Expedição Endurance (1914 – 1917)

A Expedição Endurance foi uma das mais impressionantes histórias de sobrevivência da Era Heroica da Exploração Antártica. Liderada pelo explorador britânico Ernest Shackleton, a expedição ocorreu entre 1914 e 1917, com o objetivo de atravessar a Antártica de costa a costa pelo Polo Sul. No entanto, o navio Endurance ficou preso no gelo do Mar de Weddell e acabou naufragando, dando início a uma extraordinária luta pela sobrevivência.

Contexto e Objetivo da Expedição

A Expedição Transantártica Imperial foi planejada por Shackleton para ser a primeira travessia do continente antártico. O plano consistia em desembarcar na costa do Mar de Weddell, atravessar o Polo Sul e emergir no Mar de Ross, onde um grupo de apoio deixaria suprimentos para a fase final da jornada. A tripulação era composta por 28 homens, incluindo cientistas, navegadores e marinheiros. O navio Endurance, um robusto veleiro de madeira de três mastros, partiu da Geórgia do Sul em 5 de dezembro de 1914.

O Naufrágio do Endurance

Pouco tempo após entrar no Mar de Weddell, o navio ficou preso no gelo em janeiro de 1915. Durante meses, a tripulação ficou a bordo, esperando que o gelo derretesse e liberasse o Endurance. No entanto, o gelo exerceu uma pressão esmagadora sobre o casco, e em 27 de outubro de 1915, Shackleton ordenou o abandono da embarcação. O navio afundou em 21 de novembro de 1915.

Sobrevivência no Gelo

Após o naufrágio, a tripulação passou meses vivendo sobre a banquisa (placa de gelo flutuante), sobrevivendo de estoques limitados de comida e da caça de focas e pinguins. Em abril de 1916, com o gelo se fragmentando, Shackleton ordenou que todos embarcassem em três botes salva-vidas rumo à Ilha Elefante, a mais próxima terra firme. Depois de cinco dias de viagem em condições extremas, os homens chegaram à Ilha Elefante, mas ainda estavam isolados e sem possibilidade de resgate.

A Jornada Heróica para o Resgate

Determinando que a única chance de salvação era buscar ajuda, Shackleton e cinco companheiros partiram no pequeno barco James Caird, em uma viagem épica de 1.300 km até a Geórgia do Sul. Durante 16 dias, enfrentaram ondas gigantes, frio extremo e tempestades violentas até chegarem à costa sul da ilha. Após desembarcar, Shackleton e dois homens ainda tiveram que cruzar a pé e sem mapas uma cordilheira montanhosa inexplorada até a estação baleeira de Stromness, onde finalmente conseguiram pedir socorro.

O Resgate e o Legado

Após várias tentativas frustradas devido ao gelo e às condições climáticas, Shackleton conseguiu voltar à Ilha Elefante a bordo do navio Yelcho, um rebocador da Marinha do Chile comandado por Luis Pardo. O resgate foi concluído em 30 de agosto de 1916, e todos os 28 homens sobreviveram, sem uma única perda.

A história da Expedição Endurance se tornou um dos maiores relatos de resistência, liderança e sobrevivência na história das explorações. Em 2022, os destroços do Endurance foram encontrados a 3.008 metros de profundidade no Mar de Weddell, extraordinariamente preservados.

Ernest Shackleton.
O Endurance abrindo caminho no gelo.
O Endurance, preso no gelo.
O Endurance, preso no gelo.
O Endurance, preso no gelo.
O Endurance, sendo esmagado pelo gelo.
Luta pela sobrevivência.
Na Ilha Elefante.
Em 2022, o Endurance foi encontrado no fundo do mar.

