Relatório da IX Peregrinação (Sinclair Pozza Casemiro)
Nova Cantu, 18 de abril de dois mil e nove.
Cinco e meia da manhã. “Ivy Mara Ey”. Em busca da Terra Sem Males. No Colégio Estadual “João Faria”, já se escutam os primeiros movimentos dos nova-cantuenses ajeitando o café, o movimento dos peregrinos acordando, se arrumando, se vestindo, fazendo a preparação para a caminhada do dia até a Comunidade da Estiva, em Roncador. Antes, a parada será na Comunidade do Cateto, também em Roncador, para o almoço.
Na carinhosa recepção matinal aos peregrinos, estão presentes professores do Colégio, a Secretária de Cultura e Educação Kácia, o agrimensor que mediu os terrenos do município na época da sua criação, Devoncir Graffi. O NECAPECAM distribui os kits do peregrino e o Caderno do Peregrino. A animação é geral, expectativa no ar, principalmente para quem vem pela primeira vez. Nessa caminhada, cada qual segue seu ritmo, segue sua busca. Nunca é competição, sempre é superação. Isso faz ser prazeroso o percurso, porque são muitas as diferenças, o que traz uma enorme contribuição para o enriquecimento pessoal e coletivo. Vivencia-se e compreende-se a alteridade, experenciando-se cada segundo no meio das falas, das brincadeiras, dos cantos, das angústias, das desavenças, das contradições e daquela sábia atitude de medir, avaliar, compreender e aprender. Sabe-se como partir, não se sabe como chegar, pois há roteiros para acompanhar-se o chão, a memória histórica, mas não existe roteiro para acompanhar os pensamentos, os sentimentos. Realiza-se o velho jargão: caminheiros, o caminho se faz ao andar…
Os guaranis migravam pelos Caminhos de Peabiru buscando um paraíso em que não havia fome, doença, miséria, inveja, ambição, desamor. Onde os frutos eram abundantes e a solidariedade era a condição da imortalidade. Quando o peregrino se despe das suas obrigações, se contamina pela força da busca, do coletivo passado e presente, na natureza em que se embrenha, nas culturas em que se sente envolvido, e se entrega aos dois dias na condição de caminheiro, ouvindo o outro sem julgá-lo, apenas o reconhecendo, ele compreende um pouco dessa magia de se encontrar, de tentar ser irmão, de buscar a Terra sem Males. Sempre um exercício constante, uma surpresa.
O café com café mesmo, chá, leite, bolo, pão, margarina, doce,queijo, mussarela, melancia, banana, é servido pelos cantuenses e abastece o corpo do peregrino que aí mesmo já se enturma, já começa a aprender. A calorosa companhia dos cantuenses completa o prazer da refeição.
Izalino da Paixão traz um poema, publicado na coletânea “Poesia nossa de cada dia”, falando do Peabiru. Gentilmente o Gaúcho – Dalto Vieira, o declama, ali mesmo refeitório do Colégio:
PEABIRU, CAMINHO DA TERRA SEM MALES
Peabiru,
Caminho florido pelos índios
Seguido à procura de Deus!
Peabiru, Caminho forrado de certo gramado,
Que só vós conheceis.
Peabiru,
Caminho de índio,
Em que caminhou bandeirantes, jesuítas
E andantes de Norte a Sul…
Peabiru,
Que vem do Peru,
Atravessa os países,
Do Pacífico ao Atlântico…
Por ti caminharam
Caciques e imperadores,
Na paz e na guerra,
Cruzando estas terras,
Fazendo horrores.
Ah! Se não fossem os bandeirantes,
Que a procura dos diamantes,
Fazendo errantes
Nossos índios irmãos,
Verdadeiros povos, desta terra, mandantes!
Peabiru,
Hoje só resta a história,
Que poucos conheceram
Mesmo assim vale a pena,
Desvendar este tema,
De um passado sem fim
Por ti caminharam
O velho tropeiro
E o carro de boi
Passou o canhão
E muita munição
Em nome do progresso.
Peabiru
Continua viva a sua história
Que um dia quiseram apagar.
Chegará o momento do grande resgate
E serás no futuro
Um grande caminho.
