Quando criança estive muitas vezes em Curitiba, ou de passagem, ou visitando meus avós que moravam perto do Terminal do Boqueirão. Em 1989 acabei indo servir ao Exército em Curitiba, e passei dois anos no quartel do 20° BIB, no Bacacheri. Depois que saí do Exército, acabei ficando em Curitiba. Entre 1991 e 2010, me mudei de Curitiba três vezes e acabei voltando. Nesse período a maior ausência da cidade foi de um ano, entre 2002 e 2003, período em que vivi nos Estados Unidos. Em agosto de 2010, mudei novamente de Curitiba e dessa vez pensando em não voltar mais. E mesmo vivendo distante, sempre dava um jeito de passar uns dias em Curitiba, revendo amigos e a própria cidade, visitando locais que eu gostava, comendo em lugares que eu adorava.
Mas aos poucos meu amor por Curitiba foi diminuindo. Vivendo fora da cidade, em cada visita a Curitiba era mais fácil perceber as mudanças, as transformações que a cidade sofria. E o que vi foi uma Curitiba decadente. O glamour de outrora se esvaiu, aquela Curitiba provinciana e simpática que eu conhecia já não existe mais. No lugar existe uma Curitiba feia, suja, violenta, com trânsito caótico, uma cidade que cresceu demais em pouco tempo e por culpa disso perdeu qualidade. E tal mudança para pior não foi algo que ocorreu do dia para noite. Tal mudança foi lenta, mas quando se mora num lugar, devido a correria do dia a dia você acaba não percebendo tais mudanças.
Como morador de Curitiba, eu costumava andar pelo centro da cidade e não olhava para cima, ou para os lados. Não prestava atenção ao meu redor, ao que acontecia à cidade. Hoje como turista, toda vez que vou a Curitiba tenho um olhar diferente, onde observo mais a cidade e consigo perceber as mudanças. Cada vez que vou a Curitiba, paro num local e fico tentando lembrar o que existia antes ali, que comércio existia, que casa antiga foi demolida. É mais fácil observar tais mudanças sendo um “estrangeiro” na cidade do que sendo morador, pois esse na correria do cotidiano não tem tempo de parar e observar as transformações pelas quais a cidade passa. Muitas vezes tais transformações acontecem lentamente e de forma quase imperceptível.
Na última visita a Curitiba, me espantei com a quantidade de ambulantes vendendo coisas na Rua XV. Em alguns locais era quase impossível caminhar em razão da rua estar tomada por produtos à venda. E outro espanto foi ao parar para esperar a chuva passar na esquina da Rua XV com a Monsenhor Celso. Era começo de noite e diversas pessoas fumavam maconha e traficavam naquele local na maior tranquilidade. Confesso que fiquei com medo de ser assaltado, pois teve um grupo de pessoas que começou a olhar demais para mim. Então optei por seguir caminhando na chuva e sair daquele local. Justo a Rua XV, local por onde gostava de caminhar a noite, ou me sentar num banquinho e ficar observando a cidade e as pessoas, agora se transformou em terra de ninguém, em um lugar perigoso.
Sei que não gosto nem um pouco da Curitiba que existe hoje! Talvez por isso que faz mais de um ano que não coloco os pés na cidade. Sinto saudades da Curitiba dos anos setenta, oitenta e noventa. Já a Curitiba do ano dois mil, para mim não faz nenhum pouco de falta ou inspira saudade. E não vejo perspectiva de melhora para Curitiba. Ao meu ver a tendência é que Curitiba fique cada vez mais decadente e eu fique cada vez mais ausente da cidade.