 

DICAS DE LIVROS SOBRE O ASSUNTO

Muitos livros sobre a Expedição Endurance foram publicados no Brasil. Li todos, e o que mais gostei foi Endurance – A Lendária Expedição de Shackleton à Antártida, de Caroline Alexander. Além de apresentar um relato bem escrito e detalhado sobre a expedição, o livro traz inúmeras fotos originais tiradas por Frank Hurley, o fotógrafo oficial da expedição. Ele embarcou no Endurance com a missão de documentar a primeira travessia a pé da Antártica. Embora a expedição não tenha alcançado seu objetivo, Hurley produziu um registro visual sem precedentes na história da fotografia.

Pequeno trecho do livro:

DIÁRIO DE SHACKLETON

O livro Sul – A Fantástica Viagem do Endurance foi escrito pelo próprio Shackleton e traz os relatos registrados em seu diário. É uma obra detalhada sobre a expedição, oferecendo um panorama completo da jornada. No entanto, em alguns trechos, a narrativa se torna cansativa, especialmente quando aborda aspectos técnicos da viagem, o que pode tornar a leitura monótona em certos momentos.

MAIS LIVROS SOBRE A EXPDIÇÃO ENDURANCE

Outros livros sobre a Expedição Endurance já foram publicados no Brasil, alguns com mais de uma edição por diferentes editoras. Ao comprar, fique atento para não adquirir um exemplar repetido, pois as capas podem variar entre as edições.

FILME

Foi feito um filme sobre a expedição Endurance, estrelado pelo ator Kenneth Branagh. Achei o filme muito ruim e não recomendo. Melhor ler qualquer um dos livros que citei acima do que perder tempo vendo o filme.

HISTÓRIA DO JAMES CAIRD

O James Caird era um dos três botes salva-vidas do navio Endurance, que ficou preso e acabou sendo esmagado pelo gelo no Mar de Weddell, na Antártida, em 1915. Após meses de sobrevivência no gelo, Shackleton e sua tripulação conseguiram alcançar a Ilha Elefante usando os botes. Porém, a ilha era inóspita e sem recursos suficientes para uma longa estadia.

Shackleton, determinado a buscar resgate, selecionou o James Caird, o maior e mais resistente dos botes, para uma ousada viagem de 1.300 km pelo traiçoeiro Oceano Antártico até a Geórgia do Sul, onde havia uma estação baleeira. No dia 24 de abril de 1916, Shackleton e cinco de seus homens zarparam da Ilha Elefante a bordo do James Caird. Enfrentaram tempestades, ondas gigantes e frio extremo por 16 dias, até finalmente alcançarem a Geórgia do Sul em 10 de maio de 1916. Depois, Shackleton e dois tripulantes ainda precisaram atravessar as montanhas da ilha a pé para chegar à estação baleeira de Stromness e conseguir o resgate para os demais homens.

O James Caird tornou-se um símbolo da resistência e habilidade náutica de Shackleton e sua equipe. O barco foi posteriormente restaurado e hoje está em exposição no Dulwich College, em Londres, onde Shackleton estudou quando jovem. A saga do James Caird é considerada uma das maiores histórias de sobrevivência e navegação da história marítima.

O James Caird, na Antártida, em 1915.

 

 

 

 

 

 

 

James Caird, no Dulwich College, em Londres.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

PS: Há dois meses, estive em Londres e queria muito visitar o Dulwich College para ver o James Caird de perto. No entanto, as visitas ao barco só são permitidas às sextas-feiras, e como fiquei apenas cinco dias na cidade – chegando em uma sexta-feira à noite –, infelizmente não tive a oportunidade de conhecê-lo.

Expedição Terra Nova (1910–1913)

Expedição

A Expedição Terra Nova, foi uma das mais famosas — e também trágicas — expedições à Antártida. Ela foi liderada pelo capitão Robert Falcon Scott entre 1910 e 1913, com o principal objetivo de alcançar o Polo Sul e realizar importantes estudos científicos.

🧭 Nome da Expedição:

Expedição Terra Nova (British Antarctic Expedition 1910–1913)

Nomeada a partir do navio Terra Nova, um antigo baleeiro reforçado para gelo. Organizada e financiada pelo governo britânico, instituições científicas e doações privadas.

