Viagem ao Peru e Bolívia (9° Dia)

23/05/2012

Trilha Salkantay – 4° dia

Acordei às 6h00min e dei uma olhada fora da barraca. O acampamento estava no maior silêncio. Pelo visto o pessoal estava todo de ressaca! Olhei para meu companheiro de barraca que sempre era o primeiro a acordar e ele estava desmaiado dentro do saco de dormir. Não consegui voltar a dormir e fiquei ouvindo música até às 9h00mim, quando o pessoal começou a levantar. O suíço acordou com uma cara de ressaca que dava medo. Fui para o café, pois acordei com fome e finalmente bom do estômago. Para minha sorte naquele dia o café da manhã foi caprichado, com direito a panquecas com doce de leite, iogurte e salada de frutas. Para completar meu café, tomei uma Coca-Cola bem gelada. O pessoal foi aparecendo aos poucos para tomar café e um com cara pior que o outro. Até o guia, Daniel, estava de resseca.

Após o café teve uma rápida reunião com todo o grupo e até surgiu o papo de ninguém caminhar naquele dia e todos seguirem de van até Aguas Calientes, povoado que fica próximo a Machu Picchu. Eu não concordei, pois queria fazer a trilha inteira caminhando e não era culpa minha se todos encheram a cara na noite anterior e não conseguiam caminhar. No final das contas eu e mais quatro caras (os dois israelenses, o inglês e o italiano) seriamos os únicos que faríamos a pé os 24 km que faltavam para terminar a trilha. Fiquei surpreso com meu companheiro de barraca, o suíço triatleta que tinha o melhor condicionamento físico do grupo e que não ia caminhar naquele dia. Quando vi ele cabisbaixo dentro da van, entendi que ele estava mesmo mal, com ressaca de Pisco. Acho que ele até queria caminhar, mas pelo visto não tinha mesmo condições. A única parte chata é que os caminhantes teriam que levar todas as suas coisas, pois a partir dali não teria mais transporte para a segunda mochila de até 5 quilos. Caminhar 24 km com duas mochilas seria desgastante, mas se não existia outra opção, então o jeito era caminhar com todas as minhas coisas.

As 10h30min o pessoal saiu na van, iam até a estação de trem que ficava próximo a uma hidrelétrica, distante 14 km dali. Alguns iam começar a caminhar a partir da estação e outros iam de van até Aguas Calientes. Eu e meus quatro companheiros seriamos guiados pelo Brian, um garoto que estava acompanhando nosso grupo desde o início, pois estava aprendendo a profissão de guia. Antes da partida o guia nos entregou uma sacola com o almoço do dia. Nem olhei o conteúdo da sacola, apenas a guardei na mochila.

Iniciamos a caminhada pela estrada que passava em frente e fomos seguindo rumo a saída da pequena cidade. Eu fui carregando uma mochila nas costas e outra na frente, o que dificultava um pouco caminhar. Um cachorro que estava no local do acampamento passou a nos acompanhar. Tentei faze-lo voltar, mas ele não voltou. O engraçado é que todo carro que passava por nós ele corria atrás latindo ferozmente. Andamos pouco mais de um quilômetro e o italiano retornou ao acampamento, pois tinha esquecido algo. Seguimos pela estrada e após uma longa subida passamos a caminhar ao lado do rio. A estrada era meio movimentada, passavam alguns carros da hidrelétrica que está sendo construída ali perto. E o nosso novo mascote corria atrás de todos os carros que passavam. Algumas vezes eu fechava os olhos, pois o cachorro era meio atrapalhado e vez ou outra entrava quase embaixo dos carros. Ele não sabia que era mais seguro correr atrás dos carros em vez de correr ao lado deles.

