Estrada Real – 3° Dia

Casa Grande/Lagoa Dourado/Prados/Tiradentes

(Resumo)

Acordei O8H00min em ponto, com ajuda do despertador do celular. Tinha dormindo mal por culpa do barulho do bar em frente, que foi até alta madrugada. E para piorar sentia muita dor nas coxas. O jeito foi tomar banho para despertar e antes do café engolir um Dorflex e um comprimido de vitaminas. Dei uma arrumada rápida em minhas coisas, coloquei a roupa de ciclismo e fui tomar café. Voltei até o quarto, me ajoelhei ao lado da cama e orei como fazia todas as manhãs, agradecendo por tudo e pedindo proteção para o dia que estava iniciando.

Os primeiros quilômetros de estrada foram tranquilos, alternando subidas e descidas, com poucas retas. A paisagem era interessante e tinham muitas árvores e sombra em vários trechos. Mas o calor estava terrível e bebi muita água nesse início de pedal. Tudo corria bem, até que numa descida encontrei algumas vacas de leite paradas no meio da estrada. Na minha viagem de bicicleta pelo Caminho da Fé em 2011, quase levei uma chifrada de uma vaca que estava deitada no meio da estrada e ao lado dela tinha um pequeno bezerro que eu não tinha visto. Depois daquele incidente do qual saí ileso por muito pouco, passei a ter cuidado e medo quando via vacas e bois soltos na estrada. Parei a uma distância segura e fiquei gritando para tentar espantar os bichos da estrada. Tacar pedras eu não faria, pois jamais feriria um animal, a não ser para me defender de um ataque. Os gritos deram resultado e as vacas saíram da estrada e seguiram em direção a um pasto próximo, que não era cercado. Como o trecho era de descida, pedalei rápido para ficar o mais distante possível das vaquinhas.

Cheguei em Lagoa Dourada pouco depois do meio dia. Uma coisa que notei é que sempre a chegada em alguma cidade é por uma grande subida. No caminho tinha visto uma placa informando que a cidade é considerada a capital do rocambole. Pensei em almoçar um rocambole, mas antes queria encontrar a Pousada dos Vertentes, que era o local indicado pelo folheto do Instituto Estrada Real, como sendo o ponto oficial para carimbar o passaporte na cidade. Entrei no centro da cidade e perguntei para um casal parado numa esquina, onde ficava o endereço da pousada. Me informaram que era próximo a catedral. Não foi difícil encontrar a pousada, o difícil foi superar a ladeira que levava até ela. Acabei empurrando a bicicleta nos últimos metros, pois estava muito cansado. A pousada funcionava em um antigo casarão e ficava numa esquina, quase em frente à catedral. O portão estava aberto e segui até a porta da pousada, onde encostei a bike e apertei a campainha. Uma senhora de idade veio me atender. Falei a ela que precisava do carimbo no passaporte da Estrada Real e ela foi pegar uma pasta, onde estava o carimbo e uma folha onde ela anotou o número do meu passaporte. A dona da pousada se chamava Aíde e se mostrou muito simpática. Começamos a conversar e ao saber que eu era do Paraná, Dona Aíde contou que seu marido é paranaense também. Ficamos alguns minutos conversando, e ela contou que o casarão tem 200 anos e sempre pertenceu a família dela. Também contou que o local sofreu algumas reformas, mas que no geral o casarão não sofreu grandes mudanças em sua arquitetura original.

Após pedalar alguns metros cheguei em um portal, onde estava escrito Estrada Parque. Na verdade a estrada passava por dentro de um Parque Estadual e por isso tinha tal nome. A estrada era de terra e logo passei a pedalar no meio da mata. Cheguei em um trecho de subida que era pavimentado por pedras irregulares. Eu estava muito cansado após pedalar o dia todo debaixo de sol quente e preferi empurrar a bike na subida. Tinha empurrado a bike poucos metros, quando surgiu uma moto com um casal. Eles pararam ao meu lado e perguntaram de onde eu era, para onde iria. Daí contaram que iam dar uma volta e logo voltariam pelo mesmo caminho. Nos despedimos e eles seguiram em frente.

Já estava pedalando quase que no escuro absoluto, quando cheguei em um trecho da estrada onde tinha pasto dos dois lados e não tinha cerca. A estrada ficava em um nível mais baixo do que o pasto. E logo dei de cara com algumas vacas e dois bezerros no meio da estrada. Eu é que não ia passar perto deles, pois tendo bezerros pequenos as vacas mães ficam estressadas e podem atacar. Como já contei antes, quase levei uma chifrada numa viagem anterior de bicicleta. Parei a bike e fui empurrando ela devagar e gritando para assustar as vacas. Elas correram pela estrada e num trecho onde o barranco era mais baixo, um bezerro e três vacas subiram pelo barranco e desapareceram no pasto. Ainda ficou a vaca que parecia ser a mais brava e um bezerro. Continuei empurrando a bike e gritando. Mas não adiantou muito, pois a vaca parou no meio da estrada e ficou me encarando. E para piorar surgiu um boi por trás, quase ao meu lado e também ficou parado no meio da estrada. Fiquei sem ação durante uns 15 minutos, esperando alguma ajuda divina. E ela veio! Surgiu uma caminhonete nas minhas costas e ao passar pela estrada ela assustou os animais, que correram pela estrada e após uns 300 metros encontraram uma subida no barranco e desapareceram no pasto. Eu não perdi tempo e segui pedalando feito louco e agradecendo em voz alta pela ajuda divina. Não demorou muito e cheguei numa estrada de paralelepípedos.

Eram 19h35min quando cheguei no centro da cidade. O movimento de carros e pessoas era intenso, talvez por ser sábado à noite. Tiradentes é uma cidade histórica, bem famosa por sua gastronomia, e muita gente vem de outras cidades para conhecer os restaurantes locais. Parei duas vezes pedir informação, até que finalmente encontrei a pousada que o guia indicava. Parei na portaria da pousada e fui atendido por uma moça sorridente, de nome Eloisa. Preenchi a ficha de hospedagem, paguei e perguntei se tinha algum local onde pudesse guardar a bike. A Eloisa disse que tinha a lavanderia, mas que não era um local muito seguro. Perguntei se podia levar a bike para o quarto e ela respondeu que sim. Mas o quarto ficava no primeiro andar e eu teria que carregar a bike por uma escada de madeira de dez degraus. Não custava sofrer mais um pouco depois de um dia muito cansativo e assim empurrei a bike escada acima. Mas o esforço foi maior do que eu esperava e dei mal jeito nas costas, sentindo muita dor.

*Para ler o relato completo sobre esse dia de viagem, ou sobre toda a viagem pela Estrada Real, adquira o livro “Estrada Real Caminho Velho”, autor Vander Dissenha.

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