Viagem ao Peru e Bolívia (22° Dia)

05/06/2012 

Acordei com o barulho de música vindo do corredor. Olhei no relógio e vi que passava um pouco das 9h00min. Eu tinha dormido bem e me recuperado do esforço dos últimos dias. Ao sair no corredor vi que a música alta vinha de um rádio na recepção, onde uma boliviana passava pano no chão. Fui para o banho e ao ligar o chuveiro começou a tocar Gusttavo Lima no rádio. Daí dancei o tche tcherere tche tchê debaixo do chuveiro. Eu estava com muito bom humor, me sentido feliz.

Eu pretendia ir para o interior da Bolívia, para a região do Salar de Yuni, mas desisti. Já estava fora fazia muitos dias e precisava voltar ao Brasil, bem como estava ficando sem dinheiro. Então resolvi deixar para conhecer o Salar de Yuni e em outra oportunidade. Arrumei minhas mochilas e decidi ir embora, voltar ao Brasil. Pouco antes do meio-dia fui até a recepção, paguei minha conta e deixei duas mochilas guardadas no depósito do hostal. Votaria para buscá-las à noite. Saí á rua e de cara ouvi Ai se eu te pego, que estava tocando na TV em uma loja. O Gusttavo Lima e o Michel Telo definitivamente são um grande sucesso na Bolívia. Fui até a rodoviária, onde troquei meus últimos dólares por bolivianos e em seguida fui visitar algumas empresas de ônibus. Eu queria passagem para Santa Cruz de La Sierra, pois de lá pretendia seguir no Trem da Morte até a fronteira com o Brasil. O preço não mudava muito entre às muitas empresas de ônibus, então me foquei no horário. Buscava um ônibus que partisse a noite, pois dessa forma eu poderia ficar passeando por La Paz durante a tarde. Acabei escolhendo uma empresa chamada Bolívia, mas após dez minutos parado em frente ao guichê olhando o vendedor conversar com a moça do guichê ao lado, desisti de comprar a passagem ali. O vendedor pelo jeito não estava a fim de vender nada. E de sacanagem fui ao guiché da agencia em frente e comprei a passagem lá. O nome da empresa onde comprei a passagem era El Dorado. Paguei $ 60,00 bolivianos e seria um ônibus semi leito. Ao passar em frente ao guichê da empresa Bolívia, dei um sorriso para o cara que não me atendeu e ainda levantei a mão mostrei a passagem da outra empresa. Acho que o otário do vendedor entendeu o meu “recado”!

Meu ônibus ia sair às 19h30min, então eu teria algumas horas para passear e fazer algumas compras. Fui em direção ao centro e parei numa lan house usar a internet. Depois passei na vendedora de abacaxis e comi três fatias. Só não comi mais por que saíram algumas afitas em minha boca, por culpa do abacaxi. Desci pela avenida principal e depois fui em direção ao centro. Cheguei à Praça Murillo, que fica em frente ao Palácio do Governo. Ao lado ficava a Catedral, que estava fechada. Tirei algumas fotos e fui andar mais um pouco pelo centro. Eu estava com pouco dinheiro, então teria que economizar o máximo possível até chegar ao Brasil. No centro vi muitos bancos e resolvi entrar em alguns deles para tentar sacar dinheiro com meu cartão de crédito. No segundo banco consegui sacar bolivianos utilizando o cartão de crédito e isso me deixou aliviado, pois não precisaria mais ficar contando os trocados. Para comemorar resolvi ir almoçar em um restaurante chique que tinha visto no centro. No restaurante olhei o cardápio e só tinham comidas típicas. Não queria ter surpresas desagradáveis, então não pedi nenhum dos pratos. Resolvi almoçar uma banana split gigante e uma fatia de torta de morango. Esse almoço alternativo foi uma delícia e paguei por ele $ 40,00 bolivianos, que foi o maior gasto que tive com comida durante todo o tempo em que fiquei na Bolívia.