A estrada era poeirenta e cada vez que passava um carro o ar ficava irrespirável. As duas mochilas estavam fazendo meus ombros doerem, mas segui em frente, pois desde meus tempos de Exército aprendi que após doer um pouco os ombros ficam amortecidos e você não sente mais a dor. Fizemos algumas breves paradas para descanso e logo o italiano nos alcançou. Caminhei um bom tempo conversando com o Brian, e ele passou a ser de uma vez por todas meu fotógrafo oficial. Ele até sabia que prefiro fotos com a câmera na horizontal e não na vertical.

O tempo estava nublado desde cedo e começou a ficar quente, sinal de que viria chuva. Atravessámos uma grande ponte sobre o rio e logo chegamos num local de onde saía uma cachoeira de dentro da montanha. Eu nunca tinha visto algo igual. Fizemos uma longa parada em frente a essa cachoeira e ficamos admirando a beleza e a força da água caindo da montanha direto no rio. Voltamos a caminhar e passamos a andar entre grandes montanhas muito bonitas. Mais uma hora de caminhada e chegamos à hidrelétrica que estava sendo construída. Ali existia um posto de controle onde tivemos que mostrar nossos passaportes. A partir deste posto de controle passaríamos a caminhar dentro da região que faz parte do Parque Nacional de Machu Picchu. Enquanto estávamos parados no posto de controle saiu uma caminhonete de dentro da hidrelétrica e nosso mascote canino pra variar foi correr atrás dela. E não é que o cachorro foi atropelado bem na nossa frente! Ele calculou mal o espaço lateral e a roda traseira da caminhonete acertou ele de lado. Ele saiu ganindo e mancando e foi se esconder debaixo de um banco. Fomos dar uma olhada nele e aparentemente não tinha sido nada grave. Mas pela cara de dor, devia tê-lo machucado. Tentamos dar água e comida a ele, que acabou recusando. O cachorro era mesmo atrapalhado, pois foi ser atropelado justamente pelo último carro que passou por nós naquele dia.

A partir do posto de controle não caminharíamos mais pela estrada, mas sim por uma trilha no meio do mato. Não demorou muito e chegamos à estação de trem. O guia nos mandou entrar em um dos pequenos e precários restaurantes que existiam no local, pois seria ali o lugar do nosso almoço. Nosso mascote continuou nos seguindo mesmo mancando e ao entrar no restaurante foi devidamente espantado pela dona do local e junto com ele mais dois cachorros que estavam dentro do recinto também foram expulsos. Eu fui entrar justamente no momento em que os cachorros saiam correndo do restaurante e quase fui derrubado por eles. Escolhemos uma mesa e enquanto os dois judeus foram preparar sua comida na pequena e suja cozinha do lugar, eu e os demais tiramos das mochilas nossas sacolinhas com o almoço. O almoço vinha dentro de uma marmita de isopor e junto tinha uma caixa de suco de pêssego. Ao abrir minha marmita, levei um tempo para descobrir o que era o almoço. Estava tudo misturado, por culpa da marmita ter sido chacoalhada durante muitos quilômetros dentro da mochila. Sei que tinha arroz, macarrão, uns pedaços minúsculos de frango, batata frita e salada. Identifiquei algumas fatias de pepino, que foi a única coisa que tirei da marmita, pois pepino cru eu não como. E meio com receio dei a primeira garfada naquele almoço, que para minha surpresa estava bom. Ou seria a fome que fez ele ficar bom? Eu não tinha comido nem metade do meu almoço, quando o guia peruano de um grupo de norte americanos que tinha acampado no mesmo local que o meu grupo na noite anterior, veio até onde eu estava e após olhar o que eu comia perguntou se a “merda” estava saborosa. Respondi que sim e ofereci um pouco a ele. O grupo dele estava almoçando comida feita na hora, por cozinheiros do grupo. E como existe certa concorrência entre as várias empresas e guias que levam grupos pela Trilha Salkantay, entendi que ele queria desfazer da nossa comida e da empresa que nos guiava. Se fosse em outros tempos eu tinha mandado ele para algum lugar nada agradável por tal brincadeira sem graça. Mas como estou numa fase zen, achei melhor não me estressar e muito menos arrumar briga. Mas faltou pouco para eu dizer coisas nada agradáveis a ele. Voltei a comer e deixei um pouco da comida para dar ao nosso mascote canino. Fui até fora do restaurante e encontrei nosso amigo de quatro patas deitado debaixo de um banco na pequena estação de trem em frente. Chamei ele até um canto e coloquei a marmita com o resto da comida no chão. Ele chegou perto, cheirou a comida e deu meia volta sem ao menos tocar na comida. Daí apareceram os outros dois cachorros que a dona do restaurante tinha expulsado quando cheguei. Os dois também cheiraram a comida e deram meia volta sem comer nada. Depois disso comecei a achar que o guia do outro grupo estava certo e que a comida era mesmo uma merda, pois nem cachorros famintos queriam come-la.

