Mais uma vez fui até Apucarana participar de uma caminhada noturna. Ao contrário dos dois últimos anos quando lá estive, dessa vez não cheguei atrasado. Os caminhantes se reuniram no centro da cidade, ao lado da catedral. Tinha bastante gente, inclusive grupos de outras cidades. Ali foi servido um lanche para todos os caminhantes e em seguida todo mundo embarcou em ônibus e seguiu até uma fazenda, onde seria o início da caminhada. Encontrei alguns amigos de Londrina e acabamos ganhando carona numa Kombi da Prefeitura de Apucarana. A motorista tinha o pé pesado e os dez quilômetros entre o centro da cidade e o local de início da caminhada, foram de fortes emoções.
A caminhada teve início em frente a um antigo cemitério e após percorrermos alguns poucos quilômetros com a noite clara do horário de verão, logo escureceu. O único problema foi que a caminhada da lua não teve lua. A lua surgiu somente após as 23 horas, quando a caminhada já tinha terminado e estavam todos jantando. Parte do atraso no surgimento da lua foi por que tinham muitas nuvens de chuva justamente no lado onde a lua deveria nascer, e isso fez com que demorasse mais para a lua surgir. Mesmo sem lua a noite estava clara e percorri quase todos os 10 quilômetros sem utilizar lanterna e aproveitando para admirar o céu estrelado.
Parte do trecho percorrido na caminhada eu já conhecia de outras caminhadas. O trecho não era difícil e não tinha subidas íngremes. Apenas alguns trechos tinham muitas pedras soltas e era preciso tomar cuidado para não virar o pé ou cair. Mesmo sendo noite, fazia muito calor! O final da caminhada e o jantar foram no Parque da Redenção. Esse parque é muito bonito e nele existem muitas estátuas que “contam” passagens da vida de Jesus Cristo. Tem desde a Santa Ceia, até a crucificação e a gruta onde Cristo foi sepultado. O local é muito bonito e merece uma visita, principalmente à noite, onde as luzes que iluminam as estátuas dão um clima bem especial ao local.
O jantar estava muito bom e mais uma vez comi mais do que deveria e/ou podia. Após jantar pegamos um ônibus e seguimos até o centro da cidade, desembarcando no mesmo local onde tínhamos embarcado e deixado os carros. Passava da meia noite quando peguei a estrada para percorrer os 160 quilômetros até minha casa. Foi cansativo, mas valeu a pena mais essa caminhada em Apucarana.
Ontem teve caminhada noturna em Apucarana, e durante a semana convidei o pessoal de Campo Mourão para ir junto comigo nessa caminhada, mas ninguém podia ir. Daí fiquei desanimado e decidi que também não ia. Mas na última hora mudei de idéia, e segui para Apucarana. O engraçado foi que ano passado, no dia 21 de novembro aconteceu algo parecido. Teve caminhada noturna em Apucarana, era um sábado de muito sol e calor, e eu estava desanimado e triste, e decidi ir à caminhada na última hora. Quase um ano depois, tudo se repetiu, outro sábado de muito sol e calor, eu desanimado e triste, e na última hora decidi seguir para Apucarana, caminhar na noite e tentar deixar a tristeza e o desânimo pelo caminho.
Dessa vez resolvi mudar o caminho que sempre faço, e pesquisando no mapa descobri um outro roteiro para chegar até Apucarana. Esse roteiro seria 20 quilômetros mais curto e eu fugiria dos pedágios. E também teria pouco trânsito, pois seguiria por estradas de pouco movimento. De desvantagem nesse novo roteiro, era que parte da estrada era ruim, não tinha acostamento e passaria por locais bem desertos, onde caso eu tivesse algum problema mecânico, estaria literalmente f… ferrado. Por outro lado curto dirigir em estradinhas assim, passando por pequenos povoados e cidades, vendo paisagens bonitas e evitando o grande número de carros na estrada. Fazia muito calor e dirigir com as janelas do carro abertas, com o vento batendo no rosto, foi muito gostoso. Fui ouvindo música sertaneja, e cantando junto. Estava nessa “balada” até metade do caminho, quando notei que o mostrador de temperatura estava sinalizando algum problema. A temperatura estava quase no limite aceitável. Parei, tentei descobrir se tinha algo errado no motor, e não descobri nada. Voltei à estrada e tive que tirar o pé do acelerador, pois sempre que “pisava” um pouco mais a temperatura chegava ao limite de segurança, e se forçasse mais poderia fundir o motor. Tendo que reduzir a velocidade comecei a temer que não chegaria a tempo de encontrar o pessoal da caminhada no centro de Apucarana.