Fiquei o resto da tarde passeando pelo centro da cidade e tirando fotos. Também comprei alguns presentinhos para o pessoal de casa. Não podia comprar muita coisa, por que minhas mochilas estavam cheias e pesadas e não queria deixá-las ainda mais pesadas. Algo que me chamou a atenção foram os engraxates que trabalhavam no centro, todos mascarados. Todos os engraxates usavam um capuz cobrindo o rosto. Sinceramente não entendi o motivo disso e fiquei com vergonha de ir perguntar a um deles o porquê dos rostos escondidos. Passei pela Calle de las Brujas, um local onde existem muitas coisas para vender, muitas barraquinhas e algumas delas são de produtos para magia. E a coisa mais curiosa que vi a venda foram fetos de lhama ressecados. Parece-me que estes fetos são utilizados em oferendas para a deusa Pachamama.

Quando anoiteceu jantei frango com arroz e batata frita, no restaurante onde tinha ido muitos vezes antes. Após jantar fui até o hostal pegar minhas mochilas. Resolvi ir a pé até a rodoviária e não sei como errei o caminho. Tive que andar um monte a mais até encontrar o caminho correto e cheguei na rodoviária quase em cima do horário de partida do meu ônibus. Fui embarcar e dessa vez lembrei de comprar o tal tíquete da taxa de embarque. Quando fui entrar no portão de embarque não tinha ninguém controlando o portão. Algumas pessoas estavam esperando, mas eu entrei direto, pois estava atrasado. Achei meu ônibus e ao lado dele estava estacionado o ônibus da outra empresa, cujo vendedor de passagens não quis me atender. Fiquei grato a ele, pois o ônibus era muito velho e ruim. O ônibus da El Dorado, empresa pela qual eu viajaria era bem melhor. Fiquei esperando para guardar a mochila grande no bagageiro, mas ninguém da empresa apareceu. Aí descobri que tinha que entrar no guiché da empresa, para primeiro pesar a bagagem e em seguida um funcionário colocava uma etiqueta nela e levava até o bagageiro do ônibus. O sistema era improdutivo, principalmente em razão de o guiché ser pequeno. Estava um caos, pessoas querendo entrar para pesar suas malas, outras querendo sair com suas malas já pesadas. Após uma longa espera consegui entrar e minha mochila foi pesada e etiquetada. Quando fui sair do guiché entraram dois bolivianos e um deles ao passar por mim cutucou com o dedo a bandeira dos Estados Unidos pregada na manga de minha camisa e falou algo para outro o cara que estava com ele. Não entendi o que ele falou, mas deve ter sido algo ruim, pois todos que estavam no guichê silenciaram e ficaram me olhando. Como não gostei da atitude do tal cara parei, me virei em direção a ele e perguntei com cara de bravo falando em espanhol “qual era o problema?” (¿cuál fue el problema). O cara fez cara de espanto e não falou nada. Ele deve ter achado que eu tinha entendido o que ele falou e viu que eu não era norte americano. Saí do guiché e fiquei olhando o funcionário da empresa de ônibus, que ia levar minha mochila até o ônibus. Quando ele passou por mim fui atrás dele e fiquei olhando onde ele ia guardar a mochila. Ele viu que eu estava olhando e balançou a mochila três vezes e a jogou dentro do bagageiro. Quando ele passou por mim dei um sorriso e disse a ele “bom trabalho” em espanhol, e o xinguei um monte em pensamento.

Partimos com meia hora de atraso e antes de sairmos da rodoviária o ônibus parou e um dos caras que controla os portões de embarque entrou no ônibus. Ele veio direto ao meu banco e pediu o tíquete da taxa de embarque, com um sorriso irônico no rosto. Acho que alguém tinha me dedurado, contando que entrei direto pelo portão. Fiz um charminho e lentamente procurei minha mochila pequena que estava debaixo do banco, abri-a lentamente, procurei minha carteira, abri a carteira, peguei o tíquete da taxa de embarque e entreguei a ele, devolvendo o sorriso irônico. Ele fechou a cara, me devolveu o tíquete e desceu do ônibus. O ônibus voltou a andar e para minha sorte não tinha ninguém sentado ao meu lado. Eu era o único estrangeiro no ônibus. Na minha frente ia um casal, com uma criança de colo e na poltrona do outro lado do corredor um boliviano, muito bem vestido.

