos sessenta anos. Como já é de praxe em voos internacionais, todas as poltronas tinham vídeo individual e nesse avião tinha uma centena de filmes disponíveis para assistir. Para passar tempo comecei a assistir um filme, e no meio do filme serviram o jantar. Após a refeição pedi licença ao casal de espanhóis e fui até o fundo do avião. Peguei um kit de higiene e fui ao banheiro escovar os dentes. Uma das coisas mais claustrofóbicas que conheço é banheiro de avião. Antes de voltar para minha poltrona peguei uma máscara para os olhos.

Consegui ver um segundo filme, até que o sono chegou. Me ajeitei da maneira mais confortável que consegui, coloquei a máscara para dormir e quando estava quase cochilando, a espanhola começou a roncar alto há cerca de dois palmos de meu ouvido direito. Olhei para o lado e vi que ela estava com a cabeça na minha poltrona e mais um pouco ela encostava em meu ombro. Estiquei o pescoço e vi que o espanhol roncava com a cabeça virada para o corredor. Eu não podia fazer nada e fiquei pensando na vida um bom tempo enquanto ouvia os roncos da coroa espanhola. Sei que dormi, só não sei quanto tempo fiquei acordado pensando na vida, sentindo o perfume agradável da espanhola e ouvindo seu ronco. Acordei algum tempo depois com uma enorme vontade de ir ao banheiro, mas minha educação não permitia acordar o casal de espanhóis que bloqueava meu caminho até o corredor que leva aos banheiros. O jeito foi me segurar e tentar voltar a dormir. Milagrosamente a espanhola não estava roncando. Me ajeitei em meu canto para tentar voltar a dormir e antes dei uma olhada no monitor a minha frente e vi no GPS onde estávamos. Naquele instante voávamos em algum lugar sobre o Atlântico, mais próximos da Europa do que do Brasil. Logo eu estaria desembarcando na Europa novamente, quinze anos após a primeira viagem que foi para a Alemanha. Dessa vez eu desembarcaria na Espanha e teria quase três semanas para conhecer além da Espanha, também França e Portugal.

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Jogando UNO com Bianca e Arthur.
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Passeio de domingo na Av Paulista.
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Andrea e Vander, em Santo André.
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Vander e Arthur, no aeroporto de Guarulhos.

Estrada Real – 5° Dia

São João del Rei/Caquende/Capela do Saco/Carrancas

(Resumo)

Acordei 06h00min em ponto, com ajuda do despertador do celular. Tomei um longo banho para despertar, arrumei minhas coisas e saí. Na noite anterior tinha combinado com a Lua, que jogaria por baixo da porta a chave do hostel. Mesmo sendo cedo, o sol estava alto no céu, prometendo um dia de muito calor. Tirei uma foto da frente do hostel, olhei o guia para saber que rumo tomar e parti. No caminho parei em frente uma igreja e fiz uma oração na calçada.

Saí de São João del Rei pedalando por uma longa avenida e então cheguei numa estrada que me levaria até a rodovia.  Logo de cara tinha uma longa subida e fui pedalando devagar, ainda aquecendo as pernas. Após vencer a longa subida, resolvi parar na beira da estrada e tomar meu café da manhã, que consistia de duas bananas. Depois de comer, notei que o pneu da frente estava um pouco murcho. Peguei a bomba de encher e a encaixei no bico do pneu. E ao começar a bombear, em vez de encher o pneu murchou ainda mais. Foi aí que vi que o bico da bomba estava quebrado. O pneu ficou muito vazio e não tinha como pedalar. Eu não queria voltar até a cidade para procurar algum lugar onde encher o pneu. Resolvi arriscar e segui em frente na esperança de encontrar algum posto de gasolina onde pudesse encher o pneu. Empurrei a bike por cerca de um quilômetro, quando vi uma pessoa vindo pelo outro lado da estrada. A imagem era meio surreal, pois se tratava de uma moça vestindo uma justíssima roupa de ginástica toda colorida, caminhando pelo acostamento e ouvindo música com fones de ouvido. Quando ela chegou perto de mim, notei que a roupa era extremamente justa e destacava de forma exagerada as curvas da moça. Dei bom dia e perguntei se ela sabia de algum posto de gasolina próximo dali. Ela respondeu que mais uns 500 metros eu chegaria na rodovia, e que seguindo para o lado direito demoraria muito para eu encontrar um posto. E que para o lado esquerdo da rodovia ela nunca tinha ido e não sabia responder se existia algum posto. E falou que na casa dela tinha uma bomba de encher pneus e que se eu quisesse ela me emprestava. Ela morava na cidade, distante cerca de cinco quilômetros de onde estávamos. Agradeci a oferta e disse que preferia arriscar e seguir em frente. Nos despedimos e segui pensando se não era perigoso a tal moça caminhar sozinha ao lado da estrada deserta. E se eu não devia ter aceitado a oferta da moça e ido até a casa dela encher o pneu.

A rodovia estava muito movimentada e por segurança fui pedalando pelo acostamento. Mas ele era horrível, com muitos buracos e pedras soltas, sem contar o mato que muitas vezes arranhava minha canela e tornozelo direito. E o pior é que pedalando pelo acostamento ruim eu não conseguia andar muito veloz. Esse seria um dia em que precisava pedalar dezenas de quilômetros, e ganhar tempo era necessário para conseguir chegar em Carrancas, cidade onde planejava pernoitar. E no meio do caminho teria que atravessar uma balsa, e caso ocorresse mais algum contratempo eu corria o risco de perder a balsa e ter que dormir na rua. Pensando em tudo isso, segui pedalando sob um sol que ficava cada vez mais quente, até que um caminhão passou por mim buzinando de forma estridente. Era o caminhoneiro que tinha me ajudado com o pneu da bike. Acenei para ele e em pensamento agradeci pela ajuda recebida.

Após superar um longo trecho de curvas e subidas, finalmente cheguei em um trecho com sombra, retas e descidas. E passei por dois outros puteiros ao lado da estrada. Um deles tinha o nome “Capa de Revista” pintado na fachada. “Capa de Revista” foi uma música de sucesso nos anos oitenta, cantada pela dupla Gilberto & Gilmar. Segui pedalando forte pelas retas e descidas da estrada, enquanto cantava… ♫♪Capa de revista, exposta na banca pra todos verem. Um dia a tarde, andando na rua me surpreendi. Quando numa banca vi um corpo nu, queimado do sol. Conhecido meu a tempos atrás me pertenceu. Como eu era feliz… ♫♪ Pedalei muitos quilômetros cantarolando esse trecho da música. Sabe quando você começa a cantar uma música e não consegue parar? Acho horrível quando isso acontece, quando a música vem à mente sem eu querer e eu não consigo deixar de cantar, por mais que me concentre e tente não cantar.

Vi uma placa ao lado da estrada que indicava a entrada para o Circuito das Águas. Por essa estrada seriam 135 quilômetros para chegar na cidade de Caxambu. Fiquei bastante tentado a seguir por essa estrada, pois seria um bom atalho, já que Caxambu estava em meu roteiro. Mas se fizesse isso eu estaria deixando grande parte da Estrada Real de lado e isso faria minha viagem perder o sentido. Me mantive fiel à Estrada Real, apenas deixando muitas vezes de seguir por estradas de terra, e optando por seguir por estradas asfaltadas. E vale lembrar que muitos trechos originais da Estrada Real foram asfaltados e hoje fazem parte de grandes rodovias. O que acontece é que muitas vezes acabam existindo trechos alternativos de terra, que são mais seguros.

Pouco antes do meio dia e sob um sol escaldante, cheguei em São Sebastião da Vitória. Estava com pouca água e ela estava quase fervendo. Vi um posto de gasolina e nele um bebedouro. Fui pedalando todo alegrinho na esperança de encontrar água gelada, mas o bebedouro estava quebrado. Mesmo assim consegui matar a sede com uma água pouco mais fresca que a minha. Voltei a pedalar e segui pela rodovia, que atravessava toda a pequena cidade. Me lembrei de que estava sem dinheiro e fui olhando atentamente a procura de uma Casa Lotérica, onde eu pudesse sacar dinheiro de minha conta da Caixa Econômica Federal. Parei em uma farmácia pedir informação e a atendente contou que tinha uma loja onde era possível fazer saques, mas que a dona não estaria lá naquela hora do dia. Segui em frente olhando para os lados a procura de um local para lanchar e que aceitassem cartão de débito. Vi uma panificadora e quando ia entrar nela, do outro lado da rua vi um pequeno restaurante com uma placa anunciando “comida caseira”. Não resisti e fui até o restaurante. Meu plano desde o início era nunca fazer refeições na hora do almoço, mas apenas lanches leves, pois pedalar com o estômago muito cheio não é nada produtivo. Mas estava cansado de comer lanches nos últimos dias e minha fome era grande.

