Trilha Inca (3º dia)

Mais uma vez acordamos ás 05h00mim e ainda estava escuro e chovendo. Dormi nove horas direto, algo que não acontecia fazia vários dias. O Diego acordou reclamando da chuva que tinha molhado a barraca e algumas coisas dele. Fui conferir meu lado da barraca e minhas coisas, mas estava tudo seco. Demos uma olhada geral na barraca e dava pra ver nitidamente que metade da barraca estava molhada e a outra metade não. O Diego ficou olhando aquilo com cara de quem não acreditava e eu fiquei rindo. Entendi que em nossa barraca, que entre nós existia um equilíbrio entre sorte e azar e que todo o azar ia para o lado do Diego e toda a sorte para o meu lado. Coisas da Trilha Inca!

Arrumei minhas coisas e fui sob chuva até o banheiro. O banheiro masculino tinha fila e o feminino estava vazio. Como estava apurado não pensei duas vezes e entrei no banheiro feminino. Logo escutei vozes femininas do lado de fora e me preparei para as reclamações quando fosse sair. E não deu outra, quando abri a porta me deparei com umas dez meninas que começaram a reclamar por eu estar usando o banheiro feminino. Respondi que ele estava vazio quando cheguei e saí rindo, o que deixou a mulherada ainda mais brava e ouvi xingamentos em pelo menos quatro idiomas diferentes.

Após o café os guias fizeram uma reunião e nos deram uma péssima notícia. O posto de controle do governo peruano que existe no acampamento onde estávamos, tinha sido informado via rádio que em razão da chuva das últimas horas ocorreram deslizamentos na parte final da Trilha Inca, que vai do último acampamento até a entrada de Machu Picchu. Então por razões de segurança a parte final da trilha foi fechada e ficaria assim até meados ou final de março. Em fevereiro a Trilha Inca é fechada para manutenção e por ser época de chuvas, então somente em fevereiro é que tentariam resolver o problema dos desmoronamentos. Foi uma frustração geral em todos de nosso grupo. Tínhamos sofrido tanto, íamos penar mais um dia caminhando pela trilha e perderíamos justamente a melhor parte que era chegar caminhando em Machu Picchu. A alternativa seria desviarmos nossa rota no final do último dia, pernoitar no alto da montanha e de madrugada descer a montanha. Atravessaríamos uma pequena ponte sobre o rio Urubamba e caminharíamos um bom tempo ao lado dos trilhos do trem até chegar à pequena cidade de Aguas Calientes. Lá pegaríamos um dos muitos ônibus que seguem até a entrada de Machu Picchu e que partem a cada 15 minutos. Tudo o que eu nunca desejei foi chegar a Machu Picchu de ônibus, mas não teria outra alternativa. Após assimilar o golpe e a decepção, passei a olhar a situação por outro lado. Eu sabia que janeiro é época de chuvas e aceitei o risco de ir para a Trilha Inca nessa época. Pegamos dois dias de sol na trilha, então não dava pra reclamar da sorte. E entendi o fato de não poder chegar até Machu Picchu caminhando, como um sinal de que devo voltar para o Peru outra vez e fazer a Salcantay, uma outra trilha que leva até Machu Picchu e que é mais longa e mais difícil de percorrer. Acho que estou começando a ficar místico e comecei a sentir certas coisas, receber sinais… sei lá! De qualquer forma eu não ia ficar abatido, pois percorreria 90% da Trilha Inca e isso era bem melhor do que nada.