Após meia hora paramos ao lado na estrada, num local cheio de barraquinhas que vendiam dezenas de produtos. Ali embarcaram mais pessoas, mas ninguém sentou ao meu lado. Alguns passageiros desceram, compraram comida e voltaram para o ônibus. Ficamos meia hora parados e voltamos para a estrada. O ônibus passou a andar mais rápido e começou a entrar um vento muito frio por frestas das janelas. Eu estava com meu saco de dormir ao lado e logo entrei nele e fiquei quentinho. A criança do banco da frente começou a chorar e achei melhor ouvir música. O cara bem vestido da poltrona ao lado tinha comprado um monte de comida e após comer jogou todo o lixo no chão, até ossos de frango. Fiquei olhando pela janela enquanto ouvia música e logo peguei no sono.

Acordei com um cara me cutucando. Tinham embarcado mais passageiros e um deles iria sentado ao meu lado. Tirei a mochila que estava na poltrona ao lado e o cara sentou. Dei uma rápida olhada e vi que ele estava sujo, muito sujo. Voltei a dormir e acordei novamente quando o ônibus parou num restaurante ao lado da estrada. Para sair de minha poltrona tive que fazer malabarismo e pular por cima do cara sentado ao meu lado. Desci do ônibus e descobri que fazia muito frio. Vi um banheiro e fui em direção a ele. Quando fui entrar tomei o maior susto quando uma moça saiu debaixo de uma lona que estava na porta do banheiro e disse que era $ 1,00 sole. Paguei e fui usar o banheiro. Nunca vi um banheiro tão sujo e tão detonado. Eu devia ter ido usar o matinho ao lado do banheiro, igual muitos passageiros fizeram, pois o matinho era mais limpo e de graça. Estiquei um pouco as pernas e voltei para o ônibus. Dessa vez o cara que ia sentado ao meu lado estava acordado e se levantou para eu me sentar. Olhei que o cara bem vestido e porquinho da outra poltrona, ele estava jantando novamente. E depois ele jogou o lixo no chão, igual tinha feito antes. Ajeitei-me no meu canto, voltei ouvir música e logo dormi.

Acordei com a claridade que vinha do lado de fora. Vi que tínhamos parado em um posto policial. Olhei no relógio e eram 3h20min. Dois policiais entraram no ônibus e foram passando por todas as poltronas olhando os passageiros que dormiam. Eu tinha certeza de que eles iam implicar comigo. Então fiz de conta que dormia. Logo senti alguém me cutucando no ombro e abri os olhos lentamente e virei para o lado em que me cutucavam. O cara que estava sentado ao meu lado acho que tinha desembarcado e um dos policias estava sentado na poltrona ao meu lado e outro policial com uma metralhadora nas mãos estava em pé ao lado dele. Tirei o saco de dormir que me cobria e ele viu a bandeira norte americana no ombro de minha camisa. Em inglês ele pediu meu passaporte. Lentamente procurei minha mochila debaixo do banco e de dentro dela tirei meu passaporte. Então ele folheou o passaporte e perguntou em espanhol se eu era brasileiro. Respondi em português que era brasileiro e ele perguntou sobre minha bagagem. Falei que tinha a pequena mochila no chão sob o banco, uma mochila no bagageiro acima de minha cabeça e outra no bagageiro do ônibus. Ele olhou e apalpou a mochila que estava no bagageiro acima de minha cabeça. Em seguida disse para eu descer junto com ele. Fora do ônibus fazia muito frio e me arrependi por não ter colocado um casaco antes de descer. O policial me pediu para mostrar qual era minha mochila e depois de olhar em dois bagageiros, vi a mochila e mostrei a ele. Ele chamou o motorista do ônibus e disse para ele pegar a mochila. O motorista entregou a mochila nas mãos do policial, que ao pegá-la disse que estava muito leve. Respondi a ele que nela só tinham roupas sujas. A mochila estava com uma capa de proteção em volta e eu tinha enrolado ela com fita adesiva. Ele colocou a mochila sobre um banco e eu comecei a tirar as fitas. Ele disse que não precisava tirar e então começou a apalpar os lados da mochila. Em seguida pegou a mochila e entregou-a ao motorista e disse para ele guardá-la. Então se virou para mim e disse para eu subir no ônibus para me aquecer e voltar a dormir. Por último tirou meu passaporte que estava em seu bolso e me devolveu. Chegaram mais alguns policiais armados e um deles parou na minha frente e me perguntou se estava tudo bem. Respondi que sim e ele me mandou subir no ônibus para me aquecer. Quando entrei no ônibus todos os passageiros estavam acordados e conforme eu ia passando entre as poltronas todos me acompanhavam com os olhos. Fiz cara de mau e segui até meu lugar, me segurando para não rir. Achei estranha a forma de revista que o policial fez. Creio que trabalham mais no psicológico das pessoas e como me mostrei calmo todo o tempo e pela forma que eu agi, eles viram que eu não levava nada proibido. É a velha história do quem não deve não teve e não demonstra que deve. Logo peguei no sono e não vi mais nada

