Viagem ao Peru e Bolívia (23° Dia)

06/06/2012 

Começou a tocar o despertador do celular do cara que estava sentado na poltrona próxima a mim, do outro lado do corredor. Acordei com o barulho do despertador e também a criança de colo que estava na poltrona da frente. Foi um berreiro tão grande que acordou quase todo mundo dentro do ônibus. Depois dessa acho que o dono do celular passou a ser odiado por todos. Olhei no relógio e eram 5h35min. Tentei dormir novamente, mas a criança da frente chorova tão alto que era impossível voltar a dormir. Coloquei os fones do MP3, liguei a música bem alta para tentar abafar o choro da criança e assim consegui dormir.

Acordei algumas horas mais tarde, quando o ônibus parou em outro posto policial. Dessa vez todos tiveram que descer e ficar esperando ao lado da estrada pouco a frente do ônibus. Três policiais entraram no ônibus e fizeram uma varredura, olhando inclusive as mochilas e bolsas que tinham ficado dentro do ônibus. Um policial ao passar por mim parou e quando ia falar algo, alguém o chamou e ele entrou num carro e foi embora. Sorte minha!! Após meia hora nos mandaram embarcar e fomos embora. A bateria do MP3 acabou e fiquei sem ter o que fazer para matar tempo. O jeito foi ficar olhando pela janela, onde a paisagem era mato e uma ou outra casa. Mais duas horas de viagem e paramos para almoçar, em uma cabana na beira da estrada. Quase todos os passageiros comeram nesse lugar da parada. Eu entrei, circulei entre as mesas, dei uma olhada na cozinha e diante da precariedade da mesma e da aparente falta de higiene, desisti de comer ali. Comprei uma Fanta e fiquei parado próximo ