Madri / Paris

Acordei pouco depois das 06h00mim no horário local, que é de quatro horas à frente do horário oficial de Brasília. Os meus vizinhos de poltrona espanhóis estavam acordados e antes que eu pedisse licença para poder sair de minha poltrona, eles se levantaram e me deixaram passar. Fui até o fundo do avião, e mesmo com boa parte dos passageiros ainda dormindo, tinha fila para utilizar os quatro banheiros do fundo. Aproveitei para me alongar, na esperança de que minha dor nas costas melhorasse um pouco. Fiz meu xixizinho matinal e escovei os dentes o mais rápido possível, pois estava ficando difícil ficar dentro do banheiro. Ao sair do banheiro tinha uma dona de meia idade esperando para entrar. Olhei para ela com uma cara de pena, pois ela mal sabia o que a esperava dentro daquele banheiro.

O café da manhã até que foi saboroso, sanduíche de presunto e queijo, mamão, biscoitos e suco de laranja. Após o café da manhã comecei a ver um filme no monitor a minha frente e dei uma rápida olhada pela janela. O GPS informava que estávamos entrando no espaço aéreo espanhol. Passou algum tempo e deram o aviso para apertar cintos e voltar ao lugar as poltronas que estavam inclinadas, pois logo começaria o procedimento para aterrissagem. Sabiamente a aterrissagem é a parte mais perigosa do voo e a que menos gosto. Até hoje não consigo acreditar como algo tão pesado igual ao avião consegue voar. Para mim isso sempre será algo insano. Parabéns aos irmãos Wright, os inventores do avião! Você vai discordar de mim e dizer que foi Santos Dumont que inventou o avião. Mesmo sendo brasileiro, discordo que tenha sido Santos Dumont. Eu e a maior parte do mundo discordamos, e damos o crédito da invenção do avião aos norte-americanos. Poucos países dão crédito pela invenção do avião a Santos Dumont. Entre eles estão Brasil, França, Portugal e a maioria dos países sul americanos. E só! Se você quiser saber mais sobre essa história e então tirar sua própria conclusão, pesquise, leia livros sobre o assunto. Tem livros interessantes sobre o tema.

Pouco antes das 10h00min horário do Brasil e 14h00min horário local (a partir daqui vou usar como referência somente a hora local), pousamos na cidade de Madri. A Espanha era o décimo país que eu ficava conhecendo, sem contar o Brasil. Avião parado na pista e uma eternidade para poder descer. Aquele monte de gente espremida no corredor, outros muitos sentados por não terem espaço para ficar em pé. Sempre acho essa parte chata e demorada, e em um avião com mais de trezentas pessoas a bordo, a demora é terrível. O desembarque em voos internacionais, sempre acontecem pela porta da frente. Fiquei imaginando se no caso de um pouso de emergência o pessoal seria tão lento para desembarcar igual estavam sendo naquele momento. Finalmente pés no chão! Ficar mais de dez horas trancado dentro de um avião é cansativo e desgastante. Após uma longa caminhada pelos corredores do aeroporto, cheguei ao local da imigração. A fila estava longa e eu começando a me preocupar com o horário de minha conexão. Eu não ficaria em Madri, seguiria para Paris, com escala em Barcelona.

Finalmente pude passar pela imigração, onde fui atendido por um funcionário bastante simpático. Sabendo da fama da imigração espanhola que costuma barrar brasileiros quando tem a mínima suspeita de que vão ficar ilegalmente na Europa, eu fui bem preparado para passar pela imigração. Levei cópia de minhas reservas de voos internos pela Europa, do hotel em Paris, de dois albergues no Caminho de Santiago, onde já tinha feito reserva. E levei meu passaporte vencido, que é cheio de carimbos e possui o visto norte americano valido, o que abre portas em quase todos os países pelo mundo. O funcionário da imigração perguntou qual eram meus planos na Europa. Respondi que seguiria dali para Paris e depois voltaria a Espanha para percorrer o Caminho de Santiago, sendo que posteriormente sairia da Europa via Portugal. Ele fez um sinal de afirmativo com a cabeça e carimbou meu passaporte. Agradeci e segui em frente!

Próximo passo for seguir para o setor de bagagens, para retirar minha mochila. E aí começou o pesadelo. Demorou muito para que as bagagens fossem liberadas. Por culpa do atraso, quando peguei minha mochila tive que sair correndo para pegar minha conexão rumo Barcelona. Mas por oito minutos apenas perdi o voo. Talvez devesse ter marcado passagem com uma folga maior de horário, já prevendo possíveis atrasos. Perguntei quem vendia passagem para Paris e fui atrás me informar. Só achei a Ibéria, mas eles não tinham mais voos naquele dia. Então entrei em contato via WhatsApp com meu irmão no Brasil e pedi ajuda. Ele rapidamente conseguiu marcar uma passagem pela internet, numa empresa de baixo custo, direto de Madri para Paris. O preço da passagem achei melhor nem perguntar. Precisava seguir para Paris de qualquer jeito, pois senão perderia também a reserva do hotel para aquela noite, e todo meu planejamento para os dias seguintes estaria comprometido.