🧑✈️ Líder: Robert Falcon Scott

Oficial da Marinha Real Britânica. Já havia liderado uma expedição anterior à Antártida (a Expedição Discovery, 1901–1904). Considerado um símbolo do espírito de exploração britânico da “Era Heroica da Exploração Antártida”.

🎯 Objetivos principais:

Alcançar o Polo Sul geográfico. Realizar pesquisas científicas extensas: meteorologia, biologia, geologia, glaciologia e magnetismo. Explorar áreas inexploradas do continente antártico.

🧊 Resumo da Jornada:

🚢 Chegada à Antártida:

O Terra Nova partiu do Reino Unido em 1910 e chegou ao continente antártico em janeiro de 1911. A base principal foi estabelecida em Cabo Evans, na Ilha de Ross.

🐴🛷 Métodos de transporte:

Usaram pôneis da Manchúria, trenós puxados por cães e motores de neve (protótipos de snowmobiles) — mas todos com eficiência limitada. Grande parte da jornada final foi feita a pé, puxando trenós manualmente.

🧊❄️ Corrida ao Polo Sul:

Scott e sua equipe partiram rumo ao Polo Sul em 1º de novembro de 1911.

A equipe final era composta por: Robert Falcon Scott, Edward Wilson, Henry Bowers, Lawrence Oates e Edgar Evans.

Chegaram ao Polo Sul em 17 de janeiro de 1912, mas… Encontraram a bandeira da Noruega: Roald Amundsen havia chegado 34 dias antes, em 14 de dezembro de 1911.

“O pior já aconteceu. Todos os dias tenho que forçar minha mente a contemplar o retorno.”
Robert Falcon Scott, em seu diário

💀 A tragédia na volta:

A volta foi devastadora: clima extremo, exaustão, fome e ferimentos. Evans morreu em fevereiro de 1912 após sofrer uma queda. Oates, com graves problemas de saúde e temendo atrasar o grupo, saiu da barraca e nunca mais voltou. Scott, Wilson e Bowers morreram em 29 de março de 1912, presos por uma nevasca, a apenas 17 km de um depósito de suprimentos. Seus corpos foram encontrados oito meses depois por uma equipe de busca.

🔬 Resultados científicos:

Apesar da tragédia, a expedição trouxe: 2.100 kg de amostras geológicas, fósseis e registros meteorológicos. Importantes descobertas sobre a fauna antártica, como pinguins e focas. Fotografias e diários que documentaram o continente com precisão nunca antes vista.

🏛️ Legado da Expedição Terra Nova:

Heróico e controverso:

Scott foi visto como um herói trágico britânico, símbolo de bravura e sacrifício. Mas, com o tempo, historiadores questionaram sua liderança, logística e decisões estratégicas. Ainda assim, o espírito de perseverança e dedicação da equipe é lembrado com admiração.

Destaques:

Edward Wilson, médico, naturalista e artista, deixou ilustrações científicas valiosas. E a história de Oates, o homem que se sacrificou pelo grupo, virou lenda. O diário de Scott virou um clássico da literatura de exploração.

📚 Frase final de Scott no diário:

“For God’s sake look after our people.”
(Pelo amor de Deus, cuidem dos nossos.)

Essa frase marcou o encerramento da era heróica da exploração polar — uma mistura de ciência, coragem e tragédia.

O Terra Nova, a caminho da Antártida.
Organizando suprimentos no acampamento em Cabo Evans
O Capitão Scott escreve em seus aposentos.
O navio Terra Nova.
Alguns membros da expedição.
Final da Geleira Barne na Ilha Ross.
Homens da expedição, em seu alojamento.
Um pinguim de adélia defende seu ninho.
Grupo de trenó saindo para uma exploração.
Dr. Wilson, Capt. Scott, Capt. Oates, Henry Bowers e Edgar Evans posam no Polo Sul. 18 de janeiro de 1912.
Sepultura de Scott, Wilson e Bowers. Sepultados dentro da própria barraca, no local onde seus corpos foram encontrados congelados.
A cabana de Scott, no Cabo Evans, está preservado até hoje na Antártida.

