23 horas, 23 perrengues…

Sempre acontecem perrengues em minhas viagens, independente de que tipo de viagem eu faça. Nas minhas viagens acontecem problemas que parecem só acontecer comigo e com mais ninguém. Já até me acostumei a isso e raramente me estresso com os perrengues, pois aprendi que em viagens os problemas são resolvidos mais facilmente quando ficamos calmos e conseguimos raciocinar de uma forma clara.

Certa vez conversando com minha amiga Angela, sobre perrengues, e depois de ela ler meus livros e conhecer os muitos perrengues que já passei em minhas viagens pelo mundo… Ela contou que é igual a mim, que sempre que viaja perrengues acontecem aos montes. E a partir dessa conversa surgiu a curiosidade de saber como seria dois mestres do perrengue viajando juntos. Será que um “perrenguento” anularia os perrengues do outro “perrenguento”? Ou os perrengues se somariam e a viagem se tornaria um caos? A dúvida para essa pergunta descobriríamos no dia que desse certo de viajarmos juntos. E esse dia chegou no feriado de 15 de novembro, quando convidei a Angela para me acompanhar numa viagem bate e volta até a Argentina e Paraguai, para buscar muamba.

A Angela é uma moça fina, que faz viagens finas e que já esteve no Paraguai fazendo compras, mas nunca no esquema “muambeiro”, atravessando a Ponte da Amizade a pé, sob um sol escaldante. Quando fiz o convite deixei claro para ela que a viagem seria um “programa de índio” e mesmo assim ela topou o desafio. No fim a viagem foi mais que um “programa de índio”, ela foi um “programa de uma tribo inteira”. Aconteceram coisas que até nós duvidamos. E descobrimos que juntos devemos ter batido o recorde mundial de perrengues num mesmo dia. A Angela anotou muitos desses perrengues e conta sobre alguns no texto logo mais abaixo. Apesar de tudo voltamos para casa sãos, salvos e inteiros, mas com horas de atraso na viagem e com dor nas mandíbulas de tanto rir. Nessa viagem descobrimos mais uma cosia em comum que temos, que é não se estressar – ao menos tentar – com os problemas e rir deles. Rimos demais e esse bate e volta até a Argentina e o Paraguai, acabou sendo uma viagem inesquecível justamente pela enorme quantidade de perrengues que tivemos.

No dia seguinte a viagem, após estarmos em nossa cidade dando expediente em nossos trabalhos, a Angela me perguntou pelo WhatsApp qual foi o momento da viagem em que ela perdeu sua dignidade. Respondi sem pestanejar que foi no momento em que ela atravessou a Ponte da Amizade a pé…

 

**Texto: Angela Colombo

Algo em comum é primordial para aproximar pessoas, se grupos se reúnem são porque integrantes gostam de uma mesma atividade, e se eu e o Vander temos algo em comum, é gostar de viajar. Nossa primeira viagem juntos vai ficar marcada em nossas memórias, pois além de especial, divertida e perrenguenta, também foi duplamente internacional. Os opostos não se atraem, os dispostos realizam experiências memoráveis.

Os bons momentos dependem muito mais da nossa própria vontade em aproveitar as oportunidades que a vida oferece, transformando cada ação em uma experiência única… Muitos terão preguiça de acordar cedo para ver o sol nascer, outros não terão disposição de caminhar até o topo da montanha para contemplar a paisagem, mas a recompensa só será garantida para quem for atrás…

Ponto para a pontualidade! E aqui começa nossa jornada… E ainda que o mocinho chegou pela contramão da direção, seguimos aproveitando cada quilômetro para revelar segredos, desabafar mágoas e dividir sonhos…

23 horas de convivência, 23 horas de “programa de índio” até parecia uma profecia… 23 horas de gostinho de quero mais, 23 horas de que bom que eu aceitei, 23 horas e deu tudo certo!

Minhas viagens sempre costumam ter imprevistos que sempre foram solucionados – geram estresse? Sim! Mas é melhor me estressar viajando do que em casa – mas um dia ao ler, Caminho de Santiago de Compostela, disse ao meu autor favorito que: “nós dois viajando juntos seria perrengue atrás de perrengue” e ele ciente dessa afirmação ousou me convidar e sentir na pele a alegria de estrear perrengues comigo…

Viajar é altamente enriquecedor, independente do destino, a sua responsabilidade é observar e aprender, é buscar lições… e tudo começou com um símbolo no painel do carro, para mim era um sinal de exclamação espanhol de cor amarela, mas esse símbolo no painel do carro revela que o pneu está murchando…

