Viagem ao Peru e Bolívia (10° Dia)

24/05/2012 

Machu Picchu

Despertei assustado, pois sempre que tenho hora para levantar eu acordo sem despertador, mesmo que um pouco atrasado. Olhei no relógio e eram quase 4h00min. O corno do recepcionista não me acordou às 3h30min conforme eu tinha pedido. Levantei falando um monte de palavrões contra o recepcionista, fiquei muito bravo. Que o cara não ia com minha cara eu já sabia, só não sabia se ele não tinha me acordado por sacanagem ou incompetência dele. Tinha sido marcado um encontro às 4h00min em frente ao hotel onde o guia Daniel estava hospedado juntamente com a maioria do pessoal do grupo da Trilha Salkantay. Quem quisesse ir a pé até Machu Picchu, deveria ir a esse encontro. Quem quisesse ir de ônibus podia ficar dormindo e ir mais tarde, no primeiro ônibus que segue para Machu Picchu, logo ao amanhecer. Logicamente que eu queria ir a pé, pois gosto das coisas da maneira mais difícil, com mais emoção, mais aventura.

Em menos de dez minutos eu estava pronto e desci as escadas com minhas duas mochilas. Estava curioso para ver a cara do recepcionista e saber o que aconteceu para ele não ter me acordado. Ao chegar à recepção encontrei o recepcionista dormindo em um sofá, com a tv ligada. Tinha sido incompetência dele! De sacanagem joguei uma mochila no chão que fez um barulhão e o cara levantou assustado quase pulando do sofá. Ele olhou no relógio e ficou todo sem graça. Mesmo querendo falar um monte de bobagem a ele, dei um sorriso cínico e perguntei se ele podia guardar minha mochila grande no depósito do hotel. Ele disse que sim e entreguei a ele a mochila e saí xingando o cara em pensamento. Se eu brigasse com o cara por não ter me acordado, possivelmente ele não ia querer guardar minha mochila, então tive que ser politico, algo que não gosto de ser e agir e falar ao contrário do que gostaria de fazer naquele momento.

A madrugada estava muito fria e escura e segui para o hotel do encontro, torcendo para que o pessoal ainda não tivesse partido rumo à Machu Picchu. Como o pessoal sempre se atrasava, fui contando com tal possibilidade. E ao chegar ao hotel o pessoal ainda estava lá e o guia demorou uns minutos para aparecer. Apenas metade do grupo ia subir a pé rumo à Machu Picchu. O guia deu uns avisos e começamos a caminhar. Seguimos pelas ruas calçadas da pequena e adormecida cidade e logo chegamos à estrada, que leva a entrada secundaria de Machu Picchu. A estrada era a mesma que eu tinha percorrido no dia anterior, chegando à Aguas Calientes. Fui caminhando e conversando com o Alex, o outro brasileiro do grupo. Seguimos com as lanternas desligadas, afastados do restante do grupo e era possível ver claramente a estrada. Caminhamos ao lado do rio ouvindo seu barulho e olhando o céu estrelado. Após vinte minutos chegamos à entrada de Machu Picchu, na chamada Ponte Velha e ali já se formava uma fila de turistas. Entrei no final da fila e vi que a minha frente tinha um grupo de brasileiros. Comecei a conversar com eles e quando deu 5h00min em ponto os guardas começaram a verificar passaporte e ingressos de todos. Eu e o Alex passamos pelo guarda e atravessamos a Ponte Velha, que chacoalhou um pouco, mas nada que desse medo. Em seguida começamos a subir a montanha rumo ao portão principal de Machu Picchu. Os ônibus sobem a montanha pela estrada que segue em caracol. Já para os pedestres existe uma trilha, com degraus de pedra que sobe meio que em linha reta, atravessando a estrada em vários momentos. Seguir por esse atalho mesmo tendo a dificuldade dos degraus acaba tornando o caminho mais curto. Segui junto com o Alex durante um tempo, até que ele parou para descansar e beber água. Eu estava com frio e resolvi seguir em frente sem parar, pois assim me aquecia mais rapidamente. Não foi muito fácil subir tantas escadas, principalmente por me sentir cansado dos muitos quilômetros percorridos na Trilha Salkantay e por ter dormido pouco na última noite. Quando amanheceu eu estava quase no final da trilha e pude ver que o céu estava bastante nublado o que impossibilitaria ver o sol nascer em Machu Picchu.

Cheguei em frente ao portão principal de Machu Picchu pouco antes das 6h00min e na fila a minha frente tinham umas vinte pessoas. Mesmo estando frio eu sentia muito calor e resolvi tirar a blusa. Minha camiseta estava quase toda molhada de suor. A fila atrás de mim foi aumentando e alguns conhecidos foram chegando. Quando o portão abriu exatamente às 6h00min, o primeiro ônibus com turistas chegou e nele também vieram alguns membros do meu grupo. Entrando em Machu Picchu, segui por uma escadaria no lado esquerdo e subi por alguns minutos. Daí cheguei numa parte alta, onde existe uma antiga construção coberta com palha, uma das poucas construções cobertas do lugar. Desse local é possível ter uma vista completa de Machu Picchu e da montanha de Huayna Picchu ao fundo. Tirei algumas fotos, aproveitando que ainda não tinha ninguém circulando pelas ruínas. Comecei a sentir frio novamente e coloquei a blusa por cima da camiseta molhada. Acabei encontrando o Alex e nos sentamos num local para admirar a paisagem. Eu não pretendia circular muito por Machu Picchu, pois já conhecia tudo da visita no ano anterior. Minha intenção principal era subir a montanha de Huyna Picchu, pois nessa eu não tinha ido um ano antes.