Cheguei no pequeno povoado de Caquende. Fui até a pequena igreja do povoado, tirei uma foto em frente a ela e me informei sobre o caminho a seguir até o local onde deveria pegar a balsa. Não era longe e em poucos minutos parei na margem do rio, no exato local onde a balsa costuma parar. No mesmo local estava o motoqueiro que tinha passado por mim há pouco. Começamos a conversar, ele era paulista de Ribeirão Preto. Me contou que já foi ciclista e que já tinha viajado de bike. Daí comprou a moto e resolveu percorrer a Estrada Real. Ele tinha sofrido uma queda pouco antes de passar por mim na estrada e além de sofrer alguns esfolados, também ralou a moto e quebrou um pisca traseiro. Próximo de onde estávamos tinham alguns caras pescando e nos informaram que a balsa demoraria cerca de meia hora para voltar, pois ela tinha acabado de atracar em Capela do Saco, no outro lado do rio. Tirei algumas fotos, conversei mais um pouco com o motoqueiro, cujo nome não anotei e não consigo lembrar. O sol estava muito quente, eu estava todo molhado de suor e cheio de poeira. Olhei o rio em volta, sua água era clara, pois o fundo era de areia grossa. Vi que próximo onde a balsa atracava era raso e não resisti, tirei meu tênis, meias e camisa, ficando de bermuda somente e entrei na água.

Comecei a me sentir muito cansado e isso não ajudava muito, pois o cansaço deixa nosso raciocínio lento. E por culpa do cansaço e da preguiça de pegar o guia e olhar mais detalhadamente as indicações do caminho, passei a seguir os marcos da Estrada Real. Até que numa encruzilhada não prestei muita atenção na direção que o marco indicava e acabei seguindo pela estrada errada. O problema é que demorei muito para perceber o erro. Enquanto ainda achava que estava no caminho certo, comecei a pedalar por um trecho com muita areia e mato dos dois lados da estrada. O sol estava se pondo e era um pouco assustador pedalar ali, pois da mata vinham ruídos estranhos. E a areia ficou tão fofa, que tive que descer e empurrar a bike. Até cheguei a pensar que tinha finamente chegado na famosa subida da “cruz das almas”, mas quando cheguei no final da subida vi pelo aplicativo do celular que ela tinha somente um quilômetro de extensão. Então não poderia ser a famosa e assustadora subida de quatro quilômetros.

O dia estava começando a escurecer e passei a seguir por uma estrada longa, com pasto dos dois lados. Eu subia quase o tempo todo, mas não era uma subida íngreme. E cada vez eu ficava mais perto das montanhas que tinha visto antes. Foi aí que tive certeza de que estava no caminho errado. E tinha quase certeza de que tinha errado o caminho quando passei pelo último marco da Estrada Real, já que depois disso não vi mais nenhum marco. Tentei me localizar olhando o guia, mas não consegui chegar a nenhuma conclusão objetiva. Na verdade eu não sabia ao certo onde estava e nem para onde a estrada seguia. Voltar ao local onde tinha errado o caminho era algo fora de cogitação, pois já tinha percorrido mais de dez quilômetros depois disso e tinha passado por muita areia. Resolvi confiar na sorte e seguir em frente. A noite foi chegando e passou um ônibus escolar por mim. Mas ele chegou tão silencioso que me assustei quando percebi ele atrás de mim. E no susto acabei não dando sinal para o motorista parar para eu pedir informação sobre o caminho. Parei e fiquei olhando o ônibus seguir pela estrada, e quando ele já estava bem distante vi ele virar na direção da montanha, que ficava cada vez mais perto. E notei que ele passou a andar mais veloz e comecei a ver luzes de carros. Ou seja, ali tinha uma estrada, possivelmente asfaltada. Ganhei um animo extra e pedalei mais forte até que uns dois quilômetros depois cheguei numa rodovia. Parei e fiquei pensando para qual lado deveria seguir. Não tinha nenhuma placa indicando o caminho e após pensar um pouco cheguei à conclusão de que a cidade de Carrancas ficava na direção das montanhas. Tinha ficado escuro e peguei a lanterna que ficava guardada na bolsa de guidão. A lanterna ainda não tinha sido usada na viagem e estava com a bateria cheia, o que me dava cerca de duas horas de autonomia de luz. Ela era bem forte, tinha sido comprada especialmente para a viagem, para o caso de alguma emergência noturna. E naquele momento eu estava numa emergência, no escuro, seguindo por uma estrada que eu não sabia ao certo para onde ia.

Para piorar minha situação fiquei sem água. E empurrar a bike montanha acima me fazia suar em bicas. Teve um trecho onde eu passei bem próximo a um alto paredão de rocha. E vi que recentemente tinham caído algumas pedras enormes ao lado da estrada. Era o que me faltava, cair uma pedra na minha cabeça! Passei o mais rápido que consegui por aquele trecho e quando me senti mais seguro parei para descansar. Aproveitei para guardar o guia na bolsa de guidão e fechá-la totalmente com o zíper, pois no escuro tinha receio de algo cair da bolsa e eu não ver. E ao mexer na bolsa de guidão, acabei encontrando o bombom que a Lua tinha deixado em meu travesseiro, na noite anterior no hostel em São João del Rei. Comi aquele bombom com um prazer indescritível. E todo aquele açúcar me deu nova energia para seguir empurrando a bike montanha acima. E nisso gritei bem alto um “obrigado Lua!”. E por falar em lua, ela surgiu (não a Lua do hostel) no céu, iluminando meu caminho. Não sei ao certo quanto tempo empurrei a bike morro acima, pois estava tão cansado que nem tinha vontade de pegar o celular no bolso traseiro da camisa para ver o horário ou a distância.

A descida era radical e com uma curva atrás da outra. E minha lanterna foi ficando fraca, até quase não iluminar nada. O que ajudava um pouco era a luz da lua. No começo ia segurando no freio, com medo de cair em algum buraco da estrada Mas notei que tinham algumas marcas mais escuras no asfalto, resultado de um recape recente. Isso me fez sentir mais seguro, e criei confiança e passei a descer rápido pela estrada. Não passavam carros e eu seguia pelo meio da pista. Comecei a sentir frio, mas nem ligava e seguia no embalo, sem precisar pedalar. Aquilo era muito radical, perigoso e gostoso. Com certeza esse foi um dos melhores e mais perigosos pedais que já fiz na vida. Foi um momento, uma aventura inesquecível, mas que espero não precisar mais repetir, pois foi perigoso demais. Descer aquela serra em alta velocidade, com peso traseiro e mal conseguindo enxergar a estrada direito é algo de gente maluca. Mas eu estava seguro do que estava fazendo e o risco era calculado. E também sou um cara de fé e meu anjo da guarda, coitado, sempre está ao meu lado. Costumo brincar que meu anjo da guarda não tem mais penas nas asas, que é manco e tem muitas fraturas e pontos pelo corpo. Vez ou outra ele falha e eu me estrepo, mas quase sempre ele está a postos e me livra dos perrengues.

Não sei dizer quanto tempo durou a descida, mas quando chegou no fim passei a pedalar por uma longa reta e sentia muita dor nas pernas. Eu não estava tendo mais forças para pedalar, mas precisava seguir em frente, pois estava cada vez mais perto de Carrancas. Nesse trecho passaram muitos carros por mim. Parecia que os carros estavam esperando eu descer a montanha, para então passarem. Cheguei num pequeno trevo e achei que era a entrada para Carrancas, mas lendo uma placa descobri que o caminho não era aquele. Pedalei mais uns dois quilômetros e logo comecei a ver luzes e algumas casas. Finalmente eu tinha chegado em Carrancas. Segui por uma longa avenida e após uma pequena descida vi uma praça e uma igreja. Como a cidade não era muito grande, sabia que ali era o centro da cidade. Ao meu lado parou um carro e quando me virei para olhar o que era, vi uma bela e jovem mulher ao volante. Antes que eu dissesse algo, ela perguntou se eu precisava de ajuda. Respondi que estava procurando a Pousada da Mica. Ela disse que a pousada ficava perto, e que eu deveria subir duas quadras e virar à direita, que mais 100 metros eu chegaria na pousada. Agradeci a informação e ela respondeu que ao me ver percebeu que eu era um viajante e que fatalmente precisava de ajuda.

