Viagem ao Peru e Bolívia (22° Dia)

05/06/2012 

Acordei com o barulho de música vindo do corredor. Olhei no relógio e vi que passava um pouco das 9h00min. Eu tinha dormido bem e me recuperado do esforço dos últimos dias. Ao sair no corredor vi que a música alta vinha de um rádio na recepção, onde uma boliviana passava pano no chão. Fui para o banho e ao ligar o chuveiro começou a tocar Gusttavo Lima no rádio. Daí dancei o tche tcherere tche tchê debaixo do chuveiro. Eu estava com muito bom humor, me sentido feliz.

Eu pretendia ir para o interior da Bolívia, para a região do Salar de Yuni, mas desisti. Já estava fora fazia muitos dias e precisava voltar ao Brasil, bem como estava ficando sem dinheiro. Então resolvi deixar para conhecer o Salar de Yuni e em outra oportunidade. Arrumei minhas mochilas e decidi ir embora, voltar ao Brasil. Pouco antes do meio-dia fui até a recepção, paguei minha conta e deixei duas mochilas guardadas no depósito do hostal. Votaria para buscá-las à noite. Saí á rua e de cara ouvi Ai se eu te pego, que estava tocando na TV em uma loja. O Gusttavo Lima e o Michel Telo definitivamente são um grande sucesso na Bolívia. Fui até a rodoviária, onde troquei meus últimos dólares por bolivianos e em seguida fui visitar algumas empresas de ônibus. Eu queria passagem para Santa Cruz de La Sierra, pois de lá pretendia seguir no Trem da Morte até a fronteira com o Brasil. O preço não mudava muito entre às muitas empresas de ônibus, então me foquei no horário. Buscava um ônibus que partisse a noite, pois dessa forma eu poderia ficar passeando por La Paz durante a tarde. Acabei escolhendo uma empresa chamada Bolívia, mas após dez minutos parado em frente ao guichê olhando o vendedor conversar com a moça do guichê ao lado, desisti de comprar a passagem ali. O vendedor pelo jeito não estava a fim de vender nada. E de sacanagem fui ao guiché da agencia em frente e comprei a passagem lá. O nome da empresa onde comprei a passagem era El Dorado. Paguei $ 60,00 bolivianos e seria um ônibus semi leito. Ao passar em frente ao guichê da empresa Bolívia, dei um sorriso para o cara que não me atendeu e ainda levantei a mão mostrei a passagem da outra empresa. Acho que o otário do vendedor entendeu o meu “recado”!

Meu ônibus ia sair às 19h30min, então eu teria algumas horas para passear e fazer algumas compras. Fui em direção ao centro e parei numa lan house usar a internet. Depois passei na vendedora de abacaxis e comi três fatias. Só não comi mais por que saíram algumas afitas em minha boca, por culpa do abacaxi. Desci pela avenida principal e depois fui em direção ao centro. Cheguei à Praça Murillo, que fica em frente ao Palácio do Governo. Ao lado ficava a Catedral, que estava fechada. Tirei algumas fotos e fui andar mais um pouco pelo centro. Eu estava com pouco dinheiro, então teria que economizar o máximo possível até chegar ao Brasil. No centro vi muitos bancos e resolvi entrar em alguns deles para tentar sacar dinheiro com meu cartão de crédito. No segundo banco consegui sacar bolivianos utilizando o cartão de crédito e isso me deixou aliviado, pois não precisaria mais ficar contando os trocados. Para comemorar resolvi ir almoçar em um restaurante chique que tinha visto no centro. No restaurante olhei o cardápio e só tinham comidas típicas. Não queria ter surpresas desagradáveis, então não pedi nenhum dos pratos. Resolvi almoçar uma banana split gigante e uma fatia de torta de morango. Esse almoço alternativo foi uma delícia e paguei por ele $ 40,00 bolivianos, que foi o maior gasto que tive com comida durante todo o tempo em que fiquei na Bolívia.

