LIVRO: Um Novo Olhar pelos Caminhos de Peabiru

Hoje estive presente no lançamento do livro Um Novo Olhar pelos Caminhos de Peabiru, da minha amiga Gessiane Pereira. O lançamento e noite de autógrafos foi em frente a Casa da Cultura de Peabiru e contou com a presença de um bom público. O livro é um coletânea de fotos da autora e poesias de alguns moradores da cidade de Peabiru.

V encontro da Família Caminhos de Peabiru

Domingo de sol forte, aconteceu na cidade de Peabiru o, V Encontro da Família Caminhos de Peabiru. Foi a segunda vez que participei de tal encontro, eu que sou meio que agregado da família. O encontro foi animado, até o Prefeito de Peabiru participou. Foi um dia de comilança, confraternização, risadas e piscina.

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Uma irlandesa no Peabiru (Parte II)

2º Dia – 26/09/2012

Fui acordado às 05h30min pela Marilene.  A chuva tinha parado e o sol despontava no horizonte, mas fazia frio e ventava muito, um vento gelado que chegava a “doer”. Foi difícil sair de dentro da barraca e ainda mais difícil desmontar a barraca e guardar tudo na mochila. Enquanto o pessoal tomava café da manhã, eu que não costumo tomar café da manhã aproveitei para arrumar minhas coisas lentamente. A câmera da Bebhinn tinha secado por completo e voltado a funcionar, sinal de que fiz um ótimo conserto.

Pouco antes das 7h00min nos despedimos dos donos da casa, que tinham nos recepcionado muito bem. Tiramos uma foto com eles e guardamos nossas coisas na carroceria da caminhonete. Por culpa do frio e da bateria meio baleada, a caminhonete não pegou e foi preciso empurrar. Por sorte a caminhonete estava estacionada num local alto e após ter sido empurrada um pouco ela embalou e a Marilene conseguiu fazê-la dar partida, mesmo tendo dificuldade em conseguir dar o tranco de ré. Todos embarcados e partimos rumo à cidade de Corumbataí do Sul, pois tinha um pneu murcho que precisava ser calibrado.

Foi a primeira vez que estive em Corumbataí do Sul, uma cidade pequena e simpática. Após pedir informações encontramos uma borracharia, que ainda estava fechada, pois era muito cedo. Por sorte o dono da borracharia era também dono de uma padaria que ficava ao lado e estava aberta. Enquanto enchiam os pneus da caminhonete eu fui “guiado” para dentro da padaria graças ao delicioso cheiro de pão fresquinho. Não resisti e comprei alguns pães de queijo quentinhos, que ajudaram a combater o frio. O vento estava congelante e logo voltei para o interior da caminhonete. Não demorou muito e pegamos a estrada rumo à cidade de Fênix.

Percorremos algumas estradas de terra e chegamos a um local isolado, onde além de plantações, gado e alguma mata, não existia mais nada. Ficamos um bom tempo sem avistar casas ou pessoas. Teve uma parte da estrada que era ruim e cheia de buracos e a Marilene teve que mostrar suas habilidades de motorista. Fora um ou outro buraco em que ela passava rápido, até que ela se mostrou boa motorista. Teve um momento em que uma vaca atravessou a estrada e meio que empacou, mas logo o dono apareceu e tirou o animal do caminho. E alguns quilômetros depois foi a vez de um cavalo aparecer na estrada e assustado correr um bom tempo em frente à caminhonete. Ele não sabe o perigo que correu!!!

Logo na entrada de Fênix resolvemos fazer um desvio e visitar uma igreja que fica no alto de um morro. Já visitei tal igreja anos atrás e a mesma estava abandonada e deteriorada. Existem algumas duvidas sobre a origem e ano de construção de tal igreja. Já ouvi relatos infundados de que ela era centenária, outros de que ela tinha sido construída pelos jesuítas no século XVII. A verdade é que tal igreja não é tão velha assim e parece que foi construída no final dos anos sessenta, início dos anos setenta do século passado. Ou seja, ela não deve ter mais de cinquenta anos. Ao chegar à igreja vi que a mesma estava sendo reformada. Uma igreja daquelas deveria é ser restaurada, mas pelo que vi ninguém se preocupou com qualquer tipo de restauração.  O que estão fazendo é um reforma que mais parece uma reconstrução da igreja, rebocando com cimento todas as paredes e já fizeram um novo piso de cimento, bem como trocaram o telhado. Quando visitei essa igreja anos antes, o piso tinha sido destruído e possuía muitos buracos, sinal de que pessoas sem noção e mal informadas tinham escavado o piso da igreja em busca do lendário tesouro perdido dos jesuítas. Se tais pessoas soubessem que a igreja não foi construída pelos jesuítas e que ela não é tão antiga, talvez eles não tivessem perdido tempo e principalmente destruído parte de uma igreja, um local sagrado que deveria ser respeitado. Não demoramos muito na igreja, pois a mesma não desperta mais nenhum tipo de interesse para turistas.

Atravessámos a cidade de Fênix e fomos até o Parque Estadual de Vila Rica do Espirito Santo. No parque existe uma grande reserva florestal nativa e as ruínas da redução jesuíta de Vila Rica. O parque é bonito, mas está precisando de algumas reformas. Parece que o governo do Estado não tem se preocupado com tal patrimônio histórico e o dinheiro que envia para o parque mal da para sua conservação. Outro problema do parque é que as escavações que foram iniciadas na região onde ficava a antiga redução de Vila Rica, estão abandonadas há muito tempo por falta de dinheiro. Visitamos o pequeno museu que existe na recepção do parque e depois fomos caminhar por seu interior. Seguimos por uma antiga estrada que atravessa o parque e chega até a margem do rio Ivaí. No passado existiu uma balsa na margem do rio, a qual foi desativada depois que o local foi transformado em parque estadual, bem como a estrada também foi desativada. Pelo caminho fomos observando a mata e avistamos algumas árvores centenárias, inclusive algumas figueiras enormes. Chegando ao final da estrada tiramos algumas fotos em frente ao rio Ivaí, descansamos um pouco e fizemos o caminho de volta. A antiga vila jesuíta ficava nesse local, mas não é possível visualizar nada. As ruínas existentes ficam no meio do mato e como as construções eram de pau a pique, é preciso um trabalho de escavação feito por arqueólogos para que se possa avistar alguma coisa. E não estávamos autorizados a visitar as ruínas ou mexer em algo que avistássemos, então não saímos da estrada.

Antes de ir embora do parque, resolvemos seguir por uma trilha estreita no meio da mata e ir até um lago que foi construído nos anos cinquenta. O local é bonito e possui uma área de repouso com bancos e mesas. Ao chegar ao lago aconteceu uma cena engraçada, quando a Karina se deparou com um lagarto e deu um grito tão alto que o bichinho deve estar correndo até agora mata adentro. Foi difícil saber quem se assustou mais com tal encontro, se a Karina ou o pobre lagarto! E como a Karina num passado recente matou uma aranha enorme com um grito, esse lagarto deve se dar por satisfeito por ainda estar vivo. Descansamos um pouco no lago e logo voltamos à trilha e retornamos a recepção do parque. Não demoramos muito e partimos dali rumo à Fênix.

Fizemos uma rápida parada no centro de Fênix, em frente à catedral. Na fachada da igreja existe uma bela pintura, que mostra os jesuítas batizando os índios da região num rio. Do outro lado da rua existe um monumento de gosto duvidoso, que mostra uma ave (Fênix) no alto de um pedestal e no chão algumas bolas que parecem ser ovos. Achei o monumento curioso, mas não bonito. Após tirarmos algumas fotos da igreja e do monumento em frente, embarcamos na caminhonete e saímos da cidade. Seguimos alguns quilômetros por uma estrada asfaltada, até entramos numa estrada de terra e seguir até uma antiga fazenda de café, que atualmente é um hotel fazenda.

O Hotel Fazenda Água Azul (http://www.aguaazul.com.br/), funciona em uma antiga fazenda de café. As antigas casas da colônia onde moravam os trabalhadores foram transformadas em quartos e suítes para receber os hóspedes. A fazenda possui uma enorme área de mata nativa e é possível percorrer parte do interior da mata através de algumas trilhas. Na fazenda existe também um museu que guarda muitos objetos da época que a fazenda plantava somente café e muitos outros objetos que foram trazidos de viagens feitas por membros da família dona da fazenda. O museu é muito bem organizado e seu acervo bastante interessante. Fomos acompanhados numa rápida visita pelo hotel fazenda e percorremos uma das trilhas curtas do lugar. Em seguida fomos almoçar no restaurante do hotel fazenda. A comida estava muito tão boa que acabei comendo demais. Após o almoço ficamos em uma varanda conversando com os donos do hotel fazenda e ouvindo histórias do local.

Á tarde, visitamos o museu, numa visita guiada. Depois fomos ver os novos chalés que estão sendo construídos em outra área da fazenda. Por último percorremos uma trilha pelo meio da mata e passamos por lugares muito bonitos e preservados. Dois dias antes tinha sido avistado nos arredores um casal de onça parda com um filhote. Isso mostra como a mata em torno da fazenda é preservada. Em 1967 o sueco Johan Gabriel Berg von Linde, patriarca da família dona do hotel fazenda, comprou tais terras para cultivar café e decidiu preservar parte da mata, deixando a mesma intacta e proibindo a caça e a pesca no local. Na época ele foi taxado de insano, pois a prática vigente era derrubar toda a mata existente para plantar café e outros tipos de cultura. Naquela época não existia nenhuma preocupação com a ecologia e com a preservação de mata nativa e animais.  O senhor von Linde era um visionário e graças a sua consciência em preservar o meio ambiente e parte da mata nativa de suas terras, hoje é possível admirar e visitar a reserva florestal existente nas terras da família von Linden. Após terminar de percorrer a trilha existente no meio da mata, descansamos um pouco e fomos embora da Fazenda Água Azul.

Marilene, Wagner e Bebhinn seguiram a pé pelos cerca de doze quilômetros até uma outra fazenda, onde pernoitaríamos. Eu e a Karina seguimos na caminhonete. Eu bem que gostaria de ter feito o trajeto final caminhando, mas meu pé machucado tinha inchado bastante e passei a sentir muita dor. Seguimos direto até a fazenda e quando chegamos a Karina ficou conversando com a Dona Penha e eu fiquei dormindo na caminhonete. Eram quase 19h00min quando a Karina foi me chamar para irmos atrás de nossos amigos caminhantes. Tínhamos combinado com a Marilene que se eles não chagassem à fazenda até escurecer, era para irmos buscá-los na estrada. Nem chegamos a sair da fazenda e encontramos o pessoal, então demos meio volta e retornamos à casa da Dona Penha e do Seu Manoel. Fiquei um tempo conversando com o Seu Manoel, que me contou sobre como era a fazenda trinta e poucos anos antes, quando ele começou a trabalhar ali. Naquela época existiam cerca de cinquenta famílias trabalhando e morando nas terras da fazenda. Atualmente existem apenas seis famílias. Isso comprova como foi grande o êxodo agrícola que ocorreu no Paraná nos anos oitenta e que levou muitas famílias a deixarem o campo e irem morar na cidade.

Era para dormirmos na fazenda e percorrer mais um pedaço de estrada na manhã seguinte, mas a Bebhinn mudou seus planos. Ela ficou sabendo sobre inscrições em pedras que existem na região por onde passava o Caminho de Peabiru na cidade de Pitanga e resolveu ir até Pitanga no dia seguinte. Então resolvemos não mais pernoitar na fazenda e regressamos para Campo Mourão após o jantar. Mesmo com nosso “passeio” encurtado, valeu a pena os dois dias que passamos percorrendo trechos por onde passava o lendário Caminho de Peabiru. Conhecemos lugares bonitos, pessoas legais e fizemos novos amigos.

Marilene, Luceni, Wagner, Nesão, Bebhinn, Karina e Vander.

Pegando no tranco.

Igrejinha sendo reformada próximo à Fênix.

Museu do Parque de Vila Rica.

Maquete da antiga redução jesuíta de Vila Rica.

Caminhando pelo interior do Parque Estadual de Vila Rica.

Às margens do Rio Ivaí, no interior do Parque de Vila Rica.

Lago no interior do Parque de Vila Rica.

Catedral de Fênix e a bela pintura em sua fachada.

Monumento de gosto duvidoso.

Um dos chalés do Hotel Fazenda Água Azul.

Museu do Hotel Fazenda Água Azul.

No Hotel Fazenda Água Azul.

Descanso após trilha no interior da Fazenda Água Azul.

Eu e o neto da Dona Penha e Seu Manoel.

Uma irlandesa no Peabiru (Parte I)

Na semana que passou uma irlandesa esteve em Campo Mourão com a única finalidade de visitar alguns locais na região, por onde passava o histórico Caminho de Peabiru. Esse caminho ligava o litoral ao interior do continente e era utilizado pelos indígenas muito antes dos europeus chegarem ao Brasil. Depois do descobrimento ele foi utilizado pelos europeus para desbravar o interior da região sul do Brasil. Um ramal do Caminho de Peabiru passava pela região de Campo Mourão, onde próximo também existiu uma redução jesuíta.

A irlandesa Bebhinn Ramsay, que vive há alguns anos em Florianópolis é uma estudiosa do Caminho de Peabiru e veio conhecer um pouco do caminho que por aqui passava. Quem organizou a visita da irlandesa foi minha amiga Marilene, que é uma grande conhecedora e estudiosa do Caminho de Peabiru. Também fizeram parte do pequeno grupo que acompanhou a irlandesa, minha amiga de caminhadas Karina e o Wagner. Foram dois dias interessantes, caminhando, conhecendo pessoas e locais da região que eu não conhecia.

1º Dia – 25/09/2012

Partimos de Campo Mourão bem cedo numa manhã chuvosa. Nossa primeira parada foi na região conhecida como Barreiro das Frutas, onde em uma pequena reserva florestal existe uma trilha. No momento em que paramos em tal lugar chovia forte e preferi ficar dentro da caminhonete, pois ainda me recuperava de um problema no pé e caminhar no barro exige um esforço pelo qual eu não queria passar, para não forçar meu pé machucado. A Karina ficou comigo na caminhonete e ficamos conversando enquanto esperávamos nossos amigos. De ruim foi que estávamos estacionados ao lado de uma árvore conhecida como Pau D’alho e que exala um cheiro horrível de alho. Nossos amigos não demoraram muito a retornar e logo seguimos viagem.

Mesmo com chuva e barro a Marilene contrariou minha expectativa e se mostrou uma ótima motorista. Logo chegamos à cachoeira do Boi Cotó e a chuva deu uma trégua. Deixamos a caminhonete guardada na propriedade do seu Antonio Gancebo e seguimos a pé. Foi um pouco complicado caminhar no barro da estrada, pois a terra vermelha da região costuma grudar no calçado quando se transforma em barro. Percorremos um trecho plano e após passar por uma ponte e alguns trechos de mata, começamos a subir um morro. A Karina foi quem mais sofreu com a caminhada, pois estava um pouco fora de forma. E nossa nova amiga irlandesa se mostrou em total forma, pois em nenhum momento se cansava de caminhar. Subimos o morro onde no alto se acredita que no passado existia um cemitério indígena, pois no local foram encontrados alguns vestígios anos atrás. A vista do alto do morro era muito bonita e se podia enxergar a quilômetros de distância. Na volta encontramos um morador da região, que parou conversar conosco e contou algumas coisas sobre o local e inclusive nos mostrou ao longe uma antiga toca de onça. Até início dos anos setenta aquela região era de mata fechada e ali existiam muitos animais, inclusive onças. Logo deixamos o morro para trás e voltamos a caminhar pela estrada. Um ônibus da Prefeitura de Corumbataí do Sul passou por nós e ofereceu carona. Eu, Marilene e Karina aceitamos a carona. Bebhinn e Wagner seguiram caminhando. O ônibus nos deixou numa encruzilhada da estrada, ao lado de um marco do Caminho de Peabiru. A Marilene foi buscar a caminhonete e eu e Karina subimos um pequeno morro ao lado da estrada, onde no alto existe uma capela e uma imagem de São Tomé. No alto do morro eu e Karina descansamos um pouco, tiramos fotos e ficamos conversando. Logo chegaram Bebhinn e Wagner e descemos até a estrada para esperar a Marilene.

Não demorou muito e a Marilene chegou. Embarcamos na caminhonete e seguimos pela estrada rumo à fazenda onde almoçaríamos. No caminho paramos para ver uma árvore que tinha sido destruída por um raio quatro dias antes. A imagem era um pouco assustadora. Logo chegamos à casa do casal Nesão e Luceni, onde um saboroso almoço nos aguardava. Ali fiquei conhecendo a Vera, uma cachorra preta muito simpática e que tinha brigado com um Quati umas semanas antes e acabou levando a pior. Ela teve um olho furado e levou muitos cortes pelo corpo, sendo que muitas cicatrizes eram visíveis e ela andava toda torta. De qualquer forma a cachorra era simpática e foi com minha cara. Após o almoço me deitei em uma rede na varanda e logo peguei no sono.

