
Ontem foi aniversário de 16 anos da Erica, minha sobrinha. Ela está ficando enorme, quase da minha altura. Parabéns Erica por mais um ano de vida e toda felicidade do mundo pra você.
17 ANOS NO AR – Vander Dissenha
Ontem foi aniversário de 16 anos da Erica, minha sobrinha. Ela está ficando enorme, quase da minha altura. Parabéns Erica por mais um ano de vida e toda felicidade do mundo pra você.
Em meados de 1991, teve um concurso de arte promovido pela Prefeitura Municipal, onde muitas obras de arte foram instaladas pelas ruas de Curitiba. Muitas destas obras desapareceram e outras estão esquecidas. Uma das obras esquecidas e que sempre foi minha obra favorita, fica em plena Rua XV de Novembro, entre a Rua Barão do Rio Branco e Rua Monsenhor Celso, num dos lugares mais movimentados da cidade. Não recordo o nome da artista que compôs essa obra. Tentei buscar informações no Google mas não encontrei nada. A artista se inspirou numa antiga cantiga popular e fez uma pequena rua com pedrinhas de brilhante. Na verdade as pedrinhas são de vidro, mas quando a obra foi inaugura as pedras de vidro eram novas e brilhavam, formando uma bela obra de arte. Hoje em dia essa obra esta esquecida, suja e riscada pelos passos de milhares de pessoas que diariamente pisam nela. A maioria nem se da conta de que aquilo é (ou foi) uma obra de arte. Sempre que passo por ali com alguém, conto a historia de tal obra, que mesmo após tantos anos e depois de ter perdido sua beleza, continua sendo minha obra favorita e me trás muitas boas recordações das primeiras vezes que por ela passei.
Se essa rua
Se essa rua fosse minha
Eu mandava
Eu mandava ladrilhar
Com pedrinhas
Com pedrinhas de brilhante
Só pra ver
Só pra ver meu bem passar
Nessa rua
Nessa rua tem um bosque
Que se chama
Que se chama solidão
Dentro dele
Dentro dele mora um anjo
Que roubou
Que roubou meu coração
Se eu roubei
Se eu roubei teu coração
Tu roubaste
Tu roubaste o meu também
Se eu roubei
Se eu roubei teu coração
Foi porque
Só porque te quero bem
Minha câmera foi roubada no final do ano e apenas no início de fevereiro consegui comprar uma nova. Saí para testá-la em duas tardes de domingo, fotografando no Jardim Botânico e no centro de Curitiba. Hoje aproveito para compartilhar algumas dessas fotos de teste.
E dando sequência às lembranças dos 20 anos de minha vinda para Curitiba, hoje, encerrando esta série de memórias, vou falar um pouco sobre o dia da incorporação, ocorrido em 13/02/1989.
Após uma noite mais ou menos dormida, levantei cedo e fui para o café. O cardápio era pão com margarina e o famoso “KO”, uma mistura de leite e café em pó de gosto não muito agradável. O nome “KO” vinha de um produto usado para dar brilho em metais, que tinha a mesma cor e consistência daquela bebida. Durante os dois anos em que fiquei no Exército, usei o verdadeiro “KO” de polimento para dar brilho na fivela dourada do cinto da farda de passeio, que sempre precisava estar impecável.
Depois do café, ficamos em forma em frente ao pavilhão da CCS ouvindo algumas instruções, e então foram definidos os últimos cortes — aqueles que, por algum motivo, seriam dispensados. Em seguida, todos em fila indiana, aguardamos o momento de sair do quartel e entrar marchando no tradicional ritual de incorporação. Lembro que, atrás de mim na fila, estava o Mário, um curitibano que, dias depois, se tornaria meu companheiro de beliche e armário, além de um dos melhores amigos que já tive — praticamente um irmão.
O 20º BIB era dividido em três companhias de fuzileiros, mais a Companhia de Apoio e a CCS. Ao todo, cerca de 500 novos recrutas seriam incorporados. Ainda não éramos soldados, mas recrutas ou conscritos. Só ganhamos o título de soldados dois meses depois, após recebermos o treinamento básico e participarmos da “Operação Boina Preta” — talvez a semana mais dura de nossas vidas, mas essa é outra história.
