Viagem ao Peru e Bolívia (24° Dia)

07/06/2012 

Santa Cruz de La Sierra 

Acordei às 10h00min e fiquei vendo TV na cama por algum tempo. Depois levantei, tomei banho frio (não tinha outra opção!), arrumei minhas coisas e saí. Fiz o checkout às 11h30, que era o horário limite para sair do hotel. Saí e atravessei à avenida em frente ao hotel para ir até o Terminal Bimodal. Lá deixei minhas mochilas no guarda volumes e fui para o centro da cidade. A chuva tinha parado, mas continuava nublado e fazendo frio. Ao caminhar pela rua notei que minha calça estava caindo. Após tantos dias comendo comidas ruins, fazendo algumas atividades físicas desgastantes e vivendo em altas atitudes, acabei perdendo alguns quilos.

Eu conhecia o caminho até o centro da cidade, pois estivera passeando por alí algumas semanas antes, no início da viagem. Minha intenção era almoçar no mesmo restaurante onde almocei da outra vez em companhia de alguns amigos. Encontrei o restaurante, mas naquele dia não serviriam almoço. Achei estranho isso, mas não perguntei o motivo. Saí andar pelo centro e então notei que todas as lojas estavam fechadas. Foi então que lembrei que era feriado de Corpus Christi. Nessa viagem eu tinha perdido um pouco a noção de tempo e muitas vezes não sabia que dia da semana ou do mês era, e muito menos me lembrava de feriados. Andei um pouco pelo centro e fui até a praça em frente à Catedral, que mais uma vez estava fechada. Com tudo estando fechado em razão do feriado e Santa Cruz não sendo uma cidade com muitos atrativos para turistas, resolvi voltar para o Terminal Bimodal. Pelo caminho fui procurando algum restaurante aberto, mas não encontrei nenhum.

Na região em frente ao Terminal Bimodal existiam muitos restaurantes e todos estavam abertos. Resolvi procurar outro lugar para almoçar e não o restaurante onde tinha almoçado e jantado no dia anterior. Passei por todos os restaurantes, olhei as mesas, a comida que estava sendo servida e nenhum me agradou. Todos eram sujos e a comida estranha. Tinha até uma pequena churrascaria, cuja churrasqueira ficava na calçada. Dei uma olhada nas carnes que estava sendo assadas e que no meio tinha algumas tripas de boi sendo assadas. Fiquei alguns minutos parado olhando o churrasqueiro e após ver algumas atitudes nada higienicas por parte dele, desisti de comer ali. Fui almoçar no mesmo restaurante do dia anterior, que se não era um exemplo de limpeza e higiene, ao menos a comida era razoável e não tinha me feito mal. Chegando ao restaurante encontrei uma única mesa vazia, pois como das outras vezes estava lotado. Pedi o costumeiro prato feito com arroz, frango, batata frita e comecei a comer.

Á tarde eu não tinha nada para fazer, a não ser esperar o final do dia quando meu trem partiria. Voltou a chover e isso impossibilitou qualquer passeio pela cidade. Entrei em uma lan house e passei o resto da tarde usando a internet. Quando escureceu fui para o Terminal Bimodal e no caminho ouvi música na rua, que vinha de uma loja. Dessa vez era Roberto Carlos, cantando em espanhol. No Terminal Bimodal peguei minhas mochilas no guarda volumes e fui para a fila do embarque. A fila era pequena e quando fui passar pelo portão de embarque me barraram. Ali também era preciso comprar o tal ticket de taxa de embarque. Fui comprar o ticket e voltei para o portão de embarque. O trem estava parado logo em frente e eram somente dois vagões. Creio que por ser o trem luxo que é mais caro, pouca gente costuma viajar nele.

Embarquei no trem e me senti frustrado, pois esse Trem da Morte não era nada parecido com o Trem da Morte das histórias que li em livros. Esse trem em que estava embarcado era a versão luxuosa do Trem da Morte, com poltronas macias e reclinaveis, ar condicionado, TVs de plasma passando filmes norte americanos e banheiro limpo. Eu que esperei tanto tempo para viajar no clássico Trem da Morte, acabei tendo que me contentar com a versão luxo e sem graça do trem. Viajar pelo Trem da Morte é uma espécie de ritual e todo mochileiro que se preze um dia deve passar por tal ritual, deve fazer tal viagem, para então ser considerado um mochileiro de verdade. Eu que viajo há muitos anos no estilo mochileiro, ainda não tinha tal viagem no meu currículo.

A viagem de trem entre Santa Cruz de La Sierra e Porto Quijarro, na fronteira com o Brasil, é de pouco mais de seiscentos quilômetros. O nome Trem da Morte, ao contrário do que muitos imaginam não é em razão da estrada ser perigosa, com desfiladeiros e cheia de pontes prestes a cair. O nome Trem da Morte é por que no século passado durante uma grande epidemia de febre amarela que assolou a região de Santa Cruz de La Sierra, esse trem foi utilizado para transportar muitas pessoas doentes e também corpos de mortos na epidemia. E muitos dos doentes transportados no trem, morreram durante a viagem. Além disso, naquela época a ferrovia se encontrava em péssimas condições de conservação e muitos descarrilhamentos com mortes aconteciam, aumentado ainda mais a má fama da ferrovia e tornando “famoso” o Trem da Morte.