O horário de saída dos ônibus que levaria o pessoal até o local da caminhada, era 19h30min. Quando deu esse horário eu ainda estava há 20 quilômetros de Apucarana. Então lembrei que tinha o telefone de uma pessoa que faria a caminhada e liguei para ela. Expliquei meu problema, e pedi que pedisse para o pessoal da organização esperar até eu chegar. Esses últimos 20 quilômetros fui guiando com todo o cuidado, no limite entre superaquecer o motor de vez e ficar parado na estrada. Cheguei ao centro de Apucarana, na praça da Catedral, com vinte minutos de atraso. Vi o pessoal já embarcado nos dois ônibus da prefeitura e fui procurar um lugar para estacionar. Mas estava tendo um casamento na Catedral e não tinha nenhuma vaga para estacionar. Inclusive vi os noivos, que estavam tirando fotos no meio da rua em frente á igreja. Além de atrapalharem ainda mais o trânsito que já estava caótico, achei o ângulo da foto e tudo em volta muito horrível. Independente disso tive que dar umas voltas até conseguir estacionar, duas quadras para baixo da Catedral. Fechei o carro, peguei minha mochila e saí correndo. Para cortar caminho, bem que deu vontade de atravessar correndo por dentro da igreja, mas como sou educado e não queria atrapalhar o casamento de ninguém, dei a volta na igreja correndo. Ao chegar à rua do lado oposto, um dos ônibus com o pessoal da caminhada passou por mim. Dei com a mão para pararem, mas o ônibus seguiu em frente. Daí vi o outro ônibus que vinha atrás e dessa vez me meti no meio dos carros, sinalizando feito louco para que o ônibus parasse. Após quase ser atropelado duas vezes, o motorista do ônibus teve bom coração e resolveu parar e abrir a porta. O ônibus estava lotado e consegui achar um espaço minúsculo no primeiro degrau da porta e ali fiquei espremido ao lado de duas moças, enquanto o ônibus dava partida. Uma das moças perguntou se eu era o Vander. Respondi ofegante que sim, ainda tentando me recuperar da corrida atrás dos ônibus e pensando no que teria acontecido se eu não tivesse abortado no último instante minha insana idéia de pegar atalho por dentro da igreja, durante o casamento. A moça (cujo nome esqueci no momento) me disse que um carro tinha ficado me esperando, e que ela ia ligar para a dona do carro avisando que o retardatário (no caso eu) já tinha embarcado em um dos ônibus.
Seguimos durante uns dez minutos por ruas asfaltadas, até que entramos numa estrada de terra. Tinha muita poeira na estrada e percebi que essa caminhada era daquelas de comer poeira. Percorremos vinte minutos pela estrada de terra, sacolejando nos buracos em meio à poeira e com o barulho ensurdecedor do velho motor maçarico do busão ano 74, doendo nos ouvidos. Já estava escuro quando desembarcamos em frente a uma igrejinha fechada. O pessoal do outro ônibus tinha acabado de desembarcar. Ao descer já encontrei alguns amigos de Maringá e fui falar com eles. Após um breve aquecimento, teve início a caminhada noturna. Deviam ser umas cem pessoas participando da caminhada. Eu já tinha participado de outras duas caminhadas em Apucarana, onde as caminhadas são sempre bem organizadas e contam com a participação de muita gente.
