Saindo do pilates na terça (11), alguém pergunta se é hoje o Dia dos Namorados. Três amigas casadas se olham meio preocupadas (mas não muito): “ih, é hoje?” Alguém diz que não, é na quarta. Ninguém que é casado sabe muito bem quando é o Dia dos Namorados mais.
A data criada pelo pai de João Doria ficou chata para quem namora e é cobrado para gastar R$ 300 para pegar fila em um restaurante de fondue meio brega e ficou mais chata ainda para quem é solteiro e é soterrado por manifestações amorosas nem tão sinceras assim na internet. Tudo que é obrigatório perde a graça — inclusive achar um namorado em pleno outono.
É isso, você provavelmente acordou essa manhã ensolarada vendo as redes sociais repletas de gente declarando amor eterno enquanto, por cima do muro para a vizinha, confessa que não aguenta mais o par. O que tem de cônjuge que não sabe onde ficam os pregadores da casa porque nunca pendurou um varal de roupa dizendo no Instagram que faria tudo por seu amor…
Tiago Leifert disse outro dia que quando a galera posta muito é porque tem alguma coisa errada. Precisa declarar amor eterno na frente de todo mundo? No meu tempo, era uma vergonha quando alguém chamava um carro de som para mostrar para a vizinhança toda que gosta de você. Faixa de amor pregada nos postes? Cafona.
Mas, pior do que postar sem sentir, é sentir que precisa postar para existir. E aí entra mesmo na lista de afazeres dessa semana complicada, entre fazer musculação quatro vezes até sábado e ir no hortifrúti na quinta, o item: arrumar um par. Em terra de carente, uma curtida no story é aliança dourada.
Ai, mas a colunista não acredita no amor? Nossa, acredito demais. Amor me levanta da cama todos os dias, às vezes, antes da hora certa. Sem amor, a gente nem existe. Eu não acredito é nessa patacoada de todo mundo bem hoje, uma quarta-feira qualquer, eleger um dia para amar demais — ou para sofrer demais por ser amado de menos.
Com tanta série boa na Netflix, tanto restaurante tailandês para pedir pad thai no Ifood, tanto malbec que o Pão de Açúcar entrega em casa, tanto grupo bom de meme no WhatsApp… é sério que hoje é dia de pensar no que poderia ser, mas não é?
Deve estar cheio de casal por aí que está ensaiando sozinho para começar o debate do Papo de Segunda, na segunda (10): a famosa crise da monogamia. Um monte de gente sem o rompante de sinceridade de Francisco Bosco no programa, mas pensando igual (“casamento é muito chato”, “desejo transar com outras pessoas todo dia”).
E enquanto uns estão ok com isso, outros sofreriam demais com o desejo do ser amado por um terceiro elemento. Nem acho casamento chato, mas que não é legal todo dia também não é.
Nada é fácil — ficar sozinho, ficar junto, ficar postando, ficar sem postar, ficar na fila do Chalezinho para comer um fondue de Lindt, ficar reclamando que não recebeu uma florzinha sequer. No fundo, gostoso mesmo é cuidar de si e saber estar só. Aí, todo resto acontece. E ninguém precisa reclamar de ninguém para vizinha (mas se quiser também pode).
Eu desejo uma excelente quarta-feira para você. E se for tomar um malbec, lembra de mim.
Luciana Bugni – www.uol.com.br