Atualmente existem três tipos de trens percorrendo o trecho entre Santa Cruz de La Sierra e Porto Quijarro (e vice versa). Tem o Regional, que é o preferido dos viajantes, pois é o mais barato. O Regional é considerado o Trem da Morte clássico, pois sua viagem dura em média 19 horas e normalmente está lotado. Ele costuma ter pessoas dormindo pelo chão e transportando galinhas dentro dos vagões. Nesse tipo de trem é permitida a entrada de vendedores, então em cada parada que o trem faz muita gente entra e desce dos vagões, vendendo diversos tipos de produtos. O Regional também é o preferido pelos mochileiros do mundo todo que buscam fazer a famosa viagem pelo Trem da Morte. O trem intermediario é o Expresso Oriental, cuja viagem tem duração média de 16 horas e o preço é um pouco maior do que o Regional. O trem mais luxuoso é o Ferrobus, que é o mais chique e caro, e cuja duração da viagem é de cerca de 12 horas. Era justamente no Ferrobus que eu ia viajar. O mais caro, mais luxuoso, mais confortável e mais sem graça dos trens. E justamente o trem pelo qual eu não queria viajar. Mas não tive opção, pois tinha ficado mais de um dia esperando um trem que partisse de Santa Cruz e tanto meu dinheiro, quanto minha paciência estavam no fim e eu queria voltar logo para casa.

Acomodei-me em minha poltrona, que era bastante confortável. Meu vagão estava quase vazio, com mais seis pessoas somente. Dentro do vagão fazia muito frio e mais tarde descobri que o sistema de ar condicionado estava com defeito e por isso que ficava tão frio dentro do trem. Entrei dentro de meu saco de dormir e fiquei vendo um filme que passava em uma TV presa ao teto, no corredor do trem. E para minha surpresa logo apareceram duas moças com um carrinho igual os de serviço de bordo de aviões. Elas traziam o jantar! O trem era mesmo chique, tinha até jantar quente. O cardápio era arroz, batata cozida e carne assada. Para beber tinha água e Coca-Cola. E de sobremesa tinha pudim. A comida era boa, pena que em pouca quantidade. Mesmo tendo gostado da comida, do filme e do conforto do trem, fiquei decepcionado e frustrado, pois aquela não era a viagem pelo Trem da Morte que tanto planejei e esperei. Paciência! O jeito era me conformar e talvez um dia voltar ali e fazer a viagem pelo Trem da Morte clássico, desconfortável, sujo, cheio de gente e extremamente lento…

Praça no centro de Santa Cruz de La Sierra.
Catedral de Santa Cruz de La Sierra.
Muro pichado no centro de Santa Cruz.
Rua em frente ao hotel onde me hospedei.
Na fila de embarque do trem.
Interior do trem.
A comida servida no trem.

Viagem ao Peru e Bolívia (23° Dia)

06/06/2012 

Começou a tocar o despertador do celular do cara que estava sentado na poltrona próxima a mim, do outro lado do corredor. Acordei com o barulho do despertador e também a criança de colo que estava na poltrona da frente. Foi um berreiro tão grande que acordou quase todo mundo dentro do ônibus. Depois dessa acho que o dono do celular passou a ser odiado por todos. Olhei no relógio e eram 5h35min. Tentei dormir novamente, mas a criança da frente chorova tão alto que era impossível voltar a dormir. Coloquei os fones do MP3, liguei a música bem alta para tentar abafar o choro da criança e assim consegui dormir.

Acordei algumas horas mais tarde, quando o ônibus parou em outro posto policial. Dessa vez todos tiveram que descer e ficar esperando ao lado da estrada pouco a frente do ônibus. Três policiais entraram no ônibus e fizeram uma varredura, olhando inclusive as mochilas e bolsas que tinham ficado dentro do ônibus. Um policial ao passar por mim parou e quando ia falar algo, alguém o chamou e ele entrou num carro e foi embora. Sorte minha!! Após meia hora nos mandaram embarcar e fomos embora. A bateria do MP3 acabou e fiquei sem ter o que fazer para matar tempo. O jeito foi ficar olhando pela janela, onde a paisagem era mato e uma ou outra casa. Mais duas horas de viagem e paramos para almoçar, em uma cabana na beira da estrada. Quase todos os passageiros comeram nesse lugar da parada. Eu entrei, circulei entre as mesas, dei uma olhada na cozinha e diante da precariedade da mesma e da aparente falta de higiene, desisti de comer ali. Comprei uma Fanta e fiquei parado próximo ao ônibus. O tempo estava nublado desde cedo e parecia que ia chover. Logo o ônibus da empresa cujo vendedor não quis me vender passagem em La Paz, parou ao lado. Dei uma olhada mais detalhada no tal ônibus, fui até sua porta e olhei dentro. Mais uma vez fiquei muito agradecido ao vendedor por não ter me vendido a passagem. O ônibus era muito ruim e desconfortável. O ônibus em que eu estava viajando não era dos melhores, mas com certeza era bem melhor do que aquele em que quase viajei. E o preço da passagem era o mesmo nas duas empresas de ônibus. O motorista apareceu e me chamou para embarcar.

