Viagem ao Peru e Bolívia (11° Dia)

25/05/2012 

Acordei às 8h00mim e a japonesa que tinha dormido na cama ao lado também. Ela me deu good morning e foi ao banheiro. Eu levantei, coloquei minhas botas, peguei minhas mochilas e saí. Na recepção encontrei o carinha com quem tinha discutido na madrugada. Ele quando me viu tentou dar meia volta, fez cara de assustado, ficou sem jeito. Fiquei com vontade de rir, mas fiz cara de bravo e pedi a mochila grande que eu tinha deixado guardada antes de seguir para a Trilha Salkantay. Ele pegou a mochila e disse eu que tinha que pagar $ 15,00 soles, que era a taxa por ter guardado a mochila por cinco dias. Engraçado é que quando pedi para guardar me disseram que não cobravam nada. E em nenhum outro hostal por ande andei durante a viagem, seja na Bolívia ou Peru, me cobraram algo para guardar as mochilas. Realmente o tal Hostal Samanapata é uma porcaria e o pessoal é desonesto, fala uma coisa e não cumpre. Para não brigar, pois eu não estava a fim de me estressar, coloquei $ 15,00 soles no balcão, dei um sorrisinho debochado para o carinha e saí sem falar nada. Caminhei 30 metros na rua em frente e entrei no Hostal Pirwa. Fui até a recepção e pedi um quarto individual. O preço ali era pouca coisa mais do que no outro hostal, mas o atendimento foi excelente, o casal da recepção foi simpático e o quarto em que fiquei era bem melhor e mais limpo do que do hostal anterior.

Tirei as roupas sujas das mochilas, dei uma arrumada em tudo e fui tomar banho. Fiz a barba, cortei as unhas e coloquei roupa limpa. Me senti um novo homem, depois de cinco dias onde passei muito tempo sujo, suado e com poucos banhos. Juntei as roupas sujas numa sacola e saí. Fui à mesma lavanderia onde tinha deixado roupas para lavar uns dias antes. Deu três quilos de roupa suja. Na verdade boa parte das roupas estava molhada e isso fez o peso ser maior. Mas isso não importava! Segui rumo ao centro e entrei numa Lan House. Precisava mandar notícias para o Brasil, dizer que estava vivo. E também queria saber as notícias de lá. E no Facebook tinha uma mensagem simpática, de uma pessoa que ganhou um presente dias antes e estava agradecendo, tinha gostado do presente. Eu estava curioso para saber o que tal pessoa tinha achado do presente e fiquei contente por ela ter gostado. Após uma hora de Lan House, saí e fui até a Plaza de Armas.

Em frente à Catedral encontrei quase todo o pessoal do grupo da Trilha Salkantay. O encontro ali tinha sido marcado para que fossem trocados endereços e fotos. Eu tinha levado minhas fotos numa pen drive e passei elas para o note book da Florencia, que depois passaria para mais pessoas. Troquei alguns endereços e por último tiramos a foto oficial da despedida. Na hora da foto todos se abraçaram e quando fui abraçar a Florencia aconteceu um “acidente”, que prefiro não mencionar aqui. Na foto ela aparece rindo em razão do tal acidente. O pessoal marcou de se encontrar mais tarde em um bar, onde seria a despedida final. Não gosto de despedidas e achei até melhor não ter que me despedir de um por um ali, naquele momento. E não iria ao bar mais tarde, então saí dando tchau para todos, sem uma despedida mais formal. Prefiro assim!

Fui com o Alex até a rodoviária. A região próxima à rodoviária é bem pobre e meio assustadora, mas não tivemos nenhum problema em andar pelo lugar. Se fosse no Brasil com certeza eu não andaria num lugar parecido. Tanto no Peru, como na Bolívia, que são países bem mais pobres que o Brasil, andei por lugares desertos à noite, regiões pobres e em nenhum momento tive medo ou fui ameaçado. Isso mostra que a violência não esta relacionada à pobreza. E não vi ninguém drogado nas ruas, ou traficando e consumindo drogas. Esse tipo de coisa é comum ver em muitas cidades do Brasil. Então penso que o maior problema pela violência no Brasil é a impunidade, pois poucos vão presos e os que vão não cumprem sua pena até o fim. E outro culpado é a droga, os traficantes e principalmente os usuários. Enquanto ficarem tratando usuários de drogas como coitadinhos, como doentes, a violência causado pelo comércio de drogas não terá fim. Existem traficantes por que existem usuários. Então é preciso acabar primeiro com os usuários, que também são culpados pelas mortes causadas pelo tráfico. Para mim todo usuário de droga, seja aquele que comprou apenas umas poucas gramas de maconha para si, ou uma única pedra de craque, é culpado pelos crimes e mortes causados pelo tráfico. Esse pequeno usuário também tem sangue nas mãos e um dia vai ter que prestar contas disso, pois é criminoso também.