Fiquei o resto da tarde passeando pelo centro da cidade e tirando fotos. Também comprei alguns presentinhos para o pessoal de casa. Não podia comprar muita coisa, por que minhas mochilas estavam cheias e pesadas e não queria deixá-las ainda mais pesadas. Algo que me chamou a atenção foram os engraxates que trabalhavam no centro, todos mascarados. Todos os engraxates usavam um capuz cobrindo o rosto. Sinceramente não entendi o motivo disso e fiquei com vergonha de ir perguntar a um deles o porquê dos rostos escondidos. Passei pela Calle de las Brujas, um local onde existem muitas coisas para vender, muitas barraquinhas e algumas delas são de produtos para magia. E a coisa mais curiosa que vi a venda foram fetos de lhama ressecados. Parece-me que estes fetos são utilizados em oferendas para a deusa Pachamama.

Quando anoiteceu jantei frango com arroz e batata frita, no restaurante onde tinha ido muitos vezes antes. Após jantar fui até o hostal pegar minhas mochilas. Resolvi ir a pé até a rodoviária e não sei como errei o caminho. Tive que andar um monte a mais até encontrar o caminho correto e cheguei na rodoviária quase em cima do horário de partida do meu ônibus. Fui embarcar e dessa vez lembrei de comprar o tal tíquete da taxa de embarque. Quando fui entrar no portão de embarque não tinha ninguém controlando o portão. Algumas pessoas estavam esperando, mas eu entrei direto, pois estava atrasado. Achei meu ônibus e ao lado dele estava estacionado o ônibus da outra empresa, cujo vendedor de passagens não quis me atender. Fiquei grato a ele, pois o ônibus era muito velho e ruim. O ônibus da El Dorado, empresa pela qual eu viajaria era bem melhor. Fiquei esperando para guardar a mochila grande no bagageiro, mas ninguém da empresa apareceu. Aí descobri que tinha que entrar no guiché da empresa, para primeiro pesar a bagagem e em seguida um funcionário colocava uma etiqueta nela e levava até o bagageiro do ônibus. O sistema era improdutivo, principalmente em razão de o guiché ser pequeno. Estava um caos, pessoas querendo entrar para pesar suas malas, outras querendo sair com suas malas já pesadas. Após uma longa espera consegui entrar e minha mochila foi pesada e etiquetada. Quando fui sair do guiché entraram dois bolivianos e um deles ao passar por mim cutucou com o dedo a bandeira dos Estados Unidos pregada na manga de minha camisa e falou algo para outro o cara que estava com ele. Não entendi o que ele falou, mas deve ter sido algo ruim, pois todos que estavam no guichê silenciaram e ficaram me olhando. Como não gostei da atitude do tal cara parei, me virei em direção a ele e perguntei com cara de bravo falando em espanhol “qual era o problema?” (¿cuál fue el problema). O cara fez cara de espanto e não falou nada. Ele deve ter achado que eu tinha entendido o que ele falou e viu que eu não era norte americano. Saí do guiché e fiquei olhando o funcionário da empresa de ônibus, que ia levar minha mochila até o ônibus. Quando ele passou por mim fui atrás dele e fiquei olhando onde ele ia guardar a mochila. Ele viu que eu estava olhando e balançou a mochila três vezes e a jogou dentro do bagageiro. Quando ele passou por mim dei um sorriso e disse a ele “bom trabalho” em espanhol, e o xinguei um monte em pensamento.

Partimos com meia hora de atraso e antes de sairmos da rodoviária o ônibus parou e um dos caras que controla os portões de embarque entrou no ônibus. Ele veio direto ao meu banco e pediu o tíquete da taxa de embarque, com um sorriso irônico no rosto. Acho que alguém tinha me dedurado, contando que entrei direto pelo portão. Fiz um charminho e lentamente procurei minha mochila pequena que estava debaixo do banco, abri-a lentamente, procurei minha carteira, abri a carteira, peguei o tíquete da taxa de embarque e entreguei a ele, devolvendo o sorriso irônico. Ele fechou a cara, me devolveu o tíquete e desceu do ônibus. O ônibus voltou a andar e para minha sorte não tinha ninguém sentado ao meu lado. Eu era o único estrangeiro no ônibus. Na minha frente ia um casal, com uma criança de colo e na poltrona do outro lado do corredor um boliviano, muito bem vestido.