O cara da poltrona do outro lado do corredor levou uma marmita para comer dentro do ônibus. E mais uma vez jogou o lixo no chão, inclusive ossos de frango. O espaço em volta a poltrona dele parecia um chiqueiro. Almocei alguns biscoitos e chocolates que tinha na mochila. Guardei as embalagens vazias no bolso lateral da mochila, bem como catei alguns farelos que tinham caído no chão. O cara da poltrona ao lado ficou olhando eu gurdando o lixo e limpando o chão. Espero que ele tenha aprendido algo comigo e em futuras viagens não seja tão porco. Começou a chover e fiquei alternando alguns cochilos, com olhadas para a paisagem.

Passava um pouco das 13h00min quando finalmente chegamos à Santa Cruz de La Sierra. O desembarque foi na lateral do Terminal Bimodal (rodoviária + estação de trem) e quando fui pegar minha mochila no bagageiro começou a chover forte. Não encontrei o ticket de bagagem. Procurei nos bolsos, na mochila e nada de encontrá-lo. Sempre fui cuidadoso com ticket de bagagem, seja em viagens de ônibus ou avião e nunca tinha perdido algum. Fui falar com o motorista e contei que não tinha o ticket. Ele me respondeu que sem ticket ele não entregava a bagagem. Fiquei quieto e fui me proteger da chuva debaixo de uma marquise. Mas fiquei o tempo todo olhando minha mochila, enquanto o pessoal pegava suas bagagens. Quando todos pegaram suas coisas e só ficou a minha mochila no bagageiro do ônibus, fui falar novamente com o motorista. Ele mais uma vez respondeu grosseiramente que sem o ticket ele não entregava a mochila. Argumentei com ele de que só tinha sobrado aquela mochila e que ele sabia que ela era minha. Lembrei a ele sobre a parada de madrugada no posto policial (ver postagem anterior) quando o policial entregou minha mochila na mão dele e disse para ele guardá-la no bagageiro. Ele pensou um instante, fez cara feia e me mandou pegar a mochila. Coloquei a mochila nas costas e ao passar pelo motorista dei um tapinha nas costas dele e disse muito obrigado. Ele não respondeu e virou de costas.

Fui até dentro do Terminal Bimodal a procura de um lugar para trocar meus últimos U$ 40,00. Esses dólares eu tinha guardado para comprar a passagem de trem ali em Santa Cruz de La Sierra. A única casa de cambio existente no Terminal estava fechada. Fui até o ghichê que vende passagens de trem para me informar sobre o Trem da Morte. O Trem da Morte clássico, que é o mais barato e onde o pessoal viaja meio amontoado, leva animais dentro e que era justamente o que eu queria saíria no final do dia. Mas não tinha mais passagens e outro trem igual só dali três dias. Fiquei decepcionado, pois eu queria viajar nesse mais simples, não pelo preço que era o mais barato, mas sim por que nesse trem tinha mais “emoção” e era o preferido pelos mochileiros do mundo todo. E eu não podia e não queria ficar três dias em Santa Cruz de La Sierra esperando o Trem da Morte clássico. O próximo trem que tinha passagem à venda partiria no dia seguinte, no final do dia e era justamente o trem de luxo. A passagem nesse trem de luxo custava $ 240,00 bolivianos. Não era possível pagar com dólares e o vendedor disse para eu ir até a entrada do Terminal, que ali algumas pessoas faziam cambio. Fui até o portão de entrada e logo vi um senhor de idade com um monte de notas de dólares e de bolivianos na mão. Fiz o cambio com ele e fiquei pensando que se fosse no Brasil o cara já tinha sido assaltado, pois ficar com tanto dinheiro na mão em um local público e cheio de gente, no Brasil é pedir para ser assaltado. Infelizmente cada dia tenho mais certeza de que o Brasil é o país dos ladrões!

Voltei até o ghichê da empresa de trem e comprei minha passagem. Como o trem só partiria às 18h30min do dia seguinte, eu tinha mais de vinte e quatro horas de espera. Saí do Terminal Bimodal a procura de um hotel. Voltou a chover e atravessar a rua em frente ao Terminal foi uma aventura. Primeiro por que atravessar ruas em Santa Cruz de La Sierra já é uma aventura em qualquer dia, em razão dos muitos carros que passam feito louco buzinando. E a segunda razão foi que boa parte da rua estava submersa, em alguns trechos com água batendo na altura da canela. Eu não queria molhar meus pés e principalmente meu único par de tênis. Parei e fiquei observando ao redor para ver como o pessoal estava fazendo para atravessar a rua. Vi que em algumas partes da rua tinham sido colocadas pedras e tijolos, aonde as pessoas iam pisando em cima para poder atravessar a rua sem molhar os pés. Fiz o mesmo, mas como estava com três mochilas tive que ser meio equilibrista para passar por sobre as pedras e tijolos sem cair na água e molhar os pés.