De roupas civis, seguimos em fila até a rua em frente à entrada do quartel. Lembro (e as fotos confirmam) que eu usava tênis, uma calça Fiorucci preta comprada no Paraguai e uma camiseta branca da Norpeças, empresa onde trabalhava. Com a banda tocando músicas militares, entramos marchando portão adentro, desfilamos para o Comandante e cantamos o Hino Nacional. Após esse ritual, estávamos oficialmente incorporados — e não havia mais volta. No mínimo um ano até dar baixa e voltar à vida civil. Recebemos nosso “enxoval”, com itens de higiene, mochila e outros pertences, além da farda verde-oliva. Meu maior suplício foi conseguir passar o cadarço no coturno.
Nesse mesmo dia começou nosso período de quarentena: quatro semanas de treinamento intenso e variado, de dia e de noite. Aprendemos ordem unida, manuseio de armamento, noções de hierarquia, símbolos e divisas, além de boas maneiras e diversas canções militares. A mais difícil para mim foi o hino do Batalhão, que exigia assoviar uma estrofe inteira. Eu não sabia (e até hoje não sei) assoviar. Isso me rendeu duas faxinas e uma situação constrangedora quando, durante uma inspeção, o comandante me escolheu para ouvi-lo assobiar. Ao perceber que eu apenas “dublava”, perguntou se eu não sabia assoviar. Respondi que não, e ele apenas disse: “Então continue soprando como se estivesse assoviando”, e virou as costas.
Histórias como essa — algumas engraçadas, outras tristes e até trágicas na época, mas que hoje me fazem rir — marcaram os dois anos que passei no Exército. Foram difíceis no início, mas melhoraram com o tempo. Para contar tudo, seria preciso escrever um livro. De pouco mais da metade desse período, tenho um diário com registros. O resto está guardado na memória.
Na minha carteira de reservista consta o tempo de serviço militar como “dois anos, zero mês e zero dias” — dois anos exatos. Nesse período, chorei, sofri, derramei suor e lágrimas, enfrentei medo, solidão, desespero, mas também vivi alegria, companheirismo e amizade. Acima de tudo, esses dois anos ajudaram a me moldar como pessoa: honesta, trabalhadora, disciplinada, patriota e amiga dos amigos. Fiz amizades que se tornaram irmandades, forjadas em momentos de dificuldade, quando muitas vezes só tínhamos uns aos outros.
Na CCS de 1989 éramos 75 recrutas. Claro que não dava para ser grande amigo de todos, mas, no geral, me dava bem com quase todos. Lembro de muitos com saudade, principalmente ao rever as 320 fotos que guardo daquele período. Hoje, com câmeras digitais, isso pode parecer pouco, mas na época — quando dependíamos do fotógrafo do quartel, o Jackson, e do nosso mísero soldo para pagar — era uma quantidade significativa.
Encerro aqui esta pequena série de memórias, em homenagem aos 20 anos da minha chegada a Curitiba e da incorporação ao Exército. Esta lembrança é também uma homenagem àqueles 75 “moleques” que, na manhã de 13/02/1989, entraram pelos portões do 20º Batalhão de Infantaria Blindado. Suas vidas mudaram de alguma forma naquele momento. Ali, meninos começaram a se tornar homens.
Uma menção especial ao Renato (Quick), que já nos deixou há muito tempo, e ao Joelmir, que sofreu um grave acidente há alguns anos. Não sei ao certo sobre todos — há boatos de que o Miato e o Claudio também tenham falecido, mas nada confirmado.
Para os amigos vivos, deixo esta mensagem:
Os heróis já tombaram das alturas,
Covardes, bravos, jazem olvidados;
Seus feitos, tudo aos livros relegados;
Nada mais resta, apenas sepulturas.
E eu, quem sou? Perguntam: eu quem sou?