Após meia hora paramos ao lado na estrada, num local cheio de barraquinhas que vendiam dezenas de produtos. Ali embarcaram mais pessoas, mas ninguém sentou ao meu lado. Alguns passageiros desceram, compraram comida e voltaram para o ônibus. Ficamos meia hora parados e voltamos para a estrada. O ônibus passou a andar mais rápido e começou a entrar um vento muito frio por frestas das janelas. Eu estava com meu saco de dormir ao lado e logo entrei nele e fiquei quentinho. A criança do banco da frente começou a chorar e achei melhor ouvir música. O cara bem vestido da poltrona ao lado tinha comprado um monte de comida e após comer jogou todo o lixo no chão, até ossos de frango. Fiquei olhando pela janela enquanto ouvia música e logo peguei no sono.

Acordei com um cara me cutucando. Tinham embarcado mais passageiros e um deles iria sentado ao meu lado. Tirei a mochila que estava na poltrona ao lado e o cara sentou. Dei uma rápida olhada e vi que ele estava sujo, muito sujo. Voltei a dormir e acordei novamente quando o ônibus parou num restaurante ao lado da estrada. Para sair de minha poltrona tive que fazer malabarismo e pular por cima do cara sentado ao meu lado. Desci do ônibus e descobri que fazia muito frio. Vi um banheiro e fui em direção a ele. Quando fui entrar tomei o maior susto quando uma moça saiu debaixo de uma lona que estava na porta do banheiro e disse que era $ 1,00 sole. Paguei e fui usar o banheiro. Nunca vi um banheiro tão sujo e tão detonado. Eu devia ter ido usar o matinho ao lado do banheiro, igual muitos passageiros fizeram, pois o matinho era mais limpo e de graça. Estiquei um pouco as pernas e voltei para o ônibus. Dessa vez o cara que ia sentado ao meu lado estava acordado e se levantou para eu me sentar. Olhei que o cara bem vestido e porquinho da outra poltrona, ele estava jantando novamente. E depois ele jogou o lixo no chão, igual tinha feito antes. Ajeitei-me no meu canto, voltei ouvir música e logo dormi.

Acordei com a claridade que vinha do lado de fora. Vi que tínhamos parado em um posto policial. Olhei no relógio e eram 3h20min. Dois policiais entraram no ônibus e foram passando por todas as poltronas olhando os passageiros que dormiam. Eu tinha certeza de que eles iam implicar comigo. Então fiz de conta que dormia. Logo senti alguém me cutucando no ombro e abri os olhos lentamente e virei para o lado em que me cutucavam. O cara que estava sentado ao meu lado acho que tinha desembarcado e um dos policias estava sentado na poltrona ao meu lado e outro policial com uma metralhadora nas mãos estava em pé ao lado dele. Tirei o saco de dormir que me cobria e ele viu a bandeira norte americana no ombro de minha camisa. Em inglês ele pediu meu passaporte. Lentamente procurei minha mochila debaixo do banco e de dentro dela tirei meu passaporte. Então ele folheou o passaporte e perguntou em espanhol se eu era brasileiro. Respondi em português que era brasileiro e ele perguntou sobre minha bagagem. Falei que tinha a pequena mochila no chão sob o banco, uma mochila no bagageiro acima de minha cabeça e outra no bagageiro do ônibus. Ele olhou e apalpou a mochila que estava no bagageiro acima de minha cabeça. Em seguida disse para eu descer junto com ele. Fora do ônibus fazia muito frio e me arrependi por não ter colocado um casaco antes de descer. O policial me pediu para mostrar qual era minha mochila e depois de olhar em dois bagageiros, vi a mochila e mostrei a ele. Ele chamou o motorista do ônibus e disse para ele pegar a mochila. O motorista entregou a mochila nas mãos do policial, que ao pegá-la disse que estava muito leve. Respondi a ele que nela só tinham roupas sujas. A mochila estava com uma capa de proteção em volta e eu tinha enrolado ela com fita adesiva. Ele colocou a mochila sobre um banco e eu comecei a tirar as fitas. Ele disse que não precisava tirar e então começou a apalpar os lados da mochila. Em seguida pegou a mochila e entregou-a ao motorista e disse para ele guardá-la. Então se virou para mim e disse para eu subir no ônibus para me aquecer e voltar a dormir. Por último tirou meu passaporte que estava em seu bolso e me devolveu. Chegaram mais alguns policiais armados e um deles parou na minha frente e me perguntou se estava tudo bem. Respondi que sim e ele me mandou subir no ônibus para me aquecer. Quando entrei no ônibus todos os passageiros estavam acordados e conforme eu ia passando entre as poltronas todos me acompanhavam com os olhos. Fiz cara de mau e segui até meu lugar, me segurando para não rir. Achei estranha a forma de revista que o policial fez. Creio que trabalham mais no psicológico das pessoas e como me mostrei calmo todo o tempo e pela forma que eu agi, eles viram que eu não levava nada proibido. É a velha história do quem não deve não teve e não demonstra que deve. Logo peguei no sono e não vi mais nada

Entrada do Hostal El Solário.
Plaza Murillo.
Catedral de La Paz.
Em frente ao Palácio de Governo.
Avenida no centro de La Paz.
Uma das milhares de vans que circulam por La Paz.
Parte do centro de La Paz.
Os engraxates “mascarados” de La Paz.
Fetos ressecados de lhamas, à venda na Calle de Las Brujas.
Arroz, frango e batata frita.
No ônibus, saindo de La Paz.
O velho ônibus da empresa El Dorado.
Parada para lanche.

Viagem ao Peru e Bolívia (8° Dia)

22/05/2012 

Trilha Salkantay – 3° dia

Acordei às 5h00min com o barulho do barbeador do meu companheiro de barraca. Toda manhã a primeira coisa que o suíço fazia era se barbear, ainda dentro do saco de dormir. E eu que me acho cheio de manias!! Ainda chovia e arrumei minhas coisas lentamente. Mais uma vez não fui tomar café, pois o estômago continuava ruim. Pouco depois das 7h00min iniciamos a caminhada do dia, seguindo por uma estrada que descia a montanha. Logo a chuva parou e o tempo continuou nublado, o que era bom para caminhar. A curitibana Izabel e seu namorado francês seguiram numa van, pois tinham tido problemas com bolhas no pé no dia anterior. Eu estava me sentindo muito cansado nesse dia, o que não é muito normal em mim. A razão do cansaço devia ser ter comido pouco nos últimos dias por culpa do problema de estômago. De qualquer forma sou de seguir em frente sempre e não me entrego facilmente.

Caminhamos um tempo por uma trilha estreita ao lado de uma montanha e vez ou outra passava por nós alguma tropa de mulas transportando coisas. Logo passamos a caminhar por uma estrada que descia em caracol a montanha e vez ou outra passávamos por algum pequeno povoado ou encontrávamos algum morador local caminhando na estrada. Alguns carros passaram por nós e sempre éramos saudados por alguma buzina ou aceno de mão. Os moradores locais já estão habituados com os turistas do mundo todo que passam por ali diariamente percorrendo a Trilha Salkantay, então acabam sendo simpáticos com os turistas. Após alguns quilômetros caminhando pela estrada, atravessámos uma ponte e passámos a caminhar ao lado de um rio, que ficava mais abaixo na estrada. Pouco tempo depois fizemos uma parada para descanso num local bonito, onde de um lado descia água da montanha e atravessava a estrada. Do outro lado existia um precipício com o rio passando lá embaixo. Ao fundo a vista das montanhas era muito bonita. Após o descanso não seguimos mais pela estrada, mas descemos por uma pequena trilha e logo chegamos ao rio. Atravessamos o rio por uma ponte de madeira, que era meio improvisada, mas segura. O único que passou apuros para atravessar a ponte foi o italiano, pois ele morria de medo de altura. Na descida até o rio encontrei um simpático cachorrinho e parei para brincar com ele. Ele tinha cara de fome e lhe dei alguns biscoitos. Daí ele me seguiu até um local onde fizemos uma parada mais longa para descanso. Descobri que esse local era a casa do cachorrinho e lá tinham mais três cachorros, todos simpáticos, mas muito magros e famintos.