Na região em frente ao Terminal Bimodal vi somente dois hotéis. Entrei em um deles e ninguém veio me atender. Saí e fui em outro quase ao lado. O recpecionista tinha a maior cara de malandro e me atendeu contando algumas histórias e já ficou cheio de intimidades. O quarto custava $ 35,00 bolivianos e ficava no segundo ar. Subi sem expectativa alguma de que seria um bom quarto e ao abrir a porta vi que não estava enganado. Deixei minhas mochilas sobre a cama e fui tomar banho. E descobri que o banho era frio. Já fiquei em muito hotel pelo Brasil e pelo mundo, tanto em hotéis chiques, hotéis mais ou menos e alguns pulgueiros. Mas nunca fiquei em um hotel onde o banho fosse frio. Mas para quem já tinha tomado muito banho frio nessa viagem, um a mais ou a menos não ia fazer mal.

Saí do hotel e fui procurar um local para almoçar. A chuva tinha aumentado e ir para o centro da cidade não era uma boa idéia naquele momento. Dei uma volta pelas redondezas e resolvi entrar em um restaurante que apesar de ser meio sujo estava lotado. E restaurante lotado, mais que sinal de preço baixo é sinal de comida boa. O cardápio era o clássico arroz com frango e batata frita. E tinha um adicional, que era macarrão. Fiz meu pedido e logo veio o prato feito, que devorei todo só deixando os ossos. O macarrão era horroroso, mas comi do mesmo jeito. Saindo do restaurante entrei em uma lan houde e fiquei o resto da tarde usando a internet. Aproveitei para reponder e-mails, papear com alguns amigos, postar fotos no Facebook e postar algo no blog.

Já estava escuro quando voltei ao hotel. Tinha esfriado muito e não parava de chover. Deitei na cama e vi o controle da TV numa mesa ao lado. Liguei a TV e para minha surpresa entre muitos canais disponíveis tinha Record e Globo internacional. Fazia mais de três semanas que eu não via TV e foi bom ver algo em português. Comecei a assistir “Eu Odeio o Cris”, que passava na Record e após alguns minutos adormeci. Acordei umas duas horas depois e resolvi descer para jantar. Ia no mesmo restaurante onde tinha almoçado e ao virar a esquina dei de cara com cinco caras mal encarados e em atitude supeita. Quando eles me viram um deles deu um passo em minha direção e não pensei duas vezes, dei meia volta e saí correndo para o hotel. Em toda a viagem por Peru e Bolívia esse foi o único momento onde levei algum susto achando que alguém fosse me assaltar. Na verdade não sei se me assaltar era o plano dos caras. Mas sendo noite, numa rua deserta e meio escura, com chuva, eu é que não ia ficar esperando para saber se os caras fariam alguma coisa ou me deixariam passar tranquilamente. Seguro morreu de velho!!!

Saí novamente do hotel e para ir até o restaurante, dessa vez escolhi o caminho mais longo, mais iluminado e mais cheio de gente. O restuarante estava tão cheio como no almoço. Pedi o clássico arroz com frango e batata frita. Dessa vez pedi que não colocassem o macarrão. Comi tranquilamente e voltei direito para o hotel. Liguei a TV e deixei na Globo, onde ia passar um jogo de futebol. Antes que o juíz apitasse o início do jogo eu já estava dormindo.

Local de parada para almoço.
O cardápio do almoço.
Placa boliviana.
Pedras para atravessar a rua.
O cardápio de (quase) sempre.
Meu quarto pulguento.

Viagem ao Peru e Bolívia (2° Dia)

16/05/2012

O dia amanheceu e quando deu 7h00min resolvi sair do aeroporto. Tinham alguns táxis em frente e fui perguntar o preço da corrida até a Estação Bimodal, no caso Rodoviária, mas que tinha esse nome de “bimodal” por ser ao mesmo tempo estação de ônibus e de trem. O preço era o mesmo em todos os táxis que perguntei; 50 bolivianos o que dava uns R$ 18,00. Então embarquei num táxi que era bastante velho, mas espaçoso. Estava com muito sono e não demorou muito para eu dormir. Um tempo depois acordei bruscamente com o barulho de uma freada e os xingamentos do taxista. Olhei para o lado e um outro carro por muito pouco não tinha batido no meu lado da porta. O trânsito era caótico e a buzina bastante utilizada. Ninguém usava seta ou dava preferência aos outros motoristas quando necessário. Aquilo me fez lembrar do trânsito de Lima, no Peru. E também me fez sentir saudade dos motoristas barbeiros de Campo Mourão. Olhei no relógio e vi que já tinha se passado 20 minutos desde que saímos do aeroporto. O sono continuava me chamando e resolvi me entregar de vez a ele. Acordei quando estávamos chegando ao Terminal Bimodal. Foram 45 minutos de viagem até ali. Desci do táxi, peguei minhas mochilas (uma grande e duas pequenas) e fui em direção ao Terminal. O local era feio, sujo, cheio de ambulantes e de pessoas berrando tentando vender passagens para vários lugares.

