Brasil X Portugal

Estive recentemente visitando Portugal pela segunda vez. E, como nessa segunda visita pude conhecer melhor o país, algo me chamou muito a atenção: a quantidade de brasileiros que estão morando lá. Se continuar nesse ritmo, logo os portugueses vão deixar de falar seu português arcaico e começar a adotar o nosso, cheio de gírias. E por aí vai! Brasileiros e portugueses andam meio em pé de guerra por lá. Se os portugueses vacilarem, daqui a pouco deixam de ser nossos antigos colonizadores para virar nossa colônia — brincadeiras à parte, claro.

Conversando com amigos sobre isso, surgiu a pergunta: foi benéfico para o Brasil ter sido colonizado por Portugal? Abaixo, tento responder essa questão.


Do lado negativo (e a maioria dos historiadores concorda com isso):

  • Extermínio e opressão dos povos indígenas: Milhões de indígenas viviam no território antes da chegada dos portugueses. A colonização causou mortes em massa por doenças, guerras e escravização, além da destruição de culturas e línguas.

  • Escravidão brutal: Milhões de africanos foram sequestrados, trazidos à força para o Brasil e submetidos a séculos de trabalho escravo, com consequências sociais e raciais profundas que duram até hoje.

  • Economia de exploração: Portugal organizou o Brasil como uma colônia de extração: pau-brasil, cana-de-açúcar, ouro… Tudo era enviado para a Europa. A infraestrutura interna era mínima.

  • Dependência e atraso: A colonização não incentivou o desenvolvimento da educação, da indústria ou da autonomia. Quando o Brasil se tornou independente, era extremamente desigual e majoritariamente analfabeto.


Do lado de quem vê benefícios (visão mais tradicional, mas hoje bastante criticada):

  • Formação de uma identidade nacional: A colonização criou uma base linguística comum (o português) e certa unificação territorial, o que ajudou na formação do Brasil como país — ao contrário da fragmentação vista na América Espanhola.

  • Introdução de elementos culturais e tecnológicos europeus: Agricultura, criação de gado, escrita, arquitetura, religião (ainda que imposta)… Tudo isso chegou com os colonizadores. Mas é importante lembrar que veio acompanhado da destruição de culturas locais.

  • Inserção no sistema mundial: Como parte do Império Português, o Brasil esteve ligado ao comércio atlântico, o que em certos períodos trouxe crescimento econômico (como nos ciclos do açúcar e do ouro).


Em resumo:

Ser colonizado por Portugal foi mais prejudicial do que benéfico para os povos que viviam aqui e para o desenvolvimento autônomo do país. Os “benefícios” geralmente vieram acompanhados de muita violência, desigualdade e dominação. Muitos dos problemas sociais do Brasil hoje têm raízes diretas nesse passado colonial.


Analisando tudo isso, me peguei imaginando: será que teria sido melhor termos sido colonizados pelos ingleses, franceses, espanhóis ou holandeses? E a resposta é: talvez sim. O Brasil poderia ser mais desenvolvido se tivesse sido colonizado, por exemplo, pelos ingleses — especialmente se o modelo seguido fosse parecido com o de colônias como os Estados Unidos ou o Canadá.

Mas o problema não é só quem colonizou. É como foi feita a colonização.
Mesmo os ingleses, com seu modelo mais institucionalizado, praticaram genocídios, escravidão e mantiveram desigualdades profundas. No fim das contas, todos os impérios europeus colonizaram com um objetivo em comum: lucrar — nunca “ajudar” os povos locais.

Ou seja, não importa quem nos colonizasse: de qualquer forma teríamos sido explorados, e as riquezas do Brasil teriam ido parar na Europa. No fim, o colonizado sempre se dá mal — independente de quem o coloniza.

Praça do Comércio, Lisboa.

LIVRO: De Bike pelo Caminho de Santiago de Compostela

 

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De Bike pelo Caminho de Santiago de Compostela.

O livro está disponível nas versões e-book e impressa.

Originalmente publicado em 2021 apenas em formato digital, o livro agora é relançado em uma edição revisada, com pequenas alterações e melhorias.

Prepare-se para embarcar em uma jornada épica pela Europa! Neste diário de viagem, o autor narra sua segunda viagem pelo Velho Continente, vivida em 2017, quando decidiu encarar de bicicleta o lendário Caminho de Santiago de Compostela. Pedalando por vilarejos medievais, enfrentando o clima imprevisível e superando os próprios limites, cada página revela descobertas, desafios e momentos inesquecíveis. Uma história real de coragem, liberdade e espírito aventureiro — perfeita para quem sonha em colocar o pé (ou a roda) na estrada e seguir em busca de algo maior.

Edição: (2) (2025)
Número de páginas: 274

Expedição Quest (1921 – 1922)

✳️ Também conhecida como: Shackleton–Rowett Expedition

Nomeada assim devido ao patrocínio de John Quiller Rowett, amigo e financiador de Shackleton.

Contexto

Após a Primeira Guerra Mundial, Shackleton queria retornar à Antártida. Com as grandes descobertas da Idade Heroica praticamente concluídas, ele planejava uma nova expedição para: Explorar regiões desconhecidas do Oceano Antártico, especialmente em torno das ilhas subantárticas. Mapear e estudar a Ilha Bouvet (Noruega) e a costa do mar de Weddell.

