Trilha Inca (2º dia)

Acordamos ás 05h00min, fazia muito frio e o tempo estava bem nublado. Arrumei minhas coisas, guardei tudo na mochila e fui escovar os dentes e usar o banheiro. Estávamos usando o banheiro de uma moradora local e a higiene do mesmo não era das melhores. Tudo bem, no meio do mato não dava pra esperar grande coisa. O mais chato era ficar na fila do banheiro. Nessa manhã fiquei atrás de cinco argentinas, todas descabeladas, com cara de sono e com um rolo de papel higiênico na mão. Era uma cena engraçada, que achei melhor não fotografar, pois elas podiam não gostar. Após utilizar o banheiro fui direto para a barraca das refeições. Não costumo tomar café da manhã, pois não sinto fome antes do meio dia, mas como seria o dia mais puxado na trilha achei melhor comer um pouco. O cardápio foi bom, com direito a um tipo de pão tostado e panquecas. Pra beber café, leite solúvel e chá de coca. Optei pelo chá de coca que no caso era de saquinhos, igual ao chá mate que compramos no supermercado. Descobri outra forma de fazer o chá de coca, que é através de infusão, ou seja, colocar folhas de coca na água quente. Acabei inventado uma nova maneira de fazer o meu chá, colocava um saquinho de chá no caneco com água quente e adicionava algumas folhas de coca também. Ficava bem forte, mas dava pra beber. Junto com o chá de coca tomei uma Sorojchi Pills, para o mal de altitude, um relaxante muscular para aliviar possíveis dores e um Centrun, complexo de vitaminas. Ou seja, estava “turbinado” e pronto pra encarar a difícil subida do vale.

Pouco antes das 07h00min os guias reuniram o grupo, deram alguns avisos e começamos a caminhada. Fazia frio e optei por utilizar somente um casaco leve, pois conforme fosse caminhando sabia que sentiria calor. Passamos pelas últimas casas existentes na trilha, onde alguns moradores vendem água, Gatorade e refrigerantes. Algumas pessoas do meu grupo aproveitaram para comprar água e pagaram um preço absurdo, mas justificável, pois dá o maior trabalho levar mercadorias até aquele local e o transporte é feito nas costas ou em lombo de mula. Eu tinha levado um bom estoque de água, para dois dias e um Gatorade para ser usado nesse trecho da trilha. Para o último dia tinha levado uma cartela de pastilhas antibactericida, para colocar na água que encontrasse pelo caminho, fosse em bicas ou rios. O bom da história era que conforme eu caminhava e consumia minha água, o peso da mochila ia diminuindo. Pelos meus cálculos eu chegaria no alto do vale com uns dois quilos a menos de peso nas costas, que seria o peso da água que eu consumiria para percorrer o trecho mais difícil. O trecho era todo de subida e até o corpo aquecer por completo fica complicado caminhar, sem contar que o ar ia ficando cada vez mais rarefeito. Fizemos algumas curtas paradas pelo caminho e numa delas um cachorro enorme e com cara de poucos amigos veio em minha direção quando eu estava sentado numa pedra e colocou a cabeça na minha coxa, pedindo carinho. Primeiro levei um susto, mas logo estava acariciando a cabeça do cachorro.