Fui acordado pela Marilene, me chamando para caminhar. Deu vontade de ficar na rede, pois meu pé machucado doía um pouco. Mas reuni forças e segui meu grupo de amigos na caminhada da tarde. O tempo estava fechado e anunciava chuva. Na caminhada fomos seguidos pela Vera e por outro cachorro. A vera seguia caminhando ao nosso lado ou no meio de nós. Já o outro cachorro era mais tímido e nos seguida a uma curta distância. Após alguns quilômetros o seu Nezão passou por nós de moto e a Vera seguiu seu dono. O outro cachorro nos seguiu por mais um tempo, até que passamos por uma casa de onde saíram três cachorros e deram um carreirão nele. Fiquei de longe torcendo para que nosso pequeno amigo não fosse alcançado pelos três ferozes cachorros.

Chegamos num local onde tivemos que passar por duas cercas de arame farpado e entrar na mata. Logo chegamos até uma pedra, a qual possui marcas circulares. Tal pedra foi encontrada há alguns anos, soterrada no meio do mato. Ninguém sabe a origem de tais marcas na pedra, mas acredita-se que ela esteja diretamente relacionada ao Caminho de Peabiru e aos caminhantes que por ali passaram. Outras pedras com marcas e até espécies de mapas já foram encontradas próximas ao local por onde passava o Caminho de Peabiru. A Bebhinn ficou encantada com tal pedra. Ficamos ao lado da pedra conversando e chegamos à conclusão de que tal pedra ficava em pé, pois uma de suas extremidades é achatada. E outra conclusão foi de que alguém tinha tirado a pedra de seu lugar, para cavar embaixo, pois ela estava caída dentro de um buraco. A lenda do tesouro perdido dos jesuítas é bastante conhecida e muita gente já andou cavando locais próximos ao Caminho de Peabiru em busca de tal tesouro.

Deixamos a pedra para trás e fizemos o caminho de volta até a casa do seu Nezão. Quase chegando a casa começou a chover, mas não chegamos a nos molhar. A caminhada do dia estava encerrada e agora era descansar e se preparar para o dia seguinte. A dona Luceni nos esperava com um delicioso café com pãezinhos caseiros feitos na hora, que estavam um delicia. Após o café fui montar minha barraca na varanda. O Wagner resolveu dormir numa rede na varanda e as meninas iam dormir no interior da casa, em camas confortáveis. Estava faltando energia elétrica na casa e mesmo assim a Marilene resolveu ir tomar banho, frio. Logo que ela saiu do banho a energia voltou e todos os demais puderam tomar banho quente. Ficamos conversando na varanda e eu tentei consertar a câmera da Bebhinn, que tinha sido molhada pela chuva. Utilizei o secador de cabelos da dona Luceni para tentar secar o interior da câmera e a deixei pegando vento a noite toda para tentar secá-la por completo. Logo foi servida a janta e depois enquanto o pessoal foi ver a novela eu preferi me recolher ao interior de minha barraca e dormir, pois estava cansado e a noite fria e chuvosa era convidativa ao sono. Logo dormi e só fui acordar algumas horas depois com o barulho do vento. Ventava muito forte e agradeci pela barraca não estar armada ao ar livre, pois daí sim seria complicado dormir com vento tão forte.

Filhotes na fazenda do Sr. Antonio.

Cachoeira do Boi Cotó.

Marco do Caminho de Peabiru.

Atravessando ponte.

Marilene e Karina.

Local provável do antigo cemitério indígena.

Bebhinn, Wagner, Marilene, Karina e Vander.

Morador local que encontramos pelo caminho.

Capela de São Tomé.

Marco das quatro fronteiras.

Árvore destruída por um raio.

Amoras ao lado da estrada.

Comendo amoras.

Pedra com marcas circulares.

Bebhinn admirando a pedra.

A simpática Vera.

Minha barraca na varanda.

Caminho de Peabiru – 2011

No sábado dia 16/04, aconteceu a 2ª PEREGRINAÇÃO NA ROTA SIMBÓLICA E TURÍSTICA DOS CAMINHOS DE PEABIRU NA COMCAM. Dessa vez foi uma caminhada de apenas um dia, onde percorremos cerca de dezesseis quilômetros a pé e mais alguns quilômetros de ônibus. Passamos por um trecho já conhecido, o mesmo que foi percorrido em outubro último. Saímos da periferia de Campo Mourão, almoçamos na Comunidade do Barreiro das Frutas e de lá fomos de ônibus até a Comunidade Boa Esperança. Então caminhamos até a cachoeira do Boi Cotó.

Quase que não participo dessa peregrinação, pois estava gripado e com fortes dores em minhas costas e perna, por culpa da hérnia de disco. Mas como participei de forma consecutiva das últimas cinco peregrinações, fiz um esforço para participar dessa. Encontrei o pessoal logo cedo, na Associação da Coopermibra, que fica perto de casa. Reencontrei muitos amigos de outras peregrinações, o que é sempre agradável. Também tinha um pessoal novo, do curso de Turismo da Fecilcam.

A caminhada iniciou na frente da Associação do Coopermibra e seguimos por estrada de terra, passando ao lado de uma mata e por terra recém arada. Depois andamos pela margem de uma estrada asfaltada, no Anel Viário da cidade, local por onde costumo andar de bike. Saindo da margem da estrada seguimos mais alguns quilômetros por uma estrada de chão, até chegar a Comunidade do Barreiro das Frutas, onde seria servido o almoço. Para mim não foi muito fácil caminhar, pois o mal estar provocado pela gripe me deixou muito cansado. Antes do almoço teve uma palestra com um casal de índios guarani: Mbei Mbei Tupã e Jaxy. Os temas da palestra eram TERRITORIALIDADES INDÍGENA GUARANI e EDUCAÇÃO INDÍGENA. Eu estava tão mal que abdiquei das palestras, e fiquei deitado atrás do pessoal que estava sentado prestando atenção nos palestrantes. Sei que dormi tão profundamente que cheguei a sonhar e depois me contaram que ronquei. Sei que não foi legal ter dormido, que perdi uma boa palestra, mas ou fazia isso, ou então não teria forças para caminhar durante a tarde.

Depois da palestra e do almoço, descansamos um pouco e embarcamos no ônibus da Fecilcam. Então seguimos até a Comunidade Boa Esperança. Desembarcamos, tiramos uma foto com todo o grupo e voltamos a caminhar. Nesse trecho o sol logo foi embora e acabou não sendo muito cansativo a caminhada. Passamos por dentro de uma reserva ecológica. Foi bem legal esse trecho, caminhar por dentro do mato é sempre interessante. Pouco depois das 16h00min chegamos à cachoeira do Boi Cotó. Mesmo gripado, não resisti e entrei na água. Senti frio e a noite mal conseguia falar de tão rouco que fiquei, mas mesmo assim valeu a pena entrar na água. Após o banho de cachoeira teve janta, onde foi servido “porco no tacho”. Jantar às 17h30min é muito cedo para mim e não consegui comer muito. Depois do jantar teve mais uma foto em grupo e retornamos para Campo Mourão, aonde chegamos quando já estava escuro.

Reencontrando amigos.

Caminhando sob sol.
Hora do almoço.
Comunidade Boa Esperança.
Santuário Ecológico.
Caminhando na mata.
Barro e mais barro.
Último quilômetro da caminhada.
Cachoeira do Boi Cotó.
Grupo reunido no Boi Cotó.

Algumas fotos curiosas da Peregrinação pelo Caminho de Peabiru 2010

Abaixo seguem algumas fotos curiosas dessa última peregrinação pelo Caminho de Peabiru.

CLIQUE NAS FOTOS PARA AMPLIAR

Pequeno índio fumando cachimbo.

Tênis da Andrea abrindo o bico.

Pierin e sua boca melada.

Andrea e seus pés sujos.

Andrea e suas pernas queimadas.

Curativo para seguir caminhando.

No meio do caminho tinha um ninho...

Falecimento de um tênis.

Cumprimentando o Santo.

Sombra e água fresca.

Cachorro tomando banho.

Soninho...

Sonão...

1ª Peregrinação da Rota Simbólica e Autônoma do Caminho de Peabiru (Parte II)

Acordamos ás 06h30min. Fazia um pouco de frio e não foi fácil sair da barraca e levantar acampamento para seguir a caminhada. Se no dia anterior tínhamos feito praticamente metade do caminho num dia, dessa vez teríamos que fazer a outra metade em apenas meio dia de caminhada. Meus pés estavam um bagaço, cheio de bolhas e fiquei com receio de não conseguir terminar a caminhada. Resolvi deixar o tênis de caminhada de lado e caminhar nesse dia com um tênis de nylon. A Andrea estava toda ardida e suas pernas muito queimadas. Mesmo assim estava animada e decidiu usar uma calça para não aumentar as queimaduras. Segundo ela, ia caminhar até onde ela ou seu tênis aguentassem. Eu, mesmo com os pés cheios de bolhas, estava decidido a ir até o fim.

Tomamos café e enquanto o pessoal fazia alongamento fiquei fazendo curativos nos meus pés. Pouco antes das 8h00min iniciamos a caminhada, sob sol mas com um vento frio que prometia ser quente conforme o dia fosse passando. Fui caminhando junto com a Andrea e logo nos alcançou o Prof. José Pochapski, atual Vereador e ex-Prefeito de Campo Mourão. Conversamos um pouco e quando contei a ele que era neto da Dona Polônia, a conversa ficou ainda mais animada. Ele e minha avó nasceram na mesma colônia de poloneses, perto da cidade de Prudentópolis – Pr. A manhã foi avançando e seguíamos nossa caminhada por uma paisagem muito bonita. Começamos a descer por uma estrada pavimentada, de asfalto ruim, mas era melhor que caminhar nas pedras soltas. A tal descida não tinha fim e isso era meio assustador, pois sempre após uma longa descida vem uma subida maior ainda. A estrada terminava numa ponte de madeira sobre o Rio da Várzea e após o rio a subida não tinha fim. O sol estava ficando cada vez mais quente e as pernas mais pesadas, mas seguimos firmes em frente, hora conversando com um caminhante, hora com outro. Os carros de apoio sempre passando por nós com água gelada e frutas. Alguns caminhantes que não aguentava mais caminhar iam pegando carona com os carros de apoio. Outros caminhantes pegavam carona nos trechos de subida e caminhavam nos trechos mais fáceis. Na metade da grande subida após o rio, o tênis da Andrea abriu o bico de vez e ela teve que desistir da caminhada e pegou carona num carro de apoio. Eu segui em frente sozinho e aumentei o ritmo. Caminhei sozinho por quase uma hora até que encontrei a Zilma e a Carmen, que tinham acabado de descer do carro de apoio e seguiam mais um trecho caminhando. Conversamos um pouco, paramos tirar fotos e logo chegamos a Comunidade Boa Esperança. Há muitos anos esse lugar se chamava Fazenda Boa Esperança e tive uma namorada no colégio que morava nesse local. Estive ali uma vez numa festa e após 23 anos estava de volta e pude constatar que quase nada mudou. A Carmen desistiu de caminhar e foi pegar carona. Eu e Zilma seguimos caminhando juntos e conversando. Ela é uma grande amiga e companheira de outras caminhadas. Meus pés doíam cada vez mais e tive que mudar a forma de pisar, evitando forçar os dedos dos pés.

A Zilma logo desistiu e pegou carona num carro de apoio. Eu segui sozinho e sentia que minha meta de terminar a peregrinação caminhando sem nunca pegar carona ou desistir, estava cada vez mais próxima. Terminar a peregrinação foi à primeira meta que coloquei ainda no inicio de abril, quando mal podia caminhar em razão da hérnia de disco. Após consulta com um especialista de coluna que não recomendou cirurgia para meu caso, fui fazer tratamento com acupuntura e eletrochoques. A médica que me atendeu disse que eu levaria uns seis meses para ficar bom. Isso se me dedicasse e seguisse a risca o tratamento. Quando ela falou seis meses, mentalmente fiz as contas e vi que faltavam seis meses para a próxima peregrinação pelo Caminho de Peabiru. Então fiz uma promessa para mim mesmo, de que ia me dedicar ao maximo ao tratamento, aguentar as dores e que em outubro ia conseguir caminhar todo o trecho do Caminho de Peabiru. Os meses seguintes a essa promessa foram muito difíceis, senti muita dor, chorei muitas vezes e em muitos momentos pensei que nunca ia ficar curado. Várias vezes pensei em desistir de tudo, mas com o apoio da família, de amigos e principalmente graças a minha fé em Deus, consegui forças para seguir em frente e sofrer todas as dores e chorar todas ás lágrimas que foram necessárias para eu me curar. Enquanto caminhava os últimos quilômetros sob um sol escaldante, fui lembrando de cada momento dos últimos seis meses e de todo o sofrimento que passei. Somente eu e Deus sabemos o que passei e o quanto foi difícil superar, mas consegui e ali estava quase terminando a meta estipulada seis meses antes. Era a primeira meta de muitas que estipulei, visando encontrar forças para não desistir e seguir a risca o tratamento. No trecho final comecei a orar agradecendo a Deus, pois mais uma vez estávamos eu e Ele sozinhos. Ele me dando forças pra não desistir e seguir em frente independente das dores terríveis que sentia nos pés por culpa das várias bolhas. Logo ás lagrimas começaram a rolar e depois de vários meses me senti curado das dores físicas e psicológicas que me atormentaram nos últimos meses. Após muitos meses, pela primeira vez eu me sentia plenamente feliz e via que a vida vale a pena, independente dos momentos ruins e complicados que muitas vezes passamos, e que desistir da vida não é solução. Percebi numa estrada empoeirada, no meio do nada, sob um sol escaldante do meio dia, que a escolha que fiz meses antes, de viver e seguir em frente, foi a escolha correta e que daqui pra frente depois de tudo que passei, sofri, chorei e principalmente aprendi, nada e ninguém vai me segurar, vai me impedir de realizar meus sonhos, por mais tolos que possam parecer para muitos. Nesses últimos meses por muitas vezes Deus se mostrou para mim e me ajudou a superar as dificuldades e seguir em frente. Posso dizer que renasci nos últimos meses, que agora sou uma pessoa melhor, mais completa, ainda cheia de defeitos, mas uma pessoas melhor. E foi entre lágrimas, orações, dores, gratidão e alegria, que após virar uma curva vi o final da caminhada. Foram quase 50 km de caminhada em um dia e meio. Para quem alguns meses antes mal conseguia caminhar três metros da cama até o banheiro, caminhar 50 km era uma das vitórias mais importantes de minha vida. É difícil descrever o que senti naquele momento. Acredito não existir palavras para expressar a alegria que invadiu meu coração naquele instante em que cheguei ao fim da caminhada e cumpri a primeira meta que tracei meses antes, em busca de minha cura física e mental. Foi traçar metas, planejar a realização de tais metas e me dedicar a ficar curado para realizar essas metas, o que me deu forças para sair do mais completo abismo de tristeza, culpa e incerteza e dar a volta por cima, me reencontrar novamente na vida e ser feliz. Essa peregrinação será inesquecível para mim, pois ela foi cheia de significados.

A caminhada terminou na Comunidade do Boi Cotó. Muita gente já estava lá esperando o almoço ou então na bela cachoeira ao lado. Encontrei a Andrea e fomos caminhar por dentro da água do rio. Eu estava arrebentado fisicamente, com os pés cheio de bolhas, com a meia tendo marcas de sangue, mas nenhuma dor poderia tirar de mim a sensação de dever cumprido e a felicidade de ter chegado ao fim. Logo foi servido o almoço, um delicioso “Porco no Tacho”, que dessa vez comi sem medo de ficar empanturrado. Depois do almoço fomos descansar debaixo de umas árvores e no meio da tarde embarcamos no ônibus que nos levaria embora. A viagem de retorno foi tranqüila e silenciosa, pois todos estavam exaustos. Pelo caminho de volta pude ver o quanto era longo e difícil o trecho que tinha caminhado naquela manhã. Paramos no Barreiro das Frutas pegar nossas mochilas e fomos para Peabiru. Descemos do ônibus bem no centro da cidade, na praça da Matriz e foi ali mesmo que aconteceram as despedidas. A Andrea gostou do programa de índio. Fez muitos amigos e além das pernas queimadas pelo sol, do tênis arrebentado, das bolhas nos pés, das picadas de butuca, ela levou para São Paulo um casal de carrapatos. Isso ela ia descobrir alguns dias depois quando os bichinhos começaram a coçar. O irônico disso é que nasci na região, sempre vivi em matos e nunca peguei carrapato algum. Ela era a primeira vez que visitava o interior do Paraná e já foi vitima de carrapatos. Talvez o sangue azul dela seja mais saboroso que meu sangue de plebeu…

PARA AMPLIAR CLIQUE NAS IMAGENS

Descida sem fim.

Estrada sem fim…

Sol escaldante.

Vander, Zilma e Carmen.

Comunidade Boa Esperança.

Siga a seta pra não se perder.

Cachoeira do Boi Cotó.

Hora do almoço.

Prof. Pochapski, Andrea e Vander.

Descanso para pés cansados.

Parte do trecho que caminhámos.