Pois bem, eu lhes direi: sou um soldado,
Igual a qualquer outro que lutou,
Que avançou, combateu, foi derrubado.
Mas o importante é que sou (ou fui) da Infantaria.
Hoje faz exatos 20 anos que cheguei a Curitiba, numa manhã de domingo chuvosa, cinzenta e meio fria. Depois de uma viagem cansativa durante toda a noite, dormindo pouco e mal, acordei já na entrada da cidade. Apesar de conhecer Curitiba e de ter vindo várias vezes para cá, eu não conhecia o bairro Bacacheri nem o quartel do 20º BIB.
Lembro que descemos a Rua Treze de Maio e me chamaram a atenção os prédios antigos e a iluminação do Largo da Ordem, que até então eu não conhecia. Pensei que, em algum momento, precisaria voltar ali para explorar melhor o lugar. Mal sabia que, 16 anos depois, eu iria morar a apenas 150 metros dali, em pleno Largo da Ordem.
Eram aproximadamente 6h30 quando estacionamos em frente ao quartel do 20º BIB. Seu tamanho me impressionou. Após desembarcarmos, entramos em fila pela entrada principal e ali já começou a “encheção de saco” por parte dos soldados mais antigos. Parecíamos um bando de ovelhas assustadas, seguindo para o abate. Fomos levados a um dos pavilhões, a CCS – Companhia de Comando e Serviço. Entramos em um alojamento e passamos a manhã toda ali, sendo constantemente abordados por cabos e soldados que faziam pressão psicológica e tentavam aplicar trotes.
Entre eles, encontrei um conhecido: João Garaluz, amigo antigo de Campo Mourão, dos tempos da “Unidade Polo”. Ele não me deu muita atenção, mas também não me incomodou. Lembro também de um rapaz forte, negro, chamado Sebastião, que logo ganhou o apelido de “Trovão”. A cada dez minutos algum soldado gritava “Trovão!”, e ele tinha que bater no peito e responder: “bum, bum, bum!”. Mais tarde, servimos na mesma companhia e nos tornamos amigos. O apelido pegou de tal forma que, durante todo o tempo em que serviu, ele era mais conhecido como Trovão do que pelo próprio nome.
Outro reencontro foi com Douglas, também amigo de colégio em Campo Mourão. Depois apareceram mais alguns conhecidos: Raul e Adelson, que, no entanto, foram embora dois dias depois. Mais tarde, no processo de incorporação, percebi que éramos cinco de Campo Mourão na CCS: eu, Douglas, Cláudio, Odair e Licoski. O Odair tinha estudado comigo na 5ª série, e fazia muito tempo que não o via até reencontrá-lo ali. O Cláudio também havia sido colega anos antes. No total, incluindo outras companhias, devíamos ser uns 40 rapazes de Campo Mourão.
Na hora do almoço seguimos em fila até o refeitório, ansiosos para descobrir se a comida de quartel era realmente ruim, como sempre se dizia. Ao vivo, parecia ainda pior do que eu imaginava. Peguei meu bandejão, entrei na fila e o soldado que servia tentou encher minha bandeja, mas recusei educadamente e saí de fininho. A comida era simplesmente horrorosa, muito além do que eu esperava. Depois de comermos — e ouvirmos mais algumas broncas — voltamos para o alojamento, onde ficamos até a metade da tarde, quando fomos ao ginásio para o exame médico.
No exame em Campo Mourão, eu havia sido reprovado no teste de visão, já que ainda não usava óculos. Mas queria servir. Percebi, na época, que o médico sempre pedia para ler a mesma linha de letras. Então decorei a sequência e, assim, consegui passar.
No ginásio encontrei mais alguns conhecidos de Campo Mourão que já serviam no 20º BIB. Entre eles, o Paulinho (Paulo Bonfim), amigo de infância que infelizmente faleceu em um acidente dois anos depois. Também reencontrei o Cabo Siqueira, colega dos tempos de Colégio Estadual, que depois se tornaria sargento, e o Cabo Fernandes, outro amigo da mesma época, que hoje mora em frente à casa dos meus pais.