Na rodoviária eu e Alex fomos em muitas empresas de ônibus perguntando preços e outros detalhes. Existem muitas empresas e os preços variam muito, bem como a qualidade dos ônibus. O Alex comprou passagem para Lima e eu para Copacabana, na Bolívia. Eu tinha pensado em ir até Uros, que é no lago Titicaca do lado peruano. Mas mudei de ideia, pois ali o lago não é tão bonito e as famosas ilhas flutuantes são uma encenação, parece mais um parque temático. O pessoal passa o dia nas ilhas para que os turistas vejam e tirem fotos, depois voltam para suas casas. Eles retratam a vida como eram naquele local anos antes. Preferi ir direto à Copacabana, onde o lago Titicaca é mais bonito. Acabei fechando com a empresa Titicaca Tours, paguei $ 60,00 soles para ir na parte de baixo do ônibus, com poltrona leito. Ao sair da rodoviária vi o cara do hostal onde tinha tido problemas, o mesmo cara que me abordou na madrugada em que cheguei com o Thiago em Cusco e nos convenceu a ir até o hostal dele. Se não me engano o nome dele era Carlos, que junto com seu irmão administra (de forma incompetente e desonesta) o Hostal Samanapata. O cara me viu e ficou olhando. Se ele viesse falar comigo ia ouvir um monte de besteira e verdades. E não fui falar com ele, nem o cumprimentei, pois ele não merecia!

Saindo da rodoviária eu e Alex fomos a pé até o centro da cidade. No caminho paramos em algumas lojas de artesanato, pois o Alex estava à procura de alguns presentes para levar para o Brasil. No centro nos despedimos e fui dar uma volta, fiz um lanche e voltei na Lan House usar a internet. Aproveitei e liguei para casa, falei com minha mãe. Depois fui ao mercado e comprei algumas coisas. Dei mais uma volta pelo centro da cidade e fui para meu hostal. Fiquei descansando até anoitecer e saí. Pedi informações na recepção. O recepcionista me deu um mapa do centro de Cusco e fui procurar o hotel onde minhas amigas chilenas ficariam hospedadas. O hotel era no lado oposto de onde eu estava, ficava pouco depois do centro. Mas não era longe, principalmente para alguém como eu que gosta de caminhar.

Estava fazendo muito frio e saí bem agasalhado. Atravessei todo o centro e cheguei até o hotel. A exemplo de Aguas Calientes, elas também estavam no hotel mais chique da cidade. Falei com o recepcionista e ele disse para eu descer no subsolo, pois elas me esperavam lá. As encontrei numa sala usando a internet. Ficamos um tempo ali conversando e olhando fotos no Facebook. Então saímos e seguimos a pé em direção ao centro. No caminho paramos para ver um evento folclórico que estava sendo realizado num parque. Não nos demoramos ali e fomos para a Plaza de Armas. Caminhamos, conversámos, tiramos fotos e decidimos ir comer uma pizza. Mas onde? A Joyce foi pedir informação para um policial de turismo que indicou uma pizzaria que ficava numa das estreitas ruas próximas a Plaza de Armas. Fomos até o lugar, que era exótico e aconchegante. Ficamos um longo tempo conversando e comemos uma deliciosa pizza. Saindo dali andamos mais um pouco pelo centro e elas queriam ver onde eu estava hospedado. No caminho paramos tirar fotos em frente alguns prédios antigos e diferentes. Chegando no hostal elas pediram para usar o banheiro e o recepcionista deixou que elas entrassem e fomos até meu quarto. No quarto elas usaram o banheiro, papeamos um pouco e logo foram embora. Não me deixaram que as acompanhasse, pois eu estava tossindo muito e elas me mandaram ir direto para a cama. E foi o que fiz tão logo elas saíram. E descobri que a temperatura do meu quarto era permanentemente 13 graus. Podia ser noite, ser dia, fazer sol, que a temperatura não mudava.

Cusco.
Plaza de Armas.
Quase todo o grupo da Trilha Salkantay, reunido para despedida.
Proximidades da rodoviária de Cusco.
Lojas de artesanato.
Show folclórico.
Joyce e Carolina.
Batendo papo na pizzaria.
Pizza peruana.
Joyce e Vander.
O pizzaiolo.
A rua da pizzaria.
O muro que aparece no filme “Diários de Motocicleta”.
O muro dos incapazes (espanhóis).
O muro dos capazes (incas).
Ruas de Cusco.
Ruas de Cusco.

De volta a Cuzco

Após retornar da Trilha Inca, passei parte do primeiro dia em Cuzco na cama, dormindo. Levantei depois do meio-dia, fazia frio e chovia sem parar. Tive uma noite maravilhosa de sono, onde recuperei todo o sono atrasado e mandei embora o cansaço acumulado. O quarto do hotel estava convidativo, quentinho e não dava vontade de sair dele. Mas a fome bateu e precisei sair. Andei poucos metros na rua e me senti mal por culpa da altitude. Não tinha tomado chá de coca em nem as pílulas para soroche, como tinha feito todos os dias na Trilha Inca. 