Entrada do Hostal El Solário.
Plaza Murillo.
Catedral de La Paz.
Em frente ao Palácio de Governo.
Avenida no centro de La Paz.
Uma das milhares de vans que circulam por La Paz.
Parte do centro de La Paz.
Os engraxates “mascarados” de La Paz.
Fetos ressecados de lhamas, à venda na Calle de Las Brujas.
Arroz, frango e batata frita.
No ônibus, saindo de La Paz.
O velho ônibus da empresa El Dorado.
Parada para lanche.

Viagem ao Peru e Bolívia (16° Dia)

30/05/2012 

Copacabana

Acordei com a camareira batendo na porta do quarto e quando olhei no relógio me assustei, tinha dormido por doze horas a fio. Arrumei minhas coisas e desci fazer o chekout. Perguntei sobre minhas amigas e o recepcionista disse que elas já tinham saído do hotel. Achei que elas tinham ido embora no ônibus que segue às 9h00min para La Paz. Deixei minhas mochilas guardadas no depósito do hotel e saí, fui visitar algumas empresas de ônibus e comprar minha passagem para La Paz. Todas as empresas só tinham ônibus às 13h30min e o preço mudava pouca coisa de uma empresa para outra. Vi na rua alguns ônibus menores e algumas pessoas anunciando que eles saíram em 15 minutos. Fui pedir informações e descobri que estes ônibus não iam até a rodoviária, mas somente até um cemitério na entrada de La Paz. Voltei ao hotel e comprei a passagem do recepcionista, paguei $ 20,00 bolivianos.

Fui dar uma volta pela cidade e após caminhar por algumas ruas próximas ao centro, fui novamente até a Basílica Nossa Senhora de Copacabana. Depois fui numa praça em frente e um cara vestido com a camisa do Grêmio pediu para eu bater uma foto dele. Quando ele descobriu que eu era brasileiro, começou a falar sem parar e me deu algumas dicas sobre o que fazer em La Paz. Caminhei mais um pouco pelo centro, fui até o lago e voltei ao hotel. Fiquei lendo na recepção até próximo ao horário de meu ônibus partir. Fui pegar minhas mochilas no depósito e quem me levou até o depósito e abriu a porta foi uma garotinha de uns quatro anos. Entrei no depósito e peguei minhas mochilas, dei uma olhada em volta e tinham dezenas de mochilas. Algumas de marcas europeias que custam cerca de U$ 300,00. Se eu fosse um cara desonesto podia escolher qualquer mochila ali e sair tranquilamente, pois não existia nenhum tipo de controle e a garotinha nem sabia o que estava fazendo.

Fui para o local do embarque, que era na esquina do hotel. Passou por mim um casal e vi que a moça tinha uma capa da Náutica em sua mochila, igualzinha a minha. E o cara tinha uma mochila da Trilhas & Rumos, que é uma marca brasileira. A dedução foi de que eram brasileiros. Embarquei no ônibus e ao sentar em minha poltrona quase que não consigo me encaixar nela, de tão pequena que era. E não existia encosto no meio dos bancos. Ao meu lado foi uma norte americana e ficamos quase sentados um sobre o outro de tão apertada que era a poltrona. No banco da frente ia duas outras norte americanas, amigas da guria que ia ao meu lado. Fui reclinar minha poltrona e a moça de trás pediu para eu não fazer isso, pois senão as pernas dela não caberiam onde estavam. Primeiro achei que era frescura dela, daí olhei para ela de cima a baixo e vi que além de alta ela era gordinha e realmente não ia caber na poltrona se eu reclinasse a minha. Então o jeito foi ficar meio espremido e para minha sorte a guria da frente não reclinou a poltrona dela.