1ª Peregrinação da Rota Simbólica e Autônoma do Caminho de Peabiru (Parte I)

Antecedendo a 1ª Peregrinação da Rota Simbólica e Autônoma do Caminho de Peabiru, já haviam sido realizadas 10 peregrinações para mapeamento e estudos da rota, paralelas aos trabalhos de pesquisas nos últimos seis anos. Dessas 10, participei de quatro e estava ali para minha quinta participação consecutiva. O evento começou na sexta-feira a noite na Câmera de Vereadores da cidade de Peabiru. Autoridades locais e da cidade vizinha de Campo Mourão estavam presentes, bem como peregrinos de várias cidades e também índios da aldeia de Cornélio Procópio e Laranjinhas (norte do Paraná, próximo a divisa com o estado de São Paulo). Pude rever amigos de outras caminhadas, o que é sempre muito bom e divertido. Após o Simpósio que teve apresentação de danças e canções indígenas, foi servido um coquetel e em seguida todos se deslocaram para uma escola ao lado da Catedral para pernoitar. Dessa vez estava acompanhado pela Andrea, minha namorada. Ela uma paulistana da Zona Sul, de sangue azul, não estava nada acostumada com programas de índio (literalmente nesse caso) iguais a esse e que eu adoro. Mas chegou animada para o evento e mal sabia das roubadas que enfrentaria.

Na manhã do sábado após o café da manhã e uma sessão de alongamento e aquecimento, iniciou a caminhada/peregrinação. Após caminharmos pelo centro da cidade de Peabiru, fomos seguindo em direção a periferia da cidade e não demorou muito para chegarmos numa plantação de trigo recém colhida e uma estrada de terra. Depois de uma pequena descida iniciou uma grande subida que serviu para por a prova o preparo físico dos caminhantes. Quase no final dessa subida passamos por um local onde no passado existiu um famoso puteiro na região, conhecido como “Pinheirinho”. Esse local era formado por várias casas onde não faltavam mulheres e bebida e ás vezes tiros e facadas. Próximo ao local foi colocado um dos muitos marcos do Caminho de Peabiru e nesse marco está escrito que ali foi “ponto de encontro de viajantes em busca de diversão”. Quem não conhecia o local ou a história do mesmo, acabou não entendendo o tipo de “diversão” que o pessoal procurava ali. A caminhada seguiu e logo tivemos que atravessar um pedaço de mato e passar por uma pinguela. Muitos dos caminhantes nunca tinham visto uma pinguela e no caso da Andrea ela nem sabia o que isso significava. Como era uma pinguela dupla a travessia foi tranqüila. Mais um pouco caminhando pelo meio do mato e logo saímos numa estradinha e em seguida passamos por uma Olaria abandonada. Esse trecho que estávamos percorrendo é da antiga estrada que ligava as cidades de Peabiru e Campo Mourão. Hoje existe uma moderna estrada asfaltada bem próximo de onde estávamos e vez ou outra víamos os carros passando na estrada. Alguns índios seguiram caminhando próximos a nós, mas não foi possível um contato mais aprofundado, pois nas tentativas que fizemos os índios se mostraram fechados e de poucos amigos. Então brancos e índios seguiram caminhando lado a lado, mas sem conversarem.

Após uns dez quilômetros de caminhada saímos na estrada asfaltada e fomos seguindo ao lado da pista até chegar num bairro de Campo Mourão, onde existe uma capela. Nesse local por volta de 1903 foi construída uma pequena capela de pedras, pelos viajantes que por ali passavam. O pessoal viajava milhares de quilômetros no meio do mato, fugindo de onça e quando ali chegava parava para agradecer por terem sobrevivido á viagem. Nesse local foi colocada uma cruz de madeira que anos mais tarde se queimou com o fogo de velas que eram depositadas ali. Foi colocada uma nova cruz que anos depois foi parcialmente queimada também por velas e que ainda hoje existe ali na nova capela que foi construída há poucos anos no mesmo local da anterior. Após uma breve parada na capela do Jardim Santa Cruz, seguimos a pé por dentro da cidade de Campo Mourão. No caminho passamos pelo Parque de Exposições da cidade, onde acontece anualmente a Festa do Carneiro no Buraco. Também passamos pela Estação Ecológica do Cerrado de Campo Mourão. Ali existe uma reserva original de cerrado, a mais austral do mundo e que ano passado foi tema de reportagem do programa Globo Repórter. Após mais um trecho de caminhada dentro da cidade chegamos ao local do almoço, uma associação de funcionários de uma empresa. O detalhe é que esse local fica bem perto da casa de meus pais. O almoço foi um farto e saboroso Arroz Carreteiro. Controlei-me para não comer muito, mas a fome era tanta que acabei exagerando. Após um breve descanso seguimos nosso caminho. O sol estava muito quente e com a barriga cheia, não era nada fácil caminhar. Mas não dava pra parar e minha meta desde o inicio era fazer todo o caminho sem parar ou pegar carona, era uma meta pessoal que eu pretendia cumprir a qualquer preço.

Após andar por estradas secundárias e próximo a uma mata, saímos numa estrada asfaltada e caminhamos um tempo a sua margem. Então entramos numa estradinha de chão e víamos a estradinha seguir longe, sem fim. O sol cada vez mais quente. Quanto mais nos afastávamos da cidade mais percebíamos que a paisagem ia mudando. Começamos a entrar numa região de serra, com muitas subidas e uma vista muito bonita. O tênis da Andrea tinha literalmente aberto o bico na parte da manhã e mesmo com o conserto que o Pierin fez com uma fita crepe, ás vezes ela tinha que parar para reforçar o remendo. Some-se a isso algumas queimaduras de sol que ela teve na parte posterior da perna, onde não passou protetor solar e a Andrea resolveu desistir naquele dia, pegando carona num dos carros de apoio. Pra quem não está acostumada a caminhar tanto e num terreno ruim e sob sol, achei que a Andrea foi bem mais longe do que eu imaginava e acredito que ela também. Continuei minha caminhada e dois quilômetros depois cheguei a Comunidade do Barreiro das Frutas, o local de nosso pernoite. Eram 16h30min e fiquei surpreso em terminar tão cedo a caminhada naquele dia A exemplo de outros anos, imaginei que a caminhada fosse terminar no inicio da noite. De qualquer forma foi bom parar ali, pois algumas bolhas no pé estavam me incomodando. Fazia vários meses que eu estava meio inativo, sem caminhar muito em razão da hérnia de disco que tive, então era natural sentir dores nas pernas e ter algumas bolhas. Mais tarde pude constatar que ás bolhas eram em quantidade bem maior do que eu supunha.

Após descansar, tomar banho e bater papo com o pessoal, chegou à hora da janta. Serviram-nos uma suculenta galinhada, além de arroz, mandioca e vários tipos de salada. Enquanto comíamos chegaram dois sanfoneiros e mais uns cantores e a cantoria começou. Eu estava exausto e não tive vontade de permanecer muito tempo ouvindo musica ou dançando. Fui com a Andrea dar uma olhada na fogueira que tinham acabado de acender e pouco depois das 21h00min fomos dormir na barraca que foi montada no campo de futebol. Lembro que de madrugada levantei para fazer xixi e fazia muito frio. Mesmo assim fiquei um tempo olhando o céu e a quantidade infinita de estrelas que eram visíveis. Daí lembrei que anos antes aquele local era cheio de onças. Então resolvi voltar pra dentro da barraca, pois vai que sobrou alguma onça perdida por ali.

PARA AMPLIAR CLIQUE NAS IMAGENS

Na sexta-feira a noite, Simpósio em Peabiru.

Marco no local do antigo puteiro.

Pelo mato.

Antiga Olaria.

Pierin consertando o tênis da Andrea.

Parada na sombra do viaduto.

Na Capela do Santa Cruz, parte da antiga cruz queimada.

Futuros “churrascos”.

Estrada, poeira e sol…

Caminhando na sombra.

Carro de apoio.

Acampamento na Comunidade do Barreiro das Frutas.

Suculenta galinhada no jantar.

Fogueira para clarear a noite.

Relatório da 10ª Peregrinação pelo Caminho de Peabiru

Por: Sinclair Pozza Casemiro – NECAPECAM

X Peregrinação no Caminho de Peabiru

 Altamira do Paraná-PR

                                                                                                                                           

Vejo a pedra que rola

Querendo ganhar o mundo

Sendo que foi feita pra ficar.

 Vejo o barro que se prende nas rodas de um móvel,

Nos pés calçados ou não do caminhante,aindo seu destino de ficar.

Não sei se sabem que estão buscando além do que podem

E do que lhes foi destinado.

Mas sei que a pedra acaba indo longe

Nas construções, nas estradas asfaltadas…

O barro se espalha e se vai…

Sou peregrina que anda

Nos quilômetros deste chão de tantas cores,

De tantas formas, cheiros e marcas,

E estou presa na sua extensão, passo a passo.

Mas, como as pedras e o barro,

Meus sonhos se vão

Construindo e edificando longe…

Se espalhando feito pó na imensidão do possível.

São aproximadamente vinte e uma horas e se inicia o X Simpósio sobre o Caminho de Peabiru na COMCAM  que acontece em Altamira do Paraná, na sua Casa da Cultura. Falam as autoridades locais, o representante da Câmara Municipal, o Prefeito Municipal, Sr. Paulo Castro Klipe, recepcionando os peregrinos, sob a coordenação do Mestre de Cerimônias Jonas de Oliveira e Silva. Fala também a Coordenadora Geral do NECAPECAM, Marilene Celant Miranda da Silva, pontuando a história do Caminho, a sua importância para o conhecimento de nossas raízes, do NECAPECAM; o escritor e ex-prefeito de Altamira do Paraná, Sr. Klein, que apresenta a trajetória da criação de Altamira do Paraná e também o Deputado Estadual César Silvestre, que está em visita ao município. Estão presentes autoridades do município, como o Coordenador Geral Ataliba Pedro dos Santos, o sub-prefeito de Altamira do Paraná quando se instalava o processo de municipalização na década de 1980. Autoridades representando as Igrejas do município, Secretária de Cultura Maura, professores, alunos, comunidade em geral também prestigiaram o evento. O vídeo sobre o Projeto Turístico do Caminho de Peabiru finaliza o Simpósio e o clima de confraternização continua, saindo agora os convidados, após o encerramento, para a ASMAP, onde é servido o prato típico do município – o carneiro recheado.

Jonas e sua equipe trabalharam dias na preparação do prato típico do município e seus esforços foram recompensados: “carneiro recheado” é, sem dúvida, uma das mais deliciosas comidas típicas que a COMCAM oferece. Após o jantar, do qual participam as autoridades presentes no Simpósio, peregrinos e convidados, tem início um descontraído “arrasta-pé” animado pela banda do Professor João Carlos Vieira de Matos.  Conversas são colocadas em dia, pelos peregrinos-cativos do Peabiru, gente amiga que tem feito das peregrinações  uma  alegre expectativa  a cada semestre, desde 2004. Há também novos peregrinos, que logo se enturmam, todos confraternizando com a comunidade que tão hospitaleiramente  recebe em Altamira do Paraná a X Peregrinação no Caminho de Peabiru.

Chega a hora de dormir. Cada morador se vai, vão-se os maravilhosos e já saudosos músicos, ficamos os peregrinos. Aqui e ali, se teima em dormir: um papinho que se alonga, uma brincadeirinha que desperta, mas logo o sono toma conta de todos, vindo a noite  encobrir, com seu  ruído manso, o cansaço do dia. Amanhã bem cedo peregrinaremos num novo trecho turístico do Caminho de Peabiru, da rota que um dia levou, entre outros jeitos e caminhos,  o povo guarani em sua busca da Terra Sem Mal. Mesmo conscientes de que se trata apenas da ressignificação do Caminho de Peabiru, da sua construção turística, que significa uma aproximação da história e não sua revisitação literal, somos levados a refletir sobre nossas raízes, sobre as culturas que, neste chão, antes de nós construíram seus mundos, viveram suas trajetórias de conquistas e de desafios. Nos anos de 1970, muito perto daqui, onde hoje é o município de Campina da Lagoa, as escavações do arqueólogo Igor Chmyz trouxeram à luz a vida dos Itararés, a quem o pesquisador atribui a construção dos caminhos de Peabiru nos anos 900. Isso nos faz pensar. Que sabemos dos outros grupos humanos que nos antecederam? As pesquisas hoje se avolumam, dos autóctones, da Província do Guairá, do período filipino, das missões jesuíticas, do êxodo guairenho, dos bandeirantes paulistas, dos conflitos de fronteira, da Guerra do Paraguai, das colonizações nacionais, paranaenses, dos intensos conflitos entre índios e não-índios, entre posseiros e grilheiros, enfim, de tanta movimentação que fez possível hoje aqui estarmos e aqui vivermos. Mas, muito ainda há o que se pesquisar. O projeto de peregrinação nos caminhos de Peabiru, entre outros objetivos, traz este objetivo, como essencial: reconhecer a vida que se descortinou antes de nós nestas paragens, aparentemente tão neutras, porém testemunhas silenciosas do processo humano de ocupação e conquistas que a humanidade teima em desenvolver incansavelmente, cada geração a seu tempo e a seu modo.

As perguntas ficam empurrando respostas que sempre vem em forma de novas perguntas. Nesse processo dinâmico de conhecimento, peregrinando e vivendo o presente, pisando nele por este chão tão velho, passo-a-passo, suando nele, sentindo seu ar, ouvindo seus sons tão variados,  encontrando gentes, flores, plantas, bichos, máquinas, prestando atenção no que cada qual quer dizer, lá vamos nós, peregrinos. Na construção ou na tentativa de construção de uma terra sem males, sim senhor.

Passa a noite. Chega a manhã clara, limpa. Um convite para caminhar. Iniciam-se os preparativos para o café, para a peregrinação. Cadê o Amani? Nosso guia espiritual permanente? Está na Rota da Fé. Pierini que, quando presente, também é guia espiritual, encaminha o momento da reflexão a cada vez que a Coordenadora Geral, Marilene, o chama. O café da manhã é indescritível pelas delícias da terra que são oferecidas em salgados, doces, sucos, pães, biscoitos, mel, iogurte… o carinho e a dedicação da comunidade altamirense completam a satisfação da mesa farta.

Não pode ser esquecida a fotografia. Em seguida, cada qual no seu ritmo, na sua intenção, segue o itinerário. A Coordenadora de Pesquisa explica: são apenas oito quilômetros de “batismo”. Ou seja: de peregrinação no caminho ressignificando o Peabiru, fazendo cumprir o objetivo do projeto de mapeamento, que é peregrinar sobre o trecho pesquisado e reconhecido. Porém, como os peregrinos gostam e merecem uma caminhada mais longa, o percurso se estenderá pelo seu retorno, ou seja, por mais  oito quilômetros e acrescentará mais quatorze até a beira do rio Piquiri em que se instala uma pousada convidativa. No final das contas, fim do dia, bem contadinho, foram contados trinta e quatro quilômetros.

Bem, saindo do ASMAP, os peregrinos seguem o ônibus de apoio, do município. No principal Hotel da cidade, mais peregrinos se juntam ao grupo. Descem, sobem, fazem curvas. O trajeto é estonteante: cercado de montes, diferentes vegetações, diferentes culturas, o percurso distrai e faz chegar rápido à balsa, seu ponto final. Uma das curvas mais interessantes é a “curva fria”. Ela é assim chamada, pois, neste ponto, percebe-se claramente a queda brusca da temperatura. Mesmo em tempos de verão, o ar é bastante fresco. No inverno, as pessoas chegam a temer a intensidade do frio na passagem pelo local. Protegidas, desafiam o ambiente, mas deixam sua marca no registro e batismo que lhe fazem como “curva fria”. Nós sentimos, como peregrinos, essa informação. Foi reconfortante passar por ela, foi como se fosse um “ar condicionado natural” no dizer do peregrino que andava à frente. Mais curvas e mais subidinhas e descidinhas, uma e outra mais forte, a passarada cantando, as lagartinhas passando sob nossos pés, em número incontável. Isso porque a região abriga projetos de sericultura e elas proliferam intensamente.

Mais à frente, a informação de que há, a cem metros da estrada, o poço d´água termal. Ali, a  PETROBRÁS, na década de oitenta, lacrou um poço de água com a temperatura de 42 graus. Beneficiado por dois grandes rios que o cruzam, o Cantu e o Piquiri, mais outros quarenta e um rios menores, por um relevo bastante peculiar e bioma riquíssimo em diversificação, o município de Altamira do Paraná guarda, como este,  tesouros ambientais ainda indecifrados e inexplorados.

Passos além, chegamos à Comunidade das águas cristalinas ou também conhecida comunidade da Igreja do Bom Pastor. As águas despontam aqui e ali, límpidas, muito puras. Aliás, Altamira é, como diz Maura, peregrina altamirense do Paraná, uma “cidade ilhada”. 