Pouco antes da 07h00mim iniciamos a caminhada pela trilha. Não seria um dia tão difícil como o anterior, mas sob chuva as coisas complicavam um pouco. Sendo o terceiro dia o corpo estava mais adaptado com o ritmo da caminhada e com a altitude. A única coisa chata foi ter que usar capa de chuva, o que limita um pouco os movimentos e esquenta o corpo mais que o normal. Após uns minutos tirei o capuz da capa da chuva, pois com ele minha visão periférica ficava limitada e isso não estava me agradando. Preferi molhar a cabeça na chuva, era bem melhor. De cara já pegamos uma forte subida e com as pedras da trilha molhadas pela chuva, o cuidado para não cair tinha que ser dobrado e em alguns trechos em que caminhávamos ao lado do abismo esse cuidado era triplicado. Para mim sempre o início da caminhada é mais difícil, meu corpo demora para aquecer e pegar ritmo. Após não muito tempo de caminhada chegamos até uma antiga ruína inca chamada Runkuraqay. Estávamos a 3.800 metros e com muita chuva. A ruína ficava ao lado da trilha, mais ou menos na metade de uma montanha. De onde estávamos à vista era bonita, dava pra ver bem no fundo de um vale o acampamento onde tínhamos passado à noite. Ainda eram visíveis algumas barracas montadas, de outros grupos. Observando a geografia em volta, a impressão que dá é que somente pela trilha seria possível transpor as montanhas do lugar, cheia de precipícios e de encostas escarpadas. Runkuraqay foi construída em forma de circulo, dentro de um semicírculo e com apenas uma entrada. Acredita-se que foi construída para ser um posto de vigilância e também de parada para descanso ou de troca, para os mensageiros que seguiam a pé rumo Machu Picchu. Fizemos uma longa parada no local e os guias separaram o grupo para poderem contar mais tranquilamente à história (ou provável história) do lugar. Os incas foram gênios em sua época, mas não tinham uma escrita que possibilitasse que sua história chegasse até os dias de hoje. Então muito do que se fala sobre os incas são suposições e até mesmo os nomes dos locais são outros, já que não se sabe ao certo os verdadeiros nomes. Mesmo adorando historia e sendo formado em história, eu não conseguia ficar muito tempo parado ouvindo o que os guias contavam. Eu preferia andar pelo lugar, tirar fotos, tocar nas rochas, ficar imaginando quem passou por ali, como era aquele local há centenas de anos. Cada um tem um jeito de curtir lugares históricos, o meu jeito é esse.

A chuva parou um pouco, mas logo que reiniciamos a subida da montanha ela voltou forte. A trilha era difícil e fui apertando o passo e tomando cuidado para não cair. Com a chuva e a neblina nosso raio de visão ficou limitado a não mais que 400 metros. Então não era possível admirar a vista estupenda que poderíamos ter lá de cima. Esse problema se estendeu por quase todo o dia e sei que acabei deixando de ver muitas paisagens maravilhosas pelo caminho por culpa da chuva e da neblina quase constantes. Após pouco mais de uma hora de difícil subida chegamos ao alto da montanha, um local conhecido por Second Pass (Segundo Passo) e que fica a 3.900 metros de altitude. Nesse local também existiam rochas mais altas ao lado da trilha e em cima delas amontoados de pequenas pedras. Acabei encontrando quatro brasileiros; um casal de Belo Horizonte, uma garota de São Paulo e outra de Santos. Eles estavam num pequeno grupo, junto com alguns chilenos. Conversamos um pouco trocando experiências sobre os últimos dias. Não demorou muito e meu grupo partiu e eu junto. Dessa vez tinham algumas pequenas descidas intercaladas a pequenas subidas. Logo no início passamos por um local onde existia dois lagos muito bonitos logo abaixo da trilha, mas a neblina não permitiu bater boas fotos dos lagos. Depois de uma hora e meia de caminhada chegamos à outra ruína inca. Deixamos nossas mochilas num canto da trilha e um guia ficou tomando conta delas.

Subimos por uma escadaria estreita que foi construída de forma estratégica no bico de uma montanha e entramos em Sayaqmarka, uma enorme ruína e a que mais gostei de todas que visitei. O nome do local no idioma quéchua significa “Cidade Inacessível”. As ruínas são enormes e muito bem preservadas e estão em vários níveis ligados por escadas. Existem inúmeros aposentos, canais e pátios. Segundo nosso guia contou, o lugar foi um pequeno centro religioso para aldeias periféricas. Logo que chegamos ao lugar a chuva e a neblina foram embora e o sol surgiu forte. Mais uma vez o grupo foi dividido pelos guias para as devidas explicações sobre o lugar. Depois tivemos meia hora para explorar o local. Preferi caminhar sozinho, observando os detalhes e acabei indo parar num pátio externo onde existia um muro bem ao lado do abismo. Tirei fotos e continuei explorando o lugar. Bem mais abaixo em frente da montanha onde estava visualizei outra construção inca de menor tamanho e vi que a trilha passava bem ao lado. Logo o tempo fechou novamente e começou a chover. Descemos de volta para a trilha e seguimos nosso caminho mais uma vez debaixo de chuva. Quando passei pela construção inca que tinha visto lá do alto em Sayaqmarka, chovia tanto que nem tive vontade de parar. 

