Acordei ás 7h00min, com os pés congelados. Olhei pela janela e vi infinitas montanhas, de uma beleza sem fim. Logo chegamos a um pequeno povoado e foi feita a primeira parada na viagem onde os passageiros podiam descer do ônibus. Era um local com vários banheiros um ao lado do outro, todos mal cuidados, sujos. Ao lado tinha uma pequena lanchonete. Escovei os dentes e quando senti o perfume vindo dos banheiros achei melhor me manter longe deles. Preferi olhar a paisagem ao lado. Revi a australiana loira, que ao passar por mim deu um oi, com cara de quem tinha tido uma péssima noite. Ela ficou uns dois minutos na porta de um dos banheiros, acho que criando coragem pra entrar. Em dado momento algo falou mais alto e ela entrou no fedorento banheiro. Quando deu dez minutos de parada, o motorista entrou no ônibus, deu um grito de partida e foi saindo. Ele ainda foi camarada e deixou a porta aberta e foi devagar por alguns metros, assim alguns passageiros puderam correr atrás e entrar no ônibus em movimento. Eu e os canadenses do meu lado nos acabamos de rir vendo o desespero de alguns passageiros correndo atrás do ônibus.
Logo serviram o café da manhã, que consistia num sanduíche de queijo e um bolinho doce. Em vez de café preferi Coca-Cola, que sempre era servida na temperatura ambiente, o que não me agradava, pois prefiro bem gelada. Paramos numa cidade, onde alguns passageiros desembarcaram. Em seguida começamos a subir uma serra e levamos cerca de três horas pra subir a tal serra, circundando um vale. A paisagem era muito bonita, eu não me cansava de olhar pela janela. Conforme nos aproximávamos da cidade de Cuzco o tempo ia ficando ruim e logo começou a chover. Os vidros ficaram sujos de barro e não foi mais possível observar a paisagem. Então fiquei vendo um filme na tv, e com meia hora de atraso chegamos a Cuzco, ás 13h30min. O desembarque foi numa pequena rodoviária da empresa de ônibus. Encontrei novamente a australiana e conversamos um pouco. Ela ia para o centro da cidade e combinamos de dividir um taxi. Ficamos em frente a um balcão onde todos esperavam suas bagagens. O processo era desorganizado e lento. As bagagens foram chegando e nada da minha. Depois de meia hora a australiana disse que precisava ir e nos despedimos. Fiquei mais um tempo ali e quando me dei conta só estava eu em frente ao balcão e nada de minha mochila aparecer. O funcionário que entregava as bagagens já estava saindo do local quando o chamei e perguntei da minha mochila. Daí começou uma série de perguntas e fala com um, fala com outro. Fiquei muito preocupado, pois se minha mochila se extraviasse, eu podia dar adeus a fazer a Trilha Inca no dia seguinte. Todo meu equipamento e roupas estavam naquela mochila e ficaria muito caro comprar tudo novamente ali em Cuzco. Sei que me pediram pra entrar num local reservado, daí olhamos num ônibus, em outro e dali um tempo me chamaram na sala da gerência. Do nada encontraram minha mochila atrás de um armário na sala da gerência. Como ela foi parar ali é um mistério que nem me preocupei em descobrir. Apenas conferi pra ver se faltava algo e como estava tudo certo agradeci com cara de poucos amigos, coloquei a mochila nas costas e saí caminhando pela rua, debaixo de chuva. Estava bravo com a quase perda da mochila, mas ao mesmo tempo aliviado. O maior prejuízo foi perder o contato com a australiana, pois preocupado que estava com a mochila nem perguntei onde ficaria hospedada, ou endereço de email e etc. Encontrá-la novamente seria muito difícil. E foi dessa forma meio problemática e chuvosa que cheguei a Cuzco, antiga capital do Império Inca e um dos roteiros turísticos mais procurados e famosos do mundo.