 

DICAS DE LIVROS SOBRE O ASSUNTO

A ÚLTIMA EXPEDIÇÃO

Traduzido para o português somente em 2002, os diários do capitão Robert Falcon Scott. O Livro conta sobre a Expedição do Terra Nova a Antártida e a famosa corrida pela conquista do Pólo Sul, em 1911. O capitão norueguês, Roald Amundsen, chegou ao ponto mais ao sul do planeta trinta e três dias antes do capitão inglês, Robert Falcon Scott, mas nem por isso ficou com toda a fama. Scott lutou bravamente até o final, apesar de todos os erros de planejamento e execução de sua expedição. Nesse livro, está a íntegra dos diários de Scott, inclusive suas cartas de despedida quando ele sabia que a morte era certa. Poucas expedições têm mais impacto de narrativa que a Expedição Polar de Scott, principalmente porque sabemos seu triste fim. Apesar disso, esse é um livro indispensável na estante de interessados nos temas aventura, Pólo Sul e determinação.

A PIOR VIAGEM DO MUNDO

Com prefácio de Amir Klink, esse é o relato da última expedição do capitão inglês Robert Falcon Scott à Antártida, escrito por um dos integrantes da expedição. Determinados a serem os primeiros a alcançar o Pólo Sul, os tripulantes do Terra Nova terminaram embarcando numa epopéia de fim catastrófico. Sob um frio de -40°C (que necrosava os pés) e tendo de contornar erros elementares de planejamento, Scott e quatro companheiros corriam contra o tempo para se adiantar à equipe capitaneada por Roald Amundsen. Chegaram ao Pólo um mês depois do norueguês. Morreram no caminho de volta, a apenas 17 quilômetros do depósito de alimentos mais próximo.

UM IMPÉRIO DE GELO

Um livro fascinante, que nos faz repensar a corrida entre Scott e Amundsen e considerar a ciência como a força motriz da exploração antártica e polar. No começo do século XX, a Antártida era o último continente ainda intocado pelo homem, e chegar primeiro ao Polo Sul era uma questão de honra. Em 1911, o norueguês Roald Amundsen e o inglês Robert Falcon Scott se lançaram numa verdadeira corrida ao ponto mais ao sul do planeta Amundsen chegou lá em 14 de dezembro, seguido pouco mais de um mês depois pela expedição de Scott, cujo grupo morreu no caminho de volta.

O ÚLTIMO LUGAR DA TERRA

Esse livro mostra que o triunfo de Amundsen não foi um acaso, ao vencer Robert Falcon Scott na corrida para ser o primeiro a chegar no Polo Sul geografico. O autor Roland Huntford, reconstitui a história da exploração polar desde seus primórdios e descreve em detalhe as duas expedições rivais. Acaba por desmontar corajosamente o mito de Scott como mártir do heroísmo britânico, revelando suas fraquezas como líder e a incompetência que marcou seu empreendimento. Com base em vasta pesquisa histórica, o livro recria passo a passo as jornadas paralelas de Amundsen e Scott, sem perder de vista, em nenhum momento, a dimensão trágica e humana dos acontecimentos. É um rigoroso trabalho historiográfico que se lê como um empolgante romance de aventura.

Expedição Nimrod (1907 – 1909)

A Expedição Nimrod foi uma das expedições britânicas de exploração da Antártida, liderada por Ernest Shackleton entre 1907 e 1909. Oficialmente chamada de Expedição Antártida Britânica, ficou mais conhecida como Expedição Nimrod por causa do nome do navio utilizado: Nimrod.

🧭 Objetivos principais da expedição:

Alcançar o Polo Sul geográfico (nunca antes alcançado até então). Fazer pesquisas científicas e geográficas no continente antártico. Explorar o Monte Erebus, um vulcão ativo. Realizar observações magnéticas e geológicas.