Continuei caminhando e logo cheguei ao local do almoço. Nossos porteadores já tinham chegado ao lugar muito antes e montado a barraca da cozinha e a barraca para o almoço. Ao lado de onde foram montadas as barracas existia uma construção com banheiros masculino e feminino e cuja higiene também não era boa. A chuva aumentou e deixamos as mochilas do lado de fora, uma sobre as outras debaixo de uma pequena lona. Tivemos que nos espremer dentro da barraca das refeições, pois chovia muito e não dava pra deixar as entradas abertas como sempre fazíamos e que era algo que deixava a barraca mais espaçosa. Comi três coisas no almoço que até agora não tenho a mínima idéia do que eram. Tinha um negócio que a princípio pensei ser um bolinho e que ao morder descobri ser uma mistura de batata com mandioca, de sabor estranho. Após o almoço não nos demoramos muito e fomos nos preparar para seguir a caminhada. O sol apareceu novamente, ardido e forte. Mas não durou nem 5 minutos e voltou a chover. Estávamos entrando numa região de floresta tropical e o clima ficou ainda mais estranho.

O trecho que fizemos à tarde é considerado o mais bonito da Trilha Inca, mas não deu para ver muita coisa pois a chuva e a neblina nos acompanharam durante toda a tarde. O sol deu as caras raríssimas vezes e por poucos minutos somente. Já a neblina não foi embora nem mesmo quando o sol aparecia. Foi uma caminhada relativamente tranqüila, principalmente se comparada a dificuldade do dia anterior. A trilha em sua maior parte seguia por um terreno mais plano e praticamente todo o percurso seguia pelo topo de uma cadeia de montanhas. A vegetação ia ficando cada vez mais densa e bonita. Passamos por um túnel inca feito no meio da rocha, ao lado de um precipício. Era uma obra de engenharia impressionante, principalmente se levarmos em consideração a época em que foi construído e as ferramentas que os incas possuíam. Pouco após deixar o túnel passei por uma situação complicada. Comecei a sentir fortes dores na barriga e uma vontade imediata de ir ao banheiro. Mas estávamos numa trilha estreita onde do lado direito existia um paredão de rocha de centenas de metros de altura e do lado esquerdo um precipício sem fim. A frente e atrás caminhavam várias pessoas, muitas sendo mulheres. Então onde é que eu ia resolver meu problema? Onde achar um banheiro ou uma moita num lugar daqueles? Fiquei muito preocupado, me segurei o que pude e já estava começando a ficar desesperado. E para piorar a chuva aumentando. Caminhei uns 15 minutos na maior tortura e tentando encontrar uma saída para tal situação, até que finalmente numa curva da trilha avistei uma pedra enorme e atrás dela um pequeno carreiro. Fui investigar o lugar e pelas marcas vi que alguém já tinha usado tal lugar pelas mesmas razões que eu. Não pensei duas vezes e entrei no carreiro. Quando dei o segundo passo escorreguei no capim molhado e no barro e saí deslizando morro abaixo. Consegui parar uns três metros depois, me segurando em alguns galhos e no capim alto. Quando olhei e vi que mais um metro para baixo de onde estava era o precipício, gelei! Mas na situação em que estava não dava pra gelar por muito tempo, pois tinha algo mais imediato para fazer. Analisei a situação e rapidamente decidi como resolver meu problema. Prefiro não entrar em detalhes para preservar a mim e a você caro leitor. Sei que devo ter feito o “serviço” numa das posições mais estranhas da história. E qualquer descuido eu ia parar morro abaixo. A situação era pra chorar, mas eu morria de rir e lembrei de meu irmão que adora parar em moitas na beira da estrada. Depois da emergência resolvida tive que pensar em como sair dali sem correr o risco de escorregar e ir parar no abismo. Lembrei de uma queda que tive ao descer o Pico do Marumbi uns anos antes e que foi bem parecida com essa. Então usei da mesma estratégia da outra vez para rastejar morro acima e com cuidado consegui chegar de volta a trilha. Eu estava com lama da cabeça aos pés, mas ao menos tinha resolvido o problema emergencial. Voltei a caminhar e só então me dei conta do risco que corri. Mais um metro deslizando e eu teria caído num precipício enorme e como ninguém tinha me visto entrar ali, se eu tivesse caído morro abaixo nunca iam saber onde fui parar, como desapareci. Ninguém mais ia saber de mim, nem mesmo minha família. Eu seria declarado desaparecido nas montanhas peruanas. Faltou muito pouco para isso acontecer, na verdade faltou um metro. Achei melhor não pensar mais nisso e seguir em frente, agora literalmente aliviado. Logo encontrei ao lado da trilha uma pequena mina de água e aproveitei para me lavar e tirar parte do barro das botas, da mochila e da roupa.