Dentro do Terminal também era tudo estranho, escuro, sujo e nem de longe lembrava as rodoviárias brasileiras. Vendedores de passagens tentavam te laçar literalmente. Andei de uma ponta a outra do Terminal vendo as placas das agencias e tentando descobrir se alguma empresa tinha ônibus direto de Santa Cruz até Cusco, no Peru. Não encontrei nenhuma e após me informar, me foram indicadas duas agencias. Fui até elas e achei caro o preço, queriam cobrar U$ 70,00 e ainda tinha que fazer uma longa parada em La Paz. Achei melhor comprar passagem direto para La Paz e lá comprar outra para Cusco. Após pesquisar um pouco acabei comprando a passagem na empresa San Miguel, que me pareceu confiável e o preço era equivalente a R$ 50,00. O vendedor foi bastante atencioso, o que me deixou meio com o pé atrás, pois prometeu mundos e fundos e algo me dizia que não seria bem como ele estava prometendo. De qualquer forma eu não tinha outra opção. Eram quase 11h00min no horário local, que é de uma hora a menos que no Brasil. Meu ônibus sairia somente às 17h00min, então resolvi me sentar e pensar no que fazer com o tempo livre que teria até o horário do embarque. Fiquei observando quem passava e vi um rapaz com jeito de ser brasileiro, mas a moça que estava com ele não tinha nada de brasileira. Fiquei mais um tempo sentado olhando quem passava para ver se via algum outro brasileiro perdido por ali. Logo me cansei e resolvi dar uma volta. Num canto no Terminal vi novamente o casal que tinha visto há pouco. Eles conversavam com um casal japonês. Ao passar por eles o rapaz se abaixou e vi na parte de cima da aba de seu chapéu uma bandeira do Brasil bordada. Parei e puxei conversa. O nome do rapaz era Caíque, ele é de São José dos Campos – SP. A moça que estava com ele era francesa, Julie. Ela trabalhava até pouco tempo atrás na Embaixada Francesa em Brasília e antes de retornar a França estava passeando um pouco pela América do Sul. Eles se conheceram no dia anterior, dentro do trem da morte, que seguia da fronteira entre Brasil e Bolívia até Santa Cruz de La Sierra. O casal de japoneses; Yukari e Yoshikatsu eles conheceram no trem. Os japoneses estavam em lua de mel e faziam três meses que viajavam pelo mundo. Conversamos um pouco e decidimos deixar nossas mochilas no guarda volumes e sair dar uma volta pela cidade. A Julie disse que tinha visto num guia de viagens que próximo ao Terminal existia uma parte da cidade que era bonita, com uma bela praça.

Saímos os cinco do Terminal Bimodal e após pedir informação para algumas pessoas seguimos no sentido do centro da cidade. Próximo ao Terminal a cidade era feia e suja e o trânsito caótico. Atravessar as ruas era uma arriscada aventura e as buzinas ecoavam de todos os lados. Chegamos à conclusão que quem buzinava primeiro era que tinha preferência para atravessar a rua ou fazer alguma conversão. Após caminharmos algumas quadras chegamos até uma parte onde entre as duas avenidas existia um canteiro com ciclovia no meio, então seguimos por ele, pois era mais seguro. Mais alguns pedidos de informação e olhadas no guia do Caíque e chegamos ao centro da cidade. Andamos um pouco por ali a procura da Catedral e da praça em frente, mas acabamos seguindo para o lado contrário. Uma coisa que incomodava ali era o excesso de monóxido de carbono que saía dos escapamentos dos carros, chegava a sufocar. Me parece que o combustível boliviano não é de boa qualidade e é altamente poluente.

Estávamos passando em frente a um restaurante e vimos algumas tortas expostas numa vitrine. Resolvemos entrar e descobrimos que ali tinha um buffet e a comida parecia ser boa. Um dos cuidados que eu teria tanto na Bolívia quanto no Peru seria com a comida. Nestes países não dá para comer em qualquer lugar, pois a higiene não é das melhores. E eu também pretendia passar longe das comidas típicas, pois sou chato para comer e comidas típicas evito em qualquer parte. Não tenho frescura para desconforto, frio, viajar de ônibus e outras coisas mais, mas com relação à comida sou extremamente chato e não como de tudo seja onde for. Até mesmo na casa de amigos e parentes acabo sendo chato com relação à comida e meu paladar depende muito do meu olfato, ou seja, se não gostar do cheiro não como, nem preciso provar para saber se o gosto da comida é bom ou ruim. Talvez por isso que não como peixe ou qualquer outra coisa que venha da água, pois acho peixe fedido e daí não consigo comer. Frescuras a parte, resolvemos almoçar no restaurante e a comida estava muito boa. Enquanto comíamos ficamos conversando, nos conhecendo melhor e trocando informações sobre viagens. Eu, Caíque e Julie conversávamos em português e os japoneses vez ou outra falavam algo em inglês. Foi legal logo no segundo dia de viagem fazer novas amizades. Em viagens do tipo mochilão é bastante comum conhecer pessoas, fazer coisas juntos e logo depois cada um seguir para um lado.