Machu Picchu e a direita a montanha de Huayna Picchu.
Machu Picchu.
Machu Picchu.
Em Machu Picchu.
Machu Picchu.
Machu Picchu.

Huayna Picchu 

Pouco antes das 8h00min eu e Alex seguimos em direção à entrada de Huyana Picchu, que fica nos fundos das ruínas de Machu Picchu. O Alex não tinha a entrada, pois a agencia comeu bola e não comprou a entrada dele. Ele tinha conversado com o guia e esse disse que daria um jeito e que era para ele ir para a fila de entrada às 8h00min. E foi o que ele fez. Quando o pessoal começou a entrar em Huayna Picchu eu entrei e o Alex ficou do lado de fora esperando para ver se o “tal jeito” que o guia prometeu dar, ia funcionar. Mais tarde fiquei sabendo que não funcionou e que o Alex não entrou em Huayna Picchu. Eu segui por uma trilha em direção à montanha, mas estava tão cansado e sentindo frio que comecei a pensar em desistir de subir Huayna Picchu. Após andar alguns minutos cheguei num local onde existia uma grande pedra e de onde se tinha uma linda vista das montanhas, do rio correndo lá embaixo e de Machu Picchu. Deitei-me na tal pedra e cheguei a cochilar por alguns minutos. Depois me sentei e fiquei admirando a vista e pensando se subiria ou não Huayna Picchu. Então a Izabel, brasileira que era do meu grupo e seu namorado francês passaram por mim. Logo depois passaram três velhinhas, na casa dos oitenta anos e ao vê-las caminhando com dificuldade, mas com vontade rumo à montanha, decidi que ia subir também.

Subir Huayna Picchu não é tão fácil é algo cansativo. Primeiro tem uma trilha que começa descendo e depois sobe. Em seguida tem uma escadaria sem fim, que vai subindo em zig zag montanha acima. Aos poucos fui deixando a preguiça de lado e comecei a gostar da subida. Quanto mais subia mais bonita ficava a paisagem vista lá do alto. Por trás das montanhas verdes que estavam próximas, era possível ver mais ao longe muitas montanhas com o cume nevado. E Machu Picchu ia ficando pequena lá embaixo, sendo visível numa área descampada e na cor verde claro. Olhando para cima era possível ver algumas construções de pedra no alto da montanha e muitas escadarias. Fiquei impressionado com o que via e tentava imaginar como tinha sido difícil construir tudo aquilo na montanha. Fiquei imaginando quanto sofrimento e quantas mortes tal construção custou aos Incas. Em alguns trechos tinha mais de um caminho para subir, sendo um menos perigoso e outro mais perigoso, próximo à borda da montanha. Lógico que escolhi o mais perigoso! Em algumas partes da escadaria tinha congestionamento de pessoas subindo. E mais próximo ao cume comecei a encontrar pessoas descendo. Atualmente são permitidos apenas 400 acessos por dia até a montanha. São 200 acessos às 8h00min e mais 200 às 10h00min. Até ano passado quem tinha direito de subir eram os 400 primeiros que entravam numa fila de madrugada e pegavam uma senha. A partir desse ano o sistema mudou, e os 400 acessos diários são vendidos pelas agências de turismo ao preço de $ 10,00 soles cada.

No meio do caminho tinha um túnel estreito e uma escadaria que passava por dentro dele e outra ao lado. Passei por dentro do túnel meio que me arrastando num trecho, mas consegui sair do outro lado. Se a pessoa for meio gordinha ou ela não consegue passar ou fica entalada no túnel. Levei pouco mais de uma hora para chegar ao cume, pois fiz algumas paradas para admirar a vista e para tirar fotos. Lá no alto algumas pessoas se amontoavam para tirar fotos e admirar a vista. No cume existem algumas pedras enormes. Tinha um guarda lá em cima que ficava pedindo para o pessoal que tinha tirado fotos, descer para dar lugar aos que estavam subindo. Encontrei a Izabel e ela tirou algumas fotos minhas. Vi que numa pedra que avançava rumo ao vazio, algumas americanas de um grupo só de garotas, estavam subindo para tirar fotos. Achei que daria uma foto legal e fui até lá. A Izabel ficou de longe tirando as fotos com zoom. Quando cheguei ao local vi que em frente e do lado direito à montanha ia desaparecendo e lá em baixo, bem lá embaixo dava para ver o rio. Não senti medo nenhum ali, até que me virei e olhei para trás. Simplesmente eu estava na beirada de um abismo e nem conseguia ver o final da montanha. Na hora minha labirintite deu sinal de vida, minhas pernas ficaram moles e minha vista escureceu. Que medo!!! Abaixei-me e fiquei segurando na pedra até voltar a me sentir bem. A Izabel tirou mais algumas fotos e eu me mandei dali rapidinho, arrastando a bunda na rocha até chegar num local seguro. Melhor sair dali de uma forma meio humilhante do que cair lá de cima. De qualquer maneira valeu o susto, pois saíram boas fotos.

Desci da parte mais alta por trás das rochas, no sentido contrário de onde tinha subido. E foi então que descobri que existia outro caminho para sair da montanha, uma escadaria que seguia pela parte de trás e levava até uma caverna e uma gruta. Depois tinha que seguir por uma escadaria que passava pelo lado da montanha e ia até perto da pedra em que eu tinha cochilado no início da subida. Seria bem mais interessante seguir por outro caminho em vez de voltar pelo mesmo caminho que eu tinha subido. Mas seguir por esse novo caminho significava andar mais, o que levaria bem mais tempo para retornar à Machu Picchu. Fiquei pensando se seguia por esse caminho ou não, e nisso uma moça veio falar comigo. Ela era chilena, se chamava Joyce e estava esperando sua amiga. O sol apareceu, o que deixou a vista lá do alto da montanha ainda mais bonita. Resolvi tirar a blusa e a camiseta que tinha ficado novamente molhada de suor e coloquei uma camiseta limpa que estava na mochila. Nada como ser precavido! Então resolvi explorar umas construções que ficavam pouco abaixo do cume e pelas quais eu tinha passado pela lateral. Fiquei cerca de uma hora subindo e descendo escadas por estas construções, admirando a vista e tirando fotos. Voltei até o cume e encontrei a chilena Joyce e sua amiga, Carolina. Começamos a conversar e a conversa ficou tão animada que resolvi descer junto com elas, pela parte de trás da montanha. Elas iam até a gruta e eu fui junto. No caminho existiam algumas placas dizendo o tempo de caminhada até os locais, mas esses tempos assinalados eram menores do que realmente foi o tempo que levamos caminhando.