🛳️ O navio Nimrod:

Era um pequeno baleeiro de madeira de 41 metros. Não era o mais adequado para gelo antártico, mas foi o que Shackleton pôde conseguir com os recursos disponíveis. Foi equipado e adaptado para suportar as condições extremas.

🧑‍🔬 Principais membros da expedição:

Ernest Shackleton – líder da expedição.

Jameson Adams, Eric Marshall e Frank Wild – integraram a equipe que acompanhou Shackleton na tentativa de alcançar o Polo Sul.

Edgeworth David – geólogo importante da expedição, liderou a subida ao Monte Erebus e a viagem ao Polo Sul magnético.


🏔️ Principais conquistas da Expedição Nimrod:

Tentativa de alcançar o Polo Sul (geográfico)

Shackleton, Adams, Marshall e Wild chegaram a 88°23′S, a apenas 180 km do Polo Sul, o mais longe que qualquer humano havia ido até então. Por falta de suprimentos e exaustão física, Shackleton tomou a difícil decisão de voltar, priorizando a vida da equipe — algo que ficou como um de seus legados éticos.

Primeira ascensão ao Monte Erebus

Liderada por Edgeworth David. Realizaram estudos vulcanológicos, o que foi notável para a época.

Descoberta do Polo Sul Magnético

Outra equipe da expedição (David, Douglas Mawson e Alistair Mackay) chegou ao Polo Sul magnético (na época) — uma façanha científica impressionante.

🔬 Resultados científicos:

Estudos importantes sobre geologia, magnetismo, biologia e meteorologia. Recolhimento de fósseis e amostras rochosas. Ajudou a mapear partes do continente antártico até então inexploradas.

📜 Legado da Expedição Nimrod:

Embora não tenha alcançado o Polo Sul, a expedição foi considerada um grande sucesso. Shackleton foi saudado como herói e nomeado cavaleiro pela Coroa Britânica (Sir Ernest Shackleton). Demonstrou liderança, ética e coragem, influenciando futuras expedições (como a de Scott em 1911 e a própria Endurance de Shackleton em 1914). Ajudou a abrir caminho para a conquista do Polo Sul por Roald Amundsen em 1911.

A expedição Nimrod foi a primeira a levar um automóvel (que tinha sido recém-inventado) para a Antártida, mas ele quebrava constantemente devido ao superaquecimento e ficava preso até mesmo na neve rasa.

O navio Nimrod.
Acampamento durante a caminhada até próximo ao Polo Sul.
Momento de descanso, rumo ao Polo Sul.
Primeiro automóvel na Antártida.
Shackleton e outros membros da expedição.

DICA DE LIVRO SOBRE O ASSUNTO

A EXPEDIÇÃO ESQUECIDA DE SHACKLETON

Uma emocionante história de ambição e aventura ao longo de uma jornada que até para seu protagonista pareceu incrível. No Ano Novo de 1908, Ernest Shackleton, um explorador ainda pouco conhecido, sedento da fama e riqueza, zarpou no seu pequeno navio – o Nimrod – rumo ao sul, até as misteriosas regiões da Antártida. Naquele ano, Shackleton realizaria um dos maiores feitos da sua carreira e se envolveria em grandes aventuras, para depois retornar à Inglaterra como herói. O autor – historiador especializado em exploração – baseia-se numa extensa pesquisa e em relatos verídicos. O livro é, por fim, um relato fiel da expedição que serviu de pano de fundo para a Endurance, a célebre expedição de Shackleton.

Expedição Discovery (1901 – 1904)

A Expedição Discovery foi a primeira expedição oficial britânica à Antártida no século XX, organizada principalmente por instituições científicas como a Royal Society e a Royal Geographical Society. Seu nome vem do navio RRS Discovery, construído especialmente para a missão. O objetivo era tanto científico quanto geográfico, incluindo estudos sobre a fauna, flora, clima, geologia e magnetismo, além da exploração do interior do continente antártico.