E dito e feito, começou a peregrinação em busca aos calibradores de pneus. A estratégia era ir em um mercado fazer compras, depois parar num posto de gasolina e calibrar o pneu, e assim sucessivamente até encerrar as compras do lado argentino e encontrar uma borracharia, mas fomos parados na fiscalização da Receita Federal. Lógico que fomos cadastrados. Claro! Carro cheio, pesado, pneu esvaziando… Vinte minutos de fila… Metaforicamente é como se as mágoas e histórias tristes desabafadas estivessem sendo “esvaziadas, expulsadas, vomitadas através do ar do pneus” o peso do carro seria a nova “bagagem, a nova história” o tempo na fila necessário para exercer nossa paciência que aliás foi acompanhada de muita gargalhada…

Serviços de emergência são imprescindíveis e olha que interessante a junção do serviço tão antigo do borracheiro com o moderno sistema de pesquisa do Google Maps. Depois de algumas vezes calibrando o pneu dianteiro do lado do passageiro o Vander localizou um parafuso, então pesquisamos no celular e encontramos o serviço de borracheiro 24 horas, e pagando 20 reais o pneu novinho foi remendado e seguimos viagem para o Paraguai… Agora estávamos mais tranquilos porque o sinal do painel tinha apagado… Aprendi uma lição, que pneu novo atrai prego/parafuso, o Vander tinha recém trocado os quatro pneus do carro dele!

Mal sabíamos que nossa reputação de perrengueiros estava apenas começando, e, agora iniciaria um efeito dominó que só vivendo é possível acreditar, perdemos várias vezes o sinal do Google Maps e assim nos perdermos e nos encontramos, mas algo que aprendi nessa viagem foi ser conduzida por ele – de olhos fechados – a capacidade que ele tem de se localizar é impressionantemente admirável… Com o carro devidamente estacionado, tomamos todas as medidas de segurança, acionamos o aplicativo Strava e seguimos rumo a famosa Ponte da Amizade… “Ei Angela, cadê a chave do carro? Vander não está comigo! – eu penso: não lembro de ter visto ele acionar o alarme – olho pra ele examinando o terceiro de seis bolsos da calça operacional dele e saio andando em direção ao carro pensando que a chave vai estar na ignição – meus vinhos estão dentro do carro dele – Corre Vander vamos lá no estacionamento… Ele vem andando atrás de mim, a gente ri, mas é de nervoso, ele abre a porta do carro e tira a chave da ignição…. Tenho certeza que se ele fosse de falar palavrão tinha soltado aos menos dois ali… Foi uma mistura de “não creio” com “como assim?” Ele é inteligente, atraente, carismático e acabou se distraindo conversando comigo e esqueceu a chave na ignição com o carro estacionado a menos de um quilometro da fronteira com o Paraguai. Mas tudo resolvido!

Eu tinha tomado meus remédios e vi ele tomando os dele… Inacreditável… Mas seguimos sob o sol, minha primeira vez cruzando a ponte a pé foi no esquema “boi no rio com piranha”… Ciudad del Leste o que dizer desse lugar? Caótico, muito óbvio! Mas enfim… Segui os passos do Vander, olhava a nuca dele e o suor escorria… Lembrava do parafuso no pneu e agradecia termos encontrado serviço 24 horas de borracharia… E inevitavelmente ria lembrando dele procurando a chave do carro nos seis bolsos da calça… O sol batia no asfalto e subia um mormaço, a temperatura estava quente… Eu queria um banho…

23 horas em três países, 23 horas de transparência e sinceridade, 23 horas transpirando feito maratonistas profissionais, 23 horas intensas, 23 horas revelaram que assunto não se esgotam quando a conversa é agradável, 23 horas observando, aprendendo e compreendo quem ele é…

Depois de sair do Paraguai, paramos num shopping center de rico em Foz do Iguaçu. O shopping estava lindo com decoração natalina e a melhor parte foi quando fui abordada por uma senhorinha pedindo ajuda com vinhos, me senti toda importante. O Vander empurrando o carrinho e a fiscal o parou perguntando se ele tinha pagado as caixas de cerveja que levava consigo. Eu não sei se a gente estava com cara de pobre, muambeiro ou com as vestimentas desalinhadas, meu cabelo parecendo que tinha acabado de sair da academia, ou se tal pergunta é um protocolo de praxe do estabelecimento. Não vou procurar saber também… Mas caloteiros não somos!