Mas a história insiste em ser lembrada na presença desta Igreja e de algumas casas que se avistam por ai. A região guarda nessas construções, ainda vestígios da intensa movimentação que  viveu antes do trinômio soja-trigo-gado e da construção da ponte sobre o rio Cantu em 1986. Nos áureos tempos do início da colonização altamirense,  o município contava com cerca de quatorze mil habitantes. Hoje, apenas a lembrança na memória dos antigos moradores traz de volta a escola, o campo de futebol, as festas e a movimentação econômica do lugar naquele tempo. O fato de ser o trajeto da balsa, a única saída para a região de Nova Cantu e Campina da Lagoa, contribuía para a dinâmica de centenas de pessoas neste local. É possível daqui se visualizarem as belezas do rio Cantu e a rica paisagem que o margeia. Também daqui se avista o Centro de Produção de Altamira, à esquerda de quem segue até a balsa. No Centro são desenvolvidas práticas agrícolas e pastoris que resultam em valiosos produtos para a economia altamirense, como ovos, leite, carnes, frutas e legumes.

Pouco mais adiante, deparamo-nos com a comunidade que desenvolve, entre outras quarenta do município, a sericultura. No município, esta atividade, bem como  a de aviários, a pastoril, a da agricultura, do turismo religioso e rural, agora a do Peabiru, movimentam a economia alternativamente. Isso contribui para a menor taxa de êxodo no município, embora também ele sofra as mesmas consequências da fase de expansão capitalista que todo o território paranaense sofreu a partir do século XIX, mais recentemente do século XX.

Peregrinando, peregrinando, chegamos ao “saco da Judith”. Isso mesmo. Neste ponto,  avista-se a curiosa paisagem que o rio Cantu oferece, pelo relevo ondulado em que deita suas águas. Trata-se de uma entrada de terras, semelhante a uma “península”, popularmente conhecida com “saco da Judith”. Toda a parte terrestre deste relevo pertence a Nova Cantu e toda a água que circunda o “saco da Judith” pertence a Altamira do Paraná. E é isso mesmo que faz lembrar a sinuosa entrada: um saco. A referência a Judith se dá por ter sido ela uma jovem moradora muito bonita do local, que atraía olhares e desejos pelos seus encantos. Muitas histórias ainda se contam de venturas vividas em torno dessa inesquecível personagem da vida real de Altamira do Paraná. Alguns quilômetros à frente, finalmente, com curvas e curvas, lombadas e lombadas, paisagens deslumbrantes, chegamos à “balsa do Cantu”. Sobre essa balsa, onde o Cantu se encontra com o Caratuva, vou deixar falar o altamirense do Paraná, seu sub-prefeito  entre as décadas de instalação do município, 70 e 80, o Sr. Ataliba Pedro dos Santos. Suas informações são muito valiosas. Diz, textualmente, Ataliba:

“Ainda na década de 60 por volta do ano de 1965, o senhor Luiz José Lizandro, foi procurado por pessoas que exploravam o a travessia do Rio Cantu, que ligava o Município de Nova Cantu ao povoado de Altamira do Paraná, para colocar no local uma balsa que fizesse a travessia com mais segurança, haja  vista o grande fluxo de pessoas que por ali transitavam.

Havia no local uma “balsa/embarcação” em caráter precário, um estrado de madeiras que flutuavam sobre tambores, que não oferecia nenhuma segurança aos passageiros.

O senhor Luiz José Lizandro, oriundo da cidade de Blumenau/SC, que sempre teve suas atividades ligadas a portos, sendo que seu pai e irmãos, todos conheciam bastante esse ramo, adquiriu os direitos e construiu uma embarcação no local, que era chamado de Porto Cantu/Fazenda São Luiz, pois adquiriu terras às margens do Rio Cantu.

Para construir a nova Balsa, Sr. Luiz contou com a ajuda de uns trabalhadores de Ivatuba/Pr., principalmente do senhor Nelo, que era muito experiente em  construção dessa natureza.

Aquela travessia sobre o Rio Cantu tinha papel preponderante para Altamira do Paraná, haja vista, na época, o então Distrito estava ainda em fase de colonização, onde eram exploradas as atividades agrícolas, com grande produção de Óleo de Hortelã, bem como o aproveitamento de madeiras das matas que iam sendo desbravadas. Tudo o que era necessário teria que passar pelo Porto Cantu, daí a importância daquela travessia, que sem dúvida, muito contribuiu para o desenvolvimento local.

Antes de colocar a nova balsa em funcionamento Sr. Luiz possuía outra balsa no Porto Bananeira no Rio Ivaí/Pr.

No ano de 1975, ocorreu um trágico acidente na Balsa do Sr. Luiz, um ônibus da empresa Expresso Nordeste perdeu o controle e sem freio, caiu sobre o Rio, morrendo no acidente mais de 20 passageiros, tendo uns poucos que conseguiram sobreviver.

No ano de 1993, o senhor Luiz José Lizandro, já com seu casal de filhos criados (João Lizandro  e  Julita Lizandro de Paula), resolveu vender a balsa.

Atualmente funciona uma Balsa de fabricação em aço, com locomoção manual, com todos os registros exigidos pela Capitania Fluvial dos Portos em dia, com o nome de Balsa Josué, operada pelo senhor Pedro Paulo dos Santos.

Luiz José Lizandro, (saudosa memória) natural de Blumenau/SC, nasceu em 04.11.1922, e faleceu em 05.07.2008, era casado com a senhora Marcelina Torres de Lizandro, nascida em Blumenau/SC aos 08.04.1925, que ainda reside  em sua propriedade, na localidade de Cantuzinho, no Município de Nova Cantu/Pr., poucos quilômetros distante da Balsa Josué. 

Aqui, neste ponto, os peregrinos pausam. A faixa “IVY MARÃ EY” nos recebe. Subimos à balsa. Conversamos com o balseiro, muito alegre, festeiro. Ele faz questão de nos levar, em dois grupos, até a outra margem. Ajudamos o balseiro a fazer a balsa navegar. Experiência única. São repetidas as histórias, entre elas, a do acidente de 1975. Fotos. Risos. O cansaço não consegue prevalecer e voltamos mais os oito quilômetros que até ali nos trouxeram. Passo-a-passo, alguns buscando apoio, outros seguindo em frente, uma aguinha aqui, uma barrinha e uma frutinha acolá, o carrinho da equipe de apoio, e lá vamos nós peregrinos. Ver outra vez aquelas paisagens nos faz bem. Dá um sentimento de poder, já sabemos delas. Mas, agora podemos contemplá-las melhor, prestar mais atenção aos seus ruídos, sentir melhor sua frescura e calor, prestar mais atenção também em seu solo. Difícil conter o impulso de catar as pedras que revestem os tons verdes, azuis, brancos,  abundantes no chão em que pisamos.Conversando, meditando, cantando, rindo, cada qual a seu modo, vamos em frente. Um delicioso almoço nos aguarda  na ASMAP.

Neuso, o cavaleiro do Peabiru, pois sempre está presente, oferece a carne, Santo, outro cavaleiro companheiro faz o assado. E Jonas completa com o carneiro recheado. As cozinheiras, da equipe de apoio do Jonas, cuidam dos acompanhamentos, o almoço é iniciado com o famoso “aperitivo” no garfo, passado na farinha branca, no limão. Tudo uma delícia. Ficamos agradecidos. Alguns de nós já descansam, antes mesmo da comida. Outros, aguardam e estendem-se nos gramados, rindo, brincando, ou simplesmente repousando.

É hora de voltar à caminhada. Agora serão quatorze quilômetros de um percurso que se iniciará na ACERA e terminará na pousada dos Klein. O ônibus nos leva até a ACERA. Dali para a frente, é conosco. Aqueles que se machucaram, que se cansaram, merecem o conforto  que o apoio oferece.  Mas, até às dezessete horas, aproximadamente, todos terão cumprido sua tarefa de peregrinar os restantes quilômetros do percurso. Entre idas e vindas, desvios e atalhos que fizemos, foram contados, ao final, por peregrinos, trinta e quatro quilômetros. E sempre ouvindo do Jonas, pra nos “atazanar”, que faltavam “oito quilômetros”. O percurso final, até à Pousada dos Klein, foi ainda mais desafiador: poucas casas, muitas subidas e descidas, pedras irregulares. A peregrina a meu lado, brinca: “Dizem que aqui em Altamira, se semeia a estilingue e se colhe a laço”. Por causa dos montes. Porém, apesar do sol da tarde, uma grata surpresa: as árvores se fizeram mais contínuas, a sombra foi nos acompanhando por quase todo o trajeto. O estímulo da chegada, do desafio alcançado fez o cansaço ser suportável, a energia prevalecer.

Na chegada, a recepção festiva dos amigos, a satisfação da conquista e um café delicioso, com comidas locais: queijo, pães, iogurte, sucos, biscoitos, bolos…tanta coisa e tanta delícia! Os altamirenses se empenham em oferecer uma hospitalidade que traz à tona seu capricho, sua capacidade e talento, sua amizade.

Após algum tempo, uma fotografia com todos, peregrinos, equipe de apoio do NECAPECAM, do município, convidados presentes, para coroar o evento da X Peregrinação. Jonas organiza o pessoal, recebe nossos agradecimentos. Alguns já se despedem e se vão. Agora é hora da partida, com a promessa de um novo encontro.

Até a próxima e muito obrigada a Altamira do Paraná! E também, obrigada a todos os peregrinos!

PEREGRINOS E EQUIPE DE APOIO 

Nome Cidade/Estado
   
PAULO CEZAR FRANTIOZI Cascavel – PR
EDER DE O. MACIEL Campo Mourão – PR
ZILMA ASSAD S. OTHMAN Campo Mourão – PR
JÓSIMO SERGIO CAMPANER Paraíso do Norte – PR
EDIO MARTELLO Maringá – PR
ANA MARIA G. DE S. DANTAS Paranavaí – PR
JOSÉ VANDERLEI DISSENHA Curitiba – PR
EDNA SASSAKI ZENKE Maringá  – PR
EDSON HIDEO ZENKE Maringá – PR
HENRIQUE A. VIEIRA Cascavel – PR
DALTRO ANGELO VIEIRA Cascavel – PR
ALEXANDRA YATSUDA FERNANDES BRESCANSIN Maringá – PR
EDSON ROBERTO BRESCANSIN Maringá – PR
CLARICE AP. S. PIERIN Cambé – PR
LUCAS SANTOS PIERIN Cambé – PR
CLAUDEMIR PIERIN Cambé – PR
MATHEUS SANTOS PIERIN Cambé – PR
CLELIA AP. MARTINS Cambé – PR
LERCIO RUFFO Cambé – pR
CLEIDE DOS S. RUFFO Cambé – PR
MARIA ELIANA FERREIRA JACOVÓS Maringá – PR
JAIR AVELINO JACOVÓS Maringá – PR
   
SYNÉSIO PRESTES SOBRINHO Londrina – PR
ADRIANO SOUZA BENTO Campo Mourão – PR
HYASMYNE MANUELA S. DE SOUZA Campo Mourão – PR
SINCLAIR POZZA CASEMIRO Maringá – PR
   
Equipe de Apoio  
LAZARO – IAP Engenheiro Beltrão – PR
MARIA LUIZA S. LUDEWIG Campo Mourão – PR
SINCLAIR P. CASEMIRO Nova Cantú – PR
SABRINA DE ASSIS ANDRADE Campo Mourão – PR
SANTO ANTONIO MOREIA Mamborê – PR
NEUSO OLIVEIRA Mamborê – PR
JAURITA MACHADO LESSAK Campo Mourão – PR
LORENILDA OLIVEIRA Campo Mourão – PR
MARILENE C. MIRANDA DA SILVA Campo Mourão – PR
SEVERO LAZDAN Campo Mourão – PR
ROSALINA SILVERIO SANTOS Altamira do Paraná – PR
ANTONIA COSTA SANTOS Altamira do Paraná – PR
ELIZABETE S. DA SILVA Altamira do Paraná – PR
GENI ALVES GODOY Altamira do Paraná – PR
NEUVANIA CARVALHO Altamira do Paraná – PR
EULISMARA FRANCISCA ALVES DA SILVA Altamira do Paraná – PR
NATALIA GIORDANA R. ALVES Altamira do Paraná – PR
PAULO FERREIRA Altamira do Paraná – PR
JONAS DE OLIVEIRA E SILVA Altamira do Paraná – PR
MIUZA RAINHA DE OLIVEIRA Altamira do Paraná – PR
MARLIANE MARTIELO Altamira do Paraná – PR
MAURA RAINHA DE OLIVEIRA Altamira do Paraná – PR
Equipe da Saúde  
SELMA ASSIS SANTOS Altamira do Paraná – PR
BRUNA DIANA ALVES Altamira do Paraná – PR
GENOR GOMES SOARES Altamira do Paraná – PR
GILBERTO DA SILVA Altamira do Paraná – PR
Animação  
BANDA U – TOQUE  JOVEM Altamira do Paraná – PR

10ª Peregrinação pelo Caminho de Peabiru

Sexta-feira, 9 de outubro, final de tarde, iniciava minha quarta participação (consecutiva) em peregrinações pelo Caminho de Peabiru. Essa seria a 10ª. Peregrinação organizada pelo pessoal do NECAPECAM, a segunda em 2009. Encontrei o pessoal no centro de Campo Mourão, em frente á casa da Marilene, coordenadora do NACAPECAM. Quando cheguei ao local de embarque o pessoal já estava guardando as bagagens no ônibus que nos levaria até a cidade de Altamira do Paraná, distante 130 km de Campo Mourão. Alguns participantes eu já conhecia de outras peregrinações, outros eram novatos. Outros já estavam em Altamira nos aguardando. A viagem foi tranqüila e o caminho todo fui conversando com o Edyo e Zilma.

Altamira é uma cidade pequena, basicamente com uma avenida principal e dois quarteirões de cada lado dessa avenida. A cidade fica no alto de um morro comprido e a população vive quase que exclusivamente da agricultura e da pecuária. Desembarcarmos em frente da Casa da Cultura da cidade, onde seria realizado um breve simpósio sobre o Caminho de Peabiru na região. Estavam presentes além dos peregrinos e de alguns moradores locais, algumas autoridades, como o Prefeito e um Deputado Federal. Após o simpósio fomos para a Associação dos Funcionários Municipais, onde seria oferecido um jantar com o prato típico da cidade, “Carneiro Recheado”. No mesmo local do jantar passaríamos a noite.

Como não gosto de carneiro, jantei arroz branco com cenoura e vagem. Como estava com muita fome, á comida foi um verdadeiro banquete e em nenhum momento me senti tentado a provar o carneiro. Depois da janta uma banda do local começou a tocar umas musicas e não demorou muito para o pessoal se animar e começar a dançar. O local virou um verdadeiro bailão. Como todos nós tínhamos que levantar cedo no dia seguinte o “bailão” acabou logo e fomos nos ajeitar para dormir. Escolhi um canto perto do banheiro e enchi meu colchão de ar. Uma parte do pessoal não estava a fim de dormir e resolveram ir para o centro da cidade tomar cerveja. Eu não estava com sono e mesmo não bebendo cerveja resolvi ir junto com o pessoal. Fui de carona com um fazendeiro local, chamado Santo. No dia seguinte vim a saber, que o nome dele é Santo Antonio. Acho que a mãe dele deve ter feito alguma promessa antes dele nascer. O Santo além de fazendeiro, também participa de rodeios e na carroceria da caminhonete foi junto sua égua branca, cujo nome não recordo. Como a cidade é bem pequena e era quase meia noite, só tinha um boteco aberto e não era dos mais sérios. Mas como o pessoal só queria beber não ia ter nenhum problema, principalmente porque as mulheres era maioria em nosso grupo. Ficamos ali uma hora conversando e o pessoal bebendo, depois voltamos para nosso lugar de pouso, pois o dia seguinte seria longo e cansativo.

Dormi como um anjo e até sonhei, mas levantar ás seis da manhã não foi nada agradável. Arrumei minhas coisas e quando vi a mesa do café da manhã abri uma exceção e fiz algo que normalmente não faço, que é tomar café da manhã. Tinham muitas guloseimas doces, salgadas, amargas e muito mais. Em seguida saímos para a primeira parte de caminhada do dia, com previsão de 16 km. Seguiríamos 8 km até o Rio Cantu e depois retornaríamos pelo mesmo caminho, para almoçar no mesmo lugar onde passamos a noite. A maioria do pessoal não gostou muito disso, pois caminhar duas vezes pelo mesmo caminho não é legal é monótono. O clima estava agradável, com sol, mas sem calor. A estrada no inicio era mais de descidas, mas tinham muitas pedras e isso dificultava o caminhar. A maior parte do caminho fui junto com a Zilma, Edyo e Pierin. Pra passar o tempo íamos conversando e sempre que tinha algo interessante pelo caminho, parávamos para bater fotos. E assim chegamos até o Rio Cantu, onde existe uma balsa na qual passei pela ultima vez há uns 32 anos. Pelo que me recordava daquela época, nada mudou no local, ou melhor, o que mudou foi que quase não existem mais árvores ali, agora só tem pastos e mais pastos. Fizemos a travessia do rio pela balsa e retornamos também com ela. É uma balsa manual, onde algumas pessoas tem que puxar uma corda para a balsa se mover. Foi uma experiência divertida. Logo iniciamos o caminho de volta até Altamira, dessa vez com mais subidas pelo caminho e o sol mais quente.

