Hoje faleceu o Jack, o Rottweiler da minha família! Ele estava com 14 anos e meio e já bastante fraco. Pôxa, não sabia que a morte de um cão podia doer tanto assim!! Então como homenagem e despedida ao meu amigo Jack, escrevi o texto abaixo com os olhos correndo lágrimas!! Vai com Deus meu amigo e que você possa estar num lugar melhor no céu dos cães, correndo livre e feliz como muitas vezes corremos juntos. Sentirei saudades!!
Minhas memórias: Jack
Nasci em 1999 na cidade de Londrina e junto com meus irmãos passei um período feliz junto com minha mãe. Mas como todo cachorro, um dia tive que ser separado dos meus entes caninos queridos. Logo ganhei um novo lar, na casa da família Dissenha, na cidade de Campo Mourão. Quando lá cheguei achei tudo meio estranho, mas aos poucos fui me acostumando. Na casa viviam o Wagner, que oficialmente seria o meu “dono” e seus pais, a Dona Vanda e o Seu Amilton. Quem sempre estava por lá era a Erica, a neta deles, uma menina brincalhona e que gostava muito de cachorros. Na casa ganhei novas companheiras, três fêmeas: a Bela, uma Cocker branca e marrom e sua mãe, de nome Preta. Tinha também uma vira lata chamada Bolinha. Foi no meio delas que cresci e com elas é que passava meus dias brincando. No fundo da casa existia um canil grande, onde eu ficava com as outras três cachorras. Mas durante boa parte do dia ficávamos soltos no pequeno quintal, debaixo de um pé de manga e outro de poncã. Logo nos meus primeiros meses na casa teve a primeira safra de poncãs e descobri o delicioso sabor dessa fruta que passei a adorar.
Eu não gostava muito de ficar no canil e logo encontrei um cantinho que passou a ser meu. Era um espaço na área de serviço, debaixo de uma pia e ao lado do tanque de lavar roupas. Passei a dormir ali quando permitiam. Depois de um tempo conheci o outro membro da família, mas que vivia numa outra cidade. O nome dele era Vanderlei e logo passamos a ser bons amigos.
Após eu completar meu primeiro ano de vida, os hormônios falaram mais alto e por descuido de meus donos humanos, acabei engravidando a Bolinha. Ela era anos mais velha que eu, mas isso não foi problema. Após alguns meses ela criou e fui pai de dois belos filhotes. Depois disso meus donos separaram a Bolinha de mim, mandando ela para a casa da filha deles, perto dali.
Os anos foram passando e eu fui crescendo feliz e saudável. Adorava comer e logo fiquei grande, forte e gordo. Alguns diziam que eu parecia um urso! Um belo dia me levaram para uma outra casa, para cruzar e lá conheci uma fêmea da mesma raça que eu. Fizemos amor e depois me separaram dela. Após alguns meses fiquei sabendo que ela tinha parido sete filhotes. Fiquei orgulhoso, ao ser pai mais um vez!
O tempo foi passando e o Vanderlei passou a vir mais vezes visitar a família. E um belo dia ele resolveu me levar para passear com ele. Como eu era forte e colocava medo nas pessoas, até então ninguém tinha me levado para passear na rua, pois não conseguiam me segurar quando eu tentava correr. Esse primeiro passeio foi muito interessante, pois descobri coisas e cheiros novos e principalmente pude correr por grandes espaços. Após esse primeiro passeio, outros vieram e sempre que o Vanderlei vinha visitar a família ele me levava para sair com ele. Acabei me tornando seu companheiro de corridas e atado a uma corrente eu corria vários quilômetros ao lado dele.
Os anos foram passando e eu fiquei muito amigo das duas Cocker com as quais eu dividia o quintal. A Bela era muito minha amiga, mas era brava e desde pequeno ela me batia quando eu fazia algo que não a agradava. Acabei ficando muito maior do que ela, mas mesmo assim nunca revidei quando ela vinha brigar comigo. Eu sabia que se quisesse podia estraçalhar ela com minha forte mordida, mas gostava dela e nunca lhe fiz nenhum mal. Em 2008 a Bela ficou doente, teve câncer e após algumas semanas veio a falecer no canil. Eu que não gostava do canil, passei a gostar menos ainda desse lugar e nunca mais quis entrar nele. Tinha medo e quando me colocavam lá eu uivava até me tirarem. Passei a ficar somente no “meu cantinho” debaixo da pia. E como fui engordando cada vez mais, eu mal cabia no tal cantinho, mas mesmo assim adorava aquele cantinho.