Caminho do viajante do futuro,
O Compostela da América do Sul.
Após o café, segue-se até à praça, em frente à Igreja Nossa Senhora de Fátima. A recepção festiva que a Secretaria de Cultura promoveu, com música, fogos de artifício, não é apenas para os peregrinos, diz a secretária Kácia. É para a cidade: que se desperte a curiosidade para que todos saibam que algo bom está acontecendo, que Nova Cantu recebe os peregrinos do Caminho de Peabiru. A bela arquitetura do templo católico, com a imagem da Padroeira e dos seus três peregrinos, embelezando o jardim, contempla o coletivo desses também peregrinos, do Caminho de Peabiru. É hora de se juntar para então se dividir, para partir. Em círculo ou não, o coletivo se reúne. O peregrino Amani conduz a reflexão. A professora nova-cantuense Marlene segue com o alongamento.
Dali, segue-se até a Gruta Nossa Senhora Aparecida, na saída da cidade. Construída em 1987, o local surgiu na intenção de pagamento de promessas, dispensando a necessidade de se ir à Aparecida do Norte em São Paulo. Suas águas foram bentas pelo padre jesuíta Beno Leopoldo Petry, que a idealizou e é levada desde então para os lares dos crentes. A gruta tornou-se um marco para a região.
Na primeira entrada de Santo Rei, ainda antes da Gruta, uma pedra,com placa de bronze, colocada pela administração municipal, registra a IX Peregrinação em Nova Cantu.
Da Gruta, os peregrinos são levados até o Distrito de Santo Rei, onde tem início a IX peregrinação.
No Santo Rei, a Igreja da praça está aberta para receber os peregrinos. Também um grupo de moradores – adultos e crianças – ali esperam. Conversa-se sobre a história local, sobre o projeto de peregrinação. Santo Rei fora, antes do século XVI, intensamente povoado por grupos humanos indígenas que viviam organizados politicamente em cacicados, tinham sua cultura própria. Viveu, no século XVI e no século XVII, a invasão dos não-índios: viajantes, conquistadores, catequizadores. Foi Vila espanhola, primitiva Vila Rica do Espírito Santo, depois foi Tambo de Minas de Ferro, recebeu os jesuítas, viveu intensos movimentos de ocupação indígena e não indígena. Foi palco de conquistas e conflitos. Hoje, a cultura indígena está ainda bastante presente, mas de forma escondida, nos hábitos, nos nomes de lugares, de rios, na memória histórica, em muitos dos moradores em descendência nem sempre reconhecida.
Os peregrinos se despedem deste simbólico povoado e seguem. Alguns metros à frente, uma ala de poucos pinheiros faz lembrar a intensa e fechada mata que os abrigava, entre perobas, cedros, gurucaias, e tantas outras frondosas árvores, antes da colonização de 1939. Esses colonizadores do século XX batizaram o Distrito pelo nome do dia em que ali acamparam: o dia de Santo Rei – 06 de janeiro.
Dobrando à direita, entre os campos que expõem as recentes colheitas da soja e do milho, algumas plantações também recentes da safrinha de milho, pastos para o gado, os peregrinos vão ao encontro do rio Riozinho. Como os outros rios, ele foi importante nas diversas levas de movimentação humana que o tempo ali viu passar. Muita água e muitos peixes. Hoje, em meio aos campos, penosamente sobrevive.
Os peregrinos seguem em uma paisagem ondulada, entremeada por plantações e gados, muita pedra, em boa parte acompanham o leito do rio Can-Can que, noutro ponto, originou o nome do município de Roncador. Passam por alguns trechos margeados de matas ainda resistentes à intensa devastação.
Sol forte, muita sede, a companhia do outro e a certeza do apoio da equipe do NECAPECAM encorajam os mais temerosos. Atentos, podem ouvir o canto de pássaros, observar as marcelinhas às margens da estrada, manacás, samambaias, sentir o frescor da mata sobrevivente, o cheiro da terra que os pés e os carros levantam, fazendo pó.