Passava um pouco do meio dia quando chegamos ao local do almoço em Altamira. Os 16 km até que foram tranqüilos, mas uma bolha no dedinho estava incomodando. Logo fui almoçar e dessa vez além do carneiro recheado, também tinha churrasco. Acabei comendo demais, meio que para compensar as cenouras da noite anterior. Não tivemos muito tempo de descanso e logo pegamos a estrada novamente. Fomos de ônibus até um determinado local e iniciamos nossa caminhada. A estrada era de pedras irregulares e isso após algum tempo fazia os pés doerem muito. Após uma meia hora saímos dessa estrada ruim e seguimos por uma estrada de terra, com muitas subidas, pastos em volta e paisagens bonitas. Ter comido demais no almoço me deu uma lezera danada e foi difícil caminhar a tarde toda. Andamos mais 16 km e terminados o dia em uma fazenda ás margens do Rio Piquiri, um local muito bonito. Um farto café nos esperava e antes de escurecer embarcamos no ônibus e fomos para Altamira. Lá pegamos nossas bagagens, me despedi da maioria do pessoal e embarquei no ônibus rumo a Campo Mourão. O cansaço era tanto que o papo foi bem curto, quase todos acabaram dormindo até chegarmos a Campo Mourão.

Agora é esperar a próxima peregrinação em 2010. Para muitos caminhar quilômetros e mais quilômetros debaixo de sol, chuva e poeira é programa de índio ou de maluco. Mas quem participa dessas peregrinações acaba enfrentando seus limites, fazendo amizades e tendo experiências interessantes. Daí muitos nunca mais aparecem, mas a maioria sempre está voltando, pois é algo viciante. 

Simpósio na Casa da Cultura de Altamira do Paraná. (09/10/2009)

Café da manhã.

Inicio da Peregrinação. (10/10/2009)

Pelo caminho encontravamos pessoas, construções e animais...

Imagens do caminho.

Balsa do Rio Cantu.

Estrada e mais estrada para percorrer...

Fim de peregrinação ás margens do Rio Piquiri.

9ª Peregrinação pelo Caminho de Peabiru – Parte 3

Domingo, 19/04/2009:

Acordei pouco depois das 06h00min e mal conseguia me mover. Meu corpo doía por inteiro, principalmente as costas. Foi a maior tortura levantar, desmontar barraca e arrumar as coisas. Tive que tomar um relaxante muscular para suportar as dores. Tomei café, fiz uma rápida visita a igrejinha de madeira e logo fui pra estrada. Alcancei a Zilma e o Emerson e fomos conversando. A estrada estava horrível, com muita poeira e apesar de não serem longas como na tarde anterior, subidas existiam aos montes. Aos poucos o remédio foi fazendo efeito, o corpo aqueceu e as dores se tornaram suportáveis. Caminhamos a manhã toda e além do Emerson e da Zilma, também segui na companhia da Christine e do Valtério. Pouco antes do meio-dia paramos num lugar chamado Pranchinha (ou Pranchita como alguns preferem). Dali teria mais uns três quilômetros de caminhada e depois seguiríamos de ônibus por uns 12 km até a cidade Luziânia. Uma bolha no pé estava incomodando e decidi subir na Toyota da equipe de apoio. Tinha caminhado algo em torno de 47 km em um dia e meio, então achei que não faria falta deixar de caminhar os poucos quilômetros finais, que poderiam piorar a situação de meu pé. Em cima da Toyota fomos eu, Zilma e Mariá. Depois o Valtério se juntou a nós e demos boas risadas. Apesar do sacolejo e de comer poeira, foi divertido. Paramos num lugar onde hoje existe uma plantação de soja, mas que no passado existiu uma pequena comunidade chamada Campina da Lizeta. Nessa comunidade existiam várias casas e famílias, Igreja e Cemitério. Hoje não existe mais nada, apenas soja e mais soja. O que aconteceu na Campina da Lizeta, aconteceu em muitos outros lugares do Paraná. As grandes fazendas de soja, cada vez mais mecanizadas, fizeram que existisse um enorme êxodo rural. As famílias que viviam nesses locais não tinham mais onde morar e tiveram que ir pra cidades maiores, quase sempre indo viver em favelas.

Próximo a Luziânia passamos por um grupo enorme de cavaleiros. Paramos na entrada da cidade e seguimos a pé até um lugar onde seria servido o almoço, para nós e para os cavaleiros que participavam da “Cavalgada do Descobrimento”. No local do almoço conversei com algumas pessoas, tirei fotos e depois fui para a fila da comida. O prato principal era picadão de carne cozida, que confesso não é dos meus pratos preferidos, depois de comer tal prato quase todos os dias durante os dois anos que passei no Exército. Mas a comida estava boa e fui encher o prato de novo.

A tarde seguimos de ônibus para uma cachoeira que fica na saída da cidade, um local muito bonito. A água estava gelada, mas não resisti e acabei entrando. Foi relaxante ficar sentando no pé da cachoeira e também serviu pra tirar um pouco da poeira acumulada pelo caminho. Depois embarcamos no ônibus e seguimos para Campo Mourão. Pelo caminho muita cantoria e um pouquinho de tristeza, pois o final de semana tinha sido tão bom que ninguém queria que terminasse. Chegando em Campo Mourão me despedi do pessoal e fui pra casa. A noite o Wagão me levou até Nova Cantu pra buscar meu carro e ás 23h00min estava de volta na casa de meus pais, exausto, moído, dolorido, mas contente por ter participado de minha terceira Peregrinação pelo Caminho de Peabiru. Esse é o tipo de programa que a pessoa faz uma vez e volta outras vezes ou então nunca mais aparece. È cansativo, mas ao mesmo tempo é prazeroso, você tem contato com pessoas dos locais por onde passa e é sempre bem tratado, o povo é hospitaleiro. Lógico que existem exceções, como os bêbados que me deram informações erradas, mas a maioria do pessoal é muito querida. E você acaba fazendo novos amigos e fortalecendo antigas amizades.

È isso ai, até a(s) próxima(s)!!!!

Segunda manhã de peregrinação.
Segunda manhã de peregrinação.

Igreja da Pranchinha e equipe de apoio.
Igreja da Pranchinha e equipe de apoio.

Na estrada comendo poeira e chegando em Luziana.
Na estrada comendo poeira e chegando em Luziana.

LEm Luziana.
Em Luziânia.

Em Luziana com os cavalos e na cachoeira.
Em Luziânia com os cavalos e na cachoeira.

9ª Peregrinação pelo Caminho de Peabiru – Parte 2

Sábado, 18/04/2009:

Acordei ás 06h00min, com o despertador do celular gritando ao meu lado. Já dava pra ouvir os ruídos do pessoal se ajeitando para o café. Com muito custo sai da barraca, fazia frio e a vontade era de dormir mais um pouco. Logo lavei o rosto, escovei os dentinhos e fiz aquele xixi básico. Em seguida desmontei a barraca, esvaziei o colchão de ar e fui dar um oi para o pessoal. Vi muitas caras novas e entre elas também tinham alguns conhecidos das peregrinações anteriores de que tinha participado em 2007 e 2008. Dei uma olhada no café e mesmo não tendo o hábito de comer pela manhã, não resisti e fui fazer uma boquinha. Depois estacionei o carro dentro da escola e prometi ao vigia que até domingo a noite voltaria para buscá-lo.

Pouco depois das 07h00min embarcamos num ônibus e fomos até em frente á Igreja, bem no centro da pequena cidade. Éramos umas 60 pessoas entre peregrinos, equipe de apóio e pessoas da cidade que acompanhariam somente o inicio de nossa jornada. Após alguns curtos discursos, teve sessão de alongamento, oração e iniciamos nossa caminhada. Pela rua encontramos alguns moradores acordados, que nos olhavam com ar de curiosidade. Alguns foguetes foram disparados pelo pessoal da Prefeitura e isso deve ter acordado muita gente. O chato é que o os caras soltam o foguete e depois jogavam o foguete usado no chão, no mato. Conscientização ecológica igual a zero. Essa primeira caminhada não foi muito longa, paramos em uma espécie de pracinha onde existe uma gruta com uma imagem de Nossa Senhora Aparecida. Após sessões de fotos embarcamos no ônibus e seguimos alguns quilômetros por estrada de terra até um distrito de nome Santo Rei. Paramos na pracinha em frente á Igreja e a Professora Sinclair contou a história do local para alguns moradores que se juntaram para ver o que estava acontecendo. Confesso que não prestei muita atenção no que ela contou, pois me afastei a procura de um banheiro e aproveitei para rezar um pouco na Igreja.

Não demorou muito e iniciamos efetivamente nossa peregrinação. Antes parei para fotografar alguns garotos que estavam de pé no chão e casas antigas de madeira. Então me coloquei a caminhar e tentava avistar algum conhecido para caminhar junto quando ao passar por algumas pessoas, uma moça perguntou por que estavam carregando mochila e cajado e eu não carregava nada? Então expliquei que o pouco de que precisava estavam nos bolsos da calça e que não gostava de caminhar utilizando o cajado, que preferiria seguir de mãos livres. Quem tinha feito a pergunta era a Zilma, que é de Campo Mourão e que mais tarde descobri ser prima da esposa de um primo e que conhece alguns membros de minha família. Outra que participava da conversa era a Christine, que veio de Joinville para participar da peregrinação. Ela já fez várias peregrinações em vários lugares, inclusive a mais famosa, o Caminho de Santiago. E assim foi seguindo a manhã e no grupo com o qual fiquei caminhando sempre aparecia alguém pra caminhar junto por um tempo, que depois de afastava para frente ou para trás. Logo aparecia outra pessoa e dessa forma ia conhecendo todo mundo. O trecho da manhã foi por um lugar bonito, com muitas montanhas e com muitos pastos repletos de bois. Também teve muitas subidas e conforme a manhã avançava o friozinho foi embora e esquentou.

Caminhamos uns 14 km e na hora do almoço paramos em uma pequena localidade chamada Cateto. Ali estavam preparando o almoço, cujo prato principal seria “Porco no Tacho”. Os pedaços de carne eram cozidos em tachos de latão, que estavam sobre tijolos no chão. A fome era imensa e a comida estava boa, mas não exagerei pois a caminhada da tarde seria longa e com o calor não era interessante comer muito porco, pois poderia ocorrer alguma reação inesperada. Eu já tinha estado nessa localidade com meu pai há uns 30 anos e pelo que vi ela não mudou nada nesse tempo todo. De interessante foi usar um banheiro sem porta, que apesar dessa particularidade não provocou nenhum incidente. Antes de partir ainda sobrou tempo de deitar num gramado e descansar um pouco.

Pouco depois das 13h00min retomamos nossa caminhada. A paisagem foi se modificando aos poucos, os pastos foram desaparecendo e começaram a surgir plantações entrecortadas por algumas matas. Até inicio dos anos 70 quase todo aquele lugar era coberto por matas de Araucária. A fronteira agrícola e as plantações de soja tomaram o lugar dos pinheirais. Hoje pouco coisa sobrou, existe uma ou outra pequena reserva espalhada. No meio da tarde eu já estava arrebentado e começou uma série de subidas infinitas. Era uma subida atrás da outra, onde você olhava pra frente e não via o final da subida. Comentei com o pessoal que estava “seco” por uma Coca-Cola gelada e que seria uma boa encontrar um vendinha pelo caminho. Mas logo lembrei que não carregava nenhum dinheiro. Não encontramos nenhuma vendinha, mas ao passar por uma pequena localidade tinha um local de festas ao lado de uma igrejinha, onde estavam vendendo refrigerante e cerveja. A Christine veio em minha salvação e me emprestou uma grana pra comprar minha sonhada Coca-Cola. Ela estava deliciosa e serviu para limpar a poeira da garganta. Antes de partirmos um senhor apareceu com uns espetos de madeira com churrasco daqueles de festa de igreja. Ele fez questão que o pessoal levasse o churrasco e assim os espetos seguiram em cima da Toyota da equipe de apoio.

O restante da tarde foi puxado, as subidas se juntavam uma a outra e logo chegamos numa estrada de terra larga que era movimentada e por essa razão muito empoeirada. Cada vez que passava um carro levantava muita poeira e íamos ficando imundos. Nessa parte andei quase o tempo todo junto com a Zilma e com o Professor Emerson. Ele é mineiro, vive no Rio de Janeiro, onde faz doutorado e veio fazer uma palestra sobre cultura indígena em Campo Mourão. O cara é gente boa e engraçado, ia contando piadas pelo caminho. Algumas vezes fizemos as paradas básicas ao lado do carro de apoio, para beber água e comer uma banana ou barrinha de cereal. Mas o cansaço era tanto e as energias estavam indo embora que logo me atraquei ao churrasco frio que tínhamos ganhado. E estava uma delícia, dei uma revigorada. Uma outra parada interessante foi em frente a um pequeno Cemitério, onde nos sentamos em umas pedras enfileiradas e pintadas de cal. Íamos pernoitar em uma fazenda e por mais que a equipe de apoio falasse que estávamos perto, essa fazenda nunca chegava. A Zilma não agüentou as dores no pé e seguiu no carro de apoio. Então seguimos eu e Emerson, mas logo ele resolveu andar mais rápido e decidi não acompanhar, pois estava com medo de meu problema no tendão começar a incomodar. Então na última hora de caminhada segui com duas novas companheiras, a Carmen que é de Campo Mourão e a Juliane, enfermeira que acompanhava a peregrinação e que se cansou de seguir de carro e decidiu caminhar um pouco. Ela acabou gostando da coisa e resolveu seguir caminhando até o fim. Era até engraçado vê-la de guarda-pó branco caminhando no meio da poeira.

Já estava escurecendo quando chegamos na fazenda do Sr. Miguel Burak. Boa parte do pessoal já estava lá se ajeitando. Alguns iam dormir em barracas, outros num barracão que ficava nos fundos da casa. Além dessas duas instalações existiam a Casa da Fazenda, um local coberto onde eram realizadas festas e uma igreja de madeira construída nos anos cinqüenta. Acabei decidindo por armar a barraca ao lado da igreja, num ponto estratégico próximo ao banheiro, ao local onde seria o jantar e onde estava claro pelas luzes, pois não tinha levado lanterna. Próximo acenderam um enorme fogueira.

O banho era na casa do Seu Miguel, onde existiam quatro banheiros com chuveiro elétrico. Tinha fila, mas dei sorte e quando fui tomar banho só tinha um na minha frente. Nada mais revigorante do que um banho quente após um dia puxado. Foi difícil tirar todo o pó do corpo e minha camisa que era branca tinha ficado marrom. Depois do banho fui para o social com o pessoal. Ficamos batendo papo, bebendo e ouvindo as cantorias de uma dupla sertaneja e um sanfoneiro que animavam o local. Logo começaram umas músicas gauchas e alguns foram dançar. Não resisti e mesmo com dores pelo corpo todo dancei um pouco. Em seguida teve a janta, cujo prato principal era Galinhada. Me acabei de tanto comer e depois fiquei batendo papo com o pessoal. Muitos foram dormir cedo, mas fiquei com uma turminha de umas dez pessoas conversando até 01h30min. Desligamos todas as luzes e ficamos ao lado da fogueira conversando e contando histórias. Terminei a noite deitado no chão, olhando para o céu com milhões de estrelas. Não tinha lua e estava tudo muito escuro, um céu maravilhoso. Acabei vendo cinco estrelas cadentes, nunca tinha visto tantas assim. Quando fui pra barraca e entrei no saco de dormir, simplesmente desmaiei e dormi o sono dos justos. Ao todo tinha caminhado por volta de 35 km.

Comunidade de Santo Rei.
Comunidade de Santo Rei.

Locais por onde passamos no primeiro dia de peregrinação.

Paisagens da caminhada.
Paisagens da caminhada.

Almoço no "Cateto", rio, poeira e entardecer.

Churrasco, subida, mixirica e descanso...
Churrasco, subida, mixirica e descanso...

Pernoite na Fazenda M. Burak.
Pernoite na Fazenda M. Burak.

Papo ao lado da fogueira e Igreja de madeira.
Papo ao lado da fogueira e Igreja de madeira.

9ª Peregrinação pelo Caminho de Peabiru – Parte 1

Sexta-Feira, 17/04/2009:

Saí de Curitiba ás 13h20min com destino á Campo Mourão. Esperava chegar a tempo de pegar o ônibus com o pessoal que participaria da Peregrinação, cuja partida estava marcada para 18h30min. Levei como carona o Marcio, amigo de meu irmão. Logo na saída já encarei um congestionamento causado por uma passeata de motoboys. O atraso inicial foi se somando a outros atrasos pela estrada, em razão do grande movimento motivado pelo feriadão. E ainda por cima quase atropelei uma vaca que saiu do mato e entrou na pista. Por sorte não vinha nenhum carro em sentido contrário e consegui desviar sem danos, apenas com um grande susto. Acabei chegando em Campo Mourão ás 20h00min. O pessoal já tinha partido para Nova Cantu, local onde iniciaria a peregrinação. O jeito foi relaxar, tomar banho, jantar, descansar um pouco e pegar a estrada novamente para percorrer 150 km até Nova Cantu.