Começou a chover e ficamos cerca de meia hora no restaurante descansando. Ouvimos alguns trovões fortes e tudo indicava que o os 14 km de caminhada que faltavam, seriam feitos debaixo de chuva. Colocamos capa de chuva, pegamos nossas mochilas e fomos caminhar. Não encontramos mais nosso mascote canino. Acredito que ele tenha encontrado outra pessoa, ou grupo de pessoas para seguir. Tiramos uma foto na saída e seguimos em frente. O primeiro trecho era por uma trilha estreita, subindo um morro. Essa trilha ligava o final de uma linha férrea até outra linha mais acima. Levamos uns dez minutos para percorrer essa trilha, que foi bastante difícil. Quando chegamos no final dela paramos para tirar capa de chuva e blusas, pois tinha ficado muito quente. A chuva parou e passamos a caminhar ao lado dos trilhos do trem. Em alguns trechos existia uma trilha ao lado, o que facilitava a caminhada. Já em outros trechos tínhamos que caminhar sobre os trilhos e pedras soltas, o que era ruim. Andamos um tempo próximo a um rio e depois em meio à mata. Passámos a encontrar algumas pessoas que vinham caminhando em sentido contrário, sem mochila. Isso era sinal de que perto existiam casas e também que algumas dessas pessoas vinham de Aguas Calientes até ali e voltavam.

Atravessamos uma grande ponte metálica e nessa travessia dei muitas risadas. O italiano atravessou a ponte andando devagar e com todo o cuidado, pois tinha medo de altura. E ele não queria ninguém andando perto dele, pois o medo aumentava com alguém perto. Os quilômetros seguintes de caminhada foram tranquilos, o caminho era uma reta só. O trem que leva turistas até Machu Picchu passou por nós. Fiz algumas paradas para tirar fotos e numa delas esqueci meu bastão de caminhada encostado numa pedra. Pensei em voltar para buscá-lo, mas achei que não valia a pena. Daí lembrei que o italiano estava bem mais atrás caminhando e fiquei esperando, pois talvez ele tivesse encontrado meu bastão. E não demorou muito o italiano apareceu e ao me ver ergueu o bastão, que ele tinha encontrado no caminho e sabia que era meu. Andamos mais alguns minutos e chegamos numa pequena estação desativada, ao lado da entrada secundária de Machu Picchu. Para chegar à Machu Picchu você passa por essa entrada e depois sobe a montanha em caracol até chegar ao portão principal. A partir dessa entrada parámos de caminhar ao lado do trilho do trem e seguimos pela estrada ao lado do rio. Logo começamos a ver as construções de Aguas Calientes. No ano anterior eu cheguei à Aguas Calientes também caminhando ao lado dos trilhos do trem, mas pelo outro lado da cidade. Conforme fomos chegando à cidade senti uma forte emoção, a sensação de mais um desafio cumprido, mais uma meta alcançada. Esse tipo de sensação é inexplicável. Fiquei com os olhos marejados e aproveitei para gravar um vídeo enquanto caminhava, onde falei coisas meio sem nexo, mas sinceras. No vídeo até errei a data, pois falei que era dia 24 quando na verdade era 23. Num momento desses, após percorrer 82 km em quatro dias não tinha como não lembrar de todos os problemas pelos quais passei dois anos antes. E foi planejar e realizar coisas iguais a que eu estava acabando de fazer que me deram forças e coragem para enfrentar o longo e dolorido tratamento que hoje me permite andar normalmente e não sentir dor. E são estes desafios que me motivam a continuar me cuidando, a ir diariamente numa academia fazer exercícios para fortalecimento de minha coluna. Mesmo quando estou cansado no final do dia, ou o dia está frio, eu encontro motivação para ir à academia, pois sei que sem tais exercícios corro o risco de que minhas hérnias de disco voltem a doer e me deixem novamente com as pernas atrofiadas, sem poder caminhar. Então pelo resto de minha vida terei que encontrar motivação para continuar frequentemente me exercitando, cuidando para não ganhar peso, pois somente assim é que poderei levar uma vida normal e sem dores.