O sol começou a judiar um pouco, passou a fazer muito calor. E dizer que até pouco tempo antes eu estava morrendo de frio! Descer a montanha até que era fácil e levamos menos de uma hora até chegar numa gruta que leva o nome de “Gran Caverna”. Próximo a essa gruta existiam algumas ruínas e fiquei tentando imaginar como devia ser aquele lugar no passado, com pessoas vivendo ali. Logo parei de divagar e segui caminhando com minhas amigas. Dessa vez começamos a subir e minhas amigas passaram a caminhar mais lentamente. Segui no ritmo delas, pois estava cansado e não tinha pressa. Chegamos a “Gruta da Lua” e encontramos um guarda que estava com um rádio na mão e perguntou se as duas eram chilenas e eu brasileiro. Pelo visto só tínhamos nós perambulando pela montanha naquele momento e o pessoal do controle da entrada tinha passado essa informação a ele. O guarda se chamava Nolan, era bastante simpático e disse que não precisávamos ter pressa, que podíamos seguir nosso passeio tranquilamente. Ficamos um bom tempo na gruta, que não chegou a ser terminada, pois os espanhóis chegaram antes e quase dizimaram os Incas, destruindo boa parte de sua cultura e construções. De qualquer forma o que existia na gruta era interessante e tinha sido válido ir até ali.

Saindo da Gruta da Lua, seguimos em direção à saída de Hauyna Picchu, o guarda seguiu conosco. Para chegar até a saída seria preciso contornar a montanha, quase sempre subindo. Fizemos muitas paradas para descanso e logo fiquei sem água. Eu não tinha planejado ficar tanto tempo na montanha e por isso não levei muita água. Passamos por um local onde o Nolan disse existir ursos. Mas não era para ficarmos com medo, pois eles tinham mais medo de nós e geralmente ficavam no alto das árvores nesse horário. Cansamos de olhar para cima e não vimos nenhum urso. Minhas amigas cansaram de vez e passamos a fazer cada vez mais paradas para descanso. O tempo fechou e ao longe víamos a chuva e ouvíamos os trovões. Tivemos que descer uma escada de madeira muito alta e preferi não olhar muito para baixo. Depois percorremos um trecho de escadas de pedra bem ao lado da montanha, onde em algumas partes existiam muros de pedra como proteção para o caminhante não cair no abismo. A vista era muito bonita, achei o lugar impressionante. Também passamos por um local onde a escadaria subia a montanha por baixo da rocha, quase parecia um túnel.

Pouco antes do final da trilha de Huyna Picchu, aconteceu um fato que não entendi direito, mas que me deixou bastante espantado. Quem me conhece sabe que sou  incrédulo e que para eu acreditar em algo geralmente tenho que ter boas provas ou ver com meus próprios olhos. Mas nos últimos dois anos passei por tantas coisas e vi tanta coisa estranha, que acho que nada mais me surpreende (ou quase!) e estou acreditando em quase tudo. Eu estava em pé no início de uma escadaria, ao lado de um precipício. Minhas amigas chilenas e o guarda peruano vinham um pouco mais atrás e fiquei esperando parado de frente para eles. Quando eles chegaram à minha frente falei que tinha gostado tanto da montanha que queria ficar ali. Na mesma hora parece que o local que eu estava pisando tremeu, eu me desequilibrei e quase caí para um lado. Me ajeitei, me desequilibrei de novo e quase caí montanha abaixo. Tomei o maior susto! A Carolina ficou olhando e disse que Pachamama (uma deusa dos povos andinos) tinha ouvido meu pedido de ficar na montanha. Na hora respondi que era brincadeira, que eu não queria ficar ali não. Virei-me e segui ainda assustado escadaria acima. Não sou de assustar fácil, mas aquilo foi estranho demais, não consigo explicar direito o que aconteceu, a sensação de que a pedra embaixo de meus pés estava se movendo, querendo me derrubar. Sei lá!! Mas sei que coisas estranhas e sem explicação acontecem em Machu Picchu e região.

Mais algumas escadas e chegamos à saída de Huayna Picchu. A chuva estava chegando perto e começou a garoar. Paramos um pouco no posto de controle para descansar. Eu estava com muita sede, com a boca seca e queria sair logo dali e ir até a entrada de Machu Picchu, onde tinha água à venda. Quem foi até Machu Picchu e não percorreu Huyana Picchu por inteiro, perdeu de ver muita coisa bonita e interessante. Eu acabei gostando mais de Huayna Picchu do que da própria Machu Picchu.

Subindo Huayna Picchu.
No alto de Huayna Picchu.
Subindo ao lado do abismo.
Túnel no alto da montanha.
Vista bonita.
Ficar nesse lugar dava medo, era muito alto.
Pedras no cume de Huayna Picchu.
Placas indicativas no alto da montanha.
A esquerda, na parte mais clara aparece Machu Picchu.
Em Huayna Picchu.
Admirando a paisagem no alto de Huayna Picchu.
Foi tenso descer por essa escada.
Na parte de trás de Huayna Picchu.
Com as chilhenas, na Gran Caverna.
Gran Caverna.
Ruínas em Huayna Picchu.
Cama de pedra dentro da Gruta da Lua.
Procurando ursos.
Nolan, Carolina, Joyce e Vander.
Procurando o fim do abismo.