Antes de me ajeitar para dormir, liguei para casa dar noticiais e fiz algumas anotações em meu diário de viagem. Em seguida apaguei as luzes e deixei a janela aberta, pois a noite estava um pouco quente. Me deitei e mal sentia meu corpo, e minhas pernas doíam muito. Resolvi tomar um Dorflex e quando estava quase pegando no sono, ouvi vozes debaixo da janela do meu quarto. Discretamente fui espiar e vi que era um casal, sendo que a garota era muito jovem e bonita. Voltei para a cama e fiquei ouvindo a conversa dos dois, que nem imaginavam que eu estava próximo a eles, escutando tudo o que falavam. O rapaz era bom de papo e estava tentando levar a garota para a casa dele, pois seus pais tinham viajado. A garota estava se valorizando, dizia que era virgem e que ele estava indo rápido demais. Mas o cara era muito bom de papo e após uns 15 minutos de conversa a garota estava quase cedendo.  Atento a conversa dos dois esqueci as dores e o cansaço, mas acabei pegando no sono e jamais saberei se a garota foi ou não para a casa do rapaz.

*Para ler o relato completo sobre esse dia de viagem, ou sobre toda a viagem pela Estrada Real, adquira o livro “Estrada Real Caminho Velho”, autor Vander Dissenha.

À venda a partir de 01/11/2016 

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Estrada Real – 4° Dia

Tiradentes/São João del Rei

(Resumo)

Dormi até 08h00min. Levantei com muita dor nas costas e nas pernas. Tomei um demorado banho e coloquei para secar na janela e na sacada, algumas roupas que tinha lavado na noite anterior. Desci tomar café e enquanto comia fiquei conversando com a Eloisa, que além de recepcionista também é quem faz o café na pousada. Ela me contou que o marido dela também é ciclista e que no dia anterior ele tinha feito um bate e volta até Prados, pela Estrada Parque. Tenho quase certeza que foi o marido dela que encontrei pouco antes de entrar na Estrada Parque. Ela também disse que o custo de vida na cidade é alto e que os restaurantes cobram valores absurdos. Segundo ela os moradores sofrem com isso, pois não sendo turistas, pagam preços de uma cidade voltada para o turismo e para turistas.

A Igreja de Santo Antônio fica no alto de um morro e para chegar até nela, subi por uma rua cercada de belas construções antigas. Da igreja de Santo Antônio dá para se ter uma linda vista de parte da cidade de Tiradentes. E ao redor da igreja também existe um cemitério. Isso era muito comum antigamente, de sepultarem os mortos dentro e ao redor das igrejas. Tirei algumas fotos do lado de fora e após pagar R$ 5,00 por um ingresso, entrei na igreja. Dentro não é permitido fotografar. Andei por todos os cantos, observando cada detalhe. O que me chamou atenção além do altar de ouro, foi o chão que é feito quase todo em taboas de madeira numeradas. Deduzi que tais tábuas eram tampas de sepulturas.

Depois de orar, permaneci mais algum tempo sentado observando o altar de ouro, cheio de detalhes. E comecei a ouvir um guia do local, que estava bem próximo contando a história da igreja a um casal de turistas.  A construção da Matriz de Santo Antônio teve início em 1710.  Ela é considerada uma das obras primas da arquitetura barroca em Minas Gerais, especialmente pela decoração em seu interior. A igreja fica em um terreno elevado em relação ao resto da cidade e por essa razão é um marco visual local. Sua posição permite a visualização de sua fachada de diversos ângulos, a partir das ruas vizinhas. A igreja levou cerca de 100 anos para ficar pronta e depois de pronta sofreu algumas modificações e restaurações. A mudança mais importante foi realizada em 1810, quando sua fachada foi modificada a partir de um projeto encomendado a Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. A nova fachada foi construída no estilo rococó. Em seu interior foram utilizados aproximadamente 482 quilos de ouro. Seu assoalho foi feito em 1774, em óleo bálsamo e se mantém original até hoje, com exceção da parte que fica sob o coro da igreja. O assoalho é formado por campas numeradas de 1 a 116 e nessas sepulturas estão enterradas pessoas de todas as classes sociais, desde nobres até escravos, sendo que a maioria ajudou a financiar a construção da igreja. Existem registros de que durante muitos anos assistir a uma missa no local não era muito agradável, pois além das missas de antigamente serem longas, o cheiro de corpos em decomposição que subia das profundezas da igreja não era nada agradável.

A estrada era de paralelepípedos, o que é ruim para pedalar, pois chacoalha muito. Felizmente logo cheguei em um trecho onde existia uma larga calçada na beira da estrada, que funcionava mais como ciclovia. Segui pedalando por essa calçada e encontrei alguns ciclistas vindo em sentido contrário. O clima estava agradável, o calor diminuiu e o céu começou a ficar nublado. Mais alguns quilômetros e cheguei na cidade de Santa Cruz de Minas. A cidade é pequena e segui por uma longa avenida que atravessa a cidade. Mais alguns minutos e cheguei em São João del Rei, essa sim uma cidade de maior. Entrei na cidade de São João del Rei pela periferia e após alguns minutos cheguei ao centro. Pedi informação a um pedestre, pois precisava encontrar o Hotel Brasil, que tinha visto no guia. O pedestre foi simpático e me indicou o caminho a seguir. Pedalei por algumas ruas pouco movimentadas e cheguei em uma ciclovia que fica entre duas pistas de uma grande avenida. O interessante de tal ciclovia é que ela é antiga e larga, onde pedestres também caminham. Acabei seguindo pelo lado errado da ciclovia, mas logo percebi o engano e dei meia volta. Pedalei poucos minutos e finalmente encontrei a avenida que procurava, que me parece ser a principal da cidade, ou então a mais antiga. De um lado ficavam as construções e ao lado num plano rebaixado e cercado por um grande muro, tinha um pequeno córrego e algumas pequenas pontes que permitiam atravessar para outra rua no lado oposto. O córrego era pequeno, mas os espaços laterais eram grandes, então acredito que em períodos de chuva o córrego deve se transformar em um rio. Aquela era a parte antiga da cidade, sendo que do lado oposto de onde eu estava ficava a antiga estação de trem e muitas construções antigas e históricas.

Passava um pouco das 16h00min e em vez de ir para o hotel, resolvi aproveitar as cerca de duas horas de dia claro que restavam, e fui fazer um tour pelos pontos turísticos da cidade. A maioria dos pontos turísticos ficavam próximos de onde eu estava. Saí pedalando e logo encontrei o Memorial Tancredo Neves, mas infelizmente ele estava fechado. Por ser domingo, imaginei que encontraria tal local aberto. Para quem não sabe, São João del Rei é a cidade onde nasceu e viveu durante muitos anos, Tancredo Neves. Ele foi o presidente do Brasil eleito pelo voto indireto em 1985 e que não chegou a assumir o cargo, pois passou mal um dia antes da posse. Após ficar pouco mais de um mês internado, Tancredo Neves acabou falecendo no dia 21 de abril de 1985, coincidentemente feriado nacional de Tiradentes, mineiro igual a Tancredo. Na época a morte de Tancredo Neves foi um evento que causou comoção nacional, pois ele seria o primeiro Presidente civil após 21 anos de Governo Militar. Mesmo sem ter tomado posse, Tancredo Neves é por força de Lei, elencado entre os ex-presidentes do Brasil.

Atravessei uma pequena ponte e fui para o outro lado da avenida que tinha o córrego no meio. Segui para a região onde existem muitas construções antigas. Logo encontrei o Solar dos Neves, que era a residência de Tancredo Neves. Tirei algumas fotos em frente ao Solar e em frente de uma bonita igreja que fica quase em frente ao Solar. Caminhei um pouco empurrando a bike e admirando e tirando fotos das bem conservadas construções antigas. Começou a escurecer e segui para o Hotel Brasil. Apertei a campainha e uma senhora veio me atender. Antes mesmo de eu começar a falar, ela me olhou de cima embaixo, com cara de que não estava gostando do que via. Eu estava de roupa justa de ciclismo, mas excepcionalmente nesse dia eu não estava sujo e completamente suado como na maioria dos dias em que viajei pela Estrada Real. Eu tinha pedalado poucos quilômetros nesse dia, então minha aparência era bastante apresentável. Falei que tinha ligado e que disseram que tinha vaga e que precisava de um quarto para uma noite apenas. E que teria que guardar a bike no quarto ou em algum outro local do hotel. A tal senhora respondeu que não tinha vaga, virou as costas e entrou no hotel batendo a porta na minha cara. Acho que fui vítima de “bikefobia”! Fiquei sem ação por alguns instantes, não entendendo o motivo de tratamento tão grosseiro, pois até ali eu tinha sido muito bem tratado por todos, em todos os lugares por onde tinha passado.

Saí da frente do Hotel Brasil e parei no calçadão para olhar o guia e ver se o mesmo indicava outro lugar para hospedagem. O guia indicava um hostel. Liguei no hostel, mas ninguém atendeu. Mais tarde acabei descobrindo que tal hostel tinha sido fechado há dois anos. Ficou noite e saí a procura de um lugar para dormir. Parei em um hotel simples perto de onde estava, mas o preço era absurdo para as condições do hotel. Resolvi seguir para as ruas mais afastadas daquela avenida principal, pois hotéis mais afastados de áreas centrais costumam ser mais baratos. Andei cerca de 400 metros e vi um hostel que parecia ser legal. Apertei o interfone e ouvi uma voz muita simpática vinda do outro lado. Nem perguntei o preço e falei que queria me hospedar. Demorou alguns minutos e uma moça jovem e sorridente veio me recepcionar. O nome da moça era Lua, e mais tarde fiquei sabendo que ela é ítalo-brasileira. A educação e atenção que a Lua me dispensou, me fez esquecer o péssimo tratamento que tinha recebido há pouco no velho Hotel Brasil.

O AZ Hostel tinha sido inaugurado há pouco tempo e tudo era limpo, organizado e simples. A casa onde o hostel funciona faz parte de um conjunto de bens tombados no Centro Histórico de São João del Rei, e no passado foi um dos prostíbulos da cidade. Preenchi a ficha na recepção, e a Lua me indicou um local para deixar a bike nos fundos do hostel. Tirei o alforje da bike e a Lua me levou até um quarto, no andar de cima. Era um quarto coletivo, com duas beliches. Mas eu ficaria sozinho no quarto, pois não tinham mais hospedes no hostel e no final da noite chegaria um casal que ficaria no quarto ao lado do meu. Entrei no quarto e escolhi uma cama na parte de baixo de um beliche. Tirei minhas coisas do alforje e espalhei tudo pelo chão. Fui tomar banho e o banheiro mesmo sendo coletivo, talvez tenha sido o mais limpo que utilizei na viagem. Após o banho deitei um pouco, coloquei o diário de viagem em dia e olhei o guia, para planejar o dia seguinte e decidir a que horário levantar. O dia seguinte seria de um longo e difícil pedal, por isso tinha planos de dormir cedo.

Voltei para o hostel e entrei tão silenciosamente, que a Lua não me viu chegar. Ela acabou se assustando quando me viu. Junto com ela estava sua irmã, que de tão parecida pensei que fosse gêmea da Lua. Conversei rapidamente com as duas e fui para meu quarto. Ajeitei minhas coisas e ao deitar encontrei um simpático bombom em meu travesseiro. Guardei o bombom e liguei para casa, para dar notícias e dizer que estava vivo e bem.

*Para ler o relato completo sobre esse dia de viagem, ou sobre toda a viagem pela Estrada Real, adquira o livro “Estrada Real Caminho Velho”, autor Vander Dissenha.

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Estrada Real – 3° Dia

Casa Grande/Lagoa Dourado/Prados/Tiradentes

(Resumo)

Acordei O8H00min em ponto, com ajuda do despertador do celular. Tinha dormindo mal por culpa do barulho do bar em frente, que foi até alta madrugada. E para piorar sentia muita dor nas coxas. O jeito foi tomar banho para despertar e antes do café engolir um Dorflex e um comprimido de vitaminas. Dei uma arrumada rápida em minhas coisas, coloquei a roupa de ciclismo e fui tomar café. Voltei até o quarto, me ajoelhei ao lado da cama e orei como fazia todas as manhãs, agradecendo por tudo e pedindo proteção para o dia que estava iniciando.

Os primeiros quilômetros de estrada foram tranquilos, alternando subidas e descidas, com poucas retas. A paisagem era interessante e tinham muitas árvores e sombra em vários trechos. Mas o calor estava terrível e bebi muita água nesse início de pedal. Tudo corria bem, até que numa descida encontrei algumas vacas de leite paradas no meio da estrada. Na minha viagem de bicicleta pelo Caminho da Fé em 2011, quase levei uma chifrada de uma vaca que estava deitada no meio da estrada e ao lado dela tinha um pequeno bezerro que eu não tinha visto. Depois daquele incidente do qual saí ileso por muito pouco, passei a ter cuidado e medo quando via vacas e bois soltos na estrada. Parei a uma distância segura e fiquei gritando para tentar espantar os bichos da estrada. Tacar pedras eu não faria, pois jamais feriria um animal, a não ser para me defender de um ataque. Os gritos deram resultado e as vacas saíram da estrada e seguiram em direção a um pasto próximo, que não era cercado. Como o trecho era de descida, pedalei rápido para ficar o mais distante possível das vaquinhas.

Cheguei em Lagoa Dourada pouco depois do meio dia. Uma coisa que notei é que sempre a chegada em alguma cidade é por uma grande subida. No caminho tinha visto uma placa informando que a cidade é considerada a capital do rocambole. Pensei em almoçar um rocambole, mas antes queria encontrar a Pousada dos Vertentes, que era o local indicado pelo folheto do Instituto Estrada Real, como sendo o ponto oficial para carimbar o passaporte na cidade. Entrei no centro da cidade e perguntei para um casal parado numa esquina, onde ficava o endereço da pousada. Me informaram que era próximo a catedral. Não foi difícil encontrar a pousada, o difícil foi superar a ladeira que levava até ela. Acabei empurrando a bicicleta nos últimos metros, pois estava muito cansado. A pousada funcionava em um antigo casarão e ficava numa esquina, quase em frente à catedral. O portão estava aberto e segui até a porta da pousada, onde encostei a bike e apertei a campainha. Uma senhora de idade veio me atender. Falei a ela que precisava do carimbo no passaporte da Estrada Real e ela foi pegar uma pasta, onde estava o carimbo e uma folha onde ela anotou o número do meu passaporte. A dona da pousada se chamava Aíde e se mostrou muito simpática. Começamos a conversar e ao saber que eu era do Paraná, Dona Aíde contou que seu marido é paranaense também. Ficamos alguns minutos conversando, e ela contou que o casarão tem 200 anos e sempre pertenceu a família dela. Também contou que o local sofreu algumas reformas, mas que no geral o casarão não sofreu grandes mudanças em sua arquitetura original.

Após pedalar alguns metros cheguei em um portal, onde estava escrito Estrada Parque. Na verdade a estrada passava por dentro de um Parque Estadual e por isso tinha tal nome. A estrada era de terra e logo passei a pedalar no meio da mata. Cheguei em um trecho de subida que era pavimentado por pedras irregulares. Eu estava muito cansado após pedalar o dia todo debaixo de sol quente e preferi empurrar a bike na subida. Tinha empurrado a bike poucos metros, quando surgiu uma moto com um casal. Eles pararam ao meu lado e perguntaram de onde eu era, para onde iria. Daí contaram que iam dar uma volta e logo voltariam pelo mesmo caminho. Nos despedimos e eles seguiram em frente.