Na entrada da cidade o guia Daniel nos esperava e cumprimentou cada um de nós. Ele ainda tinha cara de ressaca e não perdemos a oportunidade de zoar com ele sobre isso. Seguimos até uma praça no centro da cidade e de lá ele levou cada um para o seu hotel. É isso mesmo, naquela noite dormiríamos em hotel! Eu não sabia disso e fiquei muito contente com tal noticia. Após três noites dormindo no chão duro da barraca, dormir numa cama confortável era um bom presente. Fui o último a ser levado até o hotel e tive a falta de sorte de ficar justamente no hotel mais distante, no pé de um morro. O guia me deixou na portaria e enquanto um mal humorado atendente procurava minha reserva vi que três brasileiras conversavam na recepção. Puxei conversa com elas e descobri que eram de Fortaleza e que iriam embora dali a pouco. O recepcionista me chamou e disse que não tinha nenhuma reserva em meu nome. Mostrei o voucher da agencia de turismo e ele ligou em Cusco, na agencia. Levou uns 15 minutos até que ele entrar num acordo com a agencia e me dar à chave de um quarto. O quarto era no terceiro andar, tive que subir escada acima morto de cansado carregando minhas mochilas.

Quando entrei no quarto me joguei numa das camas e vi que a mesma era confortável. Daí gravei um pequeno vídeo mostrando o quarto e em seguida tirei todas minhas coisas das mochilas e espalhei pelo chão. Era um monte de roupas sujas, molhadas, cheias de barro. Em seguida fui tomar banho e fiquei um longo tempo debaixo da água quente do chuveiro. Depois me deitei para descansar e logo bateram na porta. Era o cara da portaria e outro cara que dizia ser o guia do dia seguinte para Machu Picchu. Achei estranho ter outro guia para nos levar até lá, mas mesmo assim deixei os dois entrarem. O tal guia me passou os detalhes sobre a ida à Machu Picchu e depois o cara da portaria pediu minha carteirinha de estudante. Respondi a ele que não tinha carteirinha, pois já era formado, não estudava mais. Então ele disse que eu tinha que pagar uma diferença de valor no ingresso de Machu Picchu, pois tinha declarado ser estudante. Acabei me irritando com o cara, pois ele além de querer me cobrar algo indevido, estava sendo bastante grosso comigo. Mostrei novamente a ele o voucher da agencia e que ali não dizia nada sobre meio ingresso. O cara falou que eu tinha mentido ser estudante, que eu ia ter que pagar a diferença e bla bla bla… Sei que me estressei pra valer e já estava quase pegando o cara pelo pescoço, pois ele estava falando muita bobagem e sendo grosseiro. Nesse meio tempo o tal guia saiu do quarto, enquanto eu fiquei batendo boca com o cara da recepção. Logo o guia voltou e me pediu desculpas, disse que tinha se enganado de quarto, pois tinha outro hospede no hotel com o sobrenome Dissenha, e era esse hospede que ele tinha que guiar no dia seguinte. O cara da recepção saiu rapidinho e nem olhou para trás. O guia pediu mil desculpas e eu de cara amarrada não disse nada, apenas pedi para ele me dar licença, pois eu precisava descansar. Nesse rolo todo perdi quase uma hora de precioso descanso. E nem tive a curiosidade de verificar se tinha mesmo outro Dissenha hospedado no hotel.

