Demolição da Fábrica da Mate Leão

No tempo em que morei em Curitiba, costumava caminhar ou andar de bicicleta pelo bairro Rebouças. Esse bairro durante mais de um século foi a área industrial de Curitiba. Algumas industrias ainda permanecem no local, mas a maioria mudou-se dali. Para mim andar por essa parte do Rebouças, era como viajar ao passado. O local tinha um ar diferente… Sei lá! Difícil explicar a sensação que eu tinha quando passava pelas velhas construções. A sensação era de que naquele lugar Curitiba tinha parado no tempo.

Os prédios onde funcionavam as antigas fábricas, muitos foram demolidos ou descaracterizados. E um desses casos é a demolição da sede histórica da Matte Leão. A indústria ocupava mais de um quarteirão na altura das avenidas Getúlio Vargas com João Negrão. O terreno de 16,3 mil metros quadrados foi vendido pela família Leão para a Igreja Universal do Reino de Deus, no início de 2010. No local será construída uma nova Catedral da Fé.

A Matte Leão foi criada em 1901 e funcionou durante mais de um século no bairro Rebouças. Em 2007 foi vendida para a Coca-Cola e posteriormente sua fábrica foi transferida para o município de Fazenda Rio Grande. O prédio do Rebouças ficou abandonado durante um tempo, até ser vendido para a Igreja Universal, por cerca de R$ 7 milhões. Mesmo sendo um prédio histórico, não era considerado unidade de preservação e isso possibilitou sua venda e posterior demolição.

História

A Leão Junior foi fundada em maio de 1901 por Agostinho Ermelino de Leão Junior, tornando-se protagonista do Ciclo da Erva-Mate, a principal riqueza do estado no século XIX e que foi determinante para a independência do Paraná da província de São Paulo. Não é portanto por acaso que as folhas de erva mate estão na bandeira do Paraná.

Com a morte de Agostinho em 1908, sua viúva, Maria Clara de Abreu Leão, toma a frente dos negócios em fevereiro de 1908, assumindo uma posição rara para mulheres na época. Em 1926 a Leão concluía a construção do prédio no bairro Rebouças. A fábricca contava inclusive com um ramal ferroviário que permitia o escoamento da produção diretamente para o Porto de Paranaguá.

Em 1938 a empresa cria um ícone do imaginário paranaense: o chá Matte Leão, na época em latas. Dessa época vem os slogans: “Já vem queimado” e o nacionalmente conhecido “Use e Abuse”. Em 1969 é lançado o Matte concentrado em garrafas. Em 1973 surgem os saches de chá Matte Leão nos sabores natural e limão.

Em 1983 lança a sua linha de chás de ervas, antecipando-se a moda das bebidas naturais, nos sabores camomila, cidreira, erva-doce, boldo, hortelã, frutas, flores e também, o chá preto. Em 1987 nasce outra sucesso: o Matte Leão pronto para beber em copinhos (alguém se lembra da propaganda na praia com a música: “Olha o Matte! Matte Leão!!”?). O produto em princípio focado no mercado carioca, rapidamente alcançou o Brasil todo.

Em 2003 inaugura sua fábrica no Rio de Janeiro. Tendo a posição de liderança nacional no seu ramo, a centenária empresa paranaense é vendida para a Coca-Cola do Brasil, rebatizando suas linhas por Chá Leão, ganhando o mundo. Em 2009 a nova fábrica na Fazenda Rio Grande é inaugurada, desativando definitivamente a fábrica no Rebouças, selando seu triste destino nas barbas de todos que viveram essa história de dentro ou como consumidores e nas barbas dos que deveriam proteger um patrimônio da história política e social do Paraná, quer por conivência, distração ou desinteresse.

Fonte: www.circulandoporcuritiba.com.br

Antigas latas de Matte Leão.
Antigas latas de Matte Leão.
Matte Leão, anos 20/30.
Matte Leão, anos 20/30.
Matte Leão, anos 2000. (Foto: Washington Takeuchi)
Matte Leão, anos 2000. (Foto: Washington Takeuchi)
Industria antes da demolição. (Foto: Washington Takeuchi)
A fábrica antes da demolição. (Foto: Washington Takeuchi)
Matte Leão após demolição. (Foto: Gazeta do Povo)
Matte Leão sendo demolida. (Foto: Gazeta do Povo)
Demolição da Matte leão. (Foto: Washington Takeuchi)
Demolição da Matte leão. (Foto: Washington Takeuchi)