Já estava pedalando quase que no escuro absoluto, quando cheguei em um trecho da estrada onde tinha pasto dos dois lados e não tinha cerca. A estrada ficava em um nível mais baixo do que o pasto. E logo dei de cara com algumas vacas e dois bezerros no meio da estrada. Eu é que não ia passar perto deles, pois tendo bezerros pequenos as vacas mães ficam estressadas e podem atacar. Como já contei antes, quase levei uma chifrada numa viagem anterior de bicicleta. Parei a bike e fui empurrando ela devagar e gritando para assustar as vacas. Elas correram pela estrada e num trecho onde o barranco era mais baixo, um bezerro e três vacas subiram pelo barranco e desapareceram no pasto. Ainda ficou a vaca que parecia ser a mais brava e um bezerro. Continuei empurrando a bike e gritando. Mas não adiantou muito, pois a vaca parou no meio da estrada e ficou me encarando. E para piorar surgiu um boi por trás, quase ao meu lado e também ficou parado no meio da estrada. Fiquei sem ação durante uns 15 minutos, esperando alguma ajuda divina. E ela veio! Surgiu uma caminhonete nas minhas costas e ao passar pela estrada ela assustou os animais, que correram pela estrada e após uns 300 metros encontraram uma subida no barranco e desapareceram no pasto. Eu não perdi tempo e segui pedalando feito louco e agradecendo em voz alta pela ajuda divina. Não demorou muito e cheguei numa estrada de paralelepípedos.

Eram 19h35min quando cheguei no centro da cidade. O movimento de carros e pessoas era intenso, talvez por ser sábado à noite. Tiradentes é uma cidade histórica, bem famosa por sua gastronomia, e muita gente vem de outras cidades para conhecer os restaurantes locais. Parei duas vezes pedir informação, até que finalmente encontrei a pousada que o guia indicava. Parei na portaria da pousada e fui atendido por uma moça sorridente, de nome Eloisa. Preenchi a ficha de hospedagem, paguei e perguntei se tinha algum local onde pudesse guardar a bike. A Eloisa disse que tinha a lavanderia, mas que não era um local muito seguro. Perguntei se podia levar a bike para o quarto e ela respondeu que sim. Mas o quarto ficava no primeiro andar e eu teria que carregar a bike por uma escada de madeira de dez degraus. Não custava sofrer mais um pouco depois de um dia muito cansativo e assim empurrei a bike escada acima. Mas o esforço foi maior do que eu esperava e dei mal jeito nas costas, sentindo muita dor.

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Viagem ao Peru e Bolívia (13° Dia)

27/05/2012

Levantei um pouco mais tarde, pois além de estar adoentado iria passar a noite viajando de ônibus, então preferi ficar um pouco mais curtindo a cama macia do hostal. Quando levantei fui buscar as roupas que tinha deixado na lavanderia. Veio tudo limpinho, passado, dobrado dentro de um saco plástico. Serviço de primeira e por um preço muito em conta. No hostal arrumei minhas coisas, guardei tudo nas mochilas e fechei a conta. Deixei as mochilas guardadas no hostal, em um depósito e saí. Fui até o centro e dei uma volta pela Plaza de Armas, onde estava acontecendo um novo evento cívico, com bandeiras sendo hasteadas, estudantes desfilando. Dei uma rápida olhada no desfile e fui me sentar um pouco na praça em frente, tomar sol.

Eram quase 11h00min quando resolvi almoçar no Bembos. Ainda estava cedo, mas estava com fome e queria aproveitar que o Bembos ainda estava vazio. Depois que o desfile acabasse ele ia ficar lotado. Olhei o cardápio, escolhi um sanduiche gigante e calórico. O sanduba não estava muito saboroso, mas mesmo assim não deixei sobrar nenhum farelo. Olhei a tv e vi que ia começar as 500 milhas de Indianapolis, prova de Fórmula Indy. Então resolvi ficar mais um tempo ali e assistir a corrida, pois queria ver como o Rubens Barrichello se sairia em sua primeira corrida em circuito oval. Fiquei um bom tempo vendo a corrida e quando começou a encher de gente resolvi ir embora, para liberar a mesa para quem ia comer.

Nesse dia eu não tinha nada para fazer, só precisava esperar o tempo passar e chegar a hora de pegar o ônibus para ir embora de Cusco. Por culpa da dor de garganta estava com pouca disposição para andar, então fiquei matando tempo. Sentei-me num banco de uma praça mais afastada do centro e fiquei ali observando o movimento e as pessoas. Depois fui dar uma volta pela região próxima ao meu hostal, numa parte em que a cidade avança morro acima. Fiquei andando pelas ruelas do lugar, olhando as construções, que são bastante parecidas, as diferenças estão nos detalhes. E em Cusco praticamente todas as construções são na cor branca e umas poucas na cor bege. Passei por ruas tranquilas com pouca gente e logo voltei ao centro. Tirei fotos de prédios, de pessoas, de coisas que achei curiosas. E tudo com a maior discrição, principalmente quando fotografava alguma pessoa. Eu ficava de longe e utilizava o zoom da câmera. E assim passei o dia e quando anoiteceu o frio chegou e resolvi dar uma última volta pelo centro. Cusco é uma cidade da qual gostei muito e nessa segunda visita à cidade consegui conhecer muito mais coisas. E não sei se voltarei ali algum dia. Espero que sim, pois é um lugar que vale a pena voltar quantas vezes for possível.

Fui até uma confeitaria comer uns doces de que tinha gostado. Tinha um folheado recheado de doce em leite, em forma de canudo que era uma delicia. E também tinha outro doce, feito com massa integral e recheio de doce de leite, que também era muito bom. Se não gostei da comida no Peru, ao menos os doces eu adorei. Quando ia entrar na confeitaria, passei em frente a um latão cheio de lixo e algo me chamou a atenção. Voltei e olhei no latão de lixo mais de perto e vi que meus olhos não tinham me pregado uma peça. Ali no meio do lixo tinha uma nota novinha de $ 50,00 soles. Peguei a nota e olhei para ver se tinha mais alguma à vista. Não vi mais nenhuma e logicamente não ia revirar o lixo para procurar mais notas. Como tal nota foi parar no lixo é um mistério! Entrei na confeitaria, comprei os doces e saí comendo pela rua. Passei pelo muro dos incapazes e fui até a Plaza de Armas. Resolvi que ia jantar pizza na mesma pizzaria onde tinha comido na noite anterior com minhas amigas chilenas. Escolhi o mesmo sabor de pizza e paguei a conta com a nota de $ 50,00 que tinha achado no lixo… kkkk

Fui até o hostal, peguei minhas mochilas e embarquei num taxi rumo à rodoviária. Comprei o boleto de taxa de embarque, sentei numa cadeira e fiquei esperando o horário do meu ônibus partir. Vi muitos mochileiros perambulando pela rodoviária, tinha gente de toda parte do mundo. Às 22h00min fui para o embarque, coloquei minha mochila grande no bagageiro e embarquei. Minha poltrona era sozinha, larga e confortável, mas o local para colocar as pernas era curto e isso causou certo incomodo. Logo partimos e fui ouvindo música para passar o tempo. A temperatura interna estava muito alta, chegou a 28 graus e por estar com a garganta inflamada e numa região de alta altitude, eu não conseguia respirar direito. Fui tentar falar com o motorista, mas não tinha contato interno entre a cabine de passageiros e a cabine do motorista. Subi até a parte de cima dar uma olhada e lá a temperatura estava agradável. Procurei uma poltrona vazia e não encontrei nenhuma. As poltronas ali não eram leito, mas eram confortáveis. Vi que não tinha sido vantagem pagar um pouco mais caro para ir na parte de baixo, nas poltronas leito. Me sentei na escada que unia os dois andares do ônibus e fiquei ali ouvindo música. Viajei por duas horas sentado na escada e quando o frio começou a ficar insuportável, voltei para minha poltrona. Tinham desligado o aquecedor e a temperatura na cabine leito ficou mais agradável. Me ajeitei em minha poltrona e logo peguei no sono, em minha última noite em solo peruano.

Hostal Pirwa, onde fiquei nos últimos dias em Cusco.
Meu quarto no hostal.
Ruas de Cusco.
Na Plaza de Armas.
Almoço no Bembos.
Cusco.
Doces que foram minha perdição.
Plaza de Armas.
Imagens de Cusco.
Imagens de Cusco.
Imagens de Cusco.
Imagens de Cusco.
Imagens de Cusco.
Imagens de Cusco.
Imagens de Cusco.
Imagens de Cusco.
Imagens de Cusco.
Na rodoviária de Cusco.