O ônibus partiu e após passarmos pela periferia da cidade, passamos a percorrer uma estrada que seguia ao lado do Lago Titicaca. A paisagem era bonita, o contraste de cores entre a terra árida e marrom e o azul das águas do lago. Em alguns trechos da estrada o lago surgia dos dois lados. Em algumas partes era possível ver montanhas nevadas que ficavam a quilômetros de distância. Passaram uma relação para todos os passageiros assinarem e também preencher sua nacionalidade e idade. Vi que no ônibus tinha gente de todas as partes do mundo. E também vi que a americana que estava do meu lado tinha apenas 18 anos, bem como as duas amigas dela.

Chegamos a um pequeno pueblo as margem do lago e a estrada acabava ali. Teríamos que desembarcar e atravessar o lago de lancha, enquanto o ônibus atravessaria numa pequena balsa. A passagem para atravessar de lancha custava $ 1,50 bolivianos. A lancha não era das maiores e vi que era bem velha. Começou a entrar gente e não parava mais, alguns sentando na parte da frente bem no fundo. E muita gente ficou em pé. Achei aquele excesso de lotação perigoso e fiquei nos fundos da lancha, pois em caso de naufrágio teria mais chances de me salvar. Logo que a lancha partiu duas americanas abriram espaço entre elas e disseram para eu sentar ali. Uma era a guria que estava ao meu lado no ônibus e a outra era amiga dela. Sentei-me e fiquei olhando nosso ônibus atravessar numa balsa. Fiquei pensando no que aconteceria com minhas mochilas que estavam no bagageiro do ônibus, caso ele caísse da balsa e afundasse no lago. A travessia durou cinco minutos e ao desembarcar do outro lado aproveitei para caminhar e esticar as pernas.

Enquanto esperava o ônibus aparecer, vi o casal de brasileiros que tinha embarcado em Copacabana e fui falar com eles. Olivia e Enrico eram do interior de São Paulo. Já tinham passado pelo Peru e agora iam passar uns dias em La Paz e de lá seguir para Buenos Aires de avião. Conversámos um pouco e quando o ônibus apareceu embarcamos e seguimos viagem. A paisagem não mudava muito e após nos afastarmos do Lago Titicaca ela ficou menos bonita, se resumindo a pequenas casas e algumas plantações e criações de ovelhas. Acabei dormindo e só fui acordar quando chegamos à La Paz, quase no final da tarde.

La Paz

A periferia de La Paz era muito feia, pobre e suja. Entramos pela parte alta da cidade e chamou atenção uma estátua de Che Guevara feita de sucatas. Essa estátua ficava numa pequena praça onde em frente dezenas de vans esperavam passageiros. A maior parte dos veículos de La Paz é formada por vans, pois em razão das muitas ladeiras e ruas estreitas existem poucos ônibus e muitas vans circulando pela cidade. Passamos por um pedágio e começamos a descer para a parte baixa da cidade, onde fica o centro. Eu já tinha passado por ali dias antes, quando fui ao Peru. Ao longe dava para ver o Illimani, que é uma montanha nevada com quase 6.500 metros. Logo chegamos á rodoviária e desembarcamos. Ao descer do ônibus vi um Iphone debaixo do banco e lembrei que o tinha visto nas mãos de umas das norte americanas. Fui atrás dela e a encontrei na saída do portão de embarque e devolvi o Iphone a ela, que ficou muito agradecida. Fui pegar minhas mochilas no bagageiro e ao sair pelo portão de embarque um cara veio atrás de mim e me entregou minha garrafinha de água, que segundo ele eu tinha derrubado na hora que peguei a mochila. Essa garrafinha é de alumínio e comprei no Canadá, então ela tem um valor sentimental para mim. Ainda dentro da rodoviária troquei dólares por bolivianos, numa casa de cambio. Antes de sair do Peru eu saquei todos os dólares que tinha na conta do meu cartão da Confidence, pois na Bolívia não tinha terminais ATM para fazer saques. Andar com todos os meus dólares era perigoso, mas não tinha outra solução. Parei num centro de informações turísticas na saída da rodoviária e peguei gratuitamente um mapa do centro da cidade.