Tinha duas opções de caminho e acabei indo pelo pior. E pra piorar ainda mais, não abasteci em Campo Mourão. Acabei tendo a maior dificuldade para encontrar um Posto de Gasolina aberto e por muito pouco não fico na estrada com pane seca. E pra piorar o que já estava pior, boa parte da estrada era de subidas e descidas com muitas curvas fechadas e sem acostamento. Não dava pra correr muito e acabei chegando em Nova Cantu ás 23h30min. Já estava bastante atrasado, já tinha perdido a palestra e também a janta. Agora o problema era encontrar a Escola onde o pessoal estava alojado. E tarde da noite em cidade pequena é difícil encontrar uma viva alma para pedir informação, só tinham cachorros e bêbados zanzando pelas ruas. Na primeira informação acabei indo parar do outro lado da cidade e tive que voltar e encontrar outro bêbado para pedir nova informação. Na segunda tentativa me mandaram seguir pela avenida principal e virar a direita ao chegar ao Posto de Gasolina, depois deveria seguir até o final da rua. Segui a dica e logo senti que tinha caído em outra furada, pois a rua logo terminou e tive que seguir por uma estradinha de terra toda esburacada, ao lado só tinha mato e lá na frente um enorme muro branco. Fiquei imaginando se ali naquele lugar de filme de terror seria a escola. E logo descobri que realmente tinha caído na segunda furada da noite, pois o muro branco era nada mais nada menos que o Cemitério da cidade. Manobrei em frente o Cemitério torcendo para que o carro não desse nenhuma pane e antes de sair rapidamente dali, pude ler uma frase escrita na parte de cima do portão, “Aqui todos são Iguais”. Até que a frase era interessante e merecia uma foto, mas naquela escuridão e naquele lugar medonho achei melhor deixar a foto pra outra oportunidade que talvez nunca aconteça. Voltando a cidade achei uma senhora e um garotinho, então resolvi arriscar a pedir informação imaginando que aquela senhora com cara de vovó não teria coragem de me sacanear. E dessa vez a informação era correta, logo encontrei a Escola. Entrei portão adentro e encontrei uns poucos “peregrinos” acordados batendo papo. A maioria do pessoal já estava dormindo, alguns em barracas na quadra de esportes e outros em salas de aula. Primeiramente pensei em dormir na sala onde o pessoal estava batendo papo, mas logo avisaram que iam papear até bem tarde. Então para não acordar o pessoal que estava dormindo, armei minha barraca num cantinho do prédio, do lado de fora. O mais difícil foi encher o colchão de ar, que em razão do sono e do cansaço pareceu ter levado uma eternidade para ficar cheio. Pouco depois da uma da manhã adormeci. Estava dormindo gostoso quando acordei com os latidos de alguns cachorros e percebi que estava gelado de frio, pois não tinha fechado o saco de dormir por inteiro. Então me ajeitei da maneira correta e voltei a dormir.

Primeira manhã de peregrinação.
Primeira manhã de peregrinação.

Relatório da 9ª Peregrinação pelo Caminho de Peabiru

logopeabiru

Relatório da IX Peregrinação (Sinclair Pozza Casemiro)

Nova Cantu, 18 de abril de dois mil e nove.

Cinco e meia da manhã. “Ivy Mara Ey”. Em busca da Terra Sem Males. No Colégio Estadual “João Faria”, já se escutam os primeiros movimentos dos nova-cantuenses ajeitando o café, o movimento dos peregrinos acordando, se arrumando, se vestindo, fazendo a preparação para a caminhada do dia até a Comunidade da Estiva, em Roncador. Antes, a parada será na Comunidade do Cateto, também em Roncador, para o almoço.

Na carinhosa recepção matinal aos peregrinos, estão presentes professores do Colégio, a Secretária de Cultura e Educação Kácia, o agrimensor que mediu os terrenos do município na época da sua criação, Devoncir Graffi. O NECAPECAM distribui os kits do peregrino e o Caderno do Peregrino. A animação é geral, expectativa no ar, principalmente para quem vem pela primeira vez. Nessa caminhada, cada qual segue seu ritmo, segue sua busca. Nunca é competição, sempre é superação. Isso faz ser prazeroso o percurso, porque são muitas as diferenças, o que traz uma enorme contribuição para o enriquecimento pessoal e coletivo. Vivencia-se e compreende-se a alteridade, experenciando-se cada segundo no meio das falas, das brincadeiras, dos cantos, das angústias, das desavenças, das contradições e daquela sábia atitude de medir, avaliar, compreender e aprender. Sabe-se como partir, não se sabe como chegar, pois há roteiros para acompanhar-se o chão, a memória histórica, mas não existe roteiro para acompanhar os pensamentos, os sentimentos. Realiza-se o velho jargão: caminheiros, o caminho se faz ao andar…

Os guaranis migravam pelos Caminhos de Peabiru buscando um paraíso em que não havia fome, doença, miséria, inveja, ambição, desamor. Onde os frutos eram abundantes e a solidariedade era a condição da imortalidade. Quando o peregrino se despe das suas obrigações, se contamina pela força da busca, do coletivo passado e presente, na natureza em que se embrenha, nas culturas em que se sente envolvido, e se entrega aos dois dias na condição de caminheiro, ouvindo o outro sem julgá-lo, apenas o reconhecendo, ele compreende um pouco dessa magia de se encontrar, de tentar ser irmão, de buscar a Terra sem Males. Sempre um exercício constante, uma surpresa.

O café com café mesmo, chá, leite, bolo, pão, margarina, doce,queijo, mussarela, melancia, banana, é servido pelos cantuenses e abastece o corpo do peregrino que aí mesmo já se enturma, já começa a aprender. A calorosa companhia dos cantuenses completa o prazer da refeição.

Izalino da Paixão traz um poema, publicado na coletânea “Poesia nossa de cada dia”, falando do Peabiru. Gentilmente o Gaúcho – Dalto Vieira, o declama, ali mesmo refeitório do Colégio:

PEABIRU, CAMINHO DA TERRA SEM MALES

Peabiru,

Caminho florido pelos índios

Seguido à procura de Deus!

Peabiru, Caminho forrado de certo gramado,

Que só vós conheceis.

Peabiru,

Caminho de índio,

Em que caminhou bandeirantes, jesuítas

E andantes de Norte a Sul…

Peabiru,

Que vem do Peru,

Atravessa os países,

Do Pacífico ao Atlântico…

Por ti caminharam

Caciques e imperadores,

Na paz e na guerra,

Cruzando estas terras,

Fazendo horrores.

Ah! Se não fossem os bandeirantes,

Que a procura dos diamantes,

Fazendo errantes

Nossos índios irmãos,

Verdadeiros povos, desta terra, mandantes!

Peabiru,

Hoje só resta a história,

Que poucos conheceram

Mesmo assim vale a pena,

Desvendar este tema,

De um passado sem fim

Por ti caminharam

O velho tropeiro

E o carro de boi

Passou o canhão

E muita munição

Em nome do progresso.

Peabiru

Continua viva a sua história

Que um dia quiseram apagar.

Chegará o momento do grande resgate

E serás no futuro

Um grande caminho.

Caminho do viajante do futuro,

O Compostela da América do Sul.

Após o café, segue-se até à praça, em frente à Igreja Nossa Senhora de Fátima. A recepção festiva que a Secretaria de Cultura promoveu, com música, fogos de artifício, não é apenas para os peregrinos, diz a secretária Kácia. É para a cidade: que se desperte a curiosidade para que todos saibam que algo bom está acontecendo, que Nova Cantu recebe os peregrinos do Caminho de Peabiru. A bela arquitetura do templo católico, com a imagem da Padroeira e dos seus três peregrinos, embelezando o jardim, contempla o coletivo desses também peregrinos, do Caminho de Peabiru. É hora de se juntar para então se dividir, para partir. Em círculo ou não, o coletivo se reúne. O peregrino Amani conduz a reflexão. A professora nova-cantuense Marlene segue com o alongamento.

Dali, segue-se até a Gruta Nossa Senhora Aparecida, na saída da cidade. Construída em 1987, o local surgiu na intenção de pagamento de promessas, dispensando a necessidade de se ir à Aparecida do Norte em São Paulo. Suas águas foram bentas pelo padre jesuíta Beno Leopoldo Petry, que a idealizou e é levada desde então para os lares dos crentes. A gruta tornou-se um marco para a região.

Na primeira entrada de Santo Rei, ainda antes da Gruta, uma pedra,com placa de bronze, colocada pela administração municipal, registra a IX Peregrinação em Nova Cantu.

Da Gruta, os peregrinos são levados até o Distrito de Santo Rei, onde tem início a IX peregrinação.

No Santo Rei, a Igreja da praça está aberta para receber os peregrinos. Também um grupo de moradores – adultos e crianças – ali esperam. Conversa-se sobre a história local, sobre o projeto de peregrinação. Santo Rei fora, antes do século XVI, intensamente povoado por grupos humanos indígenas que viviam organizados politicamente em cacicados, tinham sua cultura própria. Viveu, no século XVI e no século XVII, a invasão dos não-índios: viajantes, conquistadores, catequizadores. Foi Vila espanhola, primitiva Vila Rica do Espírito Santo, depois foi Tambo de Minas de Ferro, recebeu os jesuítas, viveu intensos movimentos de ocupação indígena e não indígena. Foi palco de conquistas e conflitos. Hoje, a cultura indígena está ainda bastante presente, mas de forma escondida, nos hábitos, nos nomes de lugares, de rios, na memória histórica, em muitos dos moradores em descendência nem sempre reconhecida.

Os peregrinos se despedem deste simbólico povoado e seguem. Alguns metros à frente, uma ala de poucos pinheiros faz lembrar a intensa e fechada mata que os abrigava, entre perobas, cedros, gurucaias, e tantas outras frondosas árvores, antes da colonização de 1939. Esses colonizadores do século XX batizaram o Distrito pelo nome do dia em que ali acamparam: o dia de Santo Rei – 06 de janeiro.

Dobrando à direita, entre os campos que expõem as recentes colheitas da soja e do milho, algumas plantações também recentes da safrinha de milho, pastos para o gado, os peregrinos vão ao encontro do rio Riozinho. Como os outros rios, ele foi importante nas diversas levas de movimentação humana que o tempo ali viu passar. Muita água e muitos peixes. Hoje, em meio aos campos, penosamente sobrevive.

Os peregrinos seguem em uma paisagem ondulada, entremeada por plantações e gados, muita pedra, em boa parte acompanham o leito do rio Can-Can que, noutro ponto, originou o nome do município de Roncador. Passam por alguns trechos margeados de matas ainda resistentes à intensa devastação.

Sol forte, muita sede, a companhia do outro e a certeza do apoio da equipe do NECAPECAM encorajam os mais temerosos. Atentos, podem ouvir o canto de pássaros, observar as marcelinhas às margens da estrada, manacás, samambaias, sentir o frescor da mata sobrevivente, o cheiro da terra que os pés e os carros levantam, fazendo pó.

Finalmente, a Comunidade do Cateto. Ela tem esse nome, contam os antigos moradores, por causa do bichinho “catitei”, como diziam os índios, que ali era abundante. O cheiro desse bichinho, um porco do mato, contaminava o ar de uma boa parte da região. Era mesmo a comunidade dos “catiteis”, que virou “catetos”. Uma professora que ali nasceu, tendo vivido a infância e a adolescência correndo pelas matas, que eram densas, relembra ainda o odor que se exalava da grande quantidade do bichinho. E eles marcavam as árvores, faziam “trios”, pois se esfregavam nelas, correndo sempre. Ainda hoje, ela diz, quem ali viveu é capaz de perceber esse cheiro, não acabou de tudo, garante, com um grande sorriso.

Os peregrinos são recebidos pelo município de Roncador. Tio Tonho, Secretário de Cultura do município, acompanha tudo: a refeição, as visitas à Igreja, a movimentação geral. Um grupo de crianças da escola fundamental, acompanhadas de suas professoras, vem também fazer parte da festa. E recebem orientação sobre a história do local, sobre as culturas que ali viveram, principalmente dos indígenas, sobre a natureza. Escutam atentamente sobre os caminhos de Peabiru. Brincam com o peregrino Amani:

Lá em cima está o tiro-liro-liro

Lá embaixo está o tiro-liro-ló

Juntaram-se os dois na esquina

Tocaram concertina,

Dançaram solidó.

Depois, são levados à Igreja e também se fartam na deliciosa comida “porco no tacho”, acompanhada de mandioca cozida, forma tradicional de alimentação na região. O motorista que acompanha os peregrinos se emociona ao lembrar-se das visitas à vó, não distante dali, muitos irmãos, primos, tios, e a matriarca da família, no terreiro, preparando, no tacho, a comida pra todos, a carne de porco. “Era isso mesmo”, desse jeito”, diz, marejando os olhos.

Dali os peregrinos seguem de ônibus até o ponto onde deve se reiniciar a caminhada. Esses parênteses, ou seja, o trecho de ônibus, se fez necessário porque o local do almoço teve que ser alterado. O que acabou sendo muito mais enriquecedor, pois fez os peregrinos entrarem em contato com a realidade do cotidiano da cultura local. Puderam presenciar o que restou de um grande núcleo de povoamento nos idos de 1960, 70. Apenas a igrejinha, o barracão, poucas casas, um comércio testemunham a intensa atividade agrícola que a Comunidade do Cateto viveu antes da mecanização.

Os peregrinos alcançam a estrada de Roncador, que sai da Comunidade do Barro Preto -hoje um assentamento- para o Aterrado Alto, onde já se divisa o município de Luiziana.

A estrada larga é margeada aqui e ali com matas que, mesmo não sendo muito densas, oferecem a confortadora sombra, o ar fresco, minorando as dificuldades que o chão pedregoso e o pó acrescentam. A paisagem se modifica pela presença dos carros que de vez em quando aparecem, completando, mesmo que tumultuando um pouco, o quadro da peregrinação. Essa estrada é muito antiga, acompanha os caminhos velhos, descobertos em meio à mata, muito densa, de quando ali chegaram os primeiros colonizadores, na época já de 1940, 1950. Contam eles, os que ainda por ali vivem, que ela margeia e mesmo atravessa um caminho muito velho, mas ainda perfeitamente visível que encontraram, feito, dizem eles próprios, por outras civilizações, não podia ser das suas, da nossa. Árvores centenárias cresciam no meio dele, o que denunciava ter ali existido e desaparecido alguma outra cultura. Também foi encontrado um local imenso, de uma área aproximada de dois alqueires, em forma de murundum, perfeitamente identificado como obra humana sobre a natureza. E não poderia ter sido de culturas não índias, garantem os bem antigos moradores. Era um imponente murundum em forma de círculo que se destacava na imensidão dos campos e das matas recuperadas. São informações que comprovam os estudos do NECAPECAM. Desde o século XVI até o XIX, XX, a região fora habitada por diferentes grupos indígenas. Em sucessivas conquistas e embates, foram desaparecendo, sendo escravizados, exterminados ou expulsos das terras, não sem antes buscarem se defender, defenderem suas moradias e territórios. Há comprovações documentais desses movimentos, mas a natureza também contribui como testemunha pelas marcas que eles nela imprimiram pelos caminhos que fizeram, pelas marcas de suas moradias que são passadas às gerações atuais por meio da memória dos antepassados.

De repente, uma surpresa: na Comunidade do Mosquiteiro, assim chamada por causa deles mesmos, dos mosquitos, confirma Celeste Fioresi, um dos mais antigos, senão o mais antigo morador dali: está havendo preparação para a festa do padroeiro São José. A comunidade consta de uma igreja, um barracão, algumas casas. Já foi também muito maior, viviam centenas de pessoas e grandes lavouras. Hoje, a mecanização só deixou esses marcos como testemunho. Os peregrinos se enturmam. A generosidade e hospitalidade dos moradores permitem uma agradável parada. E os peregrinos puderam conhecer outra realidade cultural desse interior paranaense: das festas religiosas locais. Na sua preparação podemos vislumbrar e confirmar o dito popular de que “as vésperas é que são festas”. Fogos de artifício entremeiam o fazer das mulheres na cozinha: pães, bolos, bolachas. E dos homens no churrasqueado ainda tradicional da carne de gado no espeto de bambu, temperada de véspera. Os homens assam alguns espetos para os trabalhadores e organizadores da festa e os oferecem com fartura aos peregrinos. Depois da água, da comida, da conversa animada, dos abraços, dos encontros, do descanso merecido, a caminhada continua. Bem longe dali ainda podem os peregrinos ouvir o estalar dos fogos de artifícios – os “rojões” -que funcionam como convite aos moradores da região para a grande festa de comemoração do dia do Padroeiro São José, feita com atraso neste ano – dia 19 de abril ( o dia de São José é 19 de março).

E é ali que os peregrinos passam pelo seu maior desafio: a subida do Mosquiteiro. Ela é conhecida pelos moradores como “tira-teima”, “tira-prosa”. Ou, ainda ali se dava sentido a um famoso jargão dos velhos motoristas “Pago o estrago, mas não perco o embalo”, que traduz o sentimento que animava a população na época em que a estrada era o único meio de comunicação e transporte da região para o Sul.