Precisava encontrar um local para comer e que não fosse comida peruana. Pensei no Mac Donald’s, mas lembrei de ter visto na Plaza de Armas um Bembos, que é uma cadeia de lanches peruana, cópia do Mac. Resolvi ir lá experimentar e gostei do lanche que escolhi. E o preço é ainda mais em conta que no Mac. Com a barriga cheia resolvi dar uma volta pelo centro e fazer umas comprinhas, mas chovia muito. Molhei o pé, fiquei com frio e resolvi voltar para o hotel. Fiquei um tempão usando a internet no quarto até a chuva parar. Então no final da tarde caminhei pelo centro, fiz algumas compras, principalmente de lembrancinhas para levar para a família e para os amigos e conheci alguns pontos turísticos importantes do centro. Tinha bem mais coisas interessantes para conhecer e existem muitos passeios nas proximidades da cidade, mas com tanta chuva não deu vontade de ir. 

Um dos lugares que visitei foi uma faculdade e foi meio sem querer. Ela fica ao lado de uma das igrejas da Plaza de Armas e pensei que estava entrando na igreja. Quando me dei conta tinha entrado na faculdade. Bem que achei estranho a cara de espanto que o segurança fez quando na entrada falei para ele que ia entrar para visitar o lugar. Acredito que aquele não seja um ponto turístico da cidade… rs! Depois fui visitar ás igrejas, mas diante de ser preciso pagar ingresso para entrar, acabei desistindo. Não pelo preço, mas sim em razão de meus princípios. Vejo ás igrejas como a casa de Deus e que devem estar sempre abertas para receber aqueles que necessitam de um lugar para entrar e orar. Então achei absurdo ter que pagar para entrar. E umas das igrejas era jesuíta, e como trabalhei muitos anos para os jesuítas, bem sei que a Companhia de Jesus tem muito dinheiro e não precisa ficar cobrando ingresso para entrar em suas igrejas. Tanto a igreja jesuíta, quanto a catedral que fica na Plaza de Armas, tem seus altares cheios de ouro. Esse ouro foi roubado dos incas e a custo de muito sangue. Mas essa é outra história que prefiro não debater aqui. Nessas igrejas com altares de ouro é proibido fotografar. Mas dei um jeitinho e tirei uma foto do lado de fora da igreja, onde bem ao fundo aparece parte do altar todo em ouro. Não fiz nada de errado, não existia nenhuma placa informando que era proibido fotografar da rua em frente a igreja. A única igreja que entrei foi em uma que fica também no centro, mas um pouco mais distante da Plaza de Armas. Entrei na igreja no horário da missa e não precisava pagar ingresso. Seria um grande absurdo se cobrassem ingresso para assistir a missa. Em meus passeios acabei encontrando pela rua alguns argentinos que conheci na Trilha Inca.

Um ponto turístico que fiz questão de visitar foi à “pedra de 12 ângulos”. Ela fica em uma rua lateral à Plaza de Armas, cerca de 50 metros. É um muro inca com uma construção mais recente em cima. Do outro lado da ruela tem um muro espanhol, imitação mal acabada dos muros incas. Esse muro inca aparece no filme “Diários de Motocicleta”, na visita de Che Guevara a Cuzco. Diz a lenda que Che, ao comparar o muro inca com um muro espanhol disse: “Esse é o muro dos Incas. Esse outro é o muro dos incapazes”.

Continuei com meu passeio pelo centro, aproveitando que a chuva tinha dado uma trégua. Encontrei um mercadinho que vendia muitos produtos americanos. Então aproveitei para comprar alguns chocolates americanos e manteiga de amendoim, algo que não encontro no Brasil. Andei mais um pouco visitando as lojinhas e comprei um livro escrito pelo Hiram Bingham, sobre a descoberta de Machu Picchu. Eu tinha procurado esse livro no Brasil e nunca encontrei. Já em Cuzco existiam várias versões desse livro, tanto em espanhol, como em inglês. Alguns com fotos originais da época, outras versões sem foto e até versões com fotos atuais. E os preços também variavam muito. Mais algumas compras e fui jantar no Bembos. Voltei para o hotel, descansei um pouco e saí dar uma volta antes que o comércio fechasse, o que ocorre ás 22h00min. Aproveitei para tomar uma Inca Kola, um refrigerante peruano muito apreciado pelos locais. Tem gosto de chiclete tutti frutti, achei horrível. Dei uma última volta pela Plaza de Armas e fui assediado por um monte de rapazes que distribuíam ingressos gratuitos para algumas danceterias que funcionam no centro. O assédio era intenso, os rapazes quase brigavam entre si e tentavam me convencer a entrar numa das danceterias. Como era de graça resolvi entrar numa delas para ver como era, mas não me demorei muito. Toca somente música técno, o que detesto. O local até que estava cheio, a maioria bebendo e fumando umas “ervas”. Aquilo não era ambiente para mim, achei melhor ir para o hotel arrumar minhas coisas e descansar, pois no dia seguinte seguiria para Lima.

Plaza de Armas sob chuva.
Ao fundo o altar de ouro da igreja jesuíta.
Bembos.
Plaza de Armas no final do dia.
Na balada...