No meio da tarde paramos em mais uma ruína inca, Phuyupatamarca. Essa ruína fica a 3.680 metros de altitude e segundo nosso guia ela servia ao culto e à morada de nobres e sacerdotes. Pela redondeza existiam também alguns núcleos religiosos de vilas campesinas, mas que por serem construídas com tijolos de adobe, se desmancharam pela ação do tempo. Em Phuyupatamarca foram catalogados três praças, seis banhos litúrgicos, canais de água, quinze quartos e um observatório. Mais uma vez nossos guias contaram a história do local e depois liberaram o grupo para que cada um seguisse no seu ritmo. Também informaram onde deveríamos sair da trilha e seguir rumo ao último acampamento, que seria ao lado de um tipo de bar, onde existia banho quente, cerveja e Coca-Cola. A chuva voltou mais uma vez e a neblina desceu de vez. Percebi que não daria pra ver muita coisa pelo caminho e nem tirar boas fotos, então resolvi seguir num ritmo forte pois a idéia de um banho quente e de uma Coca-Cola gelada era muito atraentes para mim naquela altura dos acontecimentos.  O trecho era quase todo de descida e partes planas, com raras subidas. Então fui caminhando forte, o último grande teste para saber se minhas hérnias de disco estavam curadas. Pelo caminho fui passando por integrantes de meu grupo e do outro grupo co-irmão. Fiquei sentido pelo tempo estar ruim, pois sabia que estava perdendo paisagens lindas. Segui por cerca de uma hora e meia num ritmo forte e constante, parando poucas vezes para beber água e bater uma ou outra foto da trilha. Logo alcancei dois argentinos que sempre caminhavam na frente e o meu colega inglês do outro grupo. Então passamos a caminhar os quatro juntos e num ritmo ainda mais forte. Pouco depois chegamos a uma bifurcação na trilha, num local onde existe uma torre metálica de energia elétrica. Ali o guia tinha avisado que era para seguir pela trilha da direita e chegaríamos ao nosso acampamento. Seguindo a esquerda entraríamos no trecho bloqueado da Trilha Inca, que leva até as ruínas de Intipata e depois a Machu Picchu. Bem que deu vontade de seguir pela esquerda!

Alguns metros após caminhar pela trilha da direita, surgiu a nossa frente uma vista de tirar o fôlego. Várias montanhas com os topos cercados por nuvens e abaixo delas no fundo de um vale corria o rio Urubamba. Parei uns instantes para admirar tal vista e voltei a caminhar, agora por uma descida íngreme e que seria a última do dia. Não demorou muito e ultrapassei um dos argentinos e logo encostei no outro. Ele não queria ficar pra trás e forçou tanto para se manter a minha frente que logo parou, com dor no joelho. Cheguei no acampamento junto com o inglês do outro grupo e fui o terceiro de meu grupo a chegar. Na minha frente chegaram dois argentinos, os mesmo que tinham sido os primeiros a chegar no dia anterior. Nossas barracas estavam armadas uma ao lado da outra na encosta do morro e logo em frente a elas tinha um enorme barranco. Se o cara não tomasse cuidado ao sair da barraca, corria o risco de ir parar morro abaixo. Em frente a mesma maravilhosa vista que eu tinha visto um pouco mais acima. Escolhi uma barraca, deixei minhas coisas e fui procurar o tal banho quente. No local ao lado do acampamento existe o Wiñaywayna Visitors Center, uma construção grande de alvenaria onde funciona uma lanchonete e existem mesas enormes. O que me chamou a atenção foram algumas placas avisando que aquela construção era segura em caso de terremotos. Ali também tem banheiros limpos, com chuveiro quente ao custo de cinco soles. Acabei sendo o primeiro a tomar banho e foi uma delícia após três dias de trilha poder tomar um banho de verdade. Depois do banho fui na lanchonete comprar uma Coca-Cola, que para minha decepção não é gelada. Aproveitei para repor meu estoque de chocolates e então fui para a barraca descansar. A chuva ficou mais forte e depois de uma hora o Diego chegou, mais uma vez sem mochila. Falei a ele sobre o banho quente mas ele não quis saber. E não foi por falta de dinheiro que ele não quis tomar banho, mas sim por não querer tomar banho. Então como último recurso ofereci a ele meus últimos lenços umedecidos e ele aceitou. Era melhor que meu companheiro de barraca tomasse um banho de gato do que nenhum banho.