Machu Picchu

Atravessamos lentamente as ruínas de Machu Picchu, rumo à entrada. A Joyce é que parecia estar mais cansada, ia caminhando a passos lentos. Vimos algumas lhamas passeando pelas ruínas e fomos tirar fotos delas. Depois seguimos rumo à entrada. No caminho vi um cego caminhando pelas ruínas e fiquei pensado o que ele sente e pensa ao caminhar por um local bonito, mas que ele não pode ver? E se com sua sensibilidade mais treinada, será que ele consegue sentir mais fortemente a energia que emana em Machu Picchu? Em meio a mais essas divagações cheguei à entrada de Machu Picchu e comprei água, que ali tem preço de ouro. Acho uma sacanagem enorme cobrarem preços tão caros em locais turísticos. Eles pensam que todo turista é rico, quando na verdade a maioria vai até ali com muito sacrifício e economia.

Eram quase 17h00min e me sentei com Carolina num banco e fiz um lanchinho. Comi alguns biscoitos e tomei um suco de pêssego. Essa era minha primeira refeição do dia. Eu pretendia descer a pé até Aguas Calientes, mas estava tão cansado que resolvi descer no ônibus junto com as meninas. Comprei a passagem por U$ 9,00 e logo embarcamos num dos ônibus que partem a todo o momento dali. A viagem montanha abaixo até Aguas Calientes leva em média 20 minutos e dormi durante quase toda a viagem.

Machu Picchu.
Claudia, a lhama curiosa.

Aguas Calientes 

Chegando à Aguas Calientes desembarcamos na entrada da cidade. Eu precisava encontrar o guia do meu grupo, pois estava com ele minha passagem de trem para logo mais a noite. Minhas novas amigas chilenas só iriam para Cusco no dia seguinte. Então fui com elas até em frente ao hotel delas, para saber onde era e depois de resolver meu problema da passagem eu ia até lá encontrá-las. Elas não eram fracas, estavam no hotel mais chique da cidade! Fui procurar o guia e no caminho encontrei o Alex, que disse que o guia tinha deixado as passagens de trem num restaurante ao lado do hotel onde ele estava. Fomos até lá e peguei minha passagem, que estava marcada para as 21h30min. Saindo dali fui até o Mercado Municipal comprar um lanche para comer no trem. Parei numa banca e pedi para uma mulher fazer três sanduíches de queijo. Fiquei olhando a mulher fazer os sanduíches e foi tanto relaxo e falta de higiene que achei que jamais fosse comer aqueles sanduíches. Ela pegou os pães, cortou ao meio e colocou a faca em cima de umas cenouras sujas. Daí pegou o queijo de dentro de um plástico e usou a mesma faca para cortar algumas fatias. Depois colocou as fatias dentro de uma cesta de plástico que estava suja e com um pouco de terra. Então apareceu um cachorro e pulou nas pernas da mulher. Ela coçou a cabeça do cachorro e com a mesma mãe que afagou o cachorro pegou o queijo e colocou dentro dos pães. Perguntei se o cachorro era dela e ela respondeu que sim, que ele passa o dia ali com ela. Paguei pelos sanduíches e saí perplexo com tanta falta de higiene. Pensei em jogar fora os sanduíches, pois não ia comer aquilo. Mas acabei guardando na mochila para o caso de encontrar algum cachorro faminto pelo caminho.

Fui até o hotel onde eu tinha ficado e peguei minha mochila. Conferi para ver se ela não tinha nada faltando, virei às costas e nem olhei para o recepcionista com o qual tinha tido alguns problemas. Não costumo ser mal educado, mas aquele cara não merecia um muito obrigado. Fui até o hotel de minhas amigas chilenas e a Carolina estava sentada na calçada em frente me esperando. Ela conversou com o pessoal da recepção e eles autorizaram minha entrada para deixar minhas mochilas no quarto delas até o horário de pegar o trem. Fui até o quarto e lá estava a Joyce descansando. Deixei as mochilas e saímos. Fomos até uma Termas que fica na parte alta da cidade, no pé do morro. A cidade se chama Aguas Calientes em razão dessas termas de água quente. Pagamos $ 10,00 soles para entrar. O local tem três piscinas, com temperaturas diferentes. Na mais quente a água fica em torno de 38 graus. Eu não tinha levado toalha e no local não alugavam toalhas, o que seria um problema na hora de sair da água. A água das piscinas era escura, meio com cor de ferrugem. Não era nada parecido com a Termas onde estive no terceiro dia de Trilha Salkantay, cuja água era límpida. Primeiro fomos numa piscina de 27 graus, mas com o anoitecer o frio chegou e a água não parecia ser tão quente. Então fomos para a outra piscina mais quente. Tão longo entrei nessa piscina, tive câimbra na parte da frente da coxa direita. A dor era tão forte que comecei a gritar e muita gente ficou olhando. Nunca tive câimbras tão fortes e doloridas iguais a essa. Me alonguei um pouco e as câimbras passaram, mas fiquei com um pouco de dor na coxa por uns dias. A energia elétrica acabou em toda a cidade e ficamos no escuro dentro da piscina conversando e olhando o céu estrelado. Foi algo bem interessante isso, de estar numa piscina de água quente, quase no meio do mato, no escuro, olhando as estrelas. Mais um tempo ali e chegou a hora de sair. Eu sem toalha acabei pegando a maior friagem e no vestiário me sequei com a camiseta. Minha garganta que já não estava muito boa depois do frio que passei na Trilha Salkantay, após essa friagem toda que peguei ficou ainda pior. Voltamos no escuro até o hotel das chilenas. No hotel as escadarias e corredores estavam cheios de velas. Ficamos conversando no quarto, eu deitado atravessado numa cama, pois estava morto de cansaço. Conversamos sobre vários assuntos, comemos pistache e depois de uma hora a energia voltou. Trocamos endereços e ficamos de nos encontrar em Cuzco na noite seguinte, quando as duas chegassem à cidade. Foi muito interessante à amizade que nasceu entre eu e as duas chilenas em tão pouco tempo.

