2º Dia – 26/09/2012
Fui acordado às 05h30min pela Marilene. A chuva tinha parado e o sol despontava no horizonte, mas fazia frio e ventava muito, um vento gelado que chegava a “doer”. Foi difícil sair de dentro da barraca e ainda mais difícil desmontar a barraca e guardar tudo na mochila. Enquanto o pessoal tomava café da manhã, eu que não costumo tomar café da manhã aproveitei para arrumar minhas coisas lentamente. A câmera da Bebhinn tinha secado por completo e voltado a funcionar, sinal de que fiz um ótimo conserto.
Pouco antes das 7h00min nos despedimos dos donos da casa, que tinham nos recepcionado muito bem. Tiramos uma foto com eles e guardamos nossas coisas na carroceria da caminhonete. Por culpa do frio e da bateria meio baleada, a caminhonete não pegou e foi preciso empurrar. Por sorte a caminhonete estava estacionada num local alto e após ter sido empurrada um pouco ela embalou e a Marilene conseguiu fazê-la dar partida, mesmo tendo dificuldade em conseguir dar o tranco de ré. Todos embarcados e partimos rumo à cidade de Corumbataí do Sul, pois tinha um pneu murcho que precisava ser calibrado.
Foi a primeira vez que estive em Corumbataí do Sul, uma cidade pequena e simpática. Após pedir informações encontramos uma borracharia, que ainda estava fechada, pois era muito cedo. Por sorte o dono da borracharia era também dono de uma padaria que ficava ao lado e estava aberta. Enquanto enchiam os pneus da caminhonete eu fui “guiado” para dentro da padaria graças ao delicioso cheiro de pão fresquinho. Não resisti e comprei alguns pães de queijo quentinhos, que ajudaram a combater o frio. O vento estava congelante e logo voltei para o interior da caminhonete. Não demorou muito e pegamos a estrada rumo à cidade de Fênix.
Percorremos algumas estradas de terra e chegamos a um local isolado, onde além de plantações, gado e alguma mata, não existia mais nada. Ficamos um bom tempo sem avistar casas ou pessoas. Teve uma parte da estrada que era ruim e cheia de buracos e a Marilene teve que mostrar suas habilidades de motorista. Fora um ou outro buraco em que ela passava rápido, até que ela se mostrou boa motorista. Teve um momento em que uma vaca atravessou a estrada e meio que empacou, mas logo o dono apareceu e tirou o animal do caminho. E alguns quilômetros depois foi a vez de um cavalo aparecer na estrada e assustado correr um bom tempo em frente à caminhonete. Ele não sabe o perigo que correu!!!
Logo na entrada de Fênix resolvemos fazer um desvio e visitar uma igreja que fica no alto de um morro. Já visitei tal igreja anos atrás e a mesma estava abandonada e deteriorada. Existem algumas duvidas sobre a origem e ano de construção de tal igreja. Já ouvi relatos infundados de que ela era centenária, outros de que ela tinha sido construída pelos jesuítas no século XVII. A verdade é que tal igreja não é tão velha assim e parece que foi construída no final dos anos sessenta, início dos anos setenta do século passado. Ou seja, ela não deve ter mais de cinquenta anos. Ao chegar à igreja vi que a mesma estava sendo reformada. Uma igreja daquelas deveria é ser restaurada, mas pelo que vi ninguém se preocupou com qualquer tipo de restauração. O que estão fazendo é um reforma que mais parece uma reconstrução da igreja, rebocando com cimento todas as paredes e já fizeram um novo piso de cimento, bem como trocaram o telhado. Quando visitei essa igreja anos antes, o piso tinha sido destruído e possuía muitos buracos, sinal de que pessoas sem noção e mal informadas tinham escavado o piso da igreja em busca do lendário tesouro perdido dos jesuítas. Se tais pessoas soubessem que a igreja não foi construída pelos jesuítas e que ela não é tão antiga, talvez eles não tivessem perdido tempo e principalmente destruído parte de uma igreja, um local sagrado que deveria ser respeitado. Não demoramos muito na igreja, pois a mesma não desperta mais nenhum tipo de interesse para turistas.
Atravessámos a cidade de Fênix e fomos até o Parque Estadual de Vila Rica do Espirito Santo. No parque existe uma grande reserva florestal nativa e as ruínas da redução jesuíta de Vila Rica. O parque é bonito, mas está precisando de algumas reformas. Parece que o governo do Estado não tem se preocupado com tal patrimônio histórico e o dinheiro que envia para o parque mal da para sua conservação. Outro problema do parque é que as escavações que foram iniciadas na região onde ficava a antiga redução de Vila Rica, estão abandonadas há muito tempo por falta de dinheiro. Visitamos o pequeno museu que existe na recepção do parque e depois fomos caminhar por seu interior. Seguimos por uma antiga estrada que atravessa o parque e chega até a margem do rio Ivaí. No passado existiu uma balsa na margem do rio, a qual foi desativada depois que o local foi transformado em parque estadual, bem como a estrada também foi desativada. Pelo caminho fomos observando a mata e avistamos algumas árvores centenárias, inclusive algumas figueiras enormes. Chegando ao final da estrada tiramos algumas fotos em frente ao rio Ivaí, descansamos um pouco e fizemos o caminho de volta. A antiga vila jesuíta ficava nesse local, mas não é possível visualizar nada. As ruínas existentes ficam no meio do mato e como as construções eram de pau a pique, é preciso um trabalho de escavação feito por arqueólogos para que se possa avistar alguma coisa. E não estávamos autorizados a visitar as ruínas ou mexer em algo que avistássemos, então não saímos da estrada.