Continuamos nossa caminhada, sempre subindo. Então fizemos uma parada num posto de controle do governo, onde os guias reuniram todos do nosso grupo e deram mais avisos. A partir dali não precisávamos mais seguir em grupo, cada um poderia seguir no seu ritmo. Informaram que teríamos que parar num local chamado Paqaymayu, onde estariam montados os acampamentos de todas as equipes que estavam na trilha naquele dia. Conforme fôssemos chegando no local deveríamos procurar nosso acampamento, que era o de número nove. Outro aviso do guia foi que ao chegarmos no alto da passo (First Pass) a 4.215 metros, o ponto mais alto da Trilha Inca, não deveríamos ficar mais de 15 minutos lá, pois começaríamos a sentir fortes dores de cabeça em razão da escassez de ar. Ao passar por mim o guia olhou nos meus olhos e disse que somente os fortes chegariam ao alto do passo naquele dia. Quando voltamos a caminhar resolvi seguir sozinho e no ritmo que aguentasse, queria me testar e ver até onde suportaria. Não foi nada fácil, mas conforme ia caminhando e o corpo aquecendo eu me sentia mais disposto a caminhar. Pelo caminho ia ultrapassando pessoas de outros grupos que estavam na trilha e que eu ainda não tinha visto. Eram muitos estrangeiros, se falava muitos idiomas numa verdadeira Babel. Logo comecei a andar junto com dois argentinos do meu grupo e conversamos um pouco. E quando souberam que eu tinha 40 anos e duas hérnias de disco, ficaram impressionados com minha disposição em caminhar. Pelo caminho existiam alguns pontos de parada para descanso e quando passava por esses locais via muita gente deitada, descansando. Então percebi que meu grupo tinha pernoitado num dos últimos acampamentos da trilha e que também tinha sido um dos últimos a iniciar a caminhada naquela manhã. Evitei fazer paradas longas e principalmente me sentar. Fiz uma única parada de dez minutos, onde aproveitei para tirar a mochila das costas e me sentar por alguns instantes. Logo voltei a caminhar e a trilha ia ficando cada vez mais inclinada e dessa vez era toda calçada em pedras e com muitos degraus. O que me ajudou bastante foi o bastão que estava levando, pois além de dar melhor equilíbrio, na hora de subir os degraus ele funcionava como uma terceira perna e preservava um pouco os joelhos, que estavam sendo muito exigidos nesse trecho da trilha. Logo chegamos numa região de mata fechada e a trilha ia fazendo círculos. Ali parei de andar com os argentinos e fiz uma pequena parada. Sentia-me muito tonto e com falta de ar, a vista ficou turva e achei que fosse desmaiar. Nesse momento baixei a cabeça e fiz uma oração, não queria de maneira alguma desistir, queria chegar até o fim, precisava chegar até o fim. Respirei fundo, reuni todas minhas forças e logo me senti melhor para continuar caminhando.

Saímos da região de floresta fechada onde estávamos e chegamos a um local aberto. A trilha seguia pela esquerda, circundando uma montanha enorme. Do lado direito um vale aparecia bem lá embaixo e vi uma pequena casinha coberta de palha e ao lado um pasto com Lhamas pastando. Foi interessante vislumbrar tal cena, pois nunca tinha visto Lhamas pastando. Atrás era possível ver as mesmas montanhas que víamos desde o início da trilha. Mesmo elas ficando cada vez mais distantes conforme caminhávamos parecia que ficavam maiores. É que íamos subindo e dessa forma elas ficavam mais visíveis e pareciam ser maiores. Sei lá, acho que é esse o motivo ou então eu estava muito tonto e vendo coisas… rs. Olhar para cima era desanimador, pois não dava pra ver o final da montanha, o ponto mais alto da trilha. Reuni minhas forças e continuei subindo. Por mim passaram muitos porteadores carregados de coisas e vi muitos outros parados, sentados ao lado da trilha. Ali dava pra ver mais claramente a quantidade de pessoas que estavam na trilha naquele dia e o grande número de porteadores dos vários grupos. Eu sabia que no máximo podem entrar na Trilha Inca 500 pessoas por dia, quantidade que é muito bem controlada pelo governo peruano visando a segurança de todos e também a preservação da trilha. O sol começou a castigar e minha camisa estava empapada de suor. Abri meu Gatorade, bebi a metade e segui em frente. Fazia breves paradas de não mais que um minuto e continuava a andar. O ar cada vez faltava mais e dar um novo passo era um esforço tremendo. Se eu que estava bem preparado fisicamente estava sentindo tanta dificuldade para subir em direção ao passo, fiquei imaginando meus amigos do grupo. Será que alguém iria desistir? A mochila parecia ficar cada vez mais pesada, mas em nenhum momento a tirei das costas. As tiras começaram a doer no ombro e preferi deixar como estavam, pois sabia por experiência que após um tempo o ombro fica adormecido e não se sente mais dor, então era melhor não tirar a mochila. Não sei precisar quanto tempo levei para subir esse trecho rumo ao passo, que é o mais difícil da Trilha Inca. Estava com relógio, mas a mente ficava meio atrapalhada e não consigo me lembrar quanto tempo levei caminhando nesse trecho. Fiz algumas paradas rápidas para tirar fotos e numa delas uma alemã que passava por mim pediu para tirar uma foto dela e depois ela tirou uma foto minha. Uns minutos depois ultrapassei essa alemã, que estava sentada na beira da trilha e pelo visto não sairia dali tão cedo. Sei que em certo momento olhei pra cima e consegui visualizar o alto do passo e vi algumas pessoas sentadas lá em cima. Essa visão me deu uma força extra e segui ainda com mais vontade de chegar. Parecia que eu ia conseguir chegar até lá em cima e venceria o maior desafio da Trilha Inca, algo que em alguns momentos cheguei a duvidar de que seria capaz de conseguir.