Acabei deixando no hotel para ser jogado no lixo o meu bastão de caminhada. Ele quebrou uma mola interna e não fechava por completo. Daí seria difícil levar ele na mochila e achei melhor descartá-lo. Eu tinha comprado o bastão no ano anterior, em Cusco, para fazer a Trilha Inca. Levei ele para o Brasil, trouxe de volta ao Peru e agora ele ia para o lixo, após ter cumprido muito bem sua missão. Às 21h00min as duas chilenas me acompanharam até a Estação de Trem, onde conversamos mais um pouco. Comentei sobre a sensação de que as conhecia há muito tempo e não somente há poucas horas. Então elas disseram que tinham a mesma sensação e a Carolina disse algo interessante. Ela contou que dias antes de viajar contou a uma conhecida que ia para Machu Picchu e essa pessoa disse para ela dar um oi para a mãe dela, que já faleceu. É que segundo essa pessoa, existem alguns lugares na terra que funcionam como portais para outra dimensão, seja temporal ou espiritual. E que Machu Picchu é um destes lugares mágicos, que ali costumam se encontrar pessoas que já se conheceram em outras vidas, (para quem acredita em reencarnação) que de alguma forma estas pessoas se atraem e se reencontram nesse lugar. E que ali você também consegue contato com o espirito de pessoas que já morreram. Achei interessante o que ela contou e lembrei-me do sonho que tive na noite anterior, onde uma pessoa que já faleceu veio dar um recado para alguém que eu conheço. Já ouvi relatos de outras pessoas sobre experiências estranhas que tiveram em Machu Picchu e eu mesmo tive algumas experiências e sensações estranhas nas duas vezes em que estive nessa região. Então deixo em aberto tal assunto e cada um pensa o que quiser sobre o mesmo. Mas que tem algo estranho ali, isso tem!!! Li num lugar que: Quando for para Machu Picchu e região, tudo o que emocionalmente para lá você levar, será potencializado. E o que estiver guardado em seu coração, de uma forma ou outra, será revelado. 

Despedi-me de minhas novas amigas e entrei na estação. Lá encontrei o pessoal do meu grupo e fiquei com eles num canto. Um dos israelenses pegou seu pequeno violão e começou a cantar e o pessoal junto. Outras pessoas que estavam na estação foram se aproximando. E encontrei mais uma vez sem querer, minha amiga Heverly. Na verdade foi ela que me viu e veio até onde eu estava. Conversamos um pouco, ela contando como tinha sido percorrer a Trilha Inca. Logo o trem chegou e descobri que eu era o único do meu grupo que seguiria em outro vagão. E coincidentemente fui no mesmo vagão que o grupo de Londrina, do qual a Heverly fazia parte.

Sentei em minha poltrona, ao lado de uma peruana e de frente a duas gurias que pareciam ser europeias. Elas logo pegaram no sono. Eu estava com muita fome e me arrependi de não ter comido nada antes de embarcar. Lembrei dos sanduíches de queijo que estavam na mochila. E também lembrei da “porca” que os fez! Mas a fome era tanta que pensei: dana-se! Tinha comprado uma Fanta antes do embarque, que junto com os três sanduíches de queijo foi minha janta. Depois de comer fui até a poltrona da Heverly e até o final da viagem fomos conversando e vendo fotos da trilha.

No desembarque me despedi da Heverly e fui encontrar meu grupo. Uma van nos esperava e embarcamos nela rapidamente, pois estava muito frio. Essa van nos levaria até Cusco, distante cem quilômetros dali. Desde as fortes chuvas de 2010 que destruíram boa parte da estrada de ferro, que o trem não vai até Cusco. Logo desembarcamos, pois com nosso peso o motorista não conseguia passar por uma elevação ao lado da estrada. Reembarcamos e fui no fundo da van, numa posição desconfortável e apertada. Mas estava tão cansado que não me importei. A garganta estava doendo muito e notei que estava com febre e tendo calafrios. Acabei dormindo até chegarmos a Cusco. Desembarcamos no centro da cidade e cada um foi para seu lado. No dia seguinte estava marcado um encontro para despedidas. Fui direto para o hostal, aonde cheguei às 2h00min. Bati na porta e demorou para o recepcionista abrir. Entrei e falei que tinha reservado e pago um quarto cinco dias antes. Ele olhou no livro de registros e disse que não tinha quarto livre e que eu teria que ir para um quarto coletivo. E que o preço tinha subido e que eu teria que pagar diferença de preço nesse quarto e também referente aos dias que tinha ficado no hotel junto como o Thiago. Eu não sou de brigar ou criar barraco, mas fiquei tão bravo que joguei as mochilas no chão e falei um monte de bobagens para o cara. Falei que pagava a diferença de quarto daquela noite, pois estava cansado, com sono, frio e febre e não ia sair atrás de outro hostal para dormir, que ia ficar naquela porcaria de hostal naquela noite. E que das noites anteriores eu não pagava de jeito nenhum, pois era absurdo querer cobrar algo que tinha sido pago antes dos preços aumentarem. Entre outras coisas até falei que ele podia chamar a Polícia, que mesmo assim eu não pagava. E que ia abrir uma reclamação por tal cobrança ilegal no Escritório de Turismo da cidade, pois aquilo era sacanagem. Acho que o cara ficou com medo de mim, pois ficou parado com cara de assustado e não falava e não fazia nada. Coloquei uma nota de $ 10,00 soles no balcão, que era a diferença que ele queria cobrar  por aquela noite e disse para ele me mostrar onde eu ia dormir, senão eu já me deitava no sofá da recepção e ninguém ia me tirar dali. Ele então me levou até um quarto coletivo, que ficava nos fundos de outro quarto coletivo onde vi três camas ocupadas. No meu quarto vi que tinha uma garota oriental dormindo numa cama. O recepcionista foi acender a luz e eu disse não, mandei que sumisse o mais rápido dali, pois queria dormir. Eu estava muito bravo!!! Apenas tirei minhas botas e deitei na cama de solteiro, ao lado da cama da oriental. Demorei um bom tempo para pegar no sono, pois tinha ficado tão irritado que no dia seguinte a primeira coisa que faria seria sair da porcaria do Hostal Samanapata