Finalmente, a Comunidade do Cateto. Ela tem esse nome, contam os antigos moradores, por causa do bichinho “catitei”, como diziam os índios, que ali era abundante. O cheiro desse bichinho, um porco do mato, contaminava o ar de uma boa parte da região. Era mesmo a comunidade dos “catiteis”, que virou “catetos”. Uma professora que ali nasceu, tendo vivido a infância e a adolescência correndo pelas matas, que eram densas, relembra ainda o odor que se exalava da grande quantidade do bichinho. E eles marcavam as árvores, faziam “trios”, pois se esfregavam nelas, correndo sempre. Ainda hoje, ela diz, quem ali viveu é capaz de perceber esse cheiro, não acabou de tudo, garante, com um grande sorriso.
Os peregrinos são recebidos pelo município de Roncador. Tio Tonho, Secretário de Cultura do município, acompanha tudo: a refeição, as visitas à Igreja, a movimentação geral. Um grupo de crianças da escola fundamental, acompanhadas de suas professoras, vem também fazer parte da festa. E recebem orientação sobre a história do local, sobre as culturas que ali viveram, principalmente dos indígenas, sobre a natureza. Escutam atentamente sobre os caminhos de Peabiru. Brincam com o peregrino Amani:
Lá em cima está o tiro-liro-liro
Lá embaixo está o tiro-liro-ló
Juntaram-se os dois na esquina
Tocaram concertina,
Dançaram solidó.
Depois, são levados à Igreja e também se fartam na deliciosa comida “porco no tacho”, acompanhada de mandioca cozida, forma tradicional de alimentação na região. O motorista que acompanha os peregrinos se emociona ao lembrar-se das visitas à vó, não distante dali, muitos irmãos, primos, tios, e a matriarca da família, no terreiro, preparando, no tacho, a comida pra todos, a carne de porco. “Era isso mesmo”, desse jeito”, diz, marejando os olhos.
Dali os peregrinos seguem de ônibus até o ponto onde deve se reiniciar a caminhada. Esses parênteses, ou seja, o trecho de ônibus, se fez necessário porque o local do almoço teve que ser alterado. O que acabou sendo muito mais enriquecedor, pois fez os peregrinos entrarem em contato com a realidade do cotidiano da cultura local. Puderam presenciar o que restou de um grande núcleo de povoamento nos idos de 1960, 70. Apenas a igrejinha, o barracão, poucas casas, um comércio testemunham a intensa atividade agrícola que a Comunidade do Cateto viveu antes da mecanização.
Os peregrinos alcançam a estrada de Roncador, que sai da Comunidade do Barro Preto -hoje um assentamento- para o Aterrado Alto, onde já se divisa o município de Luiziana.
A estrada larga é margeada aqui e ali com matas que, mesmo não sendo muito densas, oferecem a confortadora sombra, o ar fresco, minorando as dificuldades que o chão pedregoso e o pó acrescentam. A paisagem se modifica pela presença dos carros que de vez em quando aparecem, completando, mesmo que tumultuando um pouco, o quadro da peregrinação. Essa estrada é muito antiga, acompanha os caminhos velhos, descobertos em meio à mata, muito densa, de quando ali chegaram os primeiros colonizadores, na época já de 1940, 1950. Contam eles, os que ainda por ali vivem, que ela margeia e mesmo atravessa um caminho muito velho, mas ainda perfeitamente visível que encontraram, feito, dizem eles próprios, por outras civilizações, não podia ser das suas, da nossa. Árvores centenárias cresciam no meio dele, o que denunciava ter ali existido e desaparecido alguma outra cultura. Também foi encontrado um local imenso, de uma área aproximada de dois alqueires, em forma de murundum, perfeitamente identificado como obra humana sobre a natureza. E não poderia ter sido de culturas não índias, garantem os bem antigos moradores. Era um imponente murundum em forma de círculo que se destacava na imensidão dos campos e das matas recuperadas. São informações que comprovam os estudos do NECAPECAM. Desde o século XVI até o XIX, XX, a região fora habitada por diferentes grupos indígenas. Em sucessivas conquistas e embates, foram desaparecendo, sendo escravizados, exterminados ou expulsos das terras, não sem antes buscarem se defender, defenderem suas moradias e territórios. Há comprovações documentais desses movimentos, mas a natureza também contribui como testemunha pelas marcas que eles nela imprimiram pelos caminhos que fizeram, pelas marcas de suas moradias que são passadas às gerações atuais por meio da memória dos antepassados.