👤 Liderança e Participantes

Comandante: Capitão Robert Falcon Scott

Segundo em comando: Albert Armitage

Outros membros notáveis:

Ernest Shackleton – mais tarde lideraria suas próprias expedições à Antártida

Edward Wilson – médico, naturalista e artista

O Navio: RRS Discovery

Foi construído em Dundee, Escócia. Especialmente projetado para suportar o gelo antártico. Tinha propulsão mista: vela e vapor, e era equipado com laboratórios e espaço para estocagem de suprimentos por anos.

🎯 Objetivos Principais

Exploração geográfica do continente antártico, pesquisa científica nas áreas de: Biologia, Geologia, Oceanografia, Meteorologia e Magnetismo terrestre. Também tinha como objetivo, alcançar o ponto mais ao sul possível.

🗓️ Linha do Tempo

6 de agosto de 1901: Partida do Reino Unido

8 de fevereiro de 1902: Chegada à Ilha de Ross, na Antártida

1902–1904: Inverno em McMurdo Sound; exploração do planalto antártico e estudos científicos

Outubro de 1902: Início da viagem ao sul com Scott, Wilson e Shackleton

Avanço até 82°17′ S (recorde da época), condições extremas: escorbuto, cegueira por neve, fome. Shackleton ficou gravemente doente e foi enviado de volta antes da missão terminar.

Fevereiro de 1904: Discovery é libertado do gelo com ajuda de navios auxiliares (Morning e Terra Nova)

Abril de 1904: Retorno ao Reino Unido

🧪 Conquistas Científicas

Coleta de milhares de espécimes de plantas e animais, estudos meteorológicos e magnéticos detalhados, mapas topográficos de áreas inexploradas, primeiras descrições científicas do pinguim-imperador, registro fotográfico e artístico extenso da região.


🏔️ Conquistas Geográficas

Exploração do Planalto Polar Antártico, alcance recorde de latitude sul até então, descoberta de diversas formações geográficas, como: Planalto Antártico, Cadeias montanhosas e geleiras. O Vulcão Monte Erebus foi observado de perto.

⚠️ Dificuldades Enfrentadas

Condições climáticas extremas: frio, ventos e escuridão, doenças como escorbuto e congelamento, falta de experiência com trenós puxados por cães (usaram mais homens para puxar) e isolamento prolongado e problemas de moral.

🏆 Legado

Marco inicial da “Heroic Age of Antarctic Exploration” (Era Heroica da Exploração Antártica).

Formação de futuros líderes como Scott e Shackleton.

Estabeleceu métodos científicos e logísticos usados em futuras missões.

A Discovery foi preservada e hoje é um navio-museu em Dundee, Escócia.

Durante essa expedição, Robert Falcon Scott e Ernest Shackleton participaram juntos da mesma missão. Ambos viriam a se tornar dois dos nomes mais importantes da história da exploração antártida. No futuro, Scott morreria na Antártida durante a Expedição Terra Nova, enquanto Shackleton morreria a caminho da Antártida, durante a Expedição Shackleton-Rowett.

O navio Discovery.
Membros da Expedição Discovery.
Cabana da Expedição Discovery, na Antártida.
Shackleton, Scott e Wilson.

DICAS DE LIVROS SOBRE O ASSUNTO

Nunca encontrei livros em português, sobre a Expedição Discovery.

Recomendo dois livros em inglês, ambos escritos por membros da tripulação do Discovery.

Livro escrito pelo Capitão Scott.
Livro escrito por Edward Wilson.

Expedição Franklin (1845 – …)

A Expedição Franklin foi uma missão britânica de exploração ao Ártico liderada pelo explorador Sir John Franklin em 1845. O objetivo era encontrar a Passagem Noroeste, uma rota marítima que ligaria o oceano Atlântico ao Pacífico pelo norte do Canadá. A expedição partiu com dois navios, o HMS Erebus e o HMS Terror, transportando 129 tripulantes.