🛳️ O navio: Quest

Pequeno baleeiro norueguês adaptado para exploração polar. Equipado com motor auxiliar (a vela era o principal meio de locomoção). Considerado inadequado para longas viagens antárticas — era lento e instável.

👨‍✈️ Liderança e equipe

Líder original: Sir Ernest Shackleton

Segundo em comando: Frank Wild (veterano das expedições anteriores)

Outros membros notáveis: Leonard Hussey (meteorologista), Frank Worsley (capitão do navio), James Marr e Norman Mooney, dois escoteiros britânicos escolhidos entre milhares — simbolizando a conexão da juventude com a exploração.

⚰️ A morte de Shackleton

Em 5 de janeiro de 1922, Shackleton morreu de ataque cardíaco a bordo do Quest, na Geórgia do Sul, pouco depois de chegar à ilha. Ele tinha apenas 47 anos. Shackleton foi sepultado ali mesmo, a pedido de sua esposa, tornando-se um símbolo eterno da presença britânica na região.

🧭 A continuação da expedição

Após a morte de Shackleton, Frank Wild assumiu o comando. A expedição tentou seguir os planos originais, mas teve vários problemas técnicos e climáticos. Enfrentou condições severas de gelo e mau tempo, dificultando a navegação. Realizou poucos estudos científicos e exploração limitada. Visitou a Geórgia do Sul, Tristão da Cunha, e outras ilhas do Atlântico Sul.

📉 Resultado e impacto

Considerada fracassada em termos de objetivos científicos e geográficos. No entanto, possui grande importância histórica, pois marca o fim da era dos grandes exploradores antárticos. Representa o encerramento simbólico da carreira de Shackleton, que foi um dos maiores líderes de expedições polares da história. Inspirou futuras gerações de exploradores.

🪦 Legado

O túmulo de Shackleton na Geórgia do Sul tornou-se um local de peregrinação para exploradores e admiradores. O navio Quest continuou em operação até 1962, quando afundou no Canadá. A expedição foi amplamente registrada em diários, fotos e filmes.

Shackleton em uma foto promocional.

Shackleton e os escoteiros Marr e Mooney.

O Quest passando pela Tower Bridge, Londres.

O Quest passando pela Tower Bridge.

O Quest no gelo marinho.

O Quest ancorado na baía de Geórgia do Sul.

SOBRE A MORTE DE SHACKLETON

Quando o Quest chegou ao Rio de Janeiro, durante sua viagem rumo à Antártida, Ernest Shackleton sofreu um ataque cardíaco. Apesar disso, recusou-se a se submeter a um exame médico adequado. O navio seguiu viagem em direção ao sul e, em 4 de janeiro de 1922, chegou à Geórgia do Sul. Nas primeiras horas da manhã do dia seguinte, Shackleton chamou o médico da expedição, Alexander Macklin, à sua cabine, queixando-se de dores nas costas e outros sintomas. De acordo com o relato de Macklin, ele aconselhou Shackleton a diminuir o ritmo e a “levar uma vida mais tranquila”. Em resposta, Shackleton perguntou: — “Estão sempre me dizendo para desistir das coisas… do que exatamente devo desistir?” Macklin respondeu: — “Do álcool, Chefe.”

Pouco tempo depois, às 02h50min da madrugada de 5 de janeiro de 1922, Shackleton sofreu um ataque cardíaco fatal, em sua cabine no Quest. Macklin, responsável pela autópsia, concluiu que a causa da morte foi um ateroma das artérias coronárias, agravado por esforço físico durante um período de grande debilidade. Leonard Hussey, veterano da Expedição Transantártica Imperial, prontificou-se a acompanhar o corpo até a Inglaterra. No entanto, durante uma escala em Montevidéu, recebeu um telegrama de Emily Shackleton, esposa de Ernest Shackleton, pedindo que seu marido fosse sepultado na própria Geórgia do Sul. Hussey então retornou à ilha a bordo do Woodville. Em 5 de março de 1922, Shackleton foi enterrado no cemitério de Grytviken, após uma breve cerimônia realizada na igreja luterana local. Macklin escreveu em seu diário:

“Acredito que esta era a forma como ‘o Chefe’ gostaria de ser enterrado — sozinho, em uma ilha afastada da civilização, rodeado por mares tempestuosos e próximo do cenário de uma de suas maiores explorações.”

Cabine onde Shackleton morreu.

O marco de Shackleton.

Sepultamento de Shackleton, na Geórgia do Sul.

O TÚMULO DE SHACKLETON ATUALMENTE

Atendendo ao pedido de sua esposa, Ernest Shackleton foi sepultado na Geórgia do Sul — a mesma ilha onde, anos antes, havia encontrado abrigo e socorro após a épica travessia da Ilha Elefante a bordo do pequeno barco James Caird, em consequência do naufrágio do Endurance.

Túmulo de Shackleton

 

DICAS DE LIVROS SOBRE O ASSUNTO

Não encontrei nenhum livro em português, sobre a Expedição Quest.

Seguem dica de dois livros em inglês.