Na frente da rodoviária fiquei pensando no que fazer, se pegava um taxi até o hostal El Solário, onde eu pretendia me hospedar, ou se ia a pé até lá. Eu sabia que ele ficava a cerca de um quilômetro da rodoviária. Como boa parte do caminho era descida, resolvi ir a pé. Passei em frente ao Hostal Pirwa, que era da mesma rede do hostals que eu tinha ficado em Cusco. Entrei e fui perguntar o preço. Achei caro $ 100,00 bolivianos por um quarto individual e resolvi ir para o El Solário, pois sabia que lá o quarto individual custava $ 35,00 bolivianos. Tinha que atravessar uma enorme avenida, que em razão do horário estava com trânsito intenso. Fiquei um tempão esperando e não conseguia uma brecha para atravessar. Por estar cheio de mochilas eu não podia correr igual os outros pedestres faziam para atravessar a avenida. Fiz uma tentativa de atravessá-la e antes de chegar na metade me vi cercado de carros, quase sendo atropelado. Consegui voltar para a calçada e fiquei pensando no que fazer para atravessar em segurança. Daí surgiu um guarda de trânsito não sei de onde e perguntou se eu queria atravessar a avenida. Respondi que sim e o guarda assoprou seu apito, levantou a mão direita, entrou no meio da avenida e todos os carros pararam. Atravessei a avenida me sentindo importante, com todos os motoristas me olhando. Nunca tinha passado por experiência igual, nem mesmo no Brasil. Ao passar pelo guarda agradeci e logo estava são e salvo do outro lado da avenida. Pedi informação a algumas pessoas sobre como chegar na rua do hostal e todos foram simpáticos ao dar informação. E logo encontrei o hostal, que fica num prédio antigo, quase nos fundos de uma igreja. Junto ao hostal funciona uma agencia de turismo, na qual eu pretendia contratar alguns serviços turísticos.

Subi até a recepção e pedi um quarto individual. O preço era mesmo de $ 35,00 bolivianos. Existiam quartos coletivos com quatro, seis e até oito camas. Estes quartos custavam de $ 20,00 a $ 30,00 bolivianos e eram mistos, com homens e mulheres misturados. Não achei vantagem ficar num quarto destes, pois a diferença de preço para o quarto individual não era muita. Eu preferia ficar sozinho, pois podia deixar minhas coisas espalhadas pelo quarto e também ficar a vontade para entrar, sair e dormir a hora que eu quisesse. No quarto ajeitei minhas coisas e fui tomar banho, num banheiro de uso coletivo que ficava no corredor. Ao voltar para meu quarto descobri que a Olivia e o Enrico estavam no quarto ao lado. Eles tinham vindo de taxi da rodoviária até o hostal. Então lembrei que eu tinha dado o endereço do hostal a eles. Conversamos um pouco e fui me ajeitar para sair jantar. Minha garganta tinha voltado a doer e a formar secreção. E uma tosse chata estava começando a incomodar. Isso me deixou preocupado, pois eu pretendia subir uma montanha nevada e com a garganta ruim isso seria um enorme problema.

Saí do hostal e caminhei pelas ruas próximas. Em volta existiam muitas barbearias e por onde eu passava pessoas na porta insistiam para eu entrar e fazer a barba. Foi então que notei que os bolivianos não usam barba. A todos que me abordavam eu agradecia educadamente e dizia que não queria fazer a barba. Encontrei uma farmácia e entrei para comprar alguns remédios para a garganta. A farmácia parecia aquelas farmácias antigas que vemos em novelas ou filmes de época, com balcões e prateleiras de madeira e potes com medicamentos por todos os lados.  Ali se vende remédios a granel, ou seja, você diz quantos comprimidos quer e a atendente vende a quantidade que você pediu. Esse sistema é bem melhor do que o sistema brasileiro, onde você compra a caixa toda e muitas vezes não utiliza tudo e acaba jogando fora o que sobrou. Também comprei algumas soroche phills, comprimidos que servem para combater o mal de altitude. Pretendia utilizar tais comprimidos quando fosse subir a montanha nevada dali uns dias. Antes de voltar ao hostal, entrei em uma lanchonete para jantar. Além de lanches eles também tinham refeição. Escolhi um prato com arroz, batata frita e frango frito. Na Bolívia não existe feijão e a carne vermelha é cara, então frango e arroz é à base da alimentação local.