Inicialmente, a expedição parecia promissora. Franklin, de 59 anos, contava com a experiência de seus oficiais superiores, Francis Crozier e James Fitzjames, ambos veteranos da exploração polar. Além disso, o Erebus e o Terror haviam sido especialmente adaptados para enfrentar as adversidades do Ártico. Suas proas foram reforçadas com camadas extras de madeira e ferro para resistir ao gelo. As embarcações estavam equipadas com motores a vapor para complementar as velas, sistemas de aquecimento e equipamentos para a produção de água doce. O suprimento incluía gado, porcos e galinhas, além de três anos de sopas e vegetais enlatados. Essa era a maior, mais tecnológica e mais bem equipada expedição polar realizada até então.

A expedição partiu da Grã-Bretanha em 19 de maio de 1845. Franklin comandava o Erebus, com Fitzjames como seu segundo em comando, enquanto Crozier era o capitão do Terror. Os navios fizeram uma última parada na Groenlândia para reabastecimento. No final de julho de 1845, dois navios baleeiros avistaram o Terror e o Erebus na Baía de Baffin, Canadá, antes de a expedição desaparecer na imensidão gelada. Nenhum homem branco os viu novamente.

Por dois anos, não houve qualquer notícia de Franklin ou sua tripulação. Em 1848, Lady Jane Franklin, segunda esposa do explorador, persuadiu o Almirantado Britânico a lançar um dos maiores esforços de busca da história naval. No entanto, a expedição havia se transformado em uma das maiores tragédias da exploração polar. Ambos os navios ficaram presos no gelo no Estreito de Victoria, obrigando os tripulantes a abandoná-los. A marinha britânica conduziu buscas extensivas, mas encontrou poucos corpos e nenhum vestígio das embarcações. Demorou quase 170 anos para que o Erebus e o Terror fossem finalmente localizados, naufragados nas águas árticas do Canadá.

Durante anos, expedições terrestres e marítimas vasculharam a região em busca de pistas, encontrando apenas alguns artefatos e restos humanos dispersos. Análises forenses revelaram que os tripulantes sofreram de fome, escorbuto e envenenamento por chumbo, possivelmente causado pelos mantimentos enlatados. Estudos também identificaram marcas de corte em alguns ossos, sugerindo que, em desespero, os homens recorreram ao canibalismo. A maioria da tripulação simplesmente desapareceu.

A busca pela expedição perdida de Franklin continuou ao longo dos séculos XIX e XX. Uma sequência aproximada de eventos foi reconstruída com base em expedições de busca, relatos orais inuítes e análises de exploradores. Um dos achados mais importantes foi a “Nota de Victory Point”, escrita por Crozier e Fitzjames e datada de 25 de abril de 1848. Descoberta em 1859 dentro de um marco de pedra na Ilha King William, a nota revelou que a expedição passou o inverno de 1845-1846 na Ilha Beechey e, no verão de 1846, seguiu pelo Estreito de Peel. No entanto, os navios ficaram presos no gelo, forçando os tripulantes a passar dois invernos seguidos na Ilha King William. Sir John Franklin faleceu em 11 de junho de 1847. Crozier, Fitzjames e os sobreviventes abandonaram os navios e tentaram chegar ao continente canadense através da região do rio Back River, uma jornada de 400 quilômetros. Relatos inuítes (indigenas que vivem no Ártico) mencionam que 35 a 40 homens brancos morreram próximo à foz do Back River, mas o destino dos demais tripulantes permanece desconhecido.

No início da década de 1980, pesquisadores canadenses realizaram um estudo que durou mais de cinco anos. Autorizados pelo governo do Canadá, eles exumaram e realizaram autópsias em três corpos de membros da Expedição Franklin. Eram os primeiros tripulantes a falecer e haviam sido enterrados pela própria expedição. Suas localizações eram conhecidas há décadas. Enterrados em solo congelado, os corpos estavam incrivelmente preservados, dando a impressão de que poderiam simplesmente acordar, apesar de terem morrido há mais de um século. Um dos pesquisadores envolvidos na exumação era descendente de um dos falecidos, vivendo um momento único e emocional ao olhar e tocar um ancestral perdido no tempo. Utilizando tecnologia de ponta do final do século XX, os cientistas conduziram um verdadeiro trabalho de CSI histórico, tentando desvendar o que levou à morte daqueles homens e lançando luz sobre o trágico destino da expedição.