De repente, uma surpresa: na Comunidade do Mosquiteiro, assim chamada por causa deles mesmos, dos mosquitos, confirma Celeste Fioresi, um dos mais antigos, senão o mais antigo morador dali: está havendo preparação para a festa do padroeiro São José. A comunidade consta de uma igreja, um barracão, algumas casas. Já foi também muito maior, viviam centenas de pessoas e grandes lavouras. Hoje, a mecanização só deixou esses marcos como testemunho. Os peregrinos se enturmam. A generosidade e hospitalidade dos moradores permitem uma agradável parada. E os peregrinos puderam conhecer outra realidade cultural desse interior paranaense: das festas religiosas locais. Na sua preparação podemos vislumbrar e confirmar o dito popular de que “as vésperas é que são festas”. Fogos de artifício entremeiam o fazer das mulheres na cozinha: pães, bolos, bolachas. E dos homens no churrasqueado ainda tradicional da carne de gado no espeto de bambu, temperada de véspera. Os homens assam alguns espetos para os trabalhadores e organizadores da festa e os oferecem com fartura aos peregrinos. Depois da água, da comida, da conversa animada, dos abraços, dos encontros, do descanso merecido, a caminhada continua. Bem longe dali ainda podem os peregrinos ouvir o estalar dos fogos de artifícios – os “rojões” -que funcionam como convite aos moradores da região para a grande festa de comemoração do dia do Padroeiro São José, feita com atraso neste ano – dia 19 de abril ( o dia de São José é 19 de março).
E é ali que os peregrinos passam pelo seu maior desafio: a subida do Mosquiteiro. Ela é conhecida pelos moradores como “tira-teima”, “tira-prosa”. Ou, ainda ali se dava sentido a um famoso jargão dos velhos motoristas “Pago o estrago, mas não perco o embalo”, que traduz o sentimento que animava a população na época em que a estrada era o único meio de comunicação e transporte da região para o Sul.
O rio Mosquiteiro se faz presente já bem antes da ponte pelo chiado das águas, mas está difícil para os peregrinos, que sempre gostam de uma molhadinha nos pés. Quase inacessível.
O velho cemitério ainda está muito bem cuidado. Pouco antes dos peregrinos chegarem, passou o Padre com alguns fiéis, fazendo as orações que são tradicionais na região, depois da Páscoa: a de benzer os túmulos. Um ritual conhecido como “Bênção pascoal do cemitério”. Por isso é que os peregrinos podem admirar o capricho em que se encontram os silenciosos leitos, com as pedras que entornam seu campo santo, pintadas a cal, todo o terreno carpido, as árvores podadas e também pintadas a cal, as flores protegidas e bem à mostra, tudo muito limpinho. A visitação ali é intensa por mais ou menos dois ou três dias.
Um pouco mais à frente, algumas casas. Ali já foi uma povoação muito importante até bem pouco tempo, nos anos setenta, oitenta, até que a mecanização da soja modificasse tudo. Já teve escola, cuja professora ainda vive no mesmo local, já teve venda, farmácia, muitas casas. Dali é que se avistava o murundum de que falamos acima, cortado no meio pela estrada de índios que vinha de Guarapuava, de Pitanga, diz o morador que encontrou, também, pescando lá no rio Cantu, uma peça de ferro muito estranha, que entregou ao NECAPECAM para pesquisas. Um murundum de dois alqueires, mais ou menos, redondo, bem redondo, com até outra paisagem, que deixava o aterrado ainda mais alto. Ainda tem também o velho “mictório” ou “privada” da escola criada agora no tempo mais recente. Muitas memórias se cruzam neste local. De antes do século XVI, quando só os indígenas habitavam essas paisagens, do século XVI, XVII, quando os europeus espanhóis, civilizadores e catequizadores fizeram suas passagens, quando os bandeirantes paulistas vieram em missão de destruir e escravizar, Do século XIX, quando os campos do Paiquerê ou de Mourão começaram a ser alvo de novo da cobiça expansionista, e finalmente da colonização desse século XX que está ainda tão presente entre os moradores locais.