Voltei ao hostal e encontrei a Elisa, a italiana que conheci na Isla del Sol. Ela veio para La Paz no mesmo horário que eu, mas por outra empresa de ônibus. A Audrey tinha ido para outra cidade no interior da Bolívia. Nosso desencontro ocorreu por que levantei tarde e elas saíram muito cedo para passear por Copacabana. Fui até a agencia de turismo que funciona no hostal e acabei fechando para o dia seguinte um passeio de dia inteiro pela estrada da morte. O passeio era um downhill de bike. Escolhi uma bicicleta intermediaria, com freio a disco e suspensão somente na dianteira. Provei roupas, capacete e acertei o horário de saída e outros detalhes para o dia seguinte. Pelo pacote que incluía bicicleta, roupas, equipamentos, guia, transporte, lanche e almoço, paguei $ 360,00 bolivianos. Subi para meu quarto e ao passar pelo corredor uma guria que estava sentada ficou me olhando de cima a baixo. Ela parecia a Angelina Jolie, mas numa versão loira e dez anos mais nova. Ao entrar no meu quarto vi que o quarto ao lado estava com a porta aberta e fui conversar com o Enrico e a Olivia. Acabei contando sobre meu problema de garganta e que se não melhorasse isso seria um problema para meus planos futuros. O Enrico falou que tinham alguns antibióticos, que ganhou de um tio que é médico. Ele disse que se eu não melhorasse, no dia seguinte era para falar com ele, que me daria alguns desses antibióticos. Voltei para meu quarto e fiquei descansando e lendo.

Depois de uma hora descansando fui usar o banheiro e resolvi dar uma volta pelo hostal, para conhecê-lo melhor. O hostal é antigo e enorme, com dois andares, cozinhas coletivas e muitos quartos. Vi que tinha muita gente hospedada ali, principalmente europeus. Quando estava subindo de volta para meu quarto que ficava no segundo andar, encontrei novamente a sósia da Angelina Jolie. Ela perguntou em inglês de onde eu era e quando disse que era brasileiro ela começou a falar em espanhol. Ela era francesa e disse que adorava homens com barba. A guria era muito bonita e enquanto conversava com ela comecei a sentir um cheiro estranho. Em um momento em que a francesa se virou para falar com outra guria, cheguei mais perto dela e disfarçadamente cheirei o seu pescoço. Quase caí de costas, o mau cheiro que estava sentido vinha dela. O que ela tinha de bonita tinha de porquinha e pelo cheiro fazia dias que não tomava banho. Com um fedor daqueles, nem que fosse a Angelina Jolie original eu encarava. Falei a ela que precisava ir dormir, pois tinha que acordar cedo no dia seguinte e subi para meu quarto. Que decepção! Ao menos fez bem ao meu ego ter uma guria bonita e jovem me olhando, vindo conversar comigo. Mas com aquele mau cheiro, sem chance!!! Eu já estava deitado quando bateram na porta do quarto. Fiquei com receio de que fosse a Angelina Jolie fedida e abri a porta com cuidado. Era o Enrico, que veio me dar alguns antibióticos, pois não sabia se ia me ver no dia seguinte. Agradeci pelos remédios, que eram amostras grátis e tomei um comprimido antes de voltar para a cama. Não sei se foi o remédio, mas logo peguei no sono e dormi feito um anjinho…

Meu quarto em Copacabana.
Lago Titicaca, em Copacabana.
Lojas em Copacabana.
Copacabana.
Basílica Nossa Senhora de Copacabana
Paisagem vista pela janela do ônibus.
A lancha lotada na travessia do lago.
Esperando o ônibus após atravessar o lago.
O ônibus na balsa.
Paisagem na estrada que leva à La Paz.
Estátua de Che Guevara feita com sucatas.
La Paz.