A peruana (relaxada) fazendo sanduiches.
Na estação esperando o trem.
Heverly, no trem.

VÍDEOS

Viagem ao Peru e Bolívia (5° Dia)

19/05/2012

Levantei cedo, banho, arrumei algumas coisas numa pequena mochila para levar no city tour que faria pelo Vale Sagrado. Pouco antes das 8h00min eu e Tiago saímos do hostal e fomos até o centro. Ao passar pela frente da catedral vi que estava tendo missa e me chamou atenção algumas pessoas pedindo esmola na porta. O contraste era grande, na porta os pedintes e dentro altares de ouro. Demos uma pequena volta pela Plaza de Armas e fomos até o local marcado para pegar a van que faria o city tour. Não demorou muito e a van chegou. Embarcamos e logo o guia pediu para o Tiago descer e entrar num micro ônibus. Isso fez com que ficássemos separados durante todo o city tour. Fui no último banco da van, ao lado de uma peruana e sua filha. A mulher ficou olhando “torto” para mim. O restante do grupo era todo de peruanos, sendo um casal em lua de mel, uma mulher com dois filhos pequenos e sua mãe idosa e mais um grupo de amigos. Pelo que entendi eram todos de outras cidades do Peru e estavam conhecendo Cuzco. O guia pediu que todos falassem seus nomes e de onde eram e quando disse que era brasileiro, a peruana que me olhava torto ficou toda derretida, me disse que sonhava em conhecer o Brasil, que achava os brasileiros maravilhosos.

Saímos da cidade e seguimos por uma estrada muito bonita, passando por montanhas e alguns vales. Logo fizemos uma rápida parada, num local cheio de barraquinhas com vários produtos de artesanato. O pessoal foi fazer compras e eu fiquei num canto esperando, pois além de não gostar desses locais de compras para turistas, eu estava com minhas mochilas cheias e não podia comprar nada, pois não tinha onde colocar. E cada coisa a mais que eu comprasse era um peso a mais para carregar nas costas, então não pretendia comprar nada ali ou em outro lugar.

Após meia hora o guia chamou todos de volta a van e a senhora que estava ao meu lado e sua filha se atrasaram. Quando apareceram estavam cheias de compras. Pelo que entendi elas estavam mais interessadas em fazer compras em Cuzco do que conhecer a cidade e as atrações da região. Elas eram de Lima, a capital e acho que alguns dos produtos que estavam levando era para vender lá em Lima. Seguimos com o passeio e fizemos uma rápida parada num mirante, de onde se tinha uma bela vista do Vale Sagrado. O vale tinha esse nome mais por se tratar de um local bonito e dedicado à agricultura, do que por razões religiosas ou sagradas. Após algumas fotos embarcamos novamente na van e seguimos com nosso tour. A senhora de idade que fazia parte do grupo começou a passar mal e sua filha ficou cuidando dela. E durante todo o tour a tal senhora passou mais tempo gemendo dentro da van do que aproveitando algum passeio.

Chegamos à entrada do parque nacional de Pisaq, que são ruínas espalhadas por uma montanha. O guia perguntou quem tinha o tíquete que dava direito a entrar em Pisaq e em outras atrações. Quase ninguém tinha e ele se disponibilizou a comprar os tíquetes. O preço era $ 80,00 soles. Disse a ele que eu mesmo preferia comprar o meu tíquete. Descemos todos da van e fui comprar o tíquete de um dia por $ 70,00 soles. Sempre fico esperto com guias turísticos, seja onde for, pois eles sempre dão um jeito de ganhar alguns trocados ás custas de turistas, seja ganhando comissão nas lojas e restaurantes onde leva os turistas, ou então intermediando algum serviço. O trabalho que o guia teve para comprar os tíquetes foi recolher o dinheiro na van, descer, andar cinco metros e ir na bilheteria que nem fila tinha. Pelos meus cálculos ele levou uns $ 60,00 soles da galera, somente nessa compra de tíquetes. O detalhe é que no tíquete vinha impresso o valor de $ 70,00 soles e não vi ninguém reclamar com o guia por estar pagando mais caro. Fiquei na minha, pois o problema não era meu, eu me preocupava com o meu dinheiro e se os demais não estavam nem aí por pagar mais caro pelas coisas o problema era deles.