Meu novo voo para Paris seria pela Transavia, uma companhia aérea de baixo custo que opera como uma empresa independente do Grupo Air France – KLM. Fiquei mais tranquilo quando soube que a empresa pertencia a um grupo grande, pois tenho trauma de companhias aéreas de baixo custo. Os maiores sustos que já tomei em voos, foram com a Web Jet e a Ocean Air, companhias aéreas de baixo custo que operavam no Brasil utilizando aviões velhos.

Pedi informações num balcão e não demorei para encontrar o balcão da Transavia e logo entrei na fila. Enquanto esperava fiquei observando as pessoas ao redor. Tinha gente de todas as cores, tipos e nacionalidades. Logo fiz o chekin, despachei a mochila grande e corri para encontrar o portão de embarque, pois o embarque para meu voo já estava liberado. Fui o último a embarcar e minha poltrona ficava no meio, na terceira fila do lado direito de quem entra no avião. Ao meu lado esquerdo estava sentada uma jovem, bela e cheirosa francesa, que durante o voo de pouco mais de duas horas, em nenhum momento tomou conhecimento de minha existência ou olhou para mim.  Do meu lado direito ia sentado um francês jovem, feio e também cheiroso. Será que todos os franceses são cheirosos? Me lembrei da Florence, uma francesa que conheci no Peru em 2012, quando percorremos no mesmo grupo a Trilha Salkantay. Por ter morado na Guiana Francesa durante alguns anos e ter tido um namorado brasileiro, a Florence falava fluentemente o português e por isso conversávamos muito na trilha. Certa vez ela me disse que as francesas não precisam tomar banho, pois são cheirosas por natureza. Estava começando a acreditar na Florence!

O voo foi tranquilo e dormi quase todo o tempo, pois me sentia muito cansado. Devo ter roncado! Desceríamos no aeroporto de Orly, que fica no sul de Paris e é o segundo maior da França. O maior aeroporto francês também fica em Paris, é o Charles de Gaulle e fica do outro lado da cidade. Eu conhecia ambos os aeroportos somente de nome, principalmente porque trabalhei oito anos em uma agência de turismo em Curitiba. Mas o aeroporto de Orly eu tinha vivo na mente por outro motivo, algo bem trágico. Em julho de 1973, um voo da Varig partiu do Rio de Janeiro e seguia para Londres, na Inglaterra, com escala em Paris. Por culpa de um cigarro que um passageiro jogou aceso no lixo de um dos banheiros (naquela época era permitido fumar em aviões), um pequeno incêndio começou na parte traseira do avião, que foi todo tomado pela fumaça. Por culpa disso o ar ficou irrespirável dentro do avião e o piloto se viu forçado a fazer uma aterrissagem de emergência em uma plantação de repolhos existente há cerca de quatro quilômetros do aeroporto de Orly. O incêndio, a fumaça e a aterrissagem forçada causaram a morte de 123 pessoas, sendo sete tripulantes. Onze pessoas sobreviveram, sendo um passageiro e dez tripulantes.  Caso queira saber mais sobre essa história, recomendo a leitura do livro “Caixa Preta”, de Ivan Sant’Anna, que detalha em pormenores tal acidente.

Depois de lembrar do acidente com o avião da Varig ocorrido perto de Orly, ainda tive tempo de lembrar de mais bobagem. Estiquei o pescoço para tentar enxergar a Torre Eiffel pela janela do avião, mas não a vi, talvez por estarmos voando sobre os subúrbios de Paris e não sobre o centro da cidade. Nesse momento me veio à mente o filme Impacto Profundo, mais precisamente a cena que mostra Paris e um meteoro derruba a Torre Eiffel. Acho que sou campeão em lembrar de bobagens e tragédias quando estou dentro de um avião. De qualquer forma a aterrissagem foi tranquila e o desembarque rápido. Ao pisar em solo francês, estava conhecendo meu décimo primeiro pais, sem contar o Brasil. Era o segundo pais no mesmo dia! Junto com Nova York e Londres, Paris sempre foi uma das cidades que sonhava conhecer desde muito jovem. Em Nova York já estive duas vezes, e Londres fica para a próxima viagem à Europa.

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Próximo destino: Paris!