Depois do exame, voltamos ao alojamento e lá permanecemos até o anoitecer. Na hora da janta, resolvi não ir ao refeitório: imaginei que a comida requentada seria ainda pior. Perguntei se poderia sair para dar uma volta, e como ninguém respondeu, saí de fininho. Consegui inclusive sair para fora do quartel. Ao lado ficava a Base Aérea de Curitiba, com um longo muro branco que seguia por alguns quarteirões. Fui acompanhando o muro até encontrar, do outro lado da rua, um boteco aberto. Entrei, comi um salgadinho e voltei rapidamente, com medo de não conseguirem me deixar entrar novamente. Quando cheguei ao alojamento, os demais já estavam retornando do refeitório. Alguns foram tomar banho e fui junto.
Naquela noite tomei meu primeiro banho gelado — nem frio era, era gelado mesmo — de muitos que viriam nos dois anos seguintes. O sistema era de caldeira, e a água quente já havia acabado. Pouco antes das 22h nos mandaram para a cama. Subi num beliche, me cobri com uma manta e fiquei pensando se haveria algum trote depois do apagar das luzes. Mas o sargento de plantão disse que ninguém nos incomodaria, já que ainda não tínhamos passado pela incorporação e éramos considerados civis. Ele não queria correr o risco de algum acidente. Depois da incorporação, avisou ele, a história seria outra — e realmente foi.
Às 22h em ponto as luzes se apagaram. Algo que me chamou a atenção foi o potente farol do radar da Base Aérea, que girava e de tempos em tempos iluminava o alojamento. Aquilo me lembrou cenas de filmes de prisão. Naquele momento, eu realmente me sentia preso.
No beliche de baixo dormia um rapaz de Campo Mourão que eu ainda não conhecia. Pouco tempo depois, alguém entrou no alojamento puxando as mantas de quase todos. Quando chegou a minha vez, parou, me olhou e seguiu adiante sem puxar a minha. Percebi que fui o único daquela fileira que manteve a manta. Acredito que tenha sido o Garaluz, que, em nome dos velhos tempos, me deu uma colher de chá. Já o rapaz do beliche de baixo começou a chorar. Foi ouvindo aquele choro que acabei adormecendo. No dia seguinte ele foi dispensado e voltou para casa. Anos depois o vi em Campo Mourão: ele me olhou como quem reconhecia, mas eu apenas sorri de forma debochada, lembrando de seu choro naquela primeira noite de quartel.
Meu primeiro dia em Curitiba e no quartel não foi dos melhores — mas com certeza também não foi dos piores. Os dias realmente difíceis ainda estavam por vir.
Hoje faz 20 anos que saí de casa. Foi num sábado à noite, em 11/02/1989, que embarquei num ônibus da Sul Americana com mais 41 rapazes, rumo a Curitiba. O ônibus havia sido fretado pelo Exército Brasileiro, e eu estava prestes a iniciar uma das maiores aventuras da minha vida: servir ao Exército.
Daquela noite lembro bem da despedida de minha mãe em casa. Ela chorava, mas não muito, acreditando que eu voltaria em uma semana. Minha irmã Vanerli e meu cunhado Clésio (já falecido) me acompanharam até os fundos da Prefeitura Municipal, onde funcionava a Junta do Serviço Militar. Lá, apresentei-me a um sargento e logo entramos em forma para ouvir algumas instruções. Em seguida, embarcamos no ônibus e seguimos viagem. Entre os recrutas, estavam vários amigos de escola e conhecidos da cidade.