O rio Mosquiteiro se faz presente já bem antes da ponte pelo chiado das águas, mas está difícil para os peregrinos, que sempre gostam de uma molhadinha nos pés. Quase inacessível.

O velho cemitério ainda está muito bem cuidado. Pouco antes dos peregrinos chegarem, passou o Padre com alguns fiéis, fazendo as orações que são tradicionais na região, depois da Páscoa: a de benzer os túmulos. Um ritual conhecido como “Bênção pascoal do cemitério”. Por isso é que os peregrinos podem admirar o capricho em que se encontram os silenciosos leitos, com as pedras que entornam seu campo santo, pintadas a cal, todo o terreno carpido, as árvores podadas e também pintadas a cal, as flores protegidas e bem à mostra, tudo muito limpinho. A visitação ali é intensa por mais ou menos dois ou três dias.

Um pouco mais à frente, algumas casas. Ali já foi uma povoação muito importante até bem pouco tempo, nos anos setenta, oitenta, até que a mecanização da soja modificasse tudo. Já teve escola, cuja professora ainda vive no mesmo local, já teve venda, farmácia, muitas casas. Dali é que se avistava o murundum de que falamos acima, cortado no meio pela estrada de índios que vinha de Guarapuava, de Pitanga, diz o morador que encontrou, também, pescando lá no rio Cantu, uma peça de ferro muito estranha, que entregou ao NECAPECAM para pesquisas. Um murundum de dois alqueires, mais ou menos, redondo, bem redondo, com até outra paisagem, que deixava o aterrado ainda mais alto. Ainda tem também o velho “mictório” ou “privada” da escola criada agora no tempo mais recente. Muitas memórias se cruzam neste local. De antes do século XVI, quando só os indígenas habitavam essas paisagens, do século XVI, XVII, quando os europeus espanhóis, civilizadores e catequizadores fizeram suas passagens, quando os bandeirantes paulistas vieram em missão de destruir e escravizar, Do século XIX, quando os campos do Paiquerê ou de Mourão começaram a ser alvo de novo da cobiça expansionista, e finalmente da colonização desse século XX que está ainda tão presente entre os moradores locais.

Os peregrinos por ali passam e costuram novo pedaço dessa memória. Seguindo, uma outra subida, que já foi bem maior que a do Mosquiteiro. Chegou essa subida a dar nome à comunidade: Comunidade da Estiva. Dizem os moradores, entre eles o seu Miguel Burak, que tão gentilmente acolheu os peregrinos para o jantar e o pouso do dia, que o nome se deve ao estivado que se fazia para poderem passar as carroças, os carros e caminhões em dias de chuva. A subida era medonha. Não dava mesmo pra seguir no barro. Então, fazia-se como se fosse um tapete de paus roliços, mesmo de bambus, qualquer coisa semelhante, que se amarravam, entrelaçavam, e se colava isso na estrada para ficar mais firme e os pneus poderem rodar. Se não fizesse assim, “batinava”, “batinava” e ninguém subia mesmo. Depois, de tanto aplainar, acabou ficando uma subida mansa, mais fraca que a do Mosquiteiro, como é hoje.

Ali fica o Sr. Burak. Miguel Burak. Solitário, não quer abandonar o local onde cresceu, se casou, teve os filhos, todos eles “bem de vida” e com saúde, e onde agora viuvou.Sua casa, os barracões, a Igreja são o centro de uma movimentação ainda importante para a região. É preciso continuar cuidando das preciosidades que ficaram, como a própria Igreja da Imaculada Conceição, cuja festa de homenagem se dá em 08 de dezembro. E acontece todos os anos, a exemplo do que os peregrinos viram na Comunidade do Mosquiteiro. Seu Miguel, velho guerreiro, cuida de tudo, com muita generosidade, muita disciplina e compromisso. Foi o pai quem construiu, seguindo o mesmo modelo da igreja de lá de onde veio, do Rio Negrinho, em Santa Catarina, em 1940.Quando os peregrinos chegam, estão também presentes ali as jovens que administram atualmente como presidentes o movimento religioso da paróquia. Em estilo ucraniano, paredes duplas, pintada de azul claro, toalhas rendadas, bordadas, bancos de imbuia muito lustros, vitrais que lembram a santa padroeira, flores, castiçais, confessionário, coro e altar, a Igreja é a presença viva de Deus e da força dessa gente tão especial. Um encantamento. Sublime espaço da intenção franca de preservar o bem, a pureza, em meio a tantas dificuldades humanas. O Cruzeiro à frente traz inscrita a frase “Salve sua Alma” também em ucraniano.

Seu Miguel conserva e preserva. Plantou três mil mudas de árvores, um bosque só de pinheiros também, esse ao lado do barracão que serviu de pouso aos peregrinos. E sabe que é preciso cuidar. Daqui a quinze anos, diz ele, é necessário realizar o desbaste. Há ainda muito o que se fazer por ali. Está preocupado porque a água na região já está se tornando escassa. Ele mesmo, ali, fica de vez em quando, em falta. Por isso, o banho dos peregrinos foi controlado. Mesmo com todo o risco, seu Miguel os acolheu com todo o carinho. Depois dos banhos, desligou registros, para que de manhã pudessem todos se lavar, e para que se pudesse preparar-se o desjejum. Ninguém sentiu a falta da água, ele administrou com maestria o problema. À hora do jantar, humildemente se colocou entre os peregrinos, jantou, conversou, acolheu. Na manhã seguinte, mandou abrir a Igreja para que fossem rezar. Ou apreciar a arte do templo cristão. Sempre explicando, sempre atento, foi um Mestre, um companheiro que se tornará inesquecível para os peregrinos dos Caminhos de Peabiru, com certeza. Muito obrigada, amigo.

O jantar na Comunidade da Estiva foi especial. A galinhada foi feita pelo marido da Coordenadora do NECAPECAM, o Miranda –José Miranda da Silva Filho, com seus companheiros Orovaldo Colchon, Deferson Lessak e Carlão. Uma delícia, não dá pra esquecer. Sem contar o caloroso apoio que deram ao evento. O churrasco, “carne cigana”, feito pelo próprio Secretário de Cultura de Roncador, o Tio Tonho, estava saborosíssimo e foi também uma preciosidade. Tudo acompanhado de música do sanfoneiro e violeiros mais famosos de Roncador. Uma honra. Também se apresentaram os jovens de uma nova banda da cidade. Aliás, Roncador se destaca nesse campo, o Tio Tonho também é músico, além de desenvolver outras atividades artísticas.o Tio Tonho, vereadores e membros da comunidade estavam lá, prestigiando o momento. Muitas histórias Tio Tonho contou, dos avós ciganos, do monge João Maria d’Agostini, da cultura local.

Noite adentro e à roda da fogueira, um grupo de peregrinos palestrou e filosofou animadamente. Madrugada, os cães latiram muito…

Manhã chegando, chega dona Maria Helena, moradora dali, do Aterrado Alto, que é uma denominação genérica das comunidades, com os quitutes que preparou para o café. Fez bolos, tortas e pães, acrescentou queijo, mussarela, margarina, fez chá, café, trouxe leite, não tinha como caprichar mais.

Terminado o café, ficou o convite para se visitar a Igreja, refletir. Os peregrinos foram informados de que dali por diante a peregrinação se daria por uma estrada plana, mas ainda com algumas ondulações de relevo, até a Comunidade da Pranchinha, município de Luiziana. Na verdade, a estrada ali tem as fronteiras de municípios um pouco indefinidas, ora um e outro se misturam, dizem os moradores.

O mapa consta de um roteiro que segue adiante, até Campina do Amoral, mas, se for segui-lo, pode não ser possível alcançar o almoço oferecido pelo município de Luiziana. Por isso, pede-se que se caminhe apenas até a Comunidade da Pranchinha.

A manhã é calma, muito pó, sol forte. Os carros de apoio dão suporte, a Comunidade da Pranchinha chega logo. Dali, o ônibus levará até a cidade de Luiziana, onde os peregrinos terão o almoço, juntando-se aos cavaleiros, que fazem neste dia a “Cavalgada do Descobrimento”.

Mas é ainda muito cedo quando os peregrinos alcançam a Comunidade da Pranchinha. Então, para dar continuidade à caminhada e não prejudicar a logística da organização, seguem a pé o roteiro até a cidade, sugerindo que o ônibus os alcancem. Quando o ônibus alcança os peregrinos, acolhe-os.Nesse percurso, porém, apesar dos desencontros e dúvidas, acaba-se por se peregrinar por uma localidade muito importante para a história da região e que também hoje já não existe mais: a Comunidade da Campina da Lizeta. Esse local era a estalagem dos primeiros colonizadores que iam para ocupar Campo Mourão. Conta um dos mais antigos, dos Teodoro, que dali vinham de Pitanga, Bourbônia e por ali seguiam. Assim, para o sentido e objetivo da peregrinação, o que parecia ser problema foi solução. Ou seja, o desvio levou para um ponto que tem muita significação no mapeamento turístico dos Caminhos e precisa ser peregrinado.

Pouco mais adiante, avistam-se os cavaleiros, razão da programação do almoço em Luiziana. Assim, foi possível descer do ônibus e novamente continuar a peregrinação até a cidade de Luiziana, no local do almoço, percorrendo aproximadamente os quilômetros previstos, cumprindo os objetivos da IX Peregrinação.

O almoço teve início com as considerações da administração municipal, que saudou peregrinos e cavaleiros. A Coordenadora do NECAPECAM, Marilene C. de Miranda da Silva agradeceu a todos – apoio, convidados e peregrinos. O cardápio constou de uma deliciosa carne de panela, mandioca, arroz e salada.

Após a refeição, os peregrinos foram conhecer a Cachoeira do Rio Sem Passos. O município de Luiziana se destaca pelas imponentes quedas d’águas, essa é uma delas. Os peregrinos se fartaram nas águas geladas, brincando e confraternizando. O “piscinão”, do outro lado da estrada, na verdade é um ponto de passagem usado no tempo em que não havia a ponte. Os peregrinos ali também brincam muito e ali se tira a foto de despedida.

Os peregrinos de Maringá, que estão com veículo próprio, dali se despedem. Os demais, seguem de ônibus até Campo Mourão, ao som gostoso e divertido do fundão, promovido pelos universitários de Turismo da FECILCAM, acompanhando o colega Mário no violão, o Gaúcho e companhia, encerrando com seu carinhoso adeus:

“Tiau, tiau, tiau amor,

Vou m’embora mas te levo no pensamento pra onde eu for…”

Até a próxima, amigos, e muito obrigada!

PEREGRINOS E EQUIPE DE APOIO DA 9ª PEREGRINAÇÃO

Peregrino

Cidade/Est.

Cristina Pienaro

C.Mourão

Izalino Inácio Paixão

Ubiratã

Manoel Massaranduba

Ubiratã

Silvio Cezar Walter

C.Mourão

Raquel E. L. da Silva

Maringá

Marcos A. Puzzi

Maringá

Daltro Ângelo Vieira

Cascavel

Siro Canabarro

Cascavel

Elizabeti G. Silva

Maringá

Marcos Devonsir Carraro

Maringá

Edson Hideo Zenke

Maringá

Valter F. de Araujo

Maringá

Jair Avelino Jacovos

Maringá

Maria Eliana Ferreira Jacovós

Maringá

Artur A. de Oliveira

Cascavel

Vera C. Busetti de Oliveira

Cascavel

Christine Siebje Mancinelli

Joinville(SC)

Ricardo G. Moreira

Joinville(SC)

Sirlei B. Shima

C.Mourão

José Vanderlei Dissenha

Curitiba

Pauletto Porcu

Maringá

Antonio Fiel Cruz Junior

Maringá

Amani Spachinski de Oliveira

C. Mourão

João Emmanuel D. de Jesus

C. Mourão

Mario Emmanuel Vieira de Jesus

C. Mourão

Bruna Mantuan Ferro

C. Mourão

Karina Daniel Pedrolo

C. Mourão

Fabíola Lemes

C. Mourão

Renato Nicolin

C. Mourão

Eder de Oliveira Maciel

C. Mourão

Priscila Amaral Jarutais

C. Mourão

Carmen Souza Casarin

C. Mourão

Icaro Osinski Soares

Araruna

Natalia Raffaele Costa

C. Mourão

Talita Almeida

Mambore

Elaine Evangelista Domene

Goioerê

Alexandra Siqueira

C. Mourão

Karina Aparecida Soares

C. Mourão

Nobuco Nakasato

Sinclair Pozza Casemiro

C. Mourão

Nova Cantu

CAVALEIRO

Neuso de Oliveira

Mamborê

APOIO

Jairo de Araujo

C. Mourão

Ian Félix

C. Mourão

Vanessa Vieira

C. Mourão

Walter da Silva Halateno

C. Mourão

Jaurita Lessak

C. Mourão

Marilene Celant M. da Silva

C. Mourão

Maria Luiza da Silva

C. Mourão

Antonio Gancedo

C. Mourão

Dinora Gancedo

C. Mourão

Branco

C. Mourão

Vanderlei

C. Mourão

Orovaldo Colchon

C. Mourão

Carlão

C. Mourão

Deferson Lessak

C. Mourão

José Miranda da Silva Filho

C. Mourão

Juarez Machado Portela

Roncador

Miguel Burak

Luiziana

Maria Helena Urhen

Roncador

Bodan Urhen

Roncador

Marlene (professora Educação Física)

Nova Cantu

Lazaro

Eng. Beltrão

Bruno

C. Mourão

Sabrina de Assis Andrade

C. Mourão

Ryan Lebre

C. Mourão

www.caminhodepeabiru.com.br

O RETORNO DO GUERREIRO

Após quatro dias longe de Curitiba e do trabalho, eis que estou de volta. Foram dias interessantes, onde pude visitar a família, descansar, percorrer os 54 km do Caminho de Peabiru e pensar…, pensar muito sobre meu futuro. Mas as decisões ou rumos decididos não posso contar aqui, isso fica somente dentro de minha cabecinha. Dessa vez além do plano A, formulei também um plano B, um C e até um D. A unica coisa que posso adiantar é que em todos estes planos, devo ficar por Curitiba ao menos até o final de 2009.

Aproveito para postar mais algumas fotos da peregrinação pelo Caminho de Peabiru.

Ponte de madeira no caminho entre Campinha do Amoral e Mâmbore. (11/10/2008
Ponte de madeira no caminho entre Campina do Amoral e Mâmbore. (11/10/2008

Por do sol em Canjarana. (11/10/2008)
Por do sol em Canjarana. (11/10/2008)

Nossas sombras caminhavam a frente, pois estavam mais descansadas. (11/10/2008)
Nossas sombras caminhavam a frente, pois estavam mais descansadas. (11/10/2008)

Areião escaldante. (12/10/2008)
Areião escaldante. (12/10/2008)

CAMINHO DE PEABIRU

Galera reunida pouco antes de iniciar a caminhada no dia 11/10.
Galera reunida pouco antes de iniciar a caminhada no dia 11/10.

Manhã do segundo dia de peregrinação, partindo de Canjarana.
Manhã do segundo dia de peregrinação, partindo de Canjarana.

A peregrinação desse ano pelo Caminho de Peabiru foi ainda melhor do que a do ano passado. Pude rever amigos, fazer novas amizades e dessa vez o clima ajudou, pois não tivemos chuva. No primeiro dia o tempo estava nublado e caíram algumas gotas de chuva. Já no segundo dia o sol estava alto e fazia muito calor.

Todos esperavam que a exemplo do ano passado, nas refeições teríamos porco ou leitão, ou leitão e porco, mas por incrível que pareça não teve porco (e nem leitão) em nenhum das refeições. Comida foi o que não faltou e vale á pena destacar o “Boi na Brasa” que foi servido na primeira noite, em Campina do Amoral e a “Vaca Atolada” servida na segunda noite, em Canjarana. Em ambas as refeições repeti três vezes e achei que ia passar mal.

Não vou contar os detalhes da peregrinação segundo minha visão, mas vou contar utilizando o relatório oficial que foi publicado no site do Necapecan.

PROGRAMAÇÃO:

Simpósio – 10/10/2008

Horário: 20h30min.
Local: Associação Comunitária de Campina do Amoral/Luiziana
Jantar: Prato Típico:  boi na brasa
Pouso: Associação Comunitária de Campina do Amoral

Peregrinação 1º dia – 11/10/2008

6h às 6h45min – café da manhã – Associação Comunitária
6h45m. – exercícios de aquecimento e início caminhada
12h – almoço – cidade de Mamborê
14h – reinício caminhada
18h – Comunidade de Canjarana – Mamborê
20h  – Jantar – Vaca atolada
Pouso – Salão comunitário e acampamento no mesmo local

Peregrinação 2º dia – 12/10/2008

7h às 8h15m. – exercíco de aquecimento, dança guarani, escolhe-um, chuá, café-da-manhã  e  início caminhada
14h – almoço no município de Farol

Campo Mourão, dia  10 de outubro de dois mil e oito.