Seguimos com nossa caminhada, dessa vez por uma trilha ao lado da montanha e acompanhando o rio. Andamos um bom tempo até passar por uma nova ponte precária e daí a trilha seguia no mesmo sentido em que tínhamos ido, mas do outro lado do rio. De onde estávamos era possível ver na margem oposta do rio a trilha por onde tínhamos passado um tempo antes. Mais um pouco e entramos numa outra trilha, no meio do mato e fizemos mais uma parada para descanso. Eu estava me sentindo cada vez mais cansado e comecei a ficar preocupado com isso, pois caminhar passou a ser meio torturante. Mais um pouco caminhando e chegamos num Shopping Center no meio da mata. Não era miragem não, na entrada até existia uma placa de madeira com o nome do shopping. Na verdade o tal shopping era uma barraquinha de madeira com alguns produtos a venda. O dono do local devia ter muito senso de humor, por dar o nome de shopping ao local, como por ter colocado tal placa. Mas os preços do tal shopping eram tão caros que ninguém do grupo comprou algo ali. Eu fiquei de olho numa Coca-Cola, pois estava “seco” de vontade de uma Coca gelada, mas as que estavam à venda eram todas a temperatura ambiente. Após o breve descanso voltamos para a trilha e dessa vez começamos a caminhar por um trecho cheio de pedras e bastante estreito, no meio da mata fechada. Após 15 minutos caminhando chegamos até um pequeno riacho e do outro lado tinha uma estrada e nela uma van nos aguardava. Ali fiquei sabendo que percorreríamos um pequeno trecho da estrada de van e não caminhando. Embarcamos na van e logo começou a emoção. A van andava ao lado do precipício, numa estrada péssima, cheia de buracos. Eu já não tinha mais medo ou receio de acidentes após viajar centenas de quilômetros de ônibus pela Bolívia e Peru, então passei a curtir o passeio de van. Não demorou muito e chegamos numa pequena comunidade, no meio da floresta. O local tinha algumas poucas casas, uns bares, camping, uma pequena escola, um campo de futebol cheio de buracos e uma quadra esportiva. E vi que muitas construções estavam sendo feitas ali, inclusive com muitos sinais de árvores arrancadas. Fomos até um bar, feito de madeira e com as laterais semiabertas. Ali seria servido o almoço do dia. Antes de almoçar dei uma volta pelo local e na quadra de esportes encontrei o Alex batendo bola com um garoto peruano. O nome do garoto era Anderson e ele era apaixonado por futebol, se bem que era muito ruim de bola… Kkkk A bola dele era verde e amarela, com o escudo da CBF. Brinquei um pouco de bola também e daí fui ver se o almoço estava pronto.

Mesmo ainda estando com o estômago ruim, resolvi almoçar, pois estava me sentindo muito fraco. Por sorte a comida estava boa e ainda consegui uma Coca-Cola estupidamente gelada. No grupo tinham dois israelenses (judeus) e eles não comiam a mesma comida do restante do pessoal. Eles levaram a própria comida e eles mesmo a preparavam, seguindo rituais de sua religião. Durante o preparo da comida faziam orações e liam trechos da Torah, a bíblia dos judeus. Durante o almoço aconteceu um fato ao mesmo tempo interessante e engraçado. Eu estava sentado ao lado do Alex, de frente para ama inglesa. Então comecei a ouvir barulho de chuva, mas olhando para fora pela parede aberta do bar que ficava a minha frente eu só via o céu claro e sol. Mas continuava a ouvir barulho de chuva e comentei sobre isso. O Alex também perguntou de onde vinha tal barulho. A inglesa respondeu que o barulho era por que estava chovendo. Eu e o Alex respondemos que não, que estava fazendo sol. Daí a inglesa falou para olharmos para fora e indicou o lado que estava de frente para ela e nas nossas costas. E não é que estava chovendo mesmo daquele lado! Aquilo foi meio surreal, pois de um lado do bar chovia e do outro fazia sol. Foi muito engraçado aquilo, pois o bar era estreito e de cada lado dele o clima estava completamente diferente. Essa foi uma das muitas coisas estranhas que vi nessa viagem.

Após almoçar não demoramos muito e embarcamos na van. Seguimos mais um tempo pela estrada e logo chegamos numa pequena cidadezinha, chamada Santa Tereza. Paramos num local na saída da cidadezinha e ali ao lado de um pequeno prédio, nosso acampamento estava montado. Era o meio da tarde e a caminhada do dia tinha sido encerrada. Eu desde o início preferi não ler a programação dos quatro dias de trilha, pois prefiro iniciar o dia sem saber o que farei e muito menos que horário vamos parar, ou onde vamos dormir. Assim algumas vezes acabo tendo surpresas agradáveis, como foi nesse dia em que eu estava extremamente cansado e a caminhada foi mais curta e acabou mais cedo. E mais surpresas viriam, pois o guia mandou deixarmos nossas coisas num quarto do prédio, pois iriamos de van até uma estação termal ali perto.

Após todos guardarem suas coisas e trocarem de roupa, seguimos em duas vans até uns dez quilômetros distantes da cidade, onde ao lado de um grande rio tinha uma bela estação termal, com três piscinas de água límpida e quente. Na piscina mais quente a água tinha 38 graus. O sol foi embora e esfriou um pouco, mas dentro da piscina estava muito quentinho e ficar na água foi relaxante, serviu para descansar dos vários quilômetros caminhados nos últimos três dias. Fiquei um tempo na água conversando com o pessoal e fui andar próximo ao rio. Depois fiquei no canto de uma das piscianas, pensando na vida. Eu estava um pouco ansioso e curioso, pois no Brasil tinha deixado com minha sobrinha um presente para ela entregar a uma certa pessoa que fazia aniversário naquele dia e não sabia se o presente seria bem recebido ou não. Então estava pensando nisso e querendo saber o desfecho da entrega do presente. Mas só fui saber o que aconteceu uns dias depois, quando tive acesso à internet.

Escureceu e parte do pessoal ainda ficou na água. Outra parte foi num bar tomar cerveja e conversar. Eu fiquei isolado num canto, pois não estava a fim de conversar. Pouco depois das 19h00min embarcamos na van e voltamos ao local do acampamento. Um dos israelenses tinha levado um pequeno violão e começou a cantar dentro da van. E não demorou muito para ele cantar “Ai se eu te pego”, do Michel Teló. Foi muito engraçado, eu nos confins do Peru, dentro de uma van, olhando o céu estrelado e ouvindo um judeu cantar o hit do meu conterrâneo Michel Teló. Chegando ao local do acampamento fui colocar roupa limpa e descansar na barraca. Banho não precisava, pois às horas passadas dentro da piscina de água quente tinham servido como banho do dia. Senti falta de minhas botas e fui procurá-las no quarto onde tínhamos guardado nossas coisas. Encontrei o pé direito debaixo da cama e junto dele outro pé direito, que era de uma bota número 37. A minha é 41. Pelo número da bota achei se tratar de uma bota feminina e fui perguntar as meninas se alguma delas tinha se confundindo e pego minha bota por engano. Todas responderam que não. Fiquei preocupado, pois como é que ia caminhar no dia seguinte com duas botas do pé direito? Eu só tinha levado um par de botas e um chinelo para a trilha e caminhar de chinelo seria impossível.

Pouco depois das 20h00min fui jantar. O estômago tinha melhorado e a comida estava boa, era um macarrão meio estranho, coberto com mostarda. Contei ao guia sobre o problema com minha bota e ele saiu perguntando para todo mundo, inclusive o pessoal da cozinha, se alguém sabia de algo. Uma das inglesas pediu para ver a bota, examinou a mesma e disse que não era dela. Esse assunto acabou virando motivo de gozação no grupo, mas eu continuava preocupado, pois sem o pé esquerdo de minha bota eu não teria mais como caminhar. Mesmo que eu encontrasse uma bota para comprar na cidadezinha, seria complicado, pois caminhar com uma bota sem ela estar laceada é sinal de bolhas nos pés. Lembro muito bem das muitas bolhas, calos e unhas pretas que ganhei até lacear minhas botas em muitas caminhadas.

Depois da janta teve nova comemoração de aniversário para o suíço Peter. Os cozinheiros do grupo fizeram um bolo para ele. O Peter comprou uma garrafa de Pisco, a bebida nacional do Peru. Daí comemos o bolo e fizemos brinde com Pisco. Eu dessa vez resolvi participar do brinde e no segundo copinho de Pisco já me senti tonto e resolvi parar por ali. Como não bebo, acabo sendo fraco para bebida e qualquer dose de álcool por menor que seja sobe rapidinho. E por milagre minha bota apareceu! A inglesa loira encontrou em sua barraca o pé da minha bota, que sua amiga tinha pego por engano. Só achei estranho da amiga dela ter pedido antes para olhar a bota que tinham deixado no lugar da minha e não tê-la reconhecido como sendo a sua bota. Das duas uma, ou ela era muito tapada, ou ficou com vergonha de assumir que tinha pego minha bota por engano e o pessoal ficar zoando com ela. Sei que fiquei muito aliviado em ter minha bota de volta.