Entramos em Pisaq e fomos seguindo por uma trilha, passando por algumas ruínas e fizemos uma parada onde o guia contou a história do local. Depois seguimos para um outro local, onde no alto de uma pequena montanha era visível algumas ruínas. A vista do local em geral era muito bonita. Pedi para o guia autorização para fazer o passeio sozinho por ali, pois ficar andando em grupo atrás do guia não faz o meu gosto, prefiro seguir sozinho, indo onde sentir vontade. O guia disse que tudo bem, apenas me alertou para o horário que eu deveria estar na saída do parque para não perder a van. Acho que ele ficou aliviado em me ter longe do grupo, talvez com medo de eu contar ao pessoal que ele tinha cobrado mais caro pelos tíquetes. Acabei encontrando a Marcelle e a Neusa, que são do grupo de Londrina. Conversamos um pouco e tiramos fotos juntos. Logo apareceu a Heverly com o restante do grupo de Londrina. Era a segunda vez que nos encontrávamos sem querer. O grupo de Londrina seguiu para outro local e eu fiquei andando sozinho por Pisaq. Acabei encontrando o Tiago, que chegava com seu grupo. Como estavam em um micro ônibus, o grupo dele sempre estava atrasado com relação ao meu, pois na van éramos mais velozes na estrada. O Tiago seguiu com o seu grupo e eu fui para a saída do parque, onde encontrei o meu grupo e embarcamos todos na van.

Seguimos com o tour e paramos num pequeno povoado, cujo nome não lembro. O local era cheio de lojinhas de artesanato. Mais uma vez encontrei a Heverly, sem querer, no meio de uma ruela. Fui com ela até o ônibus do pessoal de Londrina e ela me deu de presente uma foto, que tinha sido tirada em Cuzco no dia que nos encontramos pela primeira vez. O fotógrafo era da cidade e tirou a foto sem nós vermos. Ela acabou ficando com o presente e ia me mandar pelo correio quando chegasse ao Brasil, pois se eu ficasse com a foto ia acabar amassando em razão de carregá-la na mochila por muito tempo. O pessoal de Londrina seguiu seu tour e eu voltei para encontrar meu grupo. Acabei me perdendo nas ruas estreitas do povoado e só encontrei o caminho correto ao observar as montanhas em volta e conseguir me localizar. No caminho um morador local me chamou de brasileiro e na hora não entendi como ele tinha descoberto isso. Somente mais tarde é que me dei conta de que a camiseta que estava usando tinha uma pequena bandeira do Brasil pregada na barra direita.

Eram quase 14h00min quando paramos num restaurante no pequeno povoado de Urubamba. Eu não pretendia comer a comida local, da qual vinha fugido e muito menos naquele restaurante para turistas, onde certamente a comida seria pouca, ruim e cara. E o guia ia levar uma bela comissão. Avisei o guia que não ia comer ali e que voltava em uma hora, que seria o tempo que o pessoal ficaria ali. Ele disse que tudo bem e parecia preferir que eu ficasse cada vez mais longe do grupo. Caminhei um pouco, encontrei a avenida principal e fui caminhar por ela. O povoado era pequeno e muito organizado. Fui subindo pela avenida e observando as pessoas, as casas, as lojas, as montanhas em volta. Me chamou atenção os táxis, que na verdade eram motos com um largo banco atrás e uma capota. Outra coisa que me chamou atenção foi ao passar em frente a uma casa funerária e ver alguns caixões. Eles tem vidro em cima e nas laterais, ou seja, você pode ver o defunto pelos lados. Nunca tinha visto algo igual! Fui até o final da avenida e resolvi retornar. Ao passar em frente a um confeitaria o meu fraco por doces falou mais alto e entrei. Escolhi uma torta de chocolate recheada com doce de leite, que junto com um sorvete foi o meu almoço do dia. A torta estava deliciosa e só não comi outra por que não tinha espaço no estômago, seria gulodice comer outra. Vi que já tinha se passado quase uma hora desde que saíra do restaurante e resolvi voltar para junto do meu grupo.

Chegando no restaurante o pessoal já estava embarcando na van e ouvi alguns reclamando que a comida tinha sido pouca e o preço caro demais. Mais uma vez eu tinha acertado em não ficar junto ao grupo. Já viajei muito, tanto sozinho como em viagens guiadas e aprendi que ir nos lugares que o guia indica é furada, pois sempre são locais caros e nem sempre de boa qualidade. E que o guia sempre está ganhando alguma grana por levar os turistas nesses locais. Tudo bem, esse é o ganha pão dele, mas deixo que ele ganhe a vida em cima dos outros turistas menos avisados e não em minhas costas.

Seguimos para a próxima parada do tour, que seria o povoado de Ollantaytambo. Eu já conhecia esse povoado, pois foi ali a última parada antes de iniciar a Trilha Inca no ano anterior. Apenas não tinha conhecido as ruínas que ficam em montanhas em volta do povoado. Acho o lugar muito legal e foi bom retornar ali. Desembarcamos na entrada das ruínas e encontrei novamente o pessoal de Londrina, que tinha acabado de chegar ali. Pedi autorização ao guia para fazer o passeio pelas ruínas junto com meus amigos brasileiros e ele autorizou na hora.

Fiz todo o passeio com o grupo de Londrina, ouvindo as explicações da guia deles, que era muito melhor que o guia do meu grupo. Passei a maior parte do tempo junto com a Heverly e a Marcelle. A Marcelle sofria um pouco com as descidas de escadarias, um pouco por medo, outro pouco por se sentir mal. Ficamos cerca de uma hora fazendo o tour pelas ruínas de Ollantaytambo e o mais legal era a vista lá do alto, tanto a vista das montanhas em volta, quanto à vista do povoado lá embaixo. Ao me despedir dos amigos de Londrina, mais uma vez combinei com a Heverly de nos encontrarmos na Plaza de Armas a noite para irmos comer uma pizza juntos. O pessoal de Londrina foi embora e eu reencontrei o meu grupo. Embarcamos na van e mais uma vez ficou faltando à senhora de Lima e sua filha. Uns quinze minutos depois elas apareceram cheias de sacolas. Nem tinham feito o passeio pelas ruínas, apenas tinham ficado fazendo compras nas várias barracas de artesanato do local. Definitivamente o motivo da viagem delas não era cultural, mas sim comercial. E a senhora de idade estava cada vez passando mais mal e a filha dela pediu para a senhora de Lima e sua filha trocarem de lugar com ela, pois queria que a senhorinha seguisse deitada. O resultado de tal troca foi que fiquei espremido num canto com a senhorinha doente deitada ao meu lado e gemendo cada vez mais alto.