Quando pisei no alto do First Pass, me invadiu uma sensação que não é possível descrever, uma sensação de missão cumprida, de superação. Deixei minha mochila no chão e fui até a borda da montanha e fiquei olhando a paisagem. A beleza era grande, uma das cenas mais belas que vi na vida. Dali também dava pra ter uma visão ampla da Trilha Inca morro abaixo, o trecho por onde eu tinha passado. Dava pra ver dezenas de pessoas subindo aquele trecho, alguns perto do fim e muitos lá embaixo, a mais de uma hora de caminhada de onde eu estava. O sol e o calor que me torturaram na última hora desapareceram e uma nevoa tomou conta do lugar, a temperatura baixou muitos graus em poucos minutos. Vi um pouco acima um marco de madeira e fui até lá tirar fotos. No marco estava escrito a altitude de 4.215 metros, o ponto mais alto da Trilha Inca e também a altitude mais alta onde já cheguei com minhas próprias pernas. Um pouco mais acima visualizei uma pedra enorme. Resolvi subir nessa pedra, um último esforço para atingir o lugar mais alto do First Pass. Lá em cima encontrei centenas de pequenas pedras amontoadas umas sobre as outras. Entendi que ali deveria deixar uma das pedras que trazia no bolso e para a qual tinha contado todos meus dramas, meus problemas, meus sonhos. Esse tipo de amontoado de pedras é uma antiga tradição inca. Os incas costumavam fazer isso em lugares altos ao lado do caminho por onde passavam e acreditavam que quando deixavam folhas de coca mastigadas sobre esses pequenos amontoados de pedra, também deixavam ali o cansaço do caminho e outros males. Segurei firme uma das pedras que tirei do bolso, fiz uma oração e coloquei a pedra em cima de um dos muitos amontoados de pedras ao meu redor. Acreditei de coração no que pedi e no que estava fazendo. O resultado… só o tempo dirá! Fiquei mais algum tempo em cima da rocha olhando para baixo, vendo ás pessoas que chegavam ao alto do passo. Vi alguns conhecidos chegando e fiquei feliz por eles. Então resolvi gravar na máquina fotográfica uma mensagem que acabou se transformando num desabafo. Lembrei de tudo que passei no último ano, de todas as dificuldades, das dores, do sofrimentos. Lembrei da família, dos amigos, de todos que me ajudaram e me deram forças para me curar e estar naquele momento ali, no alto do passo. Lembrei também daqueles que pisaram em mim, me magoaram, me fizeram mal. Na verdade mais do que a força dos amigos, a força que me levou até ali foi o mal que os outros me fizeram. Canalizei tudo o que me fizeram de mal, todas minhas dores e transformei isso em combustível pra me levar até ali. Agora me sinto curado, me sinto bem, me sinto feliz e mais forte do que nunca. Algo aconteceu comigo no alto daquela pedra, não sei explicar ao certo, mas tenho certeza de que lá em cima deixei muitos sentimentos ruins, muita mágoa e muitas pessoas que me fizeram mal nos últimos meses. Posso afirmar que desci daquela rocha mais leve de espírito e livre do passado.

