Na verdade o mundo exterior simplesmente topou de repente com Machu Picchu, pois ela nunca havia sido perdida para aqueles que viviam próximos a ela. E essas mesmas pessoas que viviam nas proximidades da cidade “perdida”, foi que levaram o explorador e professor americano Hiram Bingham e sua equipe para o local em 1911. Inicialmente Bingham não viajou para a América do Sul para explorar a terra dos Incas. Na verdade, ele viajou para a América do Sul para concluir seu estudo sobre Simón Bolívar. Em dezembro de 1908, Bingham participou do Primeiro Congresso Científico Panamericano, em Santiago, Chile. Foi aí que ele decidiu seguir a antiga rota de comércio espanhola que ia de Buenos Aires até Lima. E foi assim que ele acabou passando por Cuzco, onde conheceu J. J. Nunes, então prefeito da região de Apurimac, que o convidou para uma árdua viagem até as ruínas de Choquekirau. Bingham, pensou na época que esse poderia vir a ser o local de Vilcabamba, o há muito procurado “último lugar de descanso dos Incas“.
Em seu retorno aos Estados Unidos, Bingham decidiu organizar uma expedição ao Peru. Ele chegou a Lima em junho de 1911, onde começou a estudar as crônicas de Antonio de la Calancha e Fernando de Montesinos, escritas no século XVII. Estas crônicas inspiraram Bingham a buscar as duas últimas capitais dos Incas: Vilcabamba e Vitcos. Saindo de Lima em julho, Bingham voltou a Cuzco, de onde viajou a pé e de mula pelo Vale do Urubamba, Ollantaytambo e garganta do Urubamba. Em 23 de julho, Bingham e sua comitiva acamparam junto ao rio, em um lugar chamado Mandor Pampa. Isso despertou a curiosidade de Melchor Arteaga, um agricultor local. Através do Sargento Carrasco, o policial que foi seu guia e intérprete, Bingham ouviu de Arteaga que havia extensas ruínas no alto da serra em frente ao acampamento de Arteaga. O local era chamado de Machu Picchu, ou “velha montanha”.
Segundo Bingham, “A manhã de 24 de julho amanheceu com uma garoa gelada. Arteaga tremia e parecia inclinado a ficar em sua cabana. Ofereci-me para pagar-lhe bem, se ele me mostrasse as ruínas. Ele recusou e disse que era muito difícil uma subida em um dia tão molhado. Mas quando ele descobriu que eu estava disposto a pagar-lhe três ou quatro vezes seu salário normal, ele finalmente concordou em ir. Quando perguntado onde ficavam as ruínas, ele apontou para cima, para o topo da montanha. Ninguém supôs que elas seriam particularmente interessantes, e ninguém se interessou em ir comigo”. Acompanhado apenas pelo Sargento Carrasco e Arteaga, Bingham deixou o acampamento por volta das 10h00min. Depois de algum tempo de caminhada atravessou uma ponte tão provisória, que o intrépido explorador precisou rastejar de joelhos sobre ela. Depois de atravessar o rio, subiram uma ladeira íngreme até que chegaram ao cume da montanha por volta do meio-dia. Ali Bingham descansou em uma pequena cabana onde apreciou a hospitalidade de um grupo de camponeses. Eles lhe disseram que viviam ali há cerca de quatro anos e que haviam encontrado um extenso sistema de terraços em cujo solo fértil tinham decidido aumentar as suas colheitas. Disseram a Bingham que as ruínas que ele buscava estavam perto. Então lhe cederam como guia um garoto de 11 anos de idade, Pablito Alvarez. Após caminhar um pouco, Bingham visualizou uma grande quantidade de terraços antigos. Eles somavam mais de uma centena e tinham sido recentemente retirados da floresta e reativados. Liderado pelo menino, ele entrou na floresta que seguia além dos terraços e começou a avistar uma série de paredes de granito branco, que o historiador imediatamente considerou os melhores exemplos de alvenaria, que ele jamais tinha visto. Eles eram os restos do que hoje se chama túmulo real, o templo principal, e o Templo das Três Janelas. Hiram Bingham ficou extremamente inspirado pela beleza da região que ele estava explorando.
