Já fui várias vezes para a Serra do Mar, na região do Marumbi, e por três vezes cheguei até o cume do Olimpo. Já a região do Pico Paraná (o mais alto do Sul do Brasil), que também fica na Serra do Mar, mas em outra direção, eu nunca tinha visitado. Não era por falta de vontade, mas sim de tempo e companhia, pois lá não é aconselhável andar sozinho.
Até que alguns colegas de trabalho resolveram marcar uma “expedição” para a região do Pico Paraná, com a intenção de subir o Itapiroca, um dos picos existentes ali e de mais fácil acesso. Então, num sábado gelado e meio nublado, nos reunimos bem cedinho no Medianeira (eu, Tati, João Paulo, Paulinha e Cássio, marido dela) e pegamos a estrada em direção a São Paulo. Após uns 40 km rodando pela Régis Bittencourt, entramos à direita em uma estradinha de chão e, depois de mais 7 km em um trecho difícil, chegamos à Fazenda Pico Paraná. É dentro dessa fazenda que fica o acesso aos vários picos que fazem parte do complexo.
Fizemos o registro com o pessoal do IAP (Instituto Ambiental do Paraná), pagamos uma taxa de R$ 5,00 para manutenção do local e, por volta das 9h30, iniciamos a subida rumo ao Itapiroca (êita nominho feio). A primeira meia hora foi a mais difícil: o ar estava muito gelado, a respiração ficava pesada e o peito doía. O caminho, no entanto, não era dos mais complicados — até me surpreendi, pois, acostumado à região do Marumbi, esperava no mínimo uma dificuldade semelhante. Logo chegamos ao primeiro mirante, uma pedra enorme de onde a vista já era estupenda. Dava para ver longe: muita mata, a Régis Bittencourt com os carros passando e a Represa Capivari–Cachoeira. Após tanta beleza, já imaginava o quanto a paisagem ficaria ainda mais incrível conforme subíssemos.
Após um rápido descanso, recomeçamos a subida. Em pouco tempo chegamos a um local cheio de pedras, com vegetação diferente. Ventava muito, as nuvens estavam baixas e caía uma garoa fina. Minha camisa, que estava molhada de suor, logo secou e fiquei congelado. Para nossa sorte, as nuvens foram se dissipando e o sol apareceu, sinal de que possivelmente teríamos uma vista linda lá do alto.
Depois de mais algumas fotos e descanso, seguimos pela parte mais difícil. Logo chegamos a uma bifurcação: para a direita seguia a trilha do Itapiroca e, para a esquerda, a do Caratuva. Ficamos na dúvida e acabamos indo para o lado errado, sem perceber.
Essa parte lembrava a trilha do Marumbi, com subidas íngremes e pedras lisas. A diferença é que havia algumas descidas também. Não tivemos grandes problemas, apenas estranhamos o fato de nunca chegarmos ao topo, já que a informação era de que a subida até o Itapiroca levava em média duas horas. Após quase três horas, avistamos o cume do morro e, depois de atravessar uma vegetação estranha, estávamos literalmente acima das nuvens. A vista era fabulosa e tiramos muitas fotos.
Percorremos os últimos metros até o topo e lá encontramos algumas pessoas que, para nossa surpresa, informaram que estávamos no Caratuva — e não no Itapiroca. Sem perceber, havíamos subido um morro mais alto e de acesso mais difícil. No fim, ficamos felizes, pois vencemos uma dificuldade maior do que a esperada. A única decepção foi que o lado oposto estava coberto por nuvens. Justamente dali a vista é ainda mais bonita, pois se pode ver o mar e ter uma visão frontal do Pico Paraná.
Fizemos uma parada de uma hora para descanso e lanche e, pouco depois das 13h, iniciamos a descida. Lógico que descer é mais fácil do que subir, mas o cuidado precisa ser redobrado, já que o terreno úmido facilita escorregões. Eu caí sentado nas pedras, mas sem maiores consequências — e não fui o único. Após cerca de duas horas de caminhada, chegamos ao ponto de partida, já com o tempo fechado de vez. Ficamos um tempo sentados na grama, descansando e conversando. Foi gostosa aquela sensação de missão cumprida. É sempre prazeroso atingir uma meta, e em um lugar tão lindo é ainda mais fácil sentir a presença de Deus.
Fomos embora já fazendo planos para a conquista de novos morros. A meta principal agora é o Pico Paraná. Mas aí a brincadeira é mais complicada: são cerca de dez horas entre subida e descida, em um caminho bem mais exigente. Ainda assim, com treinamento, perseverança e força de vontade, chegaremos lá.
No final da tarde, já estava de volta à minha casa. As pernas doíam um pouco, mas menos do que eu esperava. Acho que as corridas e pedaladas dos últimos dias ajudaram no condicionamento físico, e por isso não sofri tanto na caminhada. Como ponto negativo, apenas o descuido com os lábios e orelhas: não passei protetor e, nos dias seguintes, sofri com bolhas nos lábios e descamação nas orelhas. Lição aprendida: da próxima vez, cuidarei melhor da proteção contra o sol.