Viagem ao Peru e Bolívia (4° Dia)

18/05/2012

Chegamos à Cuzco pouco depois das 5h00min. Fazia frio e o desembarque na rodoviária foi tranqüilo. Logo que desembarcamos, eu e Tiago fomos abordados por um cara que dizia ser dono de um hostal. Resolvemos ir para o hostal dele, pois pelo folder que ele nos mostrou parecia ser bom e o preço não era ruim. Embarcamos num táxi e fomos até o centro de Cuzco, na parte alta, onde ficava o hostal. Logo fomos para um quarto com duas camas. Ao entrar no quarto constatamos que ele não era bem como mostravam as fotos do folder, mas já que estávamos ali era melhor ficar. Estavámos cansados, fazia frio e logo fomos para as camas dormir.

Acordamos às 8h30min e descobrimos que nosso quarto não tinha água. Após uma rápida conversa na portaria, mudamos para outro quarto. Tomei um delicioso banho quente e fui dar uma olhada na parte dos fundos do hostal, de onde se tinha uma bela vista de parte da cidade.

Eu e Tiago saímos e fomos dar uma volta pelo centro da cidade e também pela região da Plaza de Armas. Tiramos fotos e fomos para uma região mais afastada, próximo ao Mercado Municipal. Nessa região funcionavam os açougues da cidade e o que vimos era um pouco assustador. As carnes e frangos ficavam em exposição nas portas ou em mesas na frente dos estabelecimentos, tudo sem refrigeração. Andamos mais um pouco pela região e também vimos gente vendendo carne no chão, em cima de um saco. Ao passar em frente a um estabelecimento vimos uma mulher tirando de dentro de um porco morto, um punhado de fezes com a mão e jogando na rua. Eu que já não pretendia comer em qualquer lugar enquanto estivesse no Peru, depois do que vi é que não ia comer carne onde quer que fosse. Tiramos algumas fotos, andamos mais um pouco pelo centro e então fomos pesquisar preços em algumas agencias de turismo. O Tiago queria saber preços para Machu Picchu e eu para a Trilha Salkantay. Entramos em algumas agencias e vimos que os preços não mudavam muito de uma para outra. Então fomos num escritório de informações turísticas que funciona bem no centro da cidade. Ali fomos informados que não podiam indicar agencias, mas que podíamos ir até lá com os nomes das agencias que tínhamos escolhido para ver se eram agencias autorizadas, ou se constavam da lista negra com alguma reclamação registrada.

Fomos a mais algumas agencias, pesquisamos preços, anotamos os nomes e retornamos ao centro de informações turísticas, para ver se elas tinham alguma reclamação registrada. Descobri que a agencia com a qual queria fechar a Trilha Salkantay tinha um reclamação registrada em setembro de 2011. O Tiago comprou no centro de informações um ingresso que dá direito a alguns passeios e entrada em museus. Pagou $ 110,00 soles por tal ingresso. Em seguida fechou com uma agencia um city tour pela cidade. Eu preferi não fazer tal city tour, pois já conhecia do ano passado parte dos locais por onde o city tour passaria.

O Tiago seguiu para o city tour e eu fui almoçar no Bembo’s que fica em frente a Plaza de Armas. O Bembo’s é uma rede peruana de fast food. Os preços são um pouco menores que o Mc Donald’s, que fica do outro lado da Plaza de Armas, mas minha escolha se deu em razão das opções de comida serem diferentes. Escolhi um prato com ovo frito e batatas fritas que estava muito bom. Após almoçar voltei ao hostal e separei algumas roupas sujas. Daí fui numa lavanderia próxima e deixei a roupa para lavar. Me cobraram $ 3,00 soles para lavar e passar 1 kg de roupa, que estaria pronta no final da tarde. Voltei ao hostal e descansei um pouco.

No meio da tarde resolvi sair, mas antes fiz uma “limpeza” em minha carteira, pois estava com dinheiro de quatro países diferentes. Guardei as notas de real, de bolivianos e algumas de dólar. Fui para o centro da cidade e ao passar ao lado da catedral vi minha amiga Heverly sentada na escadaria da igreja. Ela é de Londrina e estava em Cuzco junto com um grupo do Londrinapé Caminhadas. Foi uma grata coincidência encontrá-la ali. Eu sabia que o grupo estaria no Peru por aqueles dias, pois iam fazer a Trilha Inca. Após conversar um pouco com a Heverly e contar as novidades, fui andar um pouco com o grupo de Londrina, pois eles estavam com um guia fazendo um city tour pela cidade. Após meia hora eles embarcaram em um ônibus para continuar com o city tour e eu fui andar mais um pouco pela cidade. Combinei com a Heverly de nos encontrarmos a noite na Plaza de Armas para irmos comer uma pizza.

Caminhei um pouco pelo centro da cidade, usei internet, comi um empanada, olhei algumas lojas de artesanato e finalmente resolvi fechar a Trilha Salkantay com um agencia em frente a Plaza de Armas. O cara da agencia falava bem o português em razão de sempre atender clientes brasileiros. Fechei o pacote de quatro dias para a trilha por U$ 200,00 com tudo incluso; transporte, alimentação, guia, passagem de trem na volta, entrada para Machu Picchu. Aproveitei e também fechei por U$ 24,00 um tour pelo Vale Sagrado para o dia seguinte. Voltei para o hostal no final da tarde e no caminho passei pegar minha roupa na lavanderia. Estava tudo limpinho e passado, até meias e cuecas.

O Tiago chegou do city tour no começo da noite e contei a ele que tinha acabado de descobrir que o novo quarto também não tinha água. Ele desceu para reclamar na recepção e logo nos mandaram ir para outro quarto, no andar de baixo. Nos ajeitamos no novo quarto, tomamos banho e saímos. Fomos para o centro e após caminhar um pouco pela região da Plaza de Armas, o Tiago foi lanchar numa suqueria e eu no Bembo’s. Nos encontramos novamente e fomos dar mais um volta. Entramos num museu onde estava tendo um evento folclórico, com alguns músicos. Não nos demoramos ali e fomos andar mais um pouco. Logo nos separamos e enquanto o Tiago voltou para o hostal eu fui tentar encontrar a Heverly. Nos desencontramos e esperei por ela durante uma hora, até que resolvi voltar ao hostal, pois estava ficando muito frio. No hostal fiquei um pouco usando a internet e logo fui dormir, pois no dia seguinte teria que levantar bem cedo.

PS: Para saber mais sobre a cidade de Cuzco, acesso o link abaixo, que é do próprio Blog e foi postado em janeiro de 2011 quando de minha visita anterior à cidade.  http://vanderdissenha.wordpress.com/2011/01/28/cuzco/

Vista de Cuzco a partir dos fundos do hostal onde fiquei.
Frangos a venda.
Minha carteira com dinheiro de quatro diferentes países.
Uma das muitas igrejas de Cuzco.
Com Heverly, que encontrei sem querer em Cuzco.
Centro de Cuzco.
Cuzco.
Plaza de Armas.
Carmen Alto, a estreita rua do hostal.
Passeando na Plaza de Armas.

Viagem ao Peru e Bolívia (1° Dia)

15/05/2012

Após ter adiado a viagem por 15 dias em razão de dores em minhas hérnias de disco, finalmente chegou o dia de partir para a tão esperada viagem rumo a Bolívia e Peru. Essa viagem não estava programada, na verdade existia o plano de quando possível retornar ao Peru para conhecer melhor a cidade de Cusco e para fazer a Trilha Salkantay. Em 2011 passei uns dias em Cusco e me encantei pela cidade e prometi que voltaria. Nessa mesma viagem percorri a Trilha Inca até Machu Picchu e como não foi possível visitar a montanha de Wayna Picchu, que fica dentro de Machu Picchu, a vontade de retornar era imensa. E de repente tudo contribuiu para que tal viagem pudesse acontecer. Fiz os planos básicos e resolvi incluir a Bolívia no roteiro de viagem, pois queria fazer alguns passeios neste país, entre os quais descer a Estrada da Morte de bicicleta e também escalar minha primeira montanha nevada. Eu tinha milhas da Gol, mas seu único destino na Bolívia é Santa Cruz de La Sierra. Então resolvi ir até essa cidade utilizando minhas milhas da Gol e de lá seguir de ônibus até o Peru. Gosto de viajar de ônibus, para mim não é problema viajar longas distâncias utilizando tal meio de transporte.