Mas culpar o Google Maps é fácil, a culpa é do aplicativo, o sinal está ruim, mas o que dizer quando se deixa o carro no estacionamento G3 do shopping, desce no G2 e quer insistir em encontrar o carro? É sério? Quando um imprevisto acontece é plausível, não há nada para comentar, mas eu e Vander tivemos tantos que chega virar piada e sabe que embora e lamentavelmente tenha tido o prejuízo financeiro a gente riu de doer a barriga… Enquanto ele procurava o carro no G2 – e nunca encontraria – eu pagava o estacionamento que tinha esquecido de pagar – fiquei com o ticket na mão, papel foi suando, entreguei pra ele e ao passar no código de barras o leitor não leu – leitor analfabeto – um carro estacionou atrás de nós – vai leitor – uma moto atrás do carro que estava atrás de nós, segurança do estacionamento se aproxima e Vander me pergunta: “você pegou o comprovante que pagou?” Eu respondo dando risada: “não”! Outro carro atrás da moto. Segurança olha pra nós, Vander olha para o segurança e diz “eu paguei!”, enfim a cancela sobe… Fazia tempo que não me divertia tanto como nesse dia…

Um dia li sobre a Lei de Murphy, não penso que ela se encaixa em nossa viagem, mas a verdade é que nunca, até hoje, escutei alguém contar que viajou e o pneu furou duas vezes… Pois é! É raro mais acontece! Na viagem de volta para casa, já quase no meio do caminho, seguíamos em uma conversa mais íntima, e ele solta um palavrão, o pensamento veio na velocidade da luz: “o Vander falando palavrão, algo de errado não está certo”! Vander disse que o símbolo de pneu esvaziando novamente apareceu no painel! Paramos em Medianeira e ele tentou entrar em contato com a seguradora, vi que foi o primeiro momento que realmente ficou irritado e desapontado! Eu consegui encontrar um borracheiro 24 horas – que serviço essencialmente útil – e lá vamos nós seguindo para um lugar desconhecido onde iríamos depositar toda confiança no trabalho de um borracheiro para seguir nossa viagem! Esse momento estávamos cansados e lidar com mais uma borracharia não era nada que queríamos, mas tudo bem! Encontramos o lugar, o borracheiro arrumou o pneu, mas, pasme! A luz do painel continuava acessa! Um segundo parafuso de rosca infinita no pneu traseiro do lado do motorista – efeito Vander! Nós dois juntos somos imparáveis! Pra que homem bomba? Um segundo pneu remendado…

Teve um momento que realmente acreditei na promessa que ele ia me mandar voltar de ônibus, porque depois que ele passou com o farol apagado no posto da Polícia Rodoviária Federal que já tinha multado ele em um viagem passada, eu falei que era minha vez de conduzir o carro, ele aceitou, e estava tudo bem, e pra fechar a última hora de viagem eu passei acima da velocidade permitida em um radar…Vander sendo Vander e Angela sendo Vander!

23 horas que não voltam mais e que ficaram no passado mas que foram vividas intensamente, 23 horas que deixam recordações que valem a pena serem relembradas e por isso foram fotografadas, filmadas e agora escritas, gratidão por proporcionar 23 horas, 23 perrengues…

O primeiro furo… Foz do Iguaçu – PR.
Rindo para não chorar…
Angela em frente a sua loja…
Vida de muambeiro…
Ciudad del Este.
Perdendo a dignidade…
Refazendo o remendo do primeiro furo e descobrindo o segundo furo… Medianeira – PR.

Parque Nacional Iguazú (Argentina) Parte: 2

PARQUE NACIONAL IGUAZÚ – MARAVILHA DO MUNDO

PATRIMONIO NATURAL DA HUMANIDADE

As Cataratas do Iguazú encontram-se no interior do Parque Nacional Iguazú, uma área de preservação da natureza que cobre 67.720 hectares no extremo norte da Província de Misiones, na República Argentina. É um sistema de 275 saltos de água no meio da Selva, localizado a 17 quilômetros da foz do Rio Iguazú, nas águas do Rio Paraná, ponto onde se encontram as fronteiras da Argentina, Brasil e Paraguai, onde se erguem as cidades de Porto Iguazú, no lado argentino, Foz do Iguaçu no lado brasileiro e o conglomerado urbano Cidade del Este/Presidente Franco, do lado paraguaio.

  • As Cataratas do Iguazú têm uma largura de 2,7 km (ou 1,7 milhas). A sua altura varia entre 60 metros (200 PES) e 82 metros (ou 269 PES) e a sua média de fluxo de água de 1.800 m ³/s.
  • Uma grande parte da água das cataratas cai na Garganta do Diabo, um grande abismo de 82 metros de altura, 150 metros de largura e 700 metros de comprimento. Este abismo é em forma de U.
  • Dois terços das Cataratas do Iguazú estão no lado Argentino.
  • As Cataratas do Iguazú se formaram como resultado de uma erupção vulcânica.
  • As Cataratas do Iguazú podem ser vistas em muitos filmes, incluindo: A Missão, Indiana Jones e o Reino da caveira de cristal, Mr. Magoo, Miami Vice.