Os peregrinos por ali passam e costuram novo pedaço dessa memória. Seguindo, uma outra subida, que já foi bem maior que a do Mosquiteiro. Chegou essa subida a dar nome à comunidade: Comunidade da Estiva. Dizem os moradores, entre eles o seu Miguel Burak, que tão gentilmente acolheu os peregrinos para o jantar e o pouso do dia, que o nome se deve ao estivado que se fazia para poderem passar as carroças, os carros e caminhões em dias de chuva. A subida era medonha. Não dava mesmo pra seguir no barro. Então, fazia-se como se fosse um tapete de paus roliços, mesmo de bambus, qualquer coisa semelhante, que se amarravam, entrelaçavam, e se colava isso na estrada para ficar mais firme e os pneus poderem rodar. Se não fizesse assim, “batinava”, “batinava” e ninguém subia mesmo. Depois, de tanto aplainar, acabou ficando uma subida mansa, mais fraca que a do Mosquiteiro, como é hoje.
Ali fica o Sr. Burak. Miguel Burak. Solitário, não quer abandonar o local onde cresceu, se casou, teve os filhos, todos eles “bem de vida” e com saúde, e onde agora viuvou.Sua casa, os barracões, a Igreja são o centro de uma movimentação ainda importante para a região. É preciso continuar cuidando das preciosidades que ficaram, como a própria Igreja da Imaculada Conceição, cuja festa de homenagem se dá em 08 de dezembro. E acontece todos os anos, a exemplo do que os peregrinos viram na Comunidade do Mosquiteiro. Seu Miguel, velho guerreiro, cuida de tudo, com muita generosidade, muita disciplina e compromisso. Foi o pai quem construiu, seguindo o mesmo modelo da igreja de lá de onde veio, do Rio Negrinho, em Santa Catarina, em 1940.Quando os peregrinos chegam, estão também presentes ali as jovens que administram atualmente como presidentes o movimento religioso da paróquia. Em estilo ucraniano, paredes duplas, pintada de azul claro, toalhas rendadas, bordadas, bancos de imbuia muito lustros, vitrais que lembram a santa padroeira, flores, castiçais, confessionário, coro e altar, a Igreja é a presença viva de Deus e da força dessa gente tão especial. Um encantamento. Sublime espaço da intenção franca de preservar o bem, a pureza, em meio a tantas dificuldades humanas. O Cruzeiro à frente traz inscrita a frase “Salve sua Alma” também em ucraniano.
Seu Miguel conserva e preserva. Plantou três mil mudas de árvores, um bosque só de pinheiros também, esse ao lado do barracão que serviu de pouso aos peregrinos. E sabe que é preciso cuidar. Daqui a quinze anos, diz ele, é necessário realizar o desbaste. Há ainda muito o que se fazer por ali. Está preocupado porque a água na região já está se tornando escassa. Ele mesmo, ali, fica de vez em quando, em falta. Por isso, o banho dos peregrinos foi controlado. Mesmo com todo o risco, seu Miguel os acolheu com todo o carinho. Depois dos banhos, desligou registros, para que de manhã pudessem todos se lavar, e para que se pudesse preparar-se o desjejum. Ninguém sentiu a falta da água, ele administrou com maestria o problema. À hora do jantar, humildemente se colocou entre os peregrinos, jantou, conversou, acolheu. Na manhã seguinte, mandou abrir a Igreja para que fossem rezar. Ou apreciar a arte do templo cristão. Sempre explicando, sempre atento, foi um Mestre, um companheiro que se tornará inesquecível para os peregrinos dos Caminhos de Peabiru, com certeza. Muito obrigada, amigo.