Cochilei um pouco e logo que anoiteceu saí. Dei uma rápida volta pelo pequeno centro de Aguas Calientes e fui até a praça central, onde o pessoal tinha marcado de se encontrar. Fui o primeiro a chegar e o restante do pessoal se atrasou. Todos reunidos, seguimos até um restaurante, onde seria servido o jantar de despedida do grupo. Antes do jantar o guia pegou o número de passaporte de alguns membros do grupo e ficou resolvendo questões relativas aos ingressos de Machu Picchu e tíquetes de trem para o retorno à Cusco no dia seguinte. Sei que ocorreram alguns problemas com relação à falta de ingressos para Huayna Picchu, que é a montanha que fica dentro de Machu Picchu. O meu ingresso estava correto e fui informado que meu tíquete de trem seria entregue no dia seguinte. Enquanto esperava o jantar ser servido conversei com a Izabel e seu namorado. Em seguida foi servido o jantar, que estava bom, mas cuja quantidade era pouca e me deixou com fome. Após o jantar tivemos mais uma reunião do lado de fora do restaurante, em frente à linha do trem. Avisos dados e só ficaram lá aqueles que tinham tido problema com relação ao ingresso de Machu Picchu. Como eu não tinha nenhum problema com isso resolvi ir embora, pois teria que acordar às 3h30min, já que pretendia ir a pé até Machu Picchu, para ver o sol nascer.

No caminho até o hotel passei em frente a um restaurante e vi que numa tv enorme estava passando o jogo Corinthians x Vasco, pela Copa Libertadores. Me encostei num poste em frente ao restaurante e fiquei vendo o jogo que estava quase no final. E fui pé quente, pois logo saiu o gol que deu a vitória e a classificação ao Corinthians. Segui para o hotel e na porta vi que o recepcionista estava conversando com um cara. Fiquei 13 minutos esperando a conversa terminar e o recepcionista vir me entregar à chave do quarto. Definitivamente ele não ia com a minha cara! Pedi que ele me acordasse às 3h30min e ele anotou meu nome, o número do quarto e o horário em uma folha. Subi para o quarto e arrumei toda a bagunça que eu tinha deixado. Quando deitei olhei no relógio e era 2h00min. Fiquei desanimado, pois teria que levantar dali uma hora e meia. Logo me dei conta de que meu relógio estava no horário do Brasil, que é duas horas à frente em relação ao Peru. O relógio tem dois horários e sem querer devo ter apertado o botão errado e ele estava mostrando o horário brasileiro em vez do horário local. Fiquei contente, pois teria um pouco mais de tempo para dormir. A cama estava muito confortável e quentinha, pena que ficaria pouco tempo nela. De qualquer forma era bem melhor dormir ali do que na barraca. Nessa noite tive dois sonhos estranhos com o pai já falecido de uma guria que conheço (cujo pai não conheci e nem o nome dele sei). Nunca tive sonhos desse tipo e achei tais sonhos muito estranhos, principalmente por que o pai dessa guria, no sonho falava o nome dele e meio que dava um recado para a mãe dela. Foi muito estranho, acordei e demorei um pouco para conseguir dormir novamente. Naquela região coisas estranhas acontecem, então não sei se tais sonhos tem fundamento ou não. Sei lá, entende!