Após almoçar voltamos ao nosso passeio e logo encontramos a Catedral e a praça em frente, que realmente era muito bonita. A Catedral estava fechada e não conseguimos visitá-la. Já na praça ficamos certo tempo olhando o movimento e as dezenas de pombos que circulavam por ali. No guia dizia que bichos preguiça viviam nas árvores da praça, mas cansamos de olhar para cima e não vimos nada. Algo que nos chamou atenção foi um senhor com uma câmera fotográfica bastante antiga, que estava tirando fotos de uma moça e depois revelou as fotos ali mesmo utilizando água e produtos químicos. O processo era antigo e artesanal, mas o resultado foi muito bom, as fotos ficaram ótimas. Demos mais uma pequena volta pelo centro, paramos em uma praça ver alguns alunos de uma escola ensaiarem uma dança típica e entramos numa loja de produtos artesanais locais. Não me demorei na loja, pois sendo início de viagem era melhor não comprar nada para evitar ter peso extra nas mochilas. Fiquei do lado de fora da loja olhando o movimento enquanto o pessoal estava na loja. Seguimos para o Terminal Bimodal, paramos no caminho comprar água numa loja e depois numa farmácia, onde comprei um novo tubo de creme dental para substituir o que fora confiscado no aeroporto de Campo Grande.

De volta ao Terminal pegamos nossas mochilas no guarda volumes e fomos para um canto perto dos banheiros. Eu, Caíque e Julie resolvemos tomar banho. Pagamos 3,00 bolivianos e fomos para as duchas. O banho era frio e o banheiro não era dos mais limpos. Para piorar era complicado arrumar a mochila em cima de uma pequena banqueta, de modo que ela não se molhasse. Quando liguei a ducha descobri que o banho não era frio, na verdade era gelado. O difícil num banho frio é começar a se molhar, mas depois de um tempo e de alguns gritos você acostuma com a temperatura da água e tudo bem. Após o banho e de algumas manobras para trocar de roupa sem deixar nada cair no chão molhado e sujo do banheiro, finalmente saí e encontrei o pessoal do lado de fora. Fomos num bar onde compramos água e algumas guloseimas e então nos despedimos. Eu e os japoneses seguiríamos para La Paz, mas em ônibus diferentes. Já o Caíque e a Julie seguiriam para Sucre.

Quando chegou o horário de embarque fui até a agencia onde comprei a passagem e o vendedor pegou minha mochila grande e pediu que o seguisse. Fomos indo para um lado das plataformas de embarque e quando vi os dois últimos ônibus estacionados me assustei, pois eram muito velhos. Comecei a achar que tinha sido enganado, pois comprara assento cama, que para os Bolivianos é o leito ou semi leito no Brasil. Se bem que no Brasil já existem leitos cama, que ficam na horizontal. Sei que passamos pelos dois ônibus velhos e quase fora da área de embarque chegamos ao ônibus da empresa. Ele era dois andares e se não era novo, ao menos não era dos piores. O vendedor me entregou a mochila e disse para eu levá-la dentro do ônibus, para não deixá-la no bagageiro. Não perguntei a razão de tal conselho, mas decidi acatá-lo. Fiquei um tempo esperando o embarque, que já estava atrasado. Daí apareceu uma vendedora de bolinhos, que pareciam pão de queijo. Como não sabia em que tipo de local seria a parada para janta, resolvi garantir minha janta com um pacote daqueles bolinhos que estavam cheirosos. O problema é que eu não tinha dinheiro local trocado. Daí consegui convencer a vendedora a receber em reais. Dei R$5,00 a ela e falei que aquilo valia justamente o dobro do que ela estava me cobrando pelo bolinhos. E era verdade, eu jamais ia enganar a moça! Ela acabou topando o negócio e depois que embarquei no ônibus ainda ficou me dando tchauzinho.

Minha poltrona era na parte de cima do ônibus, do lado direito e sozinha, quase na frente. Era um poltrona larga e confortável e a frente ficava uma espécie de mesa que serviu para eu colocar os pés durante a viagem. Consegui a muito custo encaixar minha mochila grande em frente a poltrona e estava pronto para enfrentar 14 horas de viagem até La Paz. Descobri que eu era o único “diferente” no ônibus, ou seja, o único não boliviano embarcado, o mais branquinho a bordo. O ônibus partiu com 40 minutos de atraso e resolvi jantar logo meus bolinhos, enquanto ainda estavam quentes e cheirosos. Mesmo parecendo pão de queijo e sendo feitos com queijo, o sabor era bem diferente do sabor do pão de queijo, mas não era ruim. No pacote vinham dez bolinhos e logo descobri que tinham dois que não eram frescos, que de tão duros que estavam deviam ser de um ou dois dias atrás. Eu tinha sido enganado pela bela e simpática vendedora de bolinhos que ficou me dando tchauzinho. Paciência, ninguém está livre de ser passado para trás vez ou outra na vida! Após jantar os oito bolinhos comíveis, tirei meu saco de dormir da mochila e me ajeitei dentro dele, pois a noite prometia ser fria. Coloquei os fones do MP4 e comecei a ouvir alguns sertanejões. Logo peguei no sono, pois vinha de uma noite em claro.