Após descansar um pouco fui no centro de visitantes. Lá fiquei conversando com o pessoal e depois me sentei do lado de fora, ao lado de uma espécie de mirante e fiquei olhando a vista dali. Era demais, algo muito bonito e uma paisagem que mudava a todo instante por culpa da mudança e da quantidade de nuvens e até de alguns raios de sol. Algo pra se lembrar para sempre. Foi nesse momento que tive o primeiro contato com o “cão inca”, história que contarei numa postagem especifica daqui uns dias. Logo serviram nosso café da tarde dentro do enorme refeitório e depois conversei mais um pouco e tirei fotos. Quando anoiteceu serviram o jantar, mas não comi nada. Os guias vieram perguntar o motivo de eu não querer comer e após contar sobre minha dor de barriga, me mandaram comer um pouquinho de macarrão, que logo depois me levariam um chá especial que curaria meu problema. Comi um pouco da macarronada que estava horrível e quando me entregaram uma caneca de chá tive que ser muito corajoso para beber. A cor e o cheiro não eram nada atrativos e o sabor muito menos. Achei melhor não perguntar do que era o tal chá, mas o resultado foi bom e quase imediato.

Em seguida ao jantar todos fomos para o mirante do lado de fora, onde ocorreu a despedida dos porteadores. Todos do grupo se apresentaram aos porteadores e eles a nós, falando suas idades, estado civil e quantidade de filhos. Fiquei impressionado quando soube a idade de alguns. Tinha um de 40 que da pra dizer que é meu pai e outro de 21 que aparenta ter a minha idade. Todos levam uma vida sofrida e a idade pra eles pesa mais do que pra nós. Fizemos uma vaquinha que é tradicional na trilha e o que foi arrecado foi dado de presente aos porteadores. E não é que um dos porteadores vestia uma camisa do Palmeiras! Eu corinthiano que sou nem dei muita bola pra ele. Já para um outro porteador que vestia uma camisa da seleção brasileira, fiz questão de dar um abraço e tirar uma foto com ele. Pena que as fotos desse evento não ficaram boas, pois estávamos no meio da neblina.

Acabei encontrando os quatro brasileiros com quem conversei pela manhã na trilha. Reunimos-nos numa mesa e ficamos um bom tempo conversando e bebendo Cuzqueña e Coca-Cola. Aquele local parecia uns daqueles bares de fim de mundo que vemos nos filmes. E foi interessante numa noite de sábado quatro brasileiros se reunirem ao redor de uma mesa para falar da vida, após terem percorrido quase 40 quilômetros de umas das trilhas mais famosas, bonitas e difíceis do mundo. O clima era de missão cumprida. Eram quase onze horas quando resolveram fechar o bar e tive que ir para a barraca. Chovia muito forte e dei carona a minha amiga Carolina até a porta de sua barraca. A carona consistia de iluminar o caminho com minha lanterna. Andar sem lanterna na escuridão do lugar, com chuva e com barrancos, era quase um suicídio. Entrei na barraca, dei boa noite para o Diego e fiquei pensando que o dia seguinte seria o grande dia, o dia de conhecer Machu Picchu e realizar um sonho de quase trinta anos. Dormi ouvindo o barulho da chuva batendo na lona da barraca a poucos centímetros do meu rosto.

Eu e Diego e eu com o casal Juan e Cecília, no amanhecer do 3º dia.
Caminhando sob chuva e com o guia Juan Carlos.
Nas ruínas de Runkuraqay.
Ao fundo as ruínas de Runkuraqay.
Na trilha; com os brasileiros e Roxana; com Carolina; um dos lagos.
Nas ruínas de Sayaqmarka.
Em Sayaqmarka.
Em Sayaqmarka.
Sayaqmarka.
Construção inca que é vista do alto de Sayaqmarka.
Phuyupatamarca.
Em Phuyupatamarca e em trechos da trilha.
Parte final da Trilha Inca no terceiro dia.
No acampamento da última noite.
Parte da vista que se vê do mirante do Wiñaywayna Visitors Center.
Quatro brasileiros conversando num bar no meio da floresta peruana.