Tinha dormido em Maringá e logo cedo fui encontrar meu irmão num shopping. Troquei dinheiro e creditei dólares em meu cartão da Confidence. É mais seguro viajar com um cartão para saques em terminais ATM do que viajar com dinheiro em espécie. O que me deixou um pouco triste foi que o dólar tinha subido 20 centavos nos últimos trinta dias, o que encarecia um pouco a viagem. Feito os últimos acertos para a viagem deixei meu carro no estacionamento do shopping, onde um amigo o pegaria depois e deixaria estacionado em outro local. Meu irmão me  levou ao aeroporto, onde almocei e depois fiz o chekin internacional, despachando minha mochila grande direto para a Bolívia. Em seguida me despedi de meu irmão e fui para a sala de embarque.

O primeiro trecho da viagem foi tranqüilo, um vôo de uma hora até Guarulhos. Aproveitei para ler um pouco durante a viagem. Em Guarulhos fiquei no setor de conexão e após duas horas de espera embarquei num vôo para Campo Grande. Pouco mais de uma hora de um vôo tranqüilo e desembarquei em Campo Grande. Estava com fome e resolvi sair para fora do aeroporto para ver se encontrava algum local próximo para comer algo, já que dentro de aeroportos os preços são abusivos, um verdadeiro assalto ao viajante. Dei sorte e vi que do outro lado da avenida em frente ao aeroporto tinha um posto de gasolina com lanchonete. Vi que era seguro ir até lá, pois tinham policiamento no local. Fui até o posto, lanchei por um preço bem em conta e retornei ao aeroporto. Fiquei seis horas esperando meu vôo para a Bolívia, contando o fuso horário de uma hora a mais de Campo Grande com relação ao horário de Brasília. Para passar o tempo fiquei vendo filmes no note book e também caminhei um pouco pelo aeroporto, que é bem pequeno.

Finalmente chegou a hora do embarque rumo à Bolívia. Já era quase meia noite quando passei pelo raio x e aduana. Meu tubo de pasta de dentes foi confiscado da bagagem de mão. Mesmo o tubo estando quase vazio a justificativa foi que era um tubo de mais de 100 ml, por isso não podia levá-lo na bagagem de mão. Achei uma idiotice isso, excesso de zelo idiota, mas deixei pra lá. Sentei-me na sala de embarque que é minúscula e fiquei esperando o embarque. Não foi a toa que Campo Grande ficou de fora na escolha das sedes da Copa do Mundo de 2014, pois seu aeroporto é muito pequeno para uma capital é menor que muito aeroporto de cidade de interior do Brasil.

O embarque foi feito na pista, com um vento de congelar. O avião estava lotado, com muita gente já embarcada vindas de São Paulo. O vôo até Santa Cruz de La Sierra foi tranqüilo e aproveitei para dormir um pouco. Chegando a Santa Cruz de La Sierra o desembarque foi rápido e segui para o setor de imigração. Eu estava com uma camiseta do Caminho de Peabiru e um rapaz que estava a minha frente na fila perguntou se eu era de Peabiru ou de Campo Mourão? Respondi que era de Campo Mourão e ele disse que era de Peabiru e que morava há quinze anos na Bolívia. Ele e a esposa estavam vindo de Curitiba. Ficamos conversando na fila, que era bem lenta. Um guarda pediu para ver meu passaporte e ao folhear viu que tinham muitos carimbos e ficou olhando um por um. Depois de um tempo ele resolveu olhar o passaporte novamente e dessa vez encontrou o visto canadense e o carimbo de minha visita ao Canadá em 2011, que estão numa folha separada mais a frente no passaporte. Então ele olhou mais duas vezes o passaporte, bem detalhadamente. Achei estranho tal procedimento por parte de tal guarda. Ao passar pela imigração o guarda me perguntou quanto tempo eu ficaria na Bolívia e respondi que apenas dois dias, pois estava de passagem rumo ao Peru. Então ele me disse para tomar cuidado no Peru, pois é um país muito perigoso. Achei engraçado seu comentário, pois é justamente o contrário, a Bolívia é mais perigosa que o Peru. Segui para outra fila onde dei sorte e ao apertar o botão de revista deu sinal verde e pude passar sem ter minha bagagem revistada. O casal de Peabiru estava me esperando para se despedirem.

Eram três e meia da manhã e não compensava ir para um hotel, pois logo cedo eu pretendia ir para a Rodoviária e pegar um ônibus para La Paz. Então fiquei de bobeira andando de um lado para outro no aeroporto. A Bolívia era o nono país que eu conhecia (sem contar o Brasil). Fui tentar sacar dólares, mas não encontrei nenhum caixa ATM. Por sorte eu tinha levado U$ 150,00 em espécie e troquei U$ 50,00 numa agencia de cambio. O boliviano (moeda local) estava valendo 3,18 por cada um real, o que era um bom valor, sinal de que o real está valorizado na Bolívia. Estava começando a ficar com fome e às 4h00min resolvi fazer um lanche num Subway dentro do eroporto. Depois fiquei lendo um gibi e daí resolvi ligar o note book para tentar piratear algum sinal de internet. Dei sorte e consegui acessar uma rede de alta velocidade que estava desprotegida. Então fiquei navegando na internet até o dia amanhecer.

Aeroporto de Santa Cruz de La Sierra.
No aeroporto esperando o dia amanhecer.

Voltando ao Brasil

Acabei tendo que voltar ao Brasil antes do planejado. Quando saí do Brasil minha passagem de volta estava marcada para final de janeiro. Mas existia a possibilidade de ter que retornar antes ou até mesmo não retornar. No fim assuntos pendentes me fizeram pagar U$ 200 de multa para mudar a passagem e antecipar minha volta. Se não retorno agora ao Brasil o prejuízo seria bem maior que os U$ 200 que paguei de multa. Mas tudo bem, ter que voltar antes do planejado não é nenhum problema, não me deixa triste e nem frustrado. O período que fiquei fora foi muito bom, conheci novos lugares, fiz novos amigos. Também revi certos lugares e alguns amigos. No final das contas foi válido cada dia, cada hora, cada minuto que passei fora do Brasil nessa viagem. Alguns momentos, alguns lugares serão inesquecíveis.

Mudei a passagem num dia e no outro já estava com as malas prontas e embarcando para casa. No aeroporto tive problemas com o peso de uma mala, e queriam me cobrar U$ 100 pelo excesso. O jeito foi abrir minhas duas malas no chão do aeroporto e mudar algumas coisas de uma mala para outra. No fim não precisei pagar excesso e uma das malas ficou somente com 200 gramas abaixo do peso permitido. O vôo de Orlando a Miami foi tranqüilo, apenas a conexão é que ficou com horário apertado, e mal desci de um avião já tive que embarcar em outro.

No vôo rumo ao Brasil fiquei num lugar bom, mas outra vez dei azar e veio um cara enorme do meu lado. E o pior é que o cara cheirava muito a suor. Tive que me espremer no canto da janela, ligar o ar no último e direcionar a saída do ar para o meu rosto. Isso aliviou o cheiro ruim, mas em compensação o ar frio me fez chegar ao Brasil resfriado. E a parte mais chata da viagem foi quando o avião estava preparado para decolar, já estava entrando na pista principal e de repente parou, as turbinas pararam. Ficamos um bom tempo ali parados e dava para ouvir o ruído das turbinas tentando serem ligadas. Era algo parecido com um carro que não quer dar partida e você fica forçando. Depois de uns 15 minutos nessa situação o piloto avisou pelo rádio que estavam com problemas no computador de bordo e caso não conseguissem solucionar o problema, logo ele voltaria avisando quais providências seriam tomadas. Nesses caso nunca sei se é melhor saber que estamos com um problema, ou não saber de nada! Sei que depois de 15 minutos finalmente conseguiram ligar as turbinas e foi dado o aviso que a decolagem seria feita. Mas aí já era tarde, a tensão era geral. Fiquei pensando se tinham mesmo resolvido o problema de uma forma definitiva, ou se o computador de bordo daria nova pane durante o vôo? Daí fica aquela duvida, será que iam decolar com uma aeronave com problemas? Ou iam arriscar, já que cancelar ou atrasar o vôo causaria alguns problemas e prejuízos para a Companhia Aérea? No fim das contas perdi o sono e qualquer ruído diferente durante o vôo era motivo para muitos passageiros olharem para os lados de forma apreensiva. Foram quase oito horas de vôo até chegar a São Paulo e não dormi um minuto sequer. Para passar o tempo e me distrair, assisti a quatro filmes.