Peter de ressaca.
Reunião com o grupo.
A van levando o pessoal.
O dog atrapalhado que nos seguiu.
Caminhando pela estrada.
Trecho de estrada submerso.
Cachoeira saindo da montanha.
Posto de controle.
A cachorrada sendo enxotada do restaurante.
O almoço estranho.
Os único membros do grupo que fizeram todo o caminho a pé.
Atravessando ponte do trem.
Passamos por alguns lugares perigosos.
Trilhos.
O trem que leva turistas à Machu Picchu.
Descansando na estação abandonada.
Primeira entrada de Machu Picchu.
Aguas Calientes.
Em Aguas Calientes, final da Trilha Salkantay.
A comida da janta, que era boa e pouca.
Aguas Calientes.

VÍDEOS

 

De volta a Aguas Calientes

Sair de Machu Picchu e voltar a Águas Calientes, me deixou com uma sensação de quero mais. Não ter entrado em Machu Picchu caminhando pela Trilha Inca, e não ter subido até Wuayna Picchu, me deixou meio frustrado e com vontade de voltar ao Peru o mais breve possível para fazer o que ficou faltando.

Descer a montanha de ônibus foi mais rápido do que subir. Descemos na rua, na esquina do restaurante onde deixei a mochila. Eram 15h00min e mal entramos no restaurante começou a chover forte. Os guias peruanos estavam todos ali, tomando cerveja. Fui cumprimentá-los e acabei sofrendo o maior acidente de toda a viagem. Escorreguei no piso molhado e bati a mão em uma coluna. Senti uma dor terrível e o local logo ficou inchado. Coloquei gelo, mas não aliviou muito. No final do dia toda a região em volta do lugar da batida estava roxa e muito dolorida. Fiquei com receio de que fosse algo grave, tamanha era a dor e a aparência ruim com que o ferimento ficou. Achei isso irônico, pois tinha passado dias no meio do mato, correndo enormes riscos de me machucar, talvez até morrer (muitos já morreram na Trilha Inca) e fui me machucar justamente ao entrar num restaurante, o que parecia ser um lugar seguro. Meu escorregão acabou chamando a atenção de todos que estavam no restaurante naquela hora, muitos turistas, até um casal de brasileiros. Em seguida chamamos atenção novamente, pois meu irmão e a garçonete meio que se atrapalharam ao arrumar a mesa e ela derrubou um copo no chão. Mais uma vez todos olharam em nossa direção e para piorar os peruanos gritaram em coro: Brasil, Brasil, Brasil, Brasiiiiiillll !!!! Foi um grande mico e tive vontade de me esconder debaixo da mesa.

Eu meu irmão almoçamos uma pizza e tomamos um litro de Coca-Cola gelada. Após alguns dias comendo a horrível comida servida na trilha, foi muito bom comer algo descente. Os peruanos logo foram embora, deram tchau e dificilmente voltarei a ver algum deles novamente em minha vida. Ainda estávamos comendo quando algumas pessoas do meu grupo chegaram para pegar suas mochilas. E aos poucos foi chegando o restante do pessoal. A chuva tinha aumentado muito e ninguém mais quis ficar passeando por Machu Picchu debaixo de tanta água. Logo meu irmão foi para a estação de trem e fui com ele. Despedimos-nos e dei uma volta por uma enorme feira de artesanato que existe ao lado da estação. Tem muita coisa bonita, mas os preços são para turistas endinheirados, o que não é meu caso. Vi muita coisa feita de prata, algo que achei que seria barato ali. Mas não, é tudo mais caro que no Brasil. Acho que os espanhóis roubaram todo o ouro e prata do Peru, que agora qualquer objeto feito com esses metais é muito caro. A cidade é pequena e como chovia muito resolvi voltar logo para o restaurante.