Não demorou muito e a Preta, mãe da Bela também veio a morrer. Ela estava velha, com dezesseis anos e numa bela tarde enfartou no meio do quintal. Acabei ficando sozinho no quintal, mas isso não era legal, pois me sentia meio solitário sem a companhia de outros cães. O tempo foi passando e uma nova fêmea veio morar no quintal. Era pequenina, novinha e se chamava Milly. Ela era uma vira-lata que tinha sido resgatada, pois vivia abandonada nas ruas, passando fome. Era esperta e brincalhona e logo ganhou o coração dos donos da casa e deixou o quintal, indo morar na garagem. Não me importei, pois preferia ficar no quintal. Mais algum tempo e outra vira-lata resgatada das ruas veio fazer parte da família. Era outra fêmea marrom e muito espoleta. Ela era terrível, mordia tudo o que via pela frente e tinha um costume besta de ficar pulando. Ela parecia mais um canguru do que um cachorro! Ela passou a morar no canil e ficava boa parte do tempo trancada, pois se a deixassem solta ela aprontava alguma.
Com o passar dos anos minha saúde foi ficando debilitada. Fiquei velho e minhas pernas já não aguentavam mais fazer longas caminhadas ou correr como antigamente. O Vanderlei passou a fazer visitas mais frequentes e sempre me levava para curtas caminhadas pela vizinhança. Ele era paciente e deixava-me caminhar no meu ritmo. Teve uma noite em que minhas pernas se cansaram mais rapidamente e eu empaquei numa calçada. O Vanderlei ficou quase uma hora sentado no meio fio esperando que eu tivesse forças para levantar e voltar para casa. Dias depois ele me levou para passear na casa da avó dele e nessa visita tive talvez o momento mais vexatório de minha vida. Fui descer correndo de uma escada e caí literalmente de boca no chão, ficando com a boca cheia de terra e esfolando o nariz. A partir desse dia os passeios ficaram cada vez mais escassos e curtos. Não me importei com isso, pois sabia que não tinha mais força para longos passeios. A velhice chegou e com ela a rigidez de minhas pernas desapareceram.
Mesmo velho e fraco, acabei aprontando certa vez. Escapei de casa! Foi a primeira vez que encontrei os dois portões e duas portas que levam até a rua, abertos ao mesmo tempo. Não pensei duas vezes e fugi! Como não tinha muita força nas pernas, não fui muito longe. Logo um dedo duro me viu na rua e ligou para meus donos avisando onde eu estava. Não demoraram a me encontrar e me levaram para casa. Mas para que a escapada fosse completa, na hora que foram me pegar empurrei a Erica contra um muro e ela esfolou a mão. Mesmo assim não brigaram comigo e no fundo até acharam graça de minha fuga.
O tempo continuou passando e em janeiro de 2013 completei 15 anos de vida. Sei que essa idade é enorme para cachorros de minha raça. Comecei a me sentir cada vez mais fraco e meus dentes foram ficando moles e meus olhos perdendo a visão. Passava a maior parte do dia dormindo no meu antigo cantinho e segundo os humanos diziam, eu roncava alto igual eles. Nesse ano dei três passeios curtos com o Vanderlei e no último caí de boca no asfalto. Minhas pernas iam ficando cada dia mais fracas! E não somente as pernas foram fraquejando, mas o corpo todo. E na madrugada do dia 12 de julho de 2013, então com 15 anos e meio de vida, deixei a vida na terra e parti para o céu dos cães. Sei que alguns choraram quando souberam de minha morte! Parece que isso demonstra que fui um bom cachorro em vida, companheiro, amigo e ótimo cão de guarda, pois nunca um ladrão entrou na casa. E fui bonzinho também, pois só mordi duas pessoas durante toda a minha vida. Uma foi a Erica, quando ainda garotinha inventou de montar cavalo em mim e puxou muito forte minhas orelhas. Mas não foi uma mordida forte! E a outra mordida foi em meus últimos meses de vida, quando mordi a mão do Seu Mirtão. Eu estava quase totalmente cego e não consegui diferenciar a mão dele do pedaço de carne que ele queria dar para mim.
Parto dessa vida feliz! Fui amado, bem tratado, bem cuidado! Muitos me amaram, tanto humanos, quanto cães! Deixei descendência, bons amigos e saudades! E na última safra de poncãs comi muitas. Talvez as poncãs sejam a coisa que mais sentirei falta de minha vida terrena. Mais até que dos ossos!! Mas a vida é assim mesmo, ela é finita para todos, seja homem ou animal. E fui muito feliz, tive um lar, comida e pessoas que cuidavam e gostavam de mim. Sei que tem muitos cães por aí abandonados, sem um teto, passando frio, fome e solidão, sendo espancados por pessoas maldosas. Então não posso reclamar da vida que tive! E parto com saudades dos que ficam e sei que vão ficar com saudades de mim e nunca vão me esquecer. Não passei em vão pela vida, pois deixei marcas boas e bons amigos. Só posso dizer que valeu a pena! ADEUS!!!