Seguimos para o próximo destino, que era um pequeno povoado chamado Chinchero. A estrada até lá era muito bonita e era possível ver algumas montanhas nevadas. O motorista da van mais uma vez mostrou ter o pé pesado e que gostava de ultrapassar em curvas. Chegamos à Chinchero no final da tarde e tive enorme dificuldade para descer da  van em razão da senhorinha doente estar deitada nos bancos ao meu lado. Mais uma vez preferi andar sozinho pelo povoado do que ficar seguindo o grupo e o guia. O que mais gostei foi da igreja do local, que é muito antiga e dentro tem uma infinidade de imagens, quadros e outros tipos de enfeites. Nunca vi nada igual e infelizmente não era permitido tirar fotos dentro da igreja. Dei mais uma volta por algumas ruínas próximas à igreja e entrei num pequeno museu. A noite chegou de vez e com ela o frio aumentou. Logo voltei para perto da van e fiquei esperando o pessoal das compras retornar. Ao lado uma mulher vendia milho cozido. Era um milho local, gigante. Fiquei na dúvida sobre comprar ou não uma espiga. O cheiro estava muito bom! Depois de observar por alguns minutos os cuidados higiênicos da vendedora de milho, desisti, pois comer um milho daqueles seria diarréia na certa. O pessoal retornou e fomos embarcar na van. A velhinha doente, sua filha e netos tinham desaparecido! O guia disse que embarcaram em outra van, pois não iam voltar a Cuzco, mas sim seguiriam de trem para Águas Calientes. Sinceramente não sei se a senhorinha chegou viva ao fim da viagem.

Chegamos à Cuzco às 19h15min. Desembarquei perto da Plaza de Armas, dei um tchau geral a todos e fui na agencia onde tinha comprado o pacote para a Trilha Salkantay, para acertar os detalhes do dia seguinte. Chegando lá encontrei o cara que me vendeu o pacote, ele estava completamente bêbado e não disse coisa com coisa. Era para eu estar em frente a agencia às 4h00min da manhã. Saí da agencia com receio de que o cara não se lembrasse do horário e do local que tinha marcado para eu encontrar o grupo da Trilha Salkantay.

Dei uma volta pelo centro da cidade e comprei algumas coisas para levar na trilha. Entre as compras uma lanterna de cabeça, alguns biscoitos, chocolate e pequenas latas de 100 ml de Leite Moça. Acabei comprando também uma mochila. Eu tinha levado uma mochila grande, de 70 litros e duas pequenas. Mas na trilha o ideal seria levar um mochila média, a qual eu teria que carregar e uma pequena com até 5 kg, que seria transportada por mulas nos dois primeiros dias. Voltei para o hostal, tomei banho e me arrumei para sair. Passei na recepção e deixei pago e reservado uma vaga num quarto coletivo para quando voltasse da trilha, dali quatro dias. Aquela seria minha última noite dividindo quarto com o Tiago, pois a partir do dia seguinte cada um seguiria para um destino diferente. Quando estava saindo o Tiago estava chegando do city tour. Ele comentou que tinha passado na agencia para acertar detalhes sobre sua ida para Machu Picchu no dia seguinte e que o guia estava bêbado. Ri do comentário dele e disse que também tinha falado com o guia bêbado.

Fui para o centro e fiquei uma hora no frio da Plaza de Armas tentando encontrar a Heverly. Pelo jeito é mais fácil nos encontrarmos por acaso, pois das vezes que marcamos algo não dá certo, nos desencontramos. E não foi somente no Peru que nossos encontros não dão certo, pois lembrei que meses antes ela tinha me dado um cano em Londrina. KKkkk… Desisti de encontrar a Heverly e da pizza e fui comer um lanche no Bembo’s. Em seguida voltei ao hostal, onde arrumei as coisas que ia levar para a Trilha Salkantay em duas mochilas, a média nova e numa pequena. E na mochila grande e na outra pequena, coloquei tudo o que não ia levar na trilha. Essas mochilas ficariam guardadas até minha volta em um depósito no hostal. Antes de dormir descobri que o terceiro quarto que tínhamos ocupado em dois dias no hostal, também estava sem água. O tal Hostal Samanapata era uma bela droga! Logo fui para a cama quentinha e aproveitei para dormir no conforto que não teria nos próximos dias na trilha, dormindo em barraca.

Contraste: pedintes na porta e altares de ouro.

Centro de Cuzco.

No Vale Sagrado.

Vale Sagrado.

Ruínas de Pisaq.

Pisaq.

Em Pisaq, com Tiago.

Em Pisaq, com as londrinenses Marcelle e Neusa.

Num povoado que esqueci o nome.

No centro de Urubamba.

Confeitaria onde almocei em Urubamba.

Peruanitas em Ollantaytambo.

Ruínas de Ollantaytambo.

Fazendo o tour por Ollantaytambo com o pessoal do Londrinapé.

Povoado de Ollantaytambo.

Ruínas de Ollantaytambo.

Artesanato a venda em Ollantaytambo.

Igreja de Chinchero.

Nas ruínas em Chinchero.