Acomodei-me na última poltrona e comecei a conversar com quem estava por perto. O papo estava animado e ríamos bastante, até que um sargento veio até o fundo e mandou que eu calasse a boca, dizendo que eu estava “agitando demais” o ambiente. Ameaçou-me dizendo que, se não me calasse, me trancaria no banheiro durante toda a viagem. Diante da “singela” ameaça, resolvi ficar quieto e tentar dormir. Mas não consegui. A ansiedade era grande: pensava na família, no bom emprego que deixava para trás, nos amigos, em uma ex-namorada (Rosana P.), que me abandonara um ano antes e por quem ainda sofria. Sabia que, indo para Curitiba, nunca mais teria chance de voltar com ela. O que mais me afligia, porém, era o medo do desconhecido: não saber o que me aguardava nos próximos dias. Eu estava indo para o 20º BIB (Batalhão de Infantaria Blindado), conhecido por seu rigor e fama de ser o quartel mais duro do sul do Brasil, pela disciplina e grau de exigência. Histórias de amigos que haviam servido lá nos anos anteriores só reforçavam essa reputação. E foi em meio a lembranças, medos, saudade e esperanças que, enfim, adormeci.
Vale lembrar um fato histórico daquela noite: o ônibus em que embarquei foi o terceiro daquela semana a seguir para Curitiba — e também o último da história. Durante muitos anos, jovens de Campo Mourão e região serviam parte em Brasília e vários nos quartéis de Curitiba. Mas aquele ônibus de 11/02/1989 foi o último a sair de Campo Mourão para lá. No ano seguinte, os rapazes da região passaram a servir no quartel de Cascavel, que era mais próximo. Anos depois, abriu-se um Tiro de Guerra em Campo Mourão, e ninguém mais da cidade seguiu para Curitiba.
Sempre lembro que, naquela noite, ocupei o último banco do último ônibus que levou jovens mourãoenses a Curitiba — encerrando um ciclo de vários anos e centenas de rapazes que deixaram sua cidade e sua família para cumprir o dever constitucional e patriótico de servir à pátria. Muitos desses jovens, por diferentes motivos, jamais retornaram para viver em Campo Mourão. Eu fui um deles.
A partir daquela noite de 20 anos atrás, minha vida mudou completamente. Conheci muitas pessoas, vivi inúmeras experiências: sorri, chorei, sofri, me alegrei. Mas, como diz Roberto Carlos (de quem não sou fã), “o importante é que emoções eu vivi”. Às vezes tento imaginar como teria sido minha vida nesses últimos anos caso eu não tivesse embarcado naquele último ônibus… mas é um exercício inútil. Nunca saberei que rumo teria tomado. Prefiro pensar que, se não tivesse ido, talvez o destino tivesse me reservado um caminho ainda mais difícil — ou até a morte, naquela mesma semana de fevereiro de 1989.
A vida é feita de ações que provocam reações. Uma simples decisão — ficar ou partir, e o momento em que isso acontece — pode desencadear processos imprevisíveis. Por isso, sou grato a tudo o que vivi desde aquela noite em que embarquei naquele ônibus, especialmente pelos amigos maravilhosos que conquistei a partir dali.
E viva a Infantaria!
Sem querer, acabei descobrindo que existe uma cidade chamada Wanderlândia, localizada no interior do estado de Tocantins. Eu já sabia da existência de uma cidade chamada Wanderley, na Bahia, próxima a Wagner (nome do meu irmão). Mas de Wanderlândia eu nunca tinha ouvido falar. O nome da cidade significa “terra de Wanderley” (o sufixo lândia vem do inglês land, que significa “terra”).
Dei uma olhada no site da Prefeitura e descobri que a cidade possui 9.317 habitantes — e que lá existem mais homens do que mulheres. Enquanto na maior parte do Brasil a população feminina é maioria, em Wanderlândia há 255 homens a mais. Mesmo com esse excesso masculino, confesso que fiquei com vontade de conhecer Wanderlândia.
PS: Abaixo, um comentário de um leitor do blog sobre a origem do nome da cidade:
Por: José Carivaldo Alves Braga
Segundo informações de meu querido pai, já falecido, somos da família Wanderley, oriunda do Ceará. Eles se estabeleceram em um vilarejo que recebeu o nome de Aldeia dos Wanderleys, pois os parentes costumavam casar-se entre si para manter a família unida. Mais tarde, quando o vilarejo cresceu e se tornou cidade, resolveram homenagear seus primeiros moradores, dando-lhe o nome de Wanderlândia.