Antes de ir embora do parque, resolvemos seguir por uma trilha estreita no meio da mata e ir até um lago que foi construído nos anos cinquenta. O local é bonito e possui uma área de repouso com bancos e mesas. Ao chegar ao lago aconteceu uma cena engraçada, quando a Karina se deparou com um lagarto e deu um grito tão alto que o bichinho deve estar correndo até agora mata adentro. Foi difícil saber quem se assustou mais com tal encontro, se a Karina ou o pobre lagarto! E como a Karina num passado recente matou uma aranha enorme com um grito, esse lagarto deve se dar por satisfeito por ainda estar vivo. Descansamos um pouco no lago e logo voltamos à trilha e retornamos a recepção do parque. Não demoramos muito e partimos dali rumo à Fênix.
Fizemos uma rápida parada no centro de Fênix, em frente à catedral. Na fachada da igreja existe uma bela pintura, que mostra os jesuítas batizando os índios da região num rio. Do outro lado da rua existe um monumento de gosto duvidoso, que mostra uma ave (Fênix) no alto de um pedestal e no chão algumas bolas que parecem ser ovos. Achei o monumento curioso, mas não bonito. Após tirarmos algumas fotos da igreja e do monumento em frente, embarcamos na caminhonete e saímos da cidade. Seguimos alguns quilômetros por uma estrada asfaltada, até entramos numa estrada de terra e seguir até uma antiga fazenda de café, que atualmente é um hotel fazenda.
O Hotel Fazenda Água Azul (http://www.aguaazul.com.br/), funciona em uma antiga fazenda de café. As antigas casas da colônia onde moravam os trabalhadores foram transformadas em quartos e suítes para receber os hóspedes. A fazenda possui uma enorme área de mata nativa e é possível percorrer parte do interior da mata através de algumas trilhas. Na fazenda existe também um museu que guarda muitos objetos da época que a fazenda plantava somente café e muitos outros objetos que foram trazidos de viagens feitas por membros da família dona da fazenda. O museu é muito bem organizado e seu acervo bastante interessante. Fomos acompanhados numa rápida visita pelo hotel fazenda e percorremos uma das trilhas curtas do lugar. Em seguida fomos almoçar no restaurante do hotel fazenda. A comida estava muito tão boa que acabei comendo demais. Após o almoço ficamos em uma varanda conversando com os donos do hotel fazenda e ouvindo histórias do local.
Á tarde, visitamos o museu, numa visita guiada. Depois fomos ver os novos chalés que estão sendo construídos em outra área da fazenda. Por último percorremos uma trilha pelo meio da mata e passamos por lugares muito bonitos e preservados. Dois dias antes tinha sido avistado nos arredores um casal de onça parda com um filhote. Isso mostra como a mata em torno da fazenda é preservada. Em 1967 o sueco Johan Gabriel Berg von Linde, patriarca da família dona do hotel fazenda, comprou tais terras para cultivar café e decidiu preservar parte da mata, deixando a mesma intacta e proibindo a caça e a pesca no local. Na época ele foi taxado de insano, pois a prática vigente era derrubar toda a mata existente para plantar café e outros tipos de cultura. Naquela época não existia nenhuma preocupação com a ecologia e com a preservação de mata nativa e animais. O senhor von Linde era um visionário e graças a sua consciência em preservar o meio ambiente e parte da mata nativa de suas terras, hoje é possível admirar e visitar a reserva florestal existente nas terras da família von Linden. Após terminar de percorrer a trilha existente no meio da mata, descansamos um pouco e fomos embora da Fazenda Água Azul.
Marilene, Wagner e Bebhinn seguiram a pé pelos cerca de doze quilômetros até uma outra fazenda, onde pernoitaríamos. Eu e a Karina seguimos na caminhonete. Eu bem que gostaria de ter feito o trajeto final caminhando, mas meu pé machucado tinha inchado bastante e passei a sentir muita dor. Seguimos direto até a fazenda e quando chegamos a Karina ficou conversando com a Dona Penha e eu fiquei dormindo na caminhonete. Eram quase 19h00min quando a Karina foi me chamar para irmos atrás de nossos amigos caminhantes. Tínhamos combinado com a Marilene que se eles não chagassem à fazenda até escurecer, era para irmos buscá-los na estrada. Nem chegamos a sair da fazenda e encontramos o pessoal, então demos meio volta e retornamos à casa da Dona Penha e do Seu Manoel. Fiquei um tempo conversando com o Seu Manoel, que me contou sobre como era a fazenda trinta e poucos anos antes, quando ele começou a trabalhar ali. Naquela época existiam cerca de cinquenta famílias trabalhando e morando nas terras da fazenda. Atualmente existem apenas seis famílias. Isso comprova como foi grande o êxodo agrícola que ocorreu no Paraná nos anos oitenta e que levou muitas famílias a deixarem o campo e irem morar na cidade.
Era para dormirmos na fazenda e percorrer mais um pedaço de estrada na manhã seguinte, mas a Bebhinn mudou seus planos. Ela ficou sabendo sobre inscrições em pedras que existem na região por onde passava o Caminho de Peabiru na cidade de Pitanga e resolveu ir até Pitanga no dia seguinte. Então resolvemos não mais pernoitar na fazenda e regressamos para Campo Mourão após o jantar. Mesmo com nosso “passeio” encurtado, valeu a pena os dois dias que passamos percorrendo trechos por onde passava o lendário Caminho de Peabiru. Conhecemos lugares bonitos, pessoas legais e fizemos novos amigos.