Fui acordar três horas depois, em um local estranho no meio do nada. Fiquei sabendo que teríamos uma parada de 30 minutos para janta. Ao descer do andar de cima e passar pela porta do banheiro, descobri que o mesmo não funcionava. O local de parada para janta era uma barraquinha na beira da estrada, um local feio e sujo. E nem banheiro existia ali. Vi que os homens seguiram para um lado e as mulheres para outro. Um matinho ao lado os homens utilizaram como banheiro. Já algumas mulheres acho que tinham medo de escuro, não se distanciaram muito e logo abaixaram para fazer suas necessidades. Aquilo tudo era ao mesmo tempo surreal e curioso. Como não tinha outra opção, também fui no “matinho masculino” fazer meu xixizinho. Depois fiquei encostado no ônibus observando o pessoal comer.  Confesso que nem que eu estivesse com muita fome eu comeria naquele local. Pode ser frescura, mas já disse que sou fresco com comida e ainda lembro dos apuros que passei no ano anterior no Peru por culpa da comida que me fez mal. Então melhor ser um fresco bom do estômago, do que um não fresco com enjôo e diarréia. Passado trinta minutos embarcamos no ônibus e seguimos viagem. Eu voltei a dormir, mas não demorou muito tempo e paramos num posto policial. Após uns minutos um oficial de Polícia entrou no ônibus e queria saber quem eram os donos de tais e tais malas. Daí os donos tiveram que descer para dar explicações sobre o conteúdo das mesmas, que pelo que entendi eram produtos para serem vendidos em La Paz, produtos que iam desde sapatos até roupas para crianças. Foi aí que entendi o conselho do vendedor de passagens que disse para eu não colocar minha mochila embaixo. Ele sabia que as bagagens seriam revistadas e que eu poderia ter que dar explicações sobre o conteúdo de minha mochila caso algum agente da Lei resolvesse implicar com ela. Após uma meia hora parado ali, o pessoal que tinha descido voltou com a cara amarrada. Só não sei se perderam alguns produtos ou tiveram que pagar propina para terem suas malas liberadas. Voltei a dormir e não vi mais nada da viagem.

Terminal Bimodal de Santa Cruz de La Sierra. 
Interior do Terminal Bimodal.
Cidade suja e trânsito caótico.
Atravessar a rua era uma aventura.
Caíque olhando o guia.
Minha primeira refeiçao na Bolívia.
Após ao almoço um divertido bate papo. 
Catedral.
Dezenas de pombos na praça.
O fotógrafo e sua antiga câmera.
Julie, Vander, Caíque, Yukari e Yoshikatsu.
Compras na farmácia.

Viagem ao Peru e Bolívia (1° Dia)

15/05/2012

Após ter adiado a viagem por 15 dias em razão de dores em minhas hérnias de disco, finalmente chegou o dia de partir para a tão esperada viagem rumo a Bolívia e Peru. Essa viagem não estava programada, na verdade existia o plano de quando possível retornar ao Peru para conhecer melhor a cidade de Cusco e para fazer a Trilha Salkantay. Em 2011 passei uns dias em Cusco e me encantei pela cidade e prometi que voltaria. Nessa mesma viagem percorri a Trilha Inca até Machu Picchu e como não foi possível visitar a montanha de Wayna Picchu, que fica dentro de Machu Picchu, a vontade de retornar era imensa. E de repente tudo contribuiu para que tal viagem pudesse acontecer. Fiz os planos básicos e resolvi incluir a Bolívia no roteiro de viagem, pois queria fazer alguns passeios neste país, entre os quais descer a Estrada da Morte de bicicleta e também escalar minha primeira montanha nevada. Eu tinha milhas da Gol, mas seu único destino na Bolívia é Santa Cruz de La Sierra. Então resolvi ir até essa cidade utilizando minhas milhas da Gol e de lá seguir de ônibus até o Peru. Gosto de viajar de ônibus, para mim não é problema viajar longas distâncias utilizando tal meio de transporte.