Essa semana, três pessoas — duas no trabalho e uma na clínica onde faço fisioterapia — disseram que eu pareço com o Flávio, do Big Brother. Fui conferir e não me achei parecido. A única semelhança são os óculos e a barba ruiva.
O problema é que, nas poucas vezes em que assisti ao Big Brother, achei o tal Flávio muito chato e meio afetado.
Ontem, após o trabalho, fomos em uma turminha ao Armazém Santa Ana comemorar o aniversário da Tati, do setor de informática. Mesmo cansado depois de uma semana estressante, acabei indo prestigiar o happy hour. Primeiro, porque a Tati é uma das boas amigas que tenho no Medianeira. Segundo, porque já fazia tempo que eu queria conhecer esse lugar, em razão de sua história. O curioso é que o armazém não fica longe de casa, sempre passo em frente, mas nunca tinha dado certo de entrar. Nos próximos dias publico algumas fotos do aniversário da Tati. Logo abaixo segue um pouco da história do Armazém Santa Ana.
O Armazém Santa Ana tem 70 anos de história e é o mais antigo de Curitiba ainda em funcionamento. Foi criado por Paulo Szpak, um ucraniano que veio ao Brasil em 1929. Naquela época, no distante bairro do Uberaba, o local era ponto de descanso de tropeiros. Hoje, é parada obrigatória para quem busca uma boa cerveja. Antes de abrir o armazém na casa de madeira típica, pintada de laranja, Paulo trabalhou em areais, obras de estrada e como sapateiro.
O casarão, que vendia secos e molhados, com telhado alto e varanda, também oferecia querosene e grãos a granel. Pedro, o herdeiro, ampliou a gama de produtos, introduzindo ferramentas, baldes, pregos, lampiões, panelas e utensílios de ferro e metal, além de reforçar a oferta de secos e molhados.
Com a terceira geração à frente dos negócios, os filhos Ana e Fábio acompanharam o sinal dos tempos: deixaram de lado as ferragens e transformaram a varanda em ponto de encontro de amigos. Além dos tradicionais secos e molhados, passaram a vender salames, queijos, broas caseiras, embutidos, compotas artesanais, vinhos e cerveja artesanal.
Os quitutes preparados na casa são uma atração à parte para quem deseja deixar para trás o rebuliço urbano e seguir pela avenida cheia de curvas que leva ao sudeste da cidade, margeando ainda pequenas propriedades agrícolas e bucólicas paisagens verdes — que aos poucos dão lugar ao progresso e à especulação imobiliária.
No armazém, o tempo parece ter parado sobre a mesa coberta com oleado floral, ladeada por um banco comprido onde amigos se reúnem em torno de tira-gostos tirados da barrica ou do legítimo fernet. No endereço que, em 1934, ganhou alvará como “taverna de segunda classe no Umbará”, ainda hoje é possível degustar salame, chouriço, queijo caseiro ou rollmops, além da brasileiríssima feijoada e do típico barreado paranaense.
Como os Szpak são de origem ucraniana, não poderia faltar o pierogi, o tradicional pastel eslavo de massa cozida. Entre uma garfada e outra, o olhar percorre o imenso balcão de madeira onde, ao lado da variedade de alimentos, martelos, rastelos, pás e vassouras de piaçava disputam espaço e contam parte da história do bairro, surgido no século XVIII.
Entre as opções tradicionais de boteco, há ainda a carne de onça — carne moída de primeira, servida crua com bastante tempero verde sobre uma fatia de broa de centeio. Para acompanhar, um cardápio com até 12 variedades de cerveja, sempre bem gelada, e cerca de 30 tipos de cachaça artesanal, que fazem a festa dos boêmios. O Armazém Santa Ana é, assim, um dos últimos redutos de uma Curitiba com jeito de cidade do interior, onde colonos ainda trazem seus produtos para a feira.