Fiquei meia hora no alto do passo tirando fotos, descansando e conversando com algumas pessoas que chegavam. Tinha um inglês do outro grupo que veio conosco, com quem conversei um pouco em inglês. Logo comecei a sentir uma dor estranha na cabeça como se ela estivesse sendo apertada por duas mãos. Então lembrei do que o guia falou sobre não ficar muito tempo lá em cima. Peguei minhas coisas e comecei a descer o First Pass pelo outro lado da montanha. A descida não tinha fim e logo descobri que descer era pior do que subir. Parte do preparo muscular que fiz para enfrentar a Trilha Inca foi visando subidas. Em nenhum momento me preparei para descidas. A maioria dos músculos das pernas que utilizamos pra subir são diferentes do que utilizamos para descer. Loco comecei a sentir fortes dores na parte da frente das coxas. Acredito que eu devia ser um dos poucos na trilha que estava infeliz com a descida. Eu preferia era subir mais e não descer. Outra dificuldade na descida é o peso da mochila nas costas, que te empurra pra baixo. Se não tomar cuidado você acaba caindo, podendo se machucar e dar adeus a trilha. Nessa hora o bastão ajudou ainda mais do que na subida. Ele servia como ponto de equilíbrio e logo eu estava conseguindo descer rápido sem o risco de cair. As dores nas coxas fui suportando. Após meia hora de descida o sol reapareceu e voltei a sentir muito calor. Fiz uma breve parada num local muito bonito, onde tirei o casaco, bebi bastante água e resolvi colocar na cabeça minha bandana com a bandeira do Brasil. Sendo o único brasileiro do meu grupo eu tinha que marcar isso de alguma forma. Continuei descendo a trilha que era toda de pedras, com centenas, milhares de degraus. Voltei a lembrar de tudo o que tinha passado recentemente, de meus problemas físicos e ás vezes não conseguia acreditar que estava ali realizando tal proeza de percorrer a lendária Trilha Inca. Comecei a ficar arrepiado e não demorou para eu chorar feito criança. Isso me fez bem, parece que eliminei de vez tudo o que ainda me incomodava. Coisas da Trilha Inca! Como eu disse em outra postagem, muitas pessoas que passam por esse lugar acabam tendo revelações, acabam se encontrando na vida. A Trilha Inca é meio mágica, mística, difícil de explicar. Para entender vá até lá e tire suas próprias conclusões.

Eu ainda tinha lágrimas escorrendo pelo rosto quando uma moça ao passar por mim perguntou se eu era brasileiro. Eu estava tão acostumado a ouvir e falar somente espanhol nos últimos dias que respondi a ela que sim, em espanhol. Ela era brasileira, do litoral de São Paulo e seu nome era Marceli. Era a primeira pessoa do Brasil que eu encontrava na Trilha Inca e fiquei feliz com tal encontro. Disfarcei para enxugar ás lagrimas que restavam em meu rosto e iniciamos uma gostosa e animada conversa. O papo estava tão bom que nem senti mais a dificuldade da meia hora final de trilha até chegar ao acampamento. Na entrada do acampamento, que era enorme, com as diversas equipes espalhadas pelo lugar, tiramos uma foto, nos despedimos e nunca mais nos vimos. Logo encontrei meu acampamento, que era um dos últimos morro abaixo. Eram quase 14h00mim e descobri que tinha sido o sexto a chegar no acampamento e que a caminhada daquele dia estava encerrada, que passaríamos a tarde e a noite ali. Eu achava que teríamos que caminhar mais naquele dia e fiquei extremamente feliz com a notícia. Escolhi uma barraca vazia, arrumei minhas coisas e tomei meu banho de gato. Em comemoração por ter superado o pior trecho da trilha, troquei toda a roupa. Dessa vez coloquei camisa, calça, cueca e meias limpas. Voltou a fazer calor e então tirei as pernas da calça, que virou uma bermuda. Por último troquei a bota pelo velho e confortável chinelo Havaianas. Fiquei deitado por cerca de uma hora descansando, quando então vieram me chamar para o almoço. A maior parte de nosso grupo já tinha chegado. Na barraca do almoço senti falta de minhas amigas Carolina, Roxana e do Diego, meu parceiro de barraca. O almoço foi arroz, frango e legumes. Com a fome que estava a comida desceu muito bem. Então se iniciou na barraca uma conversa sobre as posições que cada um tinha chegado ao acampamento. Eu chegar em sexto acabou sendo considerado um grande feito, ainda mais porque no dia anterior eu sempre era um dos últimos na triha. É que ninguém sabia que eu estava me poupando. E confesso que também fiquei surpreso em ser um dos primeiros a chegar. E olha que demorei mais do que a maioria parado no alto do passo. Sei que daquele momento em diante passei a ser mais respeitado por todos e não me chamaram mais de brasileiro. Passaram a me chamar de Vander. Nos dias seguintes até pessoas com quem eu não havia conversando ainda, me chamavam pelo nome. Naquela tarde algumas pessoas vieram me perguntar se eu tinha feito algum treinamento especial para percorrer a trilha. Outros vieram perguntar se eu tinha mesmo 40 anos, ou então se era verdade que eu tinha duas hérnias de disco. Isso foi algo interessante e me mostrou que a idade não está no RG, mas sim na mente. Posso ser um quarentão, mas de mente e de espírito ainda sou muito jovem e muitas aventuras mais virão pela frente.