O mistério dos navios foi finalmente resolvido graças a uma combinação de pesquisa histórica, relatos orais inuítes e tecnologia subaquática moderna. O Erebus foi localizado em 2014 no Golfo Queen Maud, e o Terror, em 2016, na Baía do Terror. Ambos os naufrágios estavam próximos da Ilha King William, onde os homens haviam tentado sobreviver. Diversos artefatos foram recuperados por mergulhadores, oferecendo novas pistas sobre os últimos dias da expedição.

Essas descobertas ressaltam a importância das narrativas inuítes na investigação da tragédia. Por décadas, os relatos dos povos indígenas sobre sofrimento, canibalismo e o destino da tripulação foram ignorados pelos pesquisadores britânicos. Apenas no século XXI esses testemunhos foram levados a sério, revelando-se inestimáveis para a compreensão do desastre. Hoje, a tragédia da Expedição Franklin é reconhecida como um dos eventos mais marcantes da história da exploração polar.

Sir John Franklin.

Latas de comida, que perteceram a Expedição Franklin.

Gravura do Erebus e do Terror.

Exumação de membro da Expedição Franklin.

Exumado 130 anos após sua morte.

 

DICAS DE LIVROS SOBRE O ASSUNTO

CONGELADOS NO TEMPO

É um livro que investiga o mistério da Expedição Franklin, uma missão britânica ao Ártico em 1845. A obra detalha as escavações realizadas nos anos 1980, quando pesquisadores exumaram três corpos incrivelmente preservados de tripulantes enterrados na Ilha Beechey. As análises forenses revelaram sinais de fome, escorbuto e envenenamento por chumbo, possivelmente causado pelas latas de comida contaminadas. Com uma abordagem quase CSI histórico, o livro combina ciência, história e investigação para explicar como a tripulação sucumbiu ao frio extremo e às condições adversas do Ártico.

MIRAGEM POLAR

O que transformou a maior expedição ártica do século XIX na maior tragédia de que se tem noticia? Miragem Polar, investiga um dos mistérios mais duradouros nos anais da exploração – duas embarcações da mais poderosa marinha do mundo, ultramodernas para seu tempo, HMS Erebus e HMS Terror, 129 homens escolhidos a dedo, um comandante que sobreviveu a três viagens árticas anteriores, desaparecidos sem sinal de vida.  O que aconteceu? Por um século e meio a pergunta sobre o que aconteceu com a expedição Franklin, o pior desastre nos anais das viagens polares – permaneceu um mistério. Agora, baseado em pesquisa realizada no Almirantado Britânico, o autor recria a saga completa da malsucedida expedição e chega a uma conclusão aterradora para um dos mais longos enigmas da história das explorações humanas. Esta obra é para quem aprecia literatura de aventuras.

SÉRIE THE TERROR

The Terror é uma série de televisão, que estreou em 26 de março de 2018. Baseada no romance homônimo de Dan Simmons, a produção mistura história e ficção, explorando o mistério da Expedição Franklin, desaparecida no Ártico em 1845. Embora a série apresente eventos e personagens reais, ela incorpora elementos fictícios para preencher as lacunas da história, já que o destino exato da expedição ainda é desconhecido. Um dos aspectos mais marcantes da narrativa é a presença de uma criatura sobrenatural, que ataca e aterroriza a tripulação. Apesar das liberdades criativas, The Terror oferece uma ambientação detalhada e realista das condições extremas enfrentadas pelos exploradores, tornando-se uma excelente introdução ao tema. No Brasil, a série está disponível no Amazon Prime Video.