O jantar na Comunidade da Estiva foi especial. A galinhada foi feita pelo marido da Coordenadora do NECAPECAM, o Miranda –José Miranda da Silva Filho, com seus companheiros Orovaldo Colchon, Deferson Lessak e Carlão. Uma delícia, não dá pra esquecer. Sem contar o caloroso apoio que deram ao evento. O churrasco, “carne cigana”, feito pelo próprio Secretário de Cultura de Roncador, o Tio Tonho, estava saborosíssimo e foi também uma preciosidade. Tudo acompanhado de música do sanfoneiro e violeiros mais famosos de Roncador. Uma honra. Também se apresentaram os jovens de uma nova banda da cidade. Aliás, Roncador se destaca nesse campo, o Tio Tonho também é músico, além de desenvolver outras atividades artísticas.o Tio Tonho, vereadores e membros da comunidade estavam lá, prestigiando o momento. Muitas histórias Tio Tonho contou, dos avós ciganos, do monge João Maria d’Agostini, da cultura local.
Noite adentro e à roda da fogueira, um grupo de peregrinos palestrou e filosofou animadamente. Madrugada, os cães latiram muito…
Manhã chegando, chega dona Maria Helena, moradora dali, do Aterrado Alto, que é uma denominação genérica das comunidades, com os quitutes que preparou para o café. Fez bolos, tortas e pães, acrescentou queijo, mussarela, margarina, fez chá, café, trouxe leite, não tinha como caprichar mais.
Terminado o café, ficou o convite para se visitar a Igreja, refletir. Os peregrinos foram informados de que dali por diante a peregrinação se daria por uma estrada plana, mas ainda com algumas ondulações de relevo, até a Comunidade da Pranchinha, município de Luiziana. Na verdade, a estrada ali tem as fronteiras de municípios um pouco indefinidas, ora um e outro se misturam, dizem os moradores.
O mapa consta de um roteiro que segue adiante, até Campina do Amoral, mas, se for segui-lo, pode não ser possível alcançar o almoço oferecido pelo município de Luiziana. Por isso, pede-se que se caminhe apenas até a Comunidade da Pranchinha.
A manhã é calma, muito pó, sol forte. Os carros de apoio dão suporte, a Comunidade da Pranchinha chega logo. Dali, o ônibus levará até a cidade de Luiziana, onde os peregrinos terão o almoço, juntando-se aos cavaleiros, que fazem neste dia a “Cavalgada do Descobrimento”.
Mas é ainda muito cedo quando os peregrinos alcançam a Comunidade da Pranchinha. Então, para dar continuidade à caminhada e não prejudicar a logística da organização, seguem a pé o roteiro até a cidade, sugerindo que o ônibus os alcancem. Quando o ônibus alcança os peregrinos, acolhe-os.Nesse percurso, porém, apesar dos desencontros e dúvidas, acaba-se por se peregrinar por uma localidade muito importante para a história da região e que também hoje já não existe mais: a Comunidade da Campina da Lizeta. Esse local era a estalagem dos primeiros colonizadores que iam para ocupar Campo Mourão. Conta um dos mais antigos, dos Teodoro, que dali vinham de Pitanga, Bourbônia e por ali seguiam. Assim, para o sentido e objetivo da peregrinação, o que parecia ser problema foi solução. Ou seja, o desvio levou para um ponto que tem muita significação no mapeamento turístico dos Caminhos e precisa ser peregrinado.
Pouco mais adiante, avistam-se os cavaleiros, razão da programação do almoço em Luiziana. Assim, foi possível descer do ônibus e novamente continuar a peregrinação até a cidade de Luiziana, no local do almoço, percorrendo aproximadamente os quilômetros previstos, cumprindo os objetivos da IX Peregrinação.
O almoço teve início com as considerações da administração municipal, que saudou peregrinos e cavaleiros. A Coordenadora do NECAPECAM, Marilene C. de Miranda da Silva agradeceu a todos – apoio, convidados e peregrinos. O cardápio constou de uma deliciosa carne de panela, mandioca, arroz e salada.
Após a refeição, os peregrinos foram conhecer a Cachoeira do Rio Sem Passos. O município de Luiziana se destaca pelas imponentes quedas d’águas, essa é uma delas. Os peregrinos se fartaram nas águas geladas, brincando e confraternizando. O “piscinão”, do outro lado da estrada, na verdade é um ponto de passagem usado no tempo em que não havia a ponte. Os peregrinos ali também brincam muito e ali se tira a foto de despedida.