Tinha dormido em Maringá e logo cedo fui encontrar meu irmão num shopping. Troquei dinheiro e creditei dólares em meu cartão da Confidence. É mais seguro viajar com um cartão para saques em terminais ATM do que viajar com dinheiro em espécie. O que me deixou um pouco triste foi que o dólar tinha subido 20 centavos nos últimos trinta dias, o que encarecia um pouco a viagem. Feito os últimos acertos para a viagem deixei meu carro no estacionamento do shopping, onde um amigo o pegaria depois e deixaria estacionado em outro local. Meu irmão me  levou ao aeroporto, onde almocei e depois fiz o chekin internacional, despachando minha mochila grande direto para a Bolívia. Em seguida me despedi de meu irmão e fui para a sala de embarque.

O primeiro trecho da viagem foi tranqüilo, um vôo de uma hora até Guarulhos. Aproveitei para ler um pouco durante a viagem. Em Guarulhos fiquei no setor de conexão e após duas horas de espera embarquei num vôo para Campo Grande. Pouco mais de uma hora de um vôo tranqüilo e desembarquei em Campo Grande. Estava com fome e resolvi sair para fora do aeroporto para ver se encontrava algum local próximo para comer algo, já que dentro de aeroportos os preços são abusivos, um verdadeiro assalto ao viajante. Dei sorte e vi que do outro lado da avenida em frente ao aeroporto tinha um posto de gasolina com lanchonete. Vi que era seguro ir até lá, pois tinham policiamento no local. Fui até o posto, lanchei por um preço bem em conta e retornei ao aeroporto. Fiquei seis horas esperando meu vôo para a Bolívia, contando o fuso horário de uma hora a mais de Campo Grande com relação ao horário de Brasília. Para passar o tempo fiquei vendo filmes no note book e também caminhei um pouco pelo aeroporto, que é bem pequeno.

Finalmente chegou a hora do embarque rumo à Bolívia. Já era quase meia noite quando passei pelo raio x e aduana. Meu tubo de pasta de dentes foi confiscado da bagagem de mão. Mesmo o tubo estando quase vazio a justificativa foi que era um tubo de mais de 100 ml, por isso não podia levá-lo na bagagem de mão. Achei uma idiotice isso, excesso de zelo idiota, mas deixei pra lá. Sentei-me na sala de embarque que é minúscula e fiquei esperando o embarque. Não foi a toa que Campo Grande ficou de fora na escolha das sedes da Copa do Mundo de 2014, pois seu aeroporto é muito pequeno para uma capital é menor que muito aeroporto de cidade de interior do Brasil.

O embarque foi feito na pista, com um vento de congelar. O avião estava lotado, com muita gente já embarcada vindas de São Paulo. O vôo até Santa Cruz de La Sierra foi tranqüilo e aproveitei para dormir um pouco. Chegando a Santa Cruz de La Sierra o desembarque foi rápido e segui para o setor de imigração. Eu estava com uma camiseta do Caminho de Peabiru e um rapaz que estava a minha frente na fila perguntou se eu era de Peabiru ou de Campo Mourão? Respondi que era de Campo Mourão e ele disse que era de Peabiru e que morava há quinze anos na Bolívia. Ele e a esposa estavam vindo de Curitiba. Ficamos conversando na fila, que era bem lenta. Um guarda pediu para ver meu passaporte e ao folhear viu que tinham muitos carimbos e ficou olhando um por um. Depois de um tempo ele resolveu olhar o passaporte novamente e dessa vez encontrou o visto canadense e o carimbo de minha visita ao Canadá em 2011, que estão numa folha separada mais a frente no passaporte. Então ele olhou mais duas vezes o passaporte, bem detalhadamente. Achei estranho tal procedimento por parte de tal guarda. Ao passar pela imigração o guarda me perguntou quanto tempo eu ficaria na Bolívia e respondi que apenas dois dias, pois estava de passagem rumo ao Peru. Então ele me disse para tomar cuidado no Peru, pois é um país muito perigoso. Achei engraçado seu comentário, pois é justamente o contrário, a Bolívia é mais perigosa que o Peru. Segui para outra fila onde dei sorte e ao apertar o botão de revista deu sinal verde e pude passar sem ter minha bagagem revistada. O casal de Peabiru estava me esperando para se despedirem.

Eram três e meia da manhã e não compensava ir para um hotel, pois logo cedo eu pretendia ir para a Rodoviária e pegar um ônibus para La Paz. Então fiquei de bobeira andando de um lado para outro no aeroporto. A Bolívia era o nono país que eu conhecia (sem contar o Brasil). Fui tentar sacar dólares, mas não encontrei nenhum caixa ATM. Por sorte eu tinha levado U$ 150,00 em espécie e troquei U$ 50,00 numa agencia de cambio. O boliviano (moeda local) estava valendo 3,18 por cada um real, o que era um bom valor, sinal de que o real está valorizado na Bolívia. Estava começando a ficar com fome e às 4h00min resolvi fazer um lanche num Subway dentro do eroporto. Depois fiquei lendo um gibi e daí resolvi ligar o note book para tentar piratear algum sinal de internet. Dei sorte e consegui acessar uma rede de alta velocidade que estava desprotegida. Então fiquei navegando na internet até o dia amanhecer.

Aeroporto de Santa Cruz de La Sierra.
No aeroporto esperando o dia amanhecer.