O desembarque foi tranqüilo e mais tranqüilo ainda foi passar pela Receita Federal. Simplesmente não tinha fiscalização, estavam liberando todo mundo. Eu estava trazendo coisas acima da cota permitida e fiquei aliviado ao ver que não tinha fiscalização. E teve gente que ficou mais aliviada do que eu, pois traziam muitas malas, muita mercadoria, muitos aparelhos eletrônicos. Isso mostra mais uma vez que no momento o Brasil não tem capacidade para dar um tratamento adequado à demanda de passageiros que entram e saem de nosso pais. Será que terão na época da Copa e da Olimpíada? E outra constatação foi que Guarulhos, nosso maior e melhor aeroporto, é um “lixo” comparado aos muitos aeroportos por onde passei nessa viagem. Realmente estamos no terceiro mundo em termos de infra-estrutura. Independente disso tudo, foi bom voltar para casa.

Agora é dar uma parada nas viagens, e recomeçar minha vida. Quinze meses parado, cuidando da saúde, descansando e viajando muito foram suficientes para me deixar completamente curado de meus problemas. Posso dizer que hoje sou um novo homem, com uma nova visão sobre a vida e sobre muitas coisas. Essa última viagem me permitiu pensar muito e ajustar algumas coisas que ainda não estavam bem certas. Hoje sei o que quero, sei qual rumo dar a minha vida. E decidi que certas coisas e certas pessoas não quero mais em minha vida. Tem algumas pessoas que se possível nunca mais quero ver, nunca mais quero falar com elas, ou saber algo sobre elas. Para mim simplesmente “morreram”. Em contrapartida tem pessoas que surgiram em minha vida recentemente e que são muito importantes. E espero que com o passar do tempo essas pessoas se tornem ainda mais importantes. É isso aí! Vida nova, novos planos, novos sonhos… O que passou ficou no passado e com o tempo tudo será esquecido. O que importa são as lições que aprendi com tudo o que passei, principalmente com as dificuldades. Agora é cabeça erguida e uma nova vida pela frente. Amém!!!

Aeroporto de Miami.

Férias 2009 – Petropólis

De Cabo Frio segui de ônibus para Petrópolis. O chato foi levantar de madrugada em plenas férias para pegar o único ônibus que liga estas duas cidades e que sai ás 06h15min. Por sorte a pousada onde estava hospedado ficava distante somente 200 metros da Rodoviária.

Estive em Petrópolis em julho de 96, numa visita rápida que durou menos de um dia. Daquela vez ficou uma sensação de quero mais, pois não foi possível visitar todos os pontos turísticos e principalmente a parte de cima do Palácio Imperial, que estava em reformas na época. Dessa vez iria dedicar quase dois dias para visitar a cidade e já tinha agendado uma visita ao acervo do Palácio Imperial, para obter informações e colher material para um projeto futuro.

Desembarquei em Petrópolis pouco antes das 10h00min e descobri que agora existe uma rodoviária nova que fica bem afastada da cidade. Por outro lado isso foi bom, pois tive que pegar um ônibus urbano que rodou por vários lugares da periferia da cidade e dessa forma pude ver muitas construções antigas e locais interessantes. Hospedei-me num hotel que fica em frente á antiga rodoviária, bem no centro da cidade. O hotel é de 1948 e parece não ter sofrido muitas reformas desde então. O ponto negativo foi o cheiro quase insuportável de cigarro no quarto.

Á tarde iniciei a visita pela cidade andando despreocupadamente pelo centro e depois passei por pontos turísticos que já conhecia e outros que não conhecia. Consegui um mapa num posto de informações turísticas e isso facilitou meu passeio, pois o mapa tinha boas indicações e principalmente porque a maioria dos locais que me interessava visitar ficavam próximos.

Os principais locais que visitei nesse dia foram:

Catedral de São Pedro de Alcântara = Sua pedra fundamental foi lançada em 1884 e sua construção é em estilo neogótico francês. Em seu interior, ao lado direito da porta de entrada fica a Capela Imperial, onde estão os restos mortais de D. Pedro II, de sua esposa Teresa Cristina, do Conde D´Eu e da Princesa Isabel. Quase fui preso ao visitar a Capela Imperial, pois ela é cercada por grades e ao tirar fotos resolvi subir na grade para ter um ângulo melhor. Alguns visitantes viram e foram dizer ao segurança que eu estava querendo pular a grade. Mas após as explicações tudo ficou bem.

Só pra constar, D. Pedro II e Dona Teresa Cristina morreram no exílio, na França. Foram sepultados em Portugal, no Panteão dos Bragança, no Convento de São Vicente de Fora, em Lisboa. Em 1922, com a Lei do Banimento sendo revogada, tiveram seus restos mortais enviados para o Brasil e em 1939 foram sepultados na Catedral de Alcântara. Um fato curioso é que D. Pedro II quando faleceu foi embalsamado e durante quase vinte anos seu corpo podia ser visitado do Panteão dos Bragança, pois o caixão tinha uma tampa de vidro. Em 1911 o corpo começou a se decompor e então resolveram cobrir a tampa de vidro.

Casa de Rui Barbosa = Residência onde Rui Barbosa escreveu muitas de suas obras e onde ele permaneceu até falecer.

Casa da Princesa Isabel = Comprada em 1876 pela princesa Isabel e o Conde D´Eu, nela residiram até a proclamação da República, quando então foram banidos do Brasil.

Casa do Barão de Mauá = Construção em estilo neoclássico foi residência do Barão de Mauá, importante empreendedor da época do Império e um dos mais famosos empresários na história do Brasil.

Palácio de Cristal = Foi construído na França em 1879, para a Associação Hortícola de Petrópolis, da qual era presidente o Conde D’Eu, marido da Princesa Isabel. Foi destinado a servir de local para exposições e festas. Foi inaugurado em 1884 e a mais bela festa realizada nele foi no domingo de Páscoa de 1888, na qual a princesa Isabel junto a seus filhos entregou cartas de alforria a escravos, a maioria indenizando os seus senhores com campanha de arrecadação desenvolvida na cidade. Tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, integra o conjunto arquitetônico e paisagístico da Praça da Confluência.

Palácio Rio Negro = Em 1889 o Barão do Rio Negro comprou o terreno onde seria erguido o seu palácio de verão. Em fevereiro de 1896, o Palácio e a casa ao lado, pertencentes a um dos filhos do Barão, foram vendidos ao Estado do Rio de Janeiro para servir de residência oficial do governante. Em 1903, o Palácio foi incorporado ao Governo Federal e passou a ser residência oficial de verão dos presidentes da República. Desde então, por ali passaram Rodrigues Alves, Afonso Pena, Nilo Peçanha, Hermes da Fonseca, Wenceslau Brás, Epitácio Pessoa, Artur Bernardes, Washington Luiz, Getúlio Vargas, Gaspar Dutra, Café Filho, Juscelino Kubitschek, João Goulart e Costa e Silva. No verão de 1996/1997, quando o Palácio estava completando 100 anos na função de residência oficial do governo, a tradição foi reinventada. Através de um gesto ritual, a presidência da República voltou a se instalar no Palácio Rio Negro.

 

Catedral de Alcântara, Palácio de Cristal e Casa de Mauá.
Catedral de Alcântara, Palácio de Cristal e Casa de Mauá. (11/05/2009)

 

Catedral de Alcântara.
Catedral de Alcântara. (11/05/2009)
Capela Imperial, onde no meio estão D. Pedro II e Dona Teresa Cristina, do lado esqeurdo a Princesa Isabel e do lado direito o Conde D´Eu.
Capela Imperial, onde no meio estão D. Pedro II e Dona Teresa Cristina, do lado esquerdo a Princesa Isabel e do lado direito o Conde D´Eu. (11/05/2009)
Acima a "Casa de Rui Barbosa"  e abaixo o "Palácio Rio Negro". (11/05/2009)
Acima a “Casa de Rui Barbosa” e abaixo o “Palácio Rio Negro”. (11/05/2009)
Casa da Princesa Isabel. (11/05/2009)
Casa da Princesa Isabel. (11/05/2009)