E a comemoração da noite não acabou no brinde. O guia informou que do lado de fora tinha sido acesa uma fogueira e que um grupo de americanos já estava lá. Era para nos juntarmos a eles, pois teria balada a céu aberto, com luzes e música. O pessoal gostava de uma festa e logo fizeram uma vaquinha para comprar cerveja e mais Pisco. Me uni a eles na balada, mas não bebi mais. Logo estavam todos dançando, conversando e bebendo muito. O DJ era peruano e logo tocou “Ai se eu te pego”. E pouco depois tocou outra música que está fazendo muito sucesso no Peru e Bolívia, Tche tche re re” do Gustavo Lima. Quando tocou essa, pedi licença ao namorado da Izabel e a tirei para dançar. E a festa seguiu cada vez mais animada e teve até penetras, que foram bem vindas a festa. Fiquei conversando com algumas pessoas e observando o pessoal, que estavam bebendo demais. O mais animado e bêbado era o Peter, o suíço. O guia também bebeu todas e daí passei a duvidar que o pessoal iria conseguir caminhar no dia seguinte. Um dos israelenses estava muito bêbado, estava caindo até… E era justamente o que fazia as orações durante as refeições, que usava o Kippa na cabeça (parece uma pequena touca). Isso não me espantou, pois já vi muita gente que se mostrava religiosa, com discursos e postura corretíssimas, mas que em algumas situações com álcool ou não, se mostraram “piores” do que muitos pecadores por aí. Religião é assim mesmo, nem todos vivem o que pregam ou querem que os outros façam. Também não tenho motivos para ficar julgando ninguém sobre isso, pois não sou tão bom exemplo. Ao menos não sou hipócrita como muitos por aí…

Era pouco mais de meia noite quando resolvi ir dormir, pois pretendia caminhar no dia seguinte e queria estar disposto. A maioria do pessoal seguiu na festa, dançando e bebendo. Nem vi quando meu companheiro de barraca entrou para dormir.

Na trilha após o fim da chuva.
Grupo reunido (faltam dois).
Estrada descendo o morro.
Ponte pouco segura.
Descanso com os cachorros.
Caminhando ao lado do rio.
Shopping Center no meio da floresta.
Almoço.
Batendo bola com o pequeno peruano.
O peruano Anderson e sua bola do Brasil.
Relaxando na piscina de água quente.
Piscinas termais ao lado do rio.
Botas da discórdia.
Brinde com Pisco.
Dançando com Izabel.
Com a hungara e a japonesa penetras na festa.
Peter, o suíço animado.
Um argentino se humilhando.

 

Luau do Passarinho 2011

Ontem teve Luau do Passarinho, com show do Michel Teló. Não estava em meus planos ir, mas na última hora acabei indo e após certa dificuldade em conseguir ingresso, acabei entrando no show. Eu gostava mais quando o Michel Teló cantava no grupo Tradição, mas como cantor solo ele não é ruim. O show foi bom, ele cantou vários tipos de música, vários ritmos. O Luau do Passarinho estava lotado, e esse ano foi mais organizado que o do ano passado.

O momento surreal do show foi quando o Michel Teló cantou a música “Como Zaqueu”, composição do Regis Danese. Essa música é para um momento de interseção e adoração a Deus, não combina com um show onde 90% dos presentes estavam com um copo de bebida alcoólica  na mão, muitos caindo de bêbado. E na minha frente tinham dois casais cheirando cocaína, na cara de pau, bem no momento em que o Teló cantava essa música. Ficou muito estranho, muito surreal. Acho que ele deveria tirar essa música do repertório do show, pois não combina com o ambiente, não tem nada a ver com o tipo de show que ele faz. Essa música é para ser cantada em eventos gospel, em igrejas, não em um show repleto de bêbados. Essa é minha modesta opinião!!  Fora isso, valeu! Grande show!!!

Luau do Passarinho 2011.

Michel Teló no Luau do Passarinho. (19/11/2011)

Show no Luau do Passarinho.

Michel Teló.

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