Como homenagem aos 189 anos de independência do Brasil, vou utilizar um pouco de meus dotes de historiador e contar a história de um quadro. Esse quadro é famoso e com certeza todos os brasileiros que estudaram um pouco de história na escola, viram a imagem desse quadro em alguma cartilha. Tive o privilégio de ver esse quadro ao vivo e a cores, e posso lhes garantir que ele é muito bonito. Mas como é normal na história passada e atual de nosso querido pais, nem tudo o que parece é realmente verdade. O nome desse quadro é “Independência ou Morte” e foi pintando por Pedro Américo.
Infelizmente a história é sempre contada pela visão dos vencedores e também ensinada de acordo com o contexto sócio-político de determinado local ou época. Isso faz com que desde a infância seja nos apresentada uma história que é reconhecida universalmente e que jamais pode ser discutida. Na história do Brasil é comum que heróis sejam esquecidos e que personagens inexpressivos sejam transformados em heróis. Que fatos sejam alterados ou inventados, de acordo com os interesses da ideologia dominante em certa época. Tudo isso para se tentar valorizar um regime de governo ou determinada orientação política vigente. Esse quadro do Pedro Américo é um exemplo clássico disso. A bela imagem que nos foi passada desde a infância, mostrando como foi o momento sublime da independência é na verdade uma imagem que foi retratada bem diferente da imagem real do 7 de setembro de 1822.
A independência do Brasil foi proclamada em 1822, mas Pedro Américo só terminou de pintar o quadro em 1888 em Florença, na Itália, onde ele vivia na época. Esse quadro foi encomendado pela Família Real, que desejava ressaltar a monarquia e seus heróis. O regime monárquico estava cambaleante e caiu em 15 de novembro de 1889, com a Proclamação da República. E como se tratava de um quadro encomendado, referente a um fato histórico ocorrido muitos anos antes e presenciado por poucos, Pedro Américo decidiu mudar um pouco a imagem do momento do grito de independência feito por Dom Pedro I. Tal momento foi “reconstruido”, passando uma imagem mais pomposa.
Entre as principais alterações feitas, o autor do quadro chegou a “desviar” o curso do riacho do Ipiranga, que a rigor estaria passando por trás de quem observasse a cena naquele local. Outra alteração feita é com relação ao tamanho da comitiva, que não tinha tantos membros igual o quadro retrata. As roupas também não eram iguais as que aparecem no quadro, todas roupas de gala. A comitiva de Dom Pedro I tinha subido a Serra do Mar, vinda de Santos e ninguém naquela época usava roupas de gala em viagens, pois elas eram quentes e cheias de enfeites. Na verdade todos deveriam estar usando trajes mais práticos e simples e possivelmente cheios de pó e barro da estrada, que naquela época era pouco mais que uma trilha no meio do mato. E o principal é que Dom Pedro I não estava montado num imponente cavalo. Naquela época para viagens longas e principalmente subindo uma serra, eram utilizados jumentos e mulas. E conta a lenda que Dom Pedro I estava com uma forte diarréia e que tinha parado naquele local às margens do riacho Ipiranga para dar uma “aliviada”.
Mesmo não retratando a “imagem” real do momento do grito da independência, o quadro de Pedro Américo possui um valor inestimável para a história brasileira. O quadro mede 7,60 x 4,15 metros. Pedro Américo se preocupou em estudar todos os detalhes do quadro, como roupas e armas utilizadas na época em que ocorreu o grito da independência. Para a produção deste quadro ele se dirigia freqüentemente ao bairro do Ipiranga, próximo ao riacho, para conhecer melhor a luz e a topografia do local, entre outros aspectos. Desde que foi pintado, esse quadro está no Museu do Ipiranga (atualmente chamado de Museu Paulista da USP), em São Paulo. Inclusvie quando da construção do Museu, Pedro Américo pediu que a parede onde ficaria o quadro fosse um pouco inclinada para possibilitar uma melhor visualização e sentido de dimensão de sua obra.
No local onde aconteceu o grito de independência em 1822, nos dias de hoje pouca coisa lembra como ele era na época. O riacho do Ipiranga é poluído e está quase esquecido em meio a avenidas e outras construções. Próximo a ele foi constuído o Monumento à Independência. Debaixo do monumento fica a cripta onde estão os restos mortais de Dom Pedro I, trazidos de Portugal em 1972. Ao lado dos restos mortais de Dom Pedro I, também estão os restos mortais de suas duas esposas, Leopoldina e Amélia. Os restos mortais de sua amante, a Marquesa de Santos, estão sepultados um pouco distantes dali, no cemitério da Consolação. O coração de Dom Pedro I está conservado e guardado como relíquia em um mausoléu na capela-mor da Igreja da Lapa, em Porto, Portugal.