Outras pessoas viram e viveram em Machu Picchu antes de Hiram Bingham sequer botar os pés no Peru, mas não tinha nem meios e nem a oportunidade de trazer a “cidade perdida” para a atenção do mundo exterior. Já em 1894, um fazendeiro local chamado Agustín Lizárraga levou um senhor de nome Luis Ugarte até a cidade antiga. Então Luis Ugarte convidou dois amigos para uma viagem até as ruínas em busca de tesouros. Em 14 de julho de 1901, os três amigos visitaram todas as partes acessíveis de Machu Picchu. Quando Bingham chegou às ruínas, encontrou a rocha que os três amigos tinham assinado com os seus nomes e a data de sua visita. Em seus escritos, porém, Bingham minimizou essa descoberta.
Bingham chamou Machu Picchu de ”A Cidade Perdida dos Incas”. Em 1912 Bingham voltou ao local à frente de uma expedição e acompanhado de especialistas, escavadores, topógrafos e assistentes para explorar, desflorestar e realizar pesquisas arqueológicas. Os trabalhos foram patrocinados pela Universidade de Yale e pela National Geographic Society. Em 1914 e 1915, Bingham com ajuda de outros exploradores, fez mapas e explorou detalhadamente o local e seus arredores. Fez escavações consideradas pouco ortodoxas em diversos lugares de Machu Picchu. Reuniu dezenas de objetos, entre vasos, peças de bronze, cobre, prata e de pedra, entre outros materiais. Bingham reconheceu também outros importantes grupos arqueológicos nas imediações: Sayacmarca, Phuyupatamarca, a fortaleza de Vitcos e importantes trechos de caminhos (Trilha Inca), todos eles interessantes exemplos da arquitetura desse império. A expedição de Bingham, patrocinada não somente pela Universidade de Yale como também pela National Geographic Society, foi registrada em uma edição especial da revista, publicada em 1913, contendo um total de 186 páginas, que incluía centenas de fotografias.
Hiram Bingham declarou não ter encontrado objetos de ouro em Machu Picchu, mas até hoje essa informação é questionada. Muitos acreditam que ele possivelmente retirou peças de ouro do local e levou para os Estados Unidos de forma clandestina. De acordo com especialistas do Peru, vários lotes importantes de objetos saíram do território peruano de forma irregular, através da Bolívia. Já o material retirado legalmente por ele, cerca de 5.000 mil objetos declarados, foi enviado para a Universidade de Yale, com autorização do governo peruano. O presidente peruano da época, Augusto B. Leguía, havia concedido temporariamente a saída desses objetos do Peru. As peças saíram do país emprestadas em 1912, como recompensa pelo trabalho dos exploradores e estudiosos, mas com a condição de serem devolvidas posteriormente, o que nunca aconteceu. A National Geographic, confirmou esta interpretação dos documentos assinados na altura da saída das peças. Yale, pelo contrário, defende que o código civil peruano de 1852, vigente na altura em que os objetos saíram do Peru, permitia que quem encontrasse vestígios arqueológicos podia mantê-los de forma permanente.
No que diz respeito a repatriar esses objetos, nos últimos anos o governo peruano tem insistido na devolução dos mesmos, mas até o momento não obteve êxito. Um inventário minucioso dos tesouros de Machu Picchu, realizado recentemente na Universidade de Yale mostrou que não foram somente cerca de 5.000 objetos que Bingham teria retirado de Machu Picchu e região e levado para os Estados Unidos, mas sim que a quantidade de objetos é 10 vezes maior. Segundo o inventário, são 46.332 objetos, distribuídos em 5.728 lotes: 3.497 lotes de cerâmica, 126 lotes de restos humanos, 11 lotes de metais, e 1.038 lotes relacionados à fauna. O inventário foi feito nas instalações do Museu Peabody, na Universidade de Yale. As negociações entre o governo peruano e a Universidade de Yale, que detém os objetos na sua coleção permanente, arrastavam-se há anos. As duas partes não chegaram a um acordo sobre o número de peças que Yale tem a devolver. O governo peruano contratou advogados nos Estados Unidos, e tenta a devolução dos objetos.
Hiram Bingham tornou-se rico e famoso, publicou vários trabalhos relacionados as suas aventuras no Peru e depois foi eleito governador do Estado de Connecticut e senador em Washington. O personagem de cinema Indiana Jones, foi inspirado nele. E a pergunta que muitos fazem hoje em dia é se Bingham é mocinho ou vilão? Eu particularmente acho que o cara foi um safado que se aproveitou de seu papel de professor e explorador, para roubar tesouros e enriquecer.