O tempo mudou novamente, voltou a esfriar e fui para a barraca. Tentei dormir, mas não consegui, possivelmente em razão do chá e das folhas de coca que tinha consumido pela manhã. Então fiquei deitado descansando e pensando na vida. Aproveitei para examinar meus pés detalhadamente. Tenho as unhas dos dedões dos pés pretas, em razão de terem sido machucadas em caminhadas passadas. Para que esse problema não se agravasse na Trilha Inca, resolvi utilizar uma técnica que desenvolvi e que usei na última caminhada que fiz em dezembro, em Rosário do Ivaí. Coloquei algodão nos dedões e nos calcanhares, local onde sempre saem bolhas. E por cima do algodão enchi de micropóro. O resultado foi bom, pois não piorei o estado dos meus dedos e não ganhei nenhuma bolha em toda a Trilha Inca. Fazia quase duas horas e meia que eu tinha chegado, quando apareceu o Diego meu parceiro de barraca. Ele estava com uma cara de cansado e contou que na metade do caminho pagou para um porteador levar sua mochila. Esse estratagema é muito utilizado na trilha, o pessoal paga para alguém levar suas coisas. Depois chegam em suas casas contando aos amigos que percorreram a Trilha Inca, que são fodões, mas omitem essa questão da mochila ter sido carregada por outro. Para mim não importa o que os outros fazem ou deixam de fazer na trilha, o que importa é que carreguei minhas coisas o tempo todo. E não fui fazer a Trilha Inca para mostrar ou provar algo para alguém. Fui fazer a Trilha Inca porque eu queria, porque esse tipo de aventura me atraí e também porque eu precisava mostrar para mim mesmo que eu estava curado dos muitos problemas que tive em 2010, principalmente os físicos.

Meu agora amigo Diego pediu emprestado meus lencinhos umidecidos para se limpar. Cedi os lenços a ele de bom grado. Ao menos nessa noite nossa barraca ficaria mais cheirosa e agradável. Ficar a toa na barraca estava sendo chato e resolvi dar uma saída. O tempo fechou de vez, ventava e fazia frio. Andei pelo acampamento, tirei algumas fotos, mas não encontrei ninguém para conversar. Estavam quase todos dentro de suas barracas descansando e fugindo do frio. Ao lado do acampamento corria um rio de águas cristalinas e fui até lá renovar meu estoque de água. Utilizei as pílulas antibacteria para garantir água pura. Depois fiquei na barraca de refeições com alguns argentinos que jogavam baralho. Eles também jogam “truco”, igual no Brasil. Como não gosto e não sei jogar “truco”, fiquei apenas os observando e papeando. No final da tarde o tempo fechou de vez e começou a garoar. Nós estávamos no fundo de um vale, com montanhas por todo lado, um lugar muito bonito. Ao redor muitas nuvens e neblina. Ás 17h00 teve café, onde serviram uns bolinhos muito bons.

Descobri que existiam dois banheiros no acampamento, um mais acima e outro abaixo de onde foram montadas nossas barracas. O de baixo era mais próximo e quando escureceu se tornou uma aventura ir até o banheiro. Era escuro a beça, precisava levar lanterna e para chegar até ele precisávamos atravessar uma pequena ponte de madeira. A chuva começou forte e não parou mais, choveu a noite toda. Ás 19h00min teve janta, a comida estranha de sempre que não era ruim, mas também não era boa. Depois da janta serviram outros tipos de chá e não o de coca. Acho que queriam que o pessoal dormisse. Tomei um chá de aniz, de gosto duvidoso. Logo fui para a barraca e quando eram quase 20h00min me deitei. O chá de aniz somado ao esforço físico do dia e o barulho da chuva, deram um resultado magnífico. Dormi como um anjo até o dia seguinte. Só tive sonhos bons e nem me incomodei com os roncos do Diego.

Amanhecer no acampamento e trechos da trilha.
Trechos da subida até o First Pass.
Trilha fora da mata, porteadores e Lhamas pastando.
No alto do First Pass.
Amontoado de pedras onde deixei uma de minhas pedras.
No alto do First Pass o marco dos 4.215 metros.
Várias fotos no alto do passo (First Pass).
A Trilha Inca no trecho de descida após o First Pass.
Descendo pela Trilha Inca.
Uma das poucas paradas para descanso durante a descida do passo.
Com a brasileira Marceli; em frente a barraca e na hora do almoço.
De bobeira pelo acampamento do segundo dia de triha.