Adeus ao meu pai!

A partir de hoje minha vida mudou, pois, meu pai faleceu e nada será como antes. Vivi minha vida toda tendo um pai e agora ele se foi… A preocupação maior no momento é cuidar da minha mãe, que não está bem de saúde. E tentar seguir a vida com esse vazio que nunca será preenchido. Essa semana foi uma das mais difíceis de minha vida, pois vi e fiz coisas, passei por situações para as quais não estava preparado. Mas consegui ser forte e dei conta de tudo. E tudo o que vivi nesses últimos dias, me ajudaram a amadurecer e a rever certas coisas em minha vida, certos conceitos e opiniões.

No passado eu e meu pai tivemos sérios problemas de relacionamento, que felizmente nos últimos anos foram resolvidos, pois nos perdoamos, deixamos o passado no passado. Hoje entendo que o furacão que aconteceu em minha vida em 2010 e que me fez voltar para minha cidade natal e viver perto da minha família, tinha muitas razões e uma delas era para eu viver os últimos anos de qualidade de vida de meu pais, junto com eles. Eu tinha ficado 20 anos distante e perdi muitos aniversários, natais, dia das mães, dia dos pais e uma infinidade de momentos em família. E nos últimos 14 anos pude compensar os 20 anos de ausência e participei de tudo o que foi importante junto de minha família.

Nos últimos dois anos fiz muitas viagens para consultas médicas e exames, levando meus pais. E nessas viagens pude saber de histórias da vida deles que eu jamais tinha ouvido. As duas últimas noites que meu pai passou sedado num quarto de hospital, dormi numa cama ao lado da cama dele. Eu ouvia a respiração dele ao meu lado, e isso me fez lembrar de quando era criança e viajava com ele de caminhão e dormíamos lado a lado no sofá cama do caminhão. Fiquei ao lado de meu pai quase todas as últimas horas de vida dele e só não pude ficar o tempo todo ao lado dele quando ele foi transferido para a UTI. Eu que nunca tinha entrado numa UTI, de repente fiz várias visitas ao meu pai, vendo ele conectado a uma infinidade de aparelhos. E o pior momento foi quando ele faleceu e ao entrar na UTI vi ele dentro de um saco plástico. Esse foi um dos momentos mais difíceis da minha vida. Depois tive que passar pela desgastante função de avisar sobre a morte dele, ir no cemitério providenciar o enterro, ir no Prever escolher caixão, no cartório fazer a certidão de óbito. Meu irmão me ajudou, pois acho que sozinho não teria dado conta.

E então veio o velório, algo que não gosto e procuro nunca ver a pessoa falecida dentro do caixão. Muitas pessoas se fizeram presentes, sendo familiares, amigos de meu pai, de minha mãe, de meus irmãos e meus. Alguns amigos passaram a noite toda no velório me fazendo companhia. Nem sei como agradecer todo esse carinho. Recebi dezenas de abraços e palavras de carinho. E me mantive forte, preocupado em cuidar de minha mãe. Quase no final do velório uma amiga usou as palavras certas e me convenceu a ver meu pai no caixão. Toquei na mão dele e baixinho falei as últimas palavras de despedida. Fiquei um longo tempo ali ao lado do caixão e finalmente perdi minha fobia de ver as pessoas dentro de um caixão.

Ver o sepultamento foi outro momento muito difícil. E dizer que uma semana antes eu tinha ido ao cemitério visitar o túmulo da Família Dissenha. Naquela visita eu jamais podia imaginar que uma semana depois meu pai estaria sepultado naquele túmulo. O que mais me incomodou nisso tudo, foi que não consegui chorar. O tempo todo não derramei nenhuma lágrima. Eu queria chorar, pois sentia algo me sufocando, mas não consegui chorar. Isso não significa que eu não amo meu pai, que não tenho sentimentos. Sempre tive grande dificuldade para exteriorizar sentimentos, falar o que sinto. Tive problemas em relacionamentos passados, por culpa disso, pois nunca conseguia demonstrar o que sentia pela companheira. Ainda não chorei pela morte do meu pai e não sei se vou chorar. Mas sei que a dor que sinto é enorme, é intensa e só vai diminuir com o tempo. O que conforta é saber que ele morreu sabendo que eu o amava e eu sabendo que ele me amava. Nos perdoamos pelo passado. A última lembrança que vou levar dele é de horas antes do AVC que o levou a morte, quando na tarde de domingo me despedi dele, que estava sentado no sofá da sala de sua casa, com seu gato favorito ao seu lado, repousando a cabeça em sua perna. Os dias seguintes, as imagens dele sofrendo no hospital, morrendo aos poucos, essas quero apagar da minha mente.

E a vida não pode parar… Minha preocupação agora é cuidar e apoiar minha mãe, pois ela perdeu o grande amor de sua vida, o homem que entre altos e baixos dividiu o mesmo teto com ela nos últimos 58 anos. A saúde de minha mãe está frágil, mas vou cumprir uma promessa que fiz ao meu pai ao lado de seu caixão, que é cuidar e proteger ela até os seus últimos dias.

Vai em paz meu pai!

A útima foto com a família toda reunida. (28/04/2024)