Os peregrinos de Maringá, que estão com veículo próprio, dali se despedem. Os demais, seguem de ônibus até Campo Mourão, ao som gostoso e divertido do fundão, promovido pelos universitários de Turismo da FECILCAM, acompanhando o colega Mário no violão, o Gaúcho e companhia, encerrando com seu carinhoso adeus:
“Tiau, tiau, tiau amor,
Vou m’embora mas te levo no pensamento pra onde eu for…”
Até a próxima, amigos, e muito obrigada!
PEREGRINOS E EQUIPE DE APOIO DA 9ª PEREGRINAÇÃO
Peregrino
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Cidade/Est.
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Cristina Pienaro
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C.Mourão
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Izalino Inácio Paixão
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Ubiratã
|
Manoel Massaranduba
|
Ubiratã
|
Silvio Cezar Walter
|
C.Mourão
|
Raquel E. L. da Silva
|
Maringá
|
Marcos A. Puzzi
|
Maringá
|
Daltro Ângelo Vieira
|
Cascavel
|
Siro Canabarro
|
Cascavel
|
Elizabeti G. Silva
|
Maringá
|
Marcos Devonsir Carraro
|
Maringá
|
Edson Hideo Zenke
|
Maringá
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Valter F. de Araujo
|
Maringá
|
Jair Avelino Jacovos
|
Maringá
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Maria Eliana Ferreira Jacovós
|
Maringá
|
Artur A. de Oliveira
|
Cascavel
|
Vera C. Busetti de Oliveira
|
Cascavel
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Christine Siebje Mancinelli
|
Joinville(SC)
|
Ricardo G. Moreira
|
Joinville(SC)
|
Sirlei B. Shima
|
C.Mourão
|
José Vanderlei Dissenha
|
Curitiba
|
Pauletto Porcu
|
Maringá
|
Antonio Fiel Cruz Junior
|
Maringá
|
Amani Spachinski de Oliveira
|
C. Mourão
|
João Emmanuel D. de Jesus
|
C. Mourão
|
Mario Emmanuel Vieira de Jesus
|
C. Mourão
|
Bruna Mantuan Ferro
|
C. Mourão
|
Karina Daniel Pedrolo
|
C. Mourão
|
Fabíola Lemes
|
C. Mourão
|
Renato Nicolin
|
C. Mourão
|
Eder de Oliveira Maciel
|
C. Mourão
|
Priscila Amaral Jarutais
|
C. Mourão
|
Carmen Souza Casarin
|
C. Mourão
|
Icaro Osinski Soares
|
Araruna
|
Natalia Raffaele Costa
|
C. Mourão
|
Talita Almeida
|
Mambore
|
Elaine Evangelista Domene
|
Goioerê
|
Alexandra Siqueira
|
C. Mourão
|
Karina Aparecida Soares
|
C. Mourão
|
Nobuco Nakasato
Sinclair Pozza Casemiro
|
C. Mourão
Nova Cantu
|
CAVALEIRO
|
|
Neuso de Oliveira
|
Mamborê
|
APOIO
|
|
Jairo de Araujo
|
C. Mourão
|
Ian Félix
|
C. Mourão
|
Vanessa Vieira
|
C. Mourão
|
Walter da Silva Halateno
|
C. Mourão
|
Jaurita Lessak
|
C. Mourão
|
Marilene Celant M. da Silva
|
C. Mourão
|
Maria Luiza da Silva
|
C. Mourão
|
Antonio Gancedo
|
C. Mourão
|
Dinora Gancedo
|
C. Mourão
|
Branco
|
C. Mourão
|
Vanderlei
|
C. Mourão
|
Orovaldo Colchon
|
C. Mourão
|
Carlão
|
C. Mourão
|
Deferson Lessak
|
C. Mourão
|
José Miranda da Silva Filho
|
C. Mourão
|
Juarez Machado Portela
|
Roncador
|
Miguel Burak
|
Luiziana
|
Maria Helena Urhen
|
Roncador
|
Bodan Urhen
|
Roncador
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Marlene (professora Educação Física)
|
Nova Cantu
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Lazaro
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Eng. Beltrão
|
Bruno
|
C. Mourão
|
Sabrina de Assis Andrade
|
C. Mourão
|
Ryan Lebre
|
C. Mourão
|
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