Após quase dez dias no Rio Grande do Sul, ontem finalmente voltei para casa. Viajei no meio da tarde, o tempo estava bom, o avião saiu no horário, ou seja, tudo perfeito, até demais. Sempre que viajo sozinho pro Rio Grande do Sul acontece algum problema. Quando viajo com outros companheiros do trabalho, normalmente tudo da certo. Isso já está até virando motivo de piada, de que sou pé frio e que ninguém quer viajar junto comigo. E ontem não foi diferente, após meia hora de vôo achei estranho quando o avião fez uma manobra que normalmente não faz naquele momento do vôo. Após quatro anos voando nessa rota com certa freqüência, acabei meio que decorando os procedimentos normais. Mais estranho ainda foi quando percebi que o avião estava voltando para Porte Alegre. Levantei a cabeça assustado a procura de uma comissária para perguntar o que estava acontecendo e antes que encontrasse alguma o piloto avisou pelo rádio que o aeroporto de Curitiba estava com problemas de radar, o que gerou um aumento no trânsito de aeronaves. Por essa razão ele tinha recebido a ordem de ficar onde estava e que se o problema perdurasse por mais tempo, seguiríamos até Campinas, pois não dava pra ficar rodando no mesmo lugar por muito tempo, já que existe um nível de segurança para o consumo de combustível. Após esse aviso soltei em voz baixa um “tava demorando”, meio que conformado e com raiva de sempre ter algum problema em meus vôos solo. Tentei continuar lendo meu livro, mas ficar voando em círculos pra mim é bastante incomodo, pois ataca minha labirintite. Fiquei torcendo em silêncio para que não precisacemos ir pra Campinas, pois atrasaria muito a viagem. Após 20 minutos de vôo em circulo, novo aviso do piloto, de que ainda não tinham resolvido o problema em Curitiba e que em vez de irmos pra Campinas a nova opção de desembarque seria Florianópolis, que era bem mais perto de onde estávamos. Mais cinco minutos de vôo em círculos e novo aviso, dizendo que finalmente seguiríamos para Curitiba. Fiquei feliz!
Chegando em Curitiba já estávamos perto do aeroporto, em baixa altitude, na rota de aterrissagem, quando de repente o avião começou a subir e se distanciou do aeroporto. Mau sinal isso, comecei a me preocupar novamente. Demos duas voltas por sobre Curitiba e na terceira volta, quando estávamos sobrevoando o bairro Champagnat, o avião acelerou bruscamente e começou a subir. A manobra era totalmente estranha e muitos passageiros estavam olhando para os lados assustados. Eu fiquei colado na janelinha e logo vi que a nossa esquerda tinha outro avião quase na mesma altitude e numa distância que não é normal. Em dezenas de vôos que já fiz, nunca tinha visto outro avião voar tão perto do avião em que eu estava. Entendi então o motivo da subida rápida que estávamos fazendo e ao mesmo tempo fiquei ainda mais preocupado, pois a situação não era nada normal. Logo começamos a baixar e ficamos na rota que segue até o aeroporto, inclusive passando quase por cima de minha casa.
Aterrissamos sem problemas e quando pensei que tudo estava bem, notei que seguíamos para uma parte distante do aeroporto e então vi que todas as plataformas de desembarque estavam ocupadas e o trânsito no aeroporto estava intenso. O avião mal parou e o pessoal começou a se levantar, logo o piloto deu o aviso costumeiro para a comissária destravar a porta. Estava olhado pela janela e nesse momento dei uma risada que fez com que outras pessoas me olhassem espantadas, principalmente a senhora que tinha viajado ao meu lado e que já estava em pé esperando para desembarcar. Olhei pra ela e falei que podia sentar de novo, porque não tinha escada para descermos. Em seguida o piloto falou pelo rádio que o pessoal de terra não estava preparado para nosso pouso fora das plataformas e que não tinha escada no local para descermos. Ele pediu desculpas pelo ocorrido e que esperássemos um pouco. Dali alguns minutos começou a chegar vários veículos da TAM, com o pessoal da limpeza, o da bagagem, combustível, ônibus para os passageiros, a nova tripulação, pois o vôo seguiria para Fortaleza e finalmente a escada. Sei que foi muito engraçada aquela cena do pessoal vindo rapidamente para o local onde estávamos. Fiquei me divertindo observando a cena e acabei esquecendo de fotografar o momento em que traziam a tão aguardada escada. Mais alguns minutos e finalmente desembarcamos, seguindo de ônibus até o terminal de desembarque. Ao todo foram cinqüenta minutos de atraso e para mim a certeza de que minhas viagens solitárias entre Curitiba e Porto Alegre sempre trazem surpresas desagradáveis e algumas até engraçadas. Daqui pra frente vou pedir pra sempre viajar acompanhado, pois estou começando a acreditar no pessoal que me chama de pé frio.