Estrada Real – 2° Dia

Conselheiro Lafaiete/Congonhas/Queluzito/Casa Grande

(resumo)

Comprei a passagem e embarquei no ônibus que seguiria para Congonhas. O ônibus era simples, daqueles de transporte curto, sem conforto algum e com banco duro. A viagem durou cerca de meia hora e no caminho foram feitas muitas paradas para embarque e desembarque de passageiros.

Congonhas possui um expressivo conjunto de riqueza barroca do maior artista do gênero no Brasil: Antônio Francisco Lisboa, mais conhecido pelo apelido Aleijadinho. No adro do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, Aleijadinho, esculpiu em pedra-sabão as famosas imagens de doze profetas em tamanho real que são visitadas anualmente por milhares de turistas do Brasil e do mundo. Além disto, as seis capelas que compõem o Jardim dos Passos em frente à basílica representam a Via Sacra com belíssimas imagens esculpidas em cedro, também por Aleijadinho. Em 1985, todo este conjunto foi tombado pela UNESCO e transformado em patrimônio cultural da humanidade.

Exatamente às 11h30min, embarquei no ônibus de volta para Conselheiro Lafaiete e dessa vez em vez de dormir fui observando a estrada. Após meia hora desembarquei na rodoviária e segui direto para o hotel. Arrumei minhas coisas no alforje, inclusive as roupas que tinha lavado na noite anterior.

A saída da cidade de Conselheiro Lafaiete indicada no guia, ficava bem próxima ao hotel, então foi fácil de achar o ponto de partida. Seguindo o guia, toda cidade tinha um ponto pré determinado de partida e de chegada. E era nesses pontos de partida que todos os dias eu ligava o aplicativo de quilometragem, e nos pontos de chegada no final do dia eu desligava o aplicativo. Dessa forma eu tinha o controle exato das distâncias percorridas, bem como altitude, velocidade máxima, velocidade média e calorias perdidas no dia.

Segui cerca de dois quilômetros por uma rua longa e calma, até chegar ao trevo da rodovia. Foi aí que a coisa ficou complicada, pois para variar não existia acostamento e o trânsito era intenso, principalmente de caminhões. Pedalei algum tempo pelo canto da pista, em cima da faixa branca. Quando ouvia algum caminhão se aproximando, eu descia para a canaleta lateral e tentava pedalar. Algumas vezes era possível pedalar dentro da canaleta, mas tinham trechos onde ela era mais estreita e os alforjes laterais enroscavam na borda da canaleta e eu tinha que parar e empurrar a bike. Nas curvas eu tinha que empurrar a bike pelo canteiro lateral. Foram uns dez quilômetros pedalando pouco e empurrando muito.

Passei a pedalar por uma estrada estreita e asfaltada, aonde quase não passavam carros. O contraste com a estrada movimentada de onde tinha acabado de sair era grande. Essa nova estrada era tão calma, que eu podia me dar ao luxo de pedalar e admirar a paisagem, bem como ouvir o canto dos pássaros na mata. Alguns trechos eram ladeados por árvores, e em alguns momentos a brisa era tão fria que os pelos de meus braços ficavam todos arrepiados. A sensação quando eu entrava nestes trechos com sombra e ladeados de árvores, era a de estar entrando em uma sala com ar condicionado ligado numa temperatura muito baixa.

Queluzito era uma cidade pequena e simpática. Fui até a igreja matriz e me sentei na entrada da igreja para descansar a sombra. Peguei o guia e fiquei estudando o próximo trecho de estrada que teria pela frente. Passava um pouco das 16h00min e eu tinha duas opções. Ou encerrava o pedal daquele dia e pernoitava em Queluzito, ou seguia por mais onze quilômetros até Casa Grande, a próxima cidade. O guia mostrava que no caminho tinham três subidas, sendo a primeira um pouco longa. Mas o fator mais importante na decisão de parar ou seguir, era que em Queluzito tinha hotel e restaurante, enquanto em Casa Grande tinha somente uma pensão. E ainda existia o risco de um pneu furado, ou uma quebra na bike, o que talvez me obrigasse a percorrer um trecho de estrada a noite. Por segurança, pedalar a noite em estrada não é recomendado, mesmo com a lanterna e a bike bem sinalizada. Sempre é mais perigoso pedalar a noite, principalmente por uma estrada onde você nunca passou antes. E para piorar, tenho trauma com pedal noturno. Em outubro de 2014 sofri uma queda quando pedalava com amigos em uma estrada de terra próxima a cidade onde moro. O tombo foi feio, tive que ser socorrido por uma ambulância. Nesse tombo fraturei o ombro, passei por cirurgia e demorei sete meses para me recuperar e voltar a pedalar. Depois desse acidente noturno, evito ao máximo pedalar a noite.

Logo cheguei na primeira e mais longa subida daquele trecho de viagem. Felizmente a subida ficava num local de paisagem bonita e mesmo com o esforço que estava fazendo, consegui admirar a beleza do lugar, o que parece ter amenizado um pouco o cansaço da longa subida. Cheguei em Casa Grande no final do dia, o sol estava se pondo. A cidade é bem pequena e seguindo o guia logo cheguei na rua principal e encontrei a Pensão da Dona Irene. A Pensão funciona na casa dela, onde existem três quartos na parte da frente, que ela aluga para viajantes.

Bati na porta da casa e logo uma senhora muito simpática veio me atender. Ela mostrou o quarto, que era simples, mas bem arrumado e limpo. O banheiro era coletivo e ficava no corredor. Eu seria o único hospede naquela noite, a não ser que chegassem alguém mais tarde. Ela disse que eu deveria ter ligado antes, pois muitas vezes os quartos estão cheio e na cidade não existe outra opção de hospedagem. Então se eu chegasse ali e a pensão estive cheia, eu teria que dormir no banco da praça ou voltar para Queluzito.

Fui para o quarto, arrumei o que tinha para arrumar, escrevi no diário de viagem e queria ligar para casa, mas nada de sinal no celular. Saí e pedindo informação para uma moça na rua descobri onde ficava um dos poucos telefones públicos da cidade. Fiz duas ligações e voltei para a pensão. Me deitei para dormir pouco depois das 21h00min. Mas então me dei conta de que teria dificuldade para pegar no sono. Primeiro por que a janela não tinha cortina e bem em frente tinha um poste de luz na rua. Segundo por que do outro lado da rua tinha um bar, onde começou a tocar música alta e muita gente estava conversando. Era sexta-feira, semana de pagamento, cidade pequena e provavelmente aquele bar era um dos poucos locais de diversão na cidade. Fui olhar os outros dois quartos pensando em talvez me mudar para um deles, mas desisti. Um dos quartos também era de frente e sem cortina na janela. O outro era de fundo, mas nem roupa de cama tinha. O jeito era ficar onde eu estava e tentar dormir. Para a claridade encontrei uma solução. Sempre que viajo levo uma máscara para tapar os olhos. Tal máscara não escurece cem por cento, mas ajuda muito. Não sei precisar quanto tempo fiquei acordado ouvindo o barulho que vinha do bar. Sei que foi muito tempo! Teve um momento em que o som alto parou e achei que a paz ia reinar. Mas a situação ficou pior, pois começou música ao vivo com dois violeiros cantando na calçada em frente ao bar. E os caras cantavam muito mal! Acabei dormindo, vencido pelo cansaço.

*Para ler o relato completo sobre esse dia de viagem, ou sobre toda a viagem pela Estrada Real, adquira o livro “Estrada Real Caminho Velho”, autor Vander Dissenha.

À venda a partir de 01/11/2016 

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Versão impressa: Clube de Autores

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