Caminhei a maior parte do tempo com minha amiga Mira. E conforme íamos passando por outras pessoas, conversávamos com algumas dessas pessoas e seguíamos em frente. O primeiro quilômetro foi de descida, depois uma longa reta, até que começou uma longa subida. Era bonito ver as luzes das lanternas do pessoal formando uma fila indiana morro acima. Mesmo a noite fazia calor, o céu estava bem escuro e muito estrelado. De vez em quando eu desligava a lanterna e caminhava no escuro, vendo a beleza do céu repleto de estrelas. Foi mais um daqueles momentos em que nenhuma foto ou gravação consegue captar a beleza do momento, do céu, das estrelas. Conforme caminhávamos os cheiros bons e ruins iam se alterando. Era interessante perceber tal mudança olfativa.
Praticamente na metade no caminho ocorreu uma confusão com relação ao caminho a seguir. Ninguém sabia que íamos caminhar em círculo nos primeiros quilômetros e passar em frente à igrejinha onde a caminhada se iniciou. Então quem estava na frente viu a seta branca no chão, que indicava para seguir a direita e não viu a igreja poucos metros à frente, do outro lado da estrada. Isso fez com que muitos caminhantes, inclusive eu, seguisse pelo caminho errado. A seta indicava o caminho a seguir no início da caminhada, pois já tínhamos passado naquele local. Felizmente alguém da organização percebeu e foram de Kombi avisar que estávamos no caminho errado. Daí o jeito foi dar meia voltar e seguir até encontrar o caminho certo. Tal erro fez com que eu andasse cerca de um quilômetro e meio a mais, o que não foi nenhum dano, principalmente por me encontrar bem fisicamente, o que não me deixa cansado em uma caminhada “curta” de dez, doze quilômetros.
A parte final da caminhada foi por uma estrada longa, que iniciou com uma longa subida. De um lado da estrada dava para ver ao longe as luzes da cidade, e do outro lado muitos cafezais. Seguimos pela estrada até chegar a uma Estação Ecológica e ali entramos. Caminhamos pelo meio de uma mata bem preservada e finalmente chegamos ao fim da caminhada. Eram 22h42min, e como fui um dos primeiros a chegar, aproveitei que não tinha fila e fui jantar, pois estava “faminto de fome”. Logo o restante do pessoal foi chegando e não demorou até que todos estivem jantando.
Após a janta fiquei conversando com o pessoal e depois fomos embarcar nos ônibus. Quase chegando ao ônibus pisei em um buraco escondido na grama e levei uma torção no tornozelo direito, o que me fez sentir muita na dor na hora e até agora está causando certo incômodo. Na volta até o centro da cidade fui “espremido” no meio do busão, conversando com a Mira, Celso, Waltério, Bamba e Shudy. Desembarcamos no centro da cidade, tiramos uma foto de nossa turminha juntos, nos despedimos e combinamos a próxima caminhada. Fui pegar o carro e na viagem de volta dirigi com o máximo de cuidado, pois o problema de superaquecimento continuava. Nas descidas eu deixava o carro seguir no embalo, sem acelerar, e isso fazia com que a temperatura baixasse um pouco. Nas retas e subidas eu não passava de 70 km/h, e não tirava o olho do marcador de temperatura. Nessa de olhar demais para o marcador, me distrai e acabei entrando errado num trevo. Somente após percorrer uns cinco quilômetros é que percebi o erro. Daí tive que dar meia volta e procurar a estrada certa. E nesse ritmo lento acabei chegando em casa ás 4h05min da madrugada. Meio tarde, mas felizmente cheguei inteiro. Valeu ter viajado 350 quilômetros entre ida e volta para participar da caminhada. Apesar do problema no carro, cheguei em casa bem humorado e feliz. A tristeza e o desânimo deixei em algum lugar da estrada de terra onde caminhei lá para os lados de Apucarana. Cada dia gosto mais desse novo “hobby” que são as caminhadas. Elas me fazem bem, me deixam relaxado e feliz. O que para muitos é “programa de índio”, para mim é um santo remédio.