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Parque Nacional Iguazú (Argentina) Parte: 1

Já perdi a conta das vezes em que visitei as Cataratas do Iguaçu, dentro do Parque Nacional do Iguaçu, no lado brasileiro das Cataratas. O local é muito bonito e merece uma visita. E fazia muito tempo que queria visitar o lado argentino das Cataratas. Se no lado brasileiro você tem um visão de baixo para cima, do lado argentino você tem a visão de cima para baixo das Cataratas.

E aproveitando o final de semana em Foz do Iguaçu, com direito a compras no Paraguai, eu e meus amigos de viagem: Laiane, Alemão e Jobis, além do baiano Bruno, que conhecemos no hostel onde  nos hospedamos, seguimos para à Argentina. Rodamos pouco mais de quarenta quilômetros até chegar ao Parque Nacional del Iguazú. Após uma longa fila para comprar os ingressos,  finalmente entramos no parque. O local é enorme, e para conhecer tudo, um dia inteiro é insuficiente.

Primeiramente fomos visitar a Garganta do Diabo, que é o local mais importante do parque. Andamos um pouco e depois pegamos um trenzinho que roda cerca de três quilômetros. Finalmente chegamos na margem do rio e seguimos por 1.200 metros sobre passarelas que atravessam o rio. Quando você chega perto do mirante que fica próximo as quedas, a sensação é indescritível. O barulho das águas caindo deixa a visita ainda mais emocionante. Demos sorte de visitar o lugar após um período de bastante chuva, que deixou as quedas com muita água, o que destacou sua beleza. E também demos sorte de pegar um dia quente e ensolarado de outono.

Após ficar um longo tempo admirando a beleza das quedas e tirando fotos, voltamos pelas passarelas até o local onde se embarca no trem. Ali tem muitos quatis, que roubam comida dos visitantes mais distraídos. Acaba sendo divertido ficar vendo os bichinhos ladrões. Mas vez ou outra, além da comida os bichinhos levam um pedaço do dedo dos mais distraídos. Pegamos o trem e desembarcamos numa estação que leva ao início da trilha que passa pela parte superior das quedas. Você segue por passarelas e vai visitando muitos saltos, um mais bonito do que o outro. Depois iniciamos a trilha que passa pela parte inferior dos saltos. Essa trilha é menos bonita que a anterior, mas seu final é próximo a um salto onde além de você se molhar, dá para sentir a emoção de ficar próxima a queda de um salto muito forte e que faz um barulho ensurdecedor.

Já era quase fim do dia quando demos mais uma volta pelo interior do parque e fomos embora. Tínhamos caminhado algo próximo a onze quilômetros, andado mais seis quilômetros de trenzinho, e mesmo assim não conseguimos visitar todos os locais dentro do parque. Vai ser preciso novo passeio para conhecer o restante do local e também para visitar novamente os lugares mais bonitos que visitamos. Vale muito visitar as Cataratas do lado argentino, que são muitas vezes mais bonitas do que as Cataratas do lado brasileiro. O ideal é você visitar os dois lados, para então ter uma experiência mais completa sobre o que são as Cataratas do Iguaçu, uma das Sete Maravilhas Naturais do Mundo.

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O presente perdido

Essa semana estava arrumando algumas coisas, separando outras e jogando muita coisa fora, quando comecei a mexer em uma caixa com centenas de cartas antigas. Muitas dessas cartas acabei jogando fora, pois a maioria tinha mais de 20 anos e tinha muita gente que me escreveu que eu nem lembrava mais quem era. Tinham cartas escritas até por pessoas que já estão mortas.

E mexendo nessas cartas encontrei algumas de uma amiga argentina, datadas de 1995. E ao pegar uma das cartas, me chamou a atenção o volume dentro do envelope. Ao olhar no envelope descobri um pequeno pacotinho e dentro um crucifixo, que ela me enviou de presente em meu aniversário de 25 anos. No pacotinho ela escreveu 26 anos, pois se enganou! Isso foi há 21 anos e tal presente ficou perdido e esquecido todo esse tempo. Talvez na época essa guria tenha estranhado eu não ter agradecido o presente. Hoje ela nem deve mais se lembrar de que me enviou algo um dia e eu não agradeci. Vou guardar o presente de lembrança, bem como o bilhetinho. Essa foi mais uma de minhas costumeiras bolas foras…

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