Até o horário de ir pegar o trem, fiquei no restaurante conversando com o pessoal. Acabei ficando numa mesa muito animada, junto com os dois colombianos do grupo, o Juan e sua esposa Cecília, a Carolina, a Roxana e por último chegou o Che. Fizeram alguns brindes com um tipo de caipirinha feita com pisco, uma bebida local. Acabei tendo que participar dos brindes e tive que tomar um pouco de pisco. O chato nesse tipo de viagem onde você acaba fazendo parte de um grupo de desconhecidos, é que a viagem termina justamente quando você finalmente ficou enturmado e fez muitas amizades. Daí todos se separam e nunca mais se encontram novamente.

Já estava escuro quando fomos para a estação e a chuva continuava firme. Fui um dos últimos a embarcar e logo o trem partiu. Gosto de viajar de trem, mas a noite não da para ver nada, ainda mais com chuva. Os locais por onde íamos passar são interessantes, com paisagens bonitas, mas não dava para ver nada. O jeito foi ficar olhando para dentro do trem. O pessoal ficou jogando baralho do meu lado. Conversei um pouco e depois fiquei quieto pensando na vida. Estava cansado e as duas horas de viagem não foram das melhores. Descemos na estação de Ollantaytambo, pois o trecho até Cuzco está interrompido desde ás fortes chuvas de março do ano passado. Fomos caminhando até um enorme estacionamento onde estavam muitas vans e ônibus esperando o pessoal que desembarcava do trem. Logo encontramos nosso ônibus e tivemos que esperar que fizessem uma chamada demorada e confusa, até que pudéssemos embarcar. Acabei indo parar no ônibus onde estava quase todos do outro grupo que sempre andou próximo a nós. Sentei-me na segunda poltrona atrás do motorista e ao meu lado estava o inglês com quem caminhei junto no final do terceiro dia de trilha. Na poltrona a minha direita duas australianas, a Kylah e sua amiga cujo nome não lembro. O ônibus era desconfortável, e teríamos mais duas horas de viagem pela frente, até Cuzco. Tentei dormir mas foi impossível quando vi as manobras imprudentes que o motorista fazia. Ele corria feito louco e fazia somente ultrapassagens perigosas. Era de dar medo e o sono logo foi embora. O radio do ônibus estava ligado, tocando umas músicas peruanas. Teve uma hora que começou a tocar Leonardo, cantando em espanhol. Comecei a rir…

Chegamos a Cuzco com chuva e muito frio. O ônibus parou numa praça perto da Plaza de Armas e ali desembarquei junto com mais cinco conhecidos. Despedi-me do pessoal e fui para o hotel, distante 200 metros. Cheguei à portaria do hotel e logo encontraram a reserva que eu tinha deixado feita antes de partir para a Trilha Inca. Aproveitei para pegar a mochila que tinha deixado guardada no depósito do hotel. Estava tudo em ordem, nada faltando ou sobrando. Era quase meia noite quando entrei no quarto. Tomei um banho não muito quente, pois a água não esquentava direito e caí na cama. Após seis noites mal dormidas, ou dormidas com pouco conforto, finalmente eu poderia dormir muitas horas numa cama confortável e quentinha. Para garantir dormi com o aquecedor do quarto ligado. A sensação era boa, de missão cumprida. Eu vivi quatro dias intensos e inesquecíveis percorrendo a Trilha Inca e conhecendo Machu Picchu. Agora era descansar, pensar na volta ao Brasil e depois na próxima viagem, na próxima aventura…

Eu e meu irmão.

Duas coisas que adoro: Pizza e Coca-Cola.

o ferimento na mão, que piorou muito nas horas seguintes.

Muitos brindes com pisco.

Che, eu, Juan e Cecília.

No trem.

O pessoal jogando baralho no trem.

Desembarcando em Ollantaytambo.

Trilha Inca (4º dia)

Acordamos ás 03h30 e ainda chovia e fazia um pouco de frio. Por ter ido dormir tarde senti muita dificuldade para levantar. Arrumei minhas coisas e fui me reunir ao pessoal dentro do bar. Enquanto todos tomavam café, preferi ficar sentado num canto cochilando. Depois teve a reunião de todas as manhãs explicando a programação das próximas horas. Em seguida começamos a descer a montanha, abandonando de vez a Trilha Inca. Seguimos num ritmo forte e felizmente a chuva logo parou. Íamos clareando a trilha com lanternas, pois a escuridão era total. Mais uma vez encontrei o “cão inca” que parou na minha frente e se deitou na trilha, bem onde eu ia passar. Após pouco mais de uma hora de caminhada e com o dia começando a clarear, chegamos à margem do Rio Urubamba. Aproveitamos para descansar e esperar o restante do pessoal do nosso grupo. Aproveitei para tirar o casaco e percebi que minha camiseta estava toda molhada de suor.

Ás 07h00min o grupo estava todo reunido e fomos até um posto de controle em frente a uma pequena ponte que atravessa o rio Urubamba. Tivemos que esperar um pouco até um funcionário abrir um portão que dá acesso a ponte. Atravessamos a pequena ponte que chacoalhava muito e logo estávamos nos trilhos do trem seguindo para Aguas Calientes. Não demorou muito e a chuva recomeçou. Pelo caminho vi pedras enormes que pareciam ter caído da montanha poucas horas antes. Mais tarde ficamos sabendo que na noite anterior tinha acontecido um pequeno tremor de terra na região. Caminhei um bom tempo sozinho e depois com meu amigo Diego. Conforme nos aproximávamos de Aguas Calientes a chuva aumentava. A estrada de ferro segue todo o tempo ao lado do rio. Passamos por algumas poucas casas e por uma represa. Pouco mais de uma hora de caminhada e chegamos a Aguas Calientes sob muita chuva. Paramos debaixo de uma marquise para descansar e esperar o restante do pessoal. Depois fomos até um restaurante cujo dono é argentino e ali deixamos nossas mochilas e fomos comprar ás passagens do ônibus que leva até Machu Picchu.

Antes de partir para a Trilha Inca, falei com meu irmão pela internet e ele me contou que estava indo para o Peru a trabalho. Então ele disse que tentaria ir para Machu Picchu no domingo e tentaria me encontrar por lá. Depois não tivemos mais contato e eu não sabia se ele tinha ido mesmo para o Peru. Quando estava na fila para comprar a passagem do ônibus, vejo meu irmão descendo tranquilamente pela rua ao lado. Fui em direção a ele rindo e ele tomou o maior susto ao me ver. Foi um encontro não programado, pois pelo plano original não era pra eu estar em Aguas Calientes naquela manhã. Foi um encontro muito legal, pois nada como encontrar alguém da família após os difíceis dias na Trilha Inca. Apresentei meu irmão a alguns amigos do grupo e a nossos guias. Ele foi bem recebido por todos e a partir dali acabou fazendo parte de nosso grupo e seguiria junto conosco para Machu Picchu. Ali terminava a aventura pela Trilha Inca e iniciaria uma nova aventura rumo a Machu Picchu. Missão cumprida! Essa era a sensação geral e mesmo não tendo percorrido a Trilha Inca por inteiro em razão do desmoronamento e do fechamento da trilha, todos estavam contentes e ansiosos para chegar logo a Machu Picchu que estava bem perto, na montanha pouco acima de onde estávamos.

De madrugada, com cara de sono.

Terminando de descer a montanha, ao clarear do dia.

Rio Urubamba.

Atravessando a pequena ponte sobre o rio Urubamba.

Caminhando ao lado dos trilhos.

Longa caminhada pelos trilhos do trem.

O trem trazendo turistas para Machu Picchu.

Caminhando entre os trilhos e o rio, sob muita chuva.

Chegando a Aguas Calientes.

Eu e Diego descansando sob uma marquise.

Eu e meu irmão em Aguas Calientes.