“Abra a janela ó querida
Venha ver o luar cor de prata…”

São mais ou menos quatro horas da tarde e um grupo de peregrinos, acompanhados do Ademar, da Regional de Turismo sediada em Cascavel, se dirige ao Parque do Lago. É ali já onde começa, então, a doce aventura da oitava peregrinação no Caminho de Peabiru da COMCAM. Em torno do totem guarani envelhecido, os peregrinos ouvem a história da cultura guarani na sua mística procura pela Terra Sem Mal. Conhecem-se. Ouvem-se nas histórias desconhecidas que trazem de distintos recantos, às vezes até nem tanto…

O totem foi implantado pelos próprios guaranis vindos da aldeia Araribá, município de Bauru, estado de São Paulo no dia 09 de outubro de 2004, por volta das dezoito horas pelo vice-cacique Marcílio, sua mãe e com toda a clã, finalizando o I Simpósio do Caminho de Peabiru da COMCAM. Ele marca o início do projeto na COMCAM. Traz a cor guarani vermelha do urucum. O traçado é em sapé guaimbê e em sua arte e estética é entalhado em quatro lados apontando para quatro direções: Norte, Sul, Leste e Oeste. Um lado protege as águas e a mata. Outro a estrada, outro o nascer e outro o pôr do sol. Representa o Pai de todos. Em cada peregrinação, em respeito e homenagem à tradição guarani da “busca da Terra Sem Mal” peregrinos se juntam ao Totem orientados pelo NECAPECAM.

Na seqüência, todos se preparam para a ida a Campina do Amoral, onde se realizará o VIII Simpósio  do Caminho de Peabiru da COMCAM. O ônibus sai da praça da Catedral, mas antes os peregrinos são chamados pelo Padre para que recebam a bênção da partida.

São  por volta de trinta quilômetros até Campina do Amoral, que levam o tempo suficiente para que a interação se inicie. Afinal, é mais um grupo novo, embora muitos já sejam peregrinos cativos. A volta é sempre gratificante, como é bom ver cada um que retorna!

Em Campina do Amoral já estão mais peregrinos, de Santa Catarina. Vêm trazer sua história, experiência do Peabiru como “o caminho que leva à montanha do sol”, conforme dirão mais tarde na oportunidade que terão para  transmitirem sua importante mensagem. A comunidade trabalha e o “boi na brasa” já invade o barracão num aroma irresistível. Mas, é preciso antes conhecer sobre Luiziana, o hospitaleiro município que tão bem recebe a caravana. Também conhecer um pouco mais sobre o Caminho de Peabiru da COMCAM, sobre o Caminho de Peabiru de Santa Catarina.

Professor José, líder da cultura luzinense conduz a cerimônia, acompanhado de Fátima, a Secretária de Educação e Cultura de Luiziana, do vereador local, reeleito, e do líder da anfitriã Campina do Amoral. Apresentam seu município, suas belezas naturais e oferecem a hospitalidade da comunidade da COMCAM, já tão peculiar e conhecida de grande parte dos peregrinos.

Na continuidade, Jefferson, da Secretaria de Meio Ambiente de Maringá fala da importância de se recuperar o eco-sistema no entorno do Caminho de Peabiru. Agora se junta ao grupo, contribuindo com seus conhecimentos e traduzindo a mensagem que repassa aos ouvintes: consciência e ação para uma mudança dignificante no sofrido ambiente em que vivemos. Bom lembrar que muitos peregrinos do Caminho de Peabiru se juntam a movimentos de “cura da Terra”, orientados pela nação indígena guarani, pelo desgaste que o planeta vem sofrendo desde as desenfreadas expansões colonialistas do século XVI. Jefferson foi capaz de demonstrar, de forma clara e segura, como contribuir para o resgate do eco sistema no entorno do Caminho de Peabiru. Obrigada, amigo! Quando as mensagens se encerram, o jantar é servido. Obrigada, José, Fátima, Marilene, Marius e Ricardo! O delicioso “boi na brasa” é prato típico de Luiziana e foi ali mesmo “engenhado”, atraindo centenas de visitantes no mês do aniversário do município, em outubro. Ricardo e Marius vêm de Santa Catarina e apresentam seu projeto do Caminho de Peabiru. Para eles, por causa do Monte Cristo, o projeto ganha o lema “Caminho da montanha do sol”.É muito prazeroso ouvi-los. Sejam bem-vindos, de agora em diante, seremos parceiros!

Gratos pela calorosa recepção, os peregrinos se  preparam para o pouso da primeira noite  no evento da VIII Peregrinação no Caminho de Peabiru. A noite não quer silenciar:  é o silo da COAMO que ininterruptamente alardia seu trabalho; e ó galo, imponente, majestoso, anunciando e   tecendo não só a  manhã, mas também a madrugada toda.  É a chuva que cai mansa, mas sem parar,  no telhado de prata da Associação.

São seis horas da manhã e num repente a luz quebra o sono de todos: Jaurita dá bom dia e começam os preparativos para o primeiro dia de caminhada. A equipe de apoio se movimenta, a comunidade mais uma vez prestigia os caminheiros com um reforçado café-da-manhã. Chegam novos peregrinos, na verdade, velhos e  esperados amigos. È hora do alongamento, depois da foto de todo o grupo, conforme sugere Porfírio, companheiro peregrino da Chapada dos Guimarães.

Os campos exibem o trabalho humano no capim seco e podado dos trigais, nas mudas viçosas dos milharais, do azevem . Aqui e ali se movimentam solitários trabalhadores na ininterrupta paisagem agrícola que expulsou a densa floresta dos pinheirais, das perobas. Uma e outra árvore denunciam aqui e lá a antiga floresta.

A frescura da limpa manhã saúda o peregrino. Por ele passam os amigos da equipe de apoio: a água, o cereal, a fruta, o remédio para os pés cansados. Aqui e ali também as águas límpidas de riachos escondidos pela parca vegetação ciliar são um convite para se refrescar,  para admirar…

As crianças completam a paz da paisagem na sua espontaneidade e graça. São filhos de peregrinos que compartilham da venturosa marcha que lembra a “busca da Terra Sem Mal” dos guaranis. Como essas crianças dignificaram e embelezaram  a VIII Peregrinação! Também há muitos jovens na caminhada, jovens que trazem a esperança de um futuro melhor, tão diferentes da juventude-massa que tristemente desfila diante de nós, na mídia cotidiana, que assiste à vida passar, jovens perdidos nos apelos consumistas da sociedade moderna e de seus efeitos desastrosos para a humanidade! Como é bom conhecer uma juventude sadia e sábia!

Ricardo e Marius procuram não perder nada de significativo, filmando, conversando, e acompanham passo a passo com o cachorro Muki a VIII peregrinação.

E a curiosidade se aguça na água de Sant’Ana. Professor José, no Simpósio, falara do olho da Santa, dos milagres daquele lugar. Os peregrinos ali banham seus cabelos, nutrem-se da milagrosa seiva.

Revigorados, continuam a caminhada rumo ao município de Mamborê.  Na paisagem, intercalam-se trigais e milharais, que hora descem, ora sobem movimentando o solo dadivoso de Luiziana, o maior município em extensão da COMCAM ( são 908.604 km2 com uma população média de 7.000 habitantes). Luiziana se destaca pela fanfarra que tem merecido os melhores prêmios do Brasil, pelas cavalgadas, pelas trilhas e cachoeiras.

Em Mamborê os peregrinos são recebidos pelos prefeito e vice-prefeito, pela comunidade, na Praça das Flores. Ali está um marco das peregrinações que a cidade recebeu tão acolhedoramente.  Seguem para o CTG, onde lhes é servido um delicioso almoço acompanhado das palavras amigas dos anfitriões e de intenso calor humano.

Após um breve descanso, o ônibus devolve os peregrinos ao seu itinerário. Rumo à Canjarana, cada um se encanta nas lembranças que deixaram os amigos mamborenses. A hospitalidade desse município será eternalizada nos corações peregrinos de muitas partes do Brasil.

A chegada a Canjarana é festiva. Distrito muito bem cuidado, possui uma lindíssima igreja, cujo padroeiro  é São Roque e amplo pátio onde se localizam o barracão de festa, os banheiros, tudo muito bem organizado. As belas jovens desfilam seus encantos enquanto mães e crianças se divertem na confraternização coletiva pelo Dia da Criança. Os peregrinos descansam no gramado. Banham-se e logo já estão  revigorados: o jantar é preparado pelo próprio vice-prefeito, Dominguinhos, que recebe os peregrinos como uma família. Dominguinhos traz sua família, o ambiente é acolhedor e solidário. Ao final, agora já com ainda mais visitantes, inclusive  o prefeito e sua família, o som gostoso da viola invade o barracão trazendo alegria e graça.

Mais uma noite desce. Os peregrinos, já cansados, quase que desmaiam. A noite os acolhe exaustos,  com uma lua escandalosamente bela.

Manhã se desenhando, os galos  preparam  a cantoria matinal, mas um outro  som mavioso  os supera:

Abre a janela, ó querida

Venha ver o luar cor de prata
Venha ouvir o som deste meu pinho
Na canção de uma serenata
Sei que dorme sonhando com outro
Desprezando quem é teu amor
Quem tu ama de ti nem se lembra
Quem te quer você não dá valor
 
Só a lua de mim tem piedade
Porque nunca me deixa sozinho
E não sabe fazer falsidade
Ilumina sempre meu caminho
E o sereno nas folhas da mata
Como o sol vai caindo no chão
Vai sumindo como o nosso amor
Foi se embora no teu coração
 
Como as nuvens que passa depressa
Foi assim que passou nosso amor
Só te peço que nunca se esqueça
Tudo aquilo que você jurou
E quem falta com o juramento
Com o tempo vai se arrepender
Porque o mundo é uma grande escola
Pra ensinar quem não sabe viver

Toninho da Gaita, Luiz Gonzaga, Noel Leotério, João Ribeiro, Luiz e Luizinho… eternamente grata a todos! È indescritível o sentimento que toma conta de cada peregrino nessa toada santa! Melodias que acompanharão com certeza muitas, senão todas as manhãs desses peregrinos…

É doze de outubro, dia da Padroeira do Brasil e há devotos de Nossa Senhora da Aparecida entre os peregrinos. Ela é homenageada pelos seresteiros, assim como Nossa Senhora do Rocio, padroeira de Paranaguá e do Paraná. Em meio à cantoria, dançam peregrinos. Depois de um belo repertório, lá se vão nossos encantadores pássaros mamborenses…

É hora de alongamento, de preparação para a caminhada do dia. Serão por volta de vinte quilômetros.

Moray Luza reúne os peregrinos na dança guarani, na brincadeira inocente de se olhar e se escolher, no energético chuá.

O chuá é uma criação de Moray Luza na primeira peregrinação. Vindo de São Paulo, capital, esse peregrino possui amplo conhecimento cultural e místico das tradições andinas, tendo sido um grande líder para os estudiosos do Caminho de Peabiru. Sua mensagem é de amplitude da compreensão humana, planetária, da paz mundial. Chuá lembra e representa as águas, o seu batismo e pureza.

Chega o café-da-manhã. Chega a hora de partir para o último trecho da peregrinação. Trinca-ferros, bem-te-vis,  curiós, pardais, quero-queros, anus, azulões e outros cantores encantam a natureza  e continuam a cantoria não deixando sós os peregrinos.

O olhar peregrino vê que a terra vai clareando, os pés vão pisando mais fofa e lentamente o solo, o relevo vai se aplainando… De repente é só  areia, mas é ainda o trigal, o milharal. Vêem-se pés de café, eucalipto para lenha, azevem, algum gado, ovelhas.

No meio da caminhada, já em Farol, outra fonte milagrosa: agora, as águas de João Maria…João Maria, o “Monge da Lapa” teria percorrido o Paraná, ajudando os necessitados, em diferentes épocas. Há quem diga que foram dois, três monges. Que todos os monges benzedeiros chamavam-se por força João Maria. Mas, há quem diga que é o mesmo, envelhecido a cada fase, naturalmente. Eram comuns as benzedeiras na época. João Maria seria apenas um benzedeiro? Em meados do século XIX o Paraná vivia intensos movimentos de colonização, de conflitos de posses, com intensas manifestações de cunho popular, religiosas. O místico João Maria surge nesse contexto.

Os peregrinos também ali banham seus cabelos, bebem de sua água e oram. Depois, debaixo das poucas árvores, sombra suficiente para acolher os corpos já meio cansados, divagam… Mas ainda falta mais da metade do percurso… é bom pôr os pés na estrada!

Muita areia, muda o vento, o sol se impõe bem mais forte. Os passos são mais lentos, mas o conforto da água, do cereal ajuda a continuar…

De repente, as vozes dos pássaros se perdem no som barulhento dos rojões que vêm da cidade: é a tradição dos fogos do Dia de Nossa Senhora Aparecida. É meio-dia e o ritual se estende até meio-dia e quinze. Silêncio novamente. Os primeiros peregrinos alcançam a sede do município. No estádio municipal a acolhida final do município mais jovem da COMCAM. Uma deliciosa refeição, antecedida de falas que agradecem, oram, saúdam…

Pierim e Amani conduzem as preces. Lembram da importância do dia para a cultura brasileira – dia da padroeira do Brasil- lembram do momento singular que nos reúne à volta da refeição tão carinhosamente oferecida pelos farolenses…

Esta VIII peregrinação marcou pelo apelo à harmonia, à união, com peregrinos trazendo suas famílias, filhos, numa convivência de ricas experiências e diálogo, o que muito ensinou a todos, com certeza. Lembrou a santidade e pureza das águas – duas fontes visitadas por crentes de toda a parte do Brasil e rios de águas límpidas… Lembrou a linguagem universal, a música, presente nos caminhos de Peabiru de Mamborê pelos seus encantadores cantores que definitivamente se fizeram presentes, pela sua melodia, nos corações de todos os peregrinos. Lembrou por tudo isso, a fé e a esperança num mundo melhor. A Terra Sem Mal  tem que ser possível.

É hora de partir, não sem antes, abraçar, fotografar. Os corpos estão cansados, mas as almas fortalecidas, já aguardando a nova aventura da nona peregrinação. Promessa de volta.

Obrigada, amigos peregrinos!

Obrigada a todas as autoridades municipais que tão bem acolheram a caravana!

Obrigada a todos que tornaram possível mais uma poderosa experiência de buscas e de encontros!

 

PEREGRINOS – 8ª PEREGRINAÇÃO NO CAMINHO DE PEABIRU

Peregrino

Cidade e Estado de Origem

Alexandra Y. Fernandes Brescansin

Maringá – PR

Antonio Porfírio da Silva

Chapada dos Guimarães – MT

Amani Spachisnki

Campo Mourão – PR

Celso Amâncio de Mello

Maringá – PR

Claudemir Pierin

Cambé – PR

Cristina Lidia Pienaro

Campo Mourão

Daniel Alexandre Moray Luza

São Paulo – SP

Danielli Salete Pereira

Cascavel – PR

Daisy Fontan Santiago

Maringá – PR

Edson Roberto Brescansin

Maringá – PR

Eliana Jacovós

Maringá – PR

Fabio Alexandro Sexugi

Peabiru – PR

Izalino Inácio Paixão

Ubiratã – PR

Jair Avelino Jacovós

Maringá – PR

Jeferson

Maringá – PR

Jeferson R. Spode Flores

Cascavel – PR

José Vanderlei Dissenha

Curitiba – PR

Lorenilda Oliveira

Campo Mourão-PR

Luciane Zuanazzi

Cascavel – PR

Lucas Santos Pierin

Cambé – PR

Marius Bantati

Joinvile – SC

Rafael

Maringá

Raquel Egidio Leal e Silva

Maringá – PR

Roberto Takechi Hirai

Maringá – PR

Rodrigo Zonta

Maringá – PR

Rosalindo Crepaldi

Maringá

Ricardo Gomes Moreira

Joinvile – SC

Sidnei Peres Junior

Maringá – PR

Sinclair Pozza Casemiro

Campo Mourão – PR

Valter Ferreira de Araujo

Maringá – PR

Zélia B. Braz Hirai

Maringá – PR

 Cavaleiros

Neuso de Oliveira

Mamborê

Neno Picinin

Mamborê

João Paulo

Mamborê

Luizinho

Mamborê

Felipe Moraes

Mamborê

Cavaleiros anônimos

Equipe de Apoio

Antonio Gancedo

NECAPECAM

Antonio

IAP

Cristina

Professora Educação Física

Darcy Deitos

Hotel Paraná Palace

Edson Battilani

IAP

Jairo Aloisio Araujo

NECAPECAM

Jaurita Machado Lessak

NECAPECAM

Maria Luiza da Silva

NECAPECAM

Manoel Sirino dos Santos

NECAPECAM

Marilene Celant Miranda da Silva

NECAPECAM

Silvio Cezar Walter

NECAPECAM

Vanessa

NECAPECAM

Enfermeiras e motoristas

Municípios de: Luiziana, Mamborê e Farol

Cozinheiros e cozinheiras

Municípios de: Luiziana, Mamborê e Farol

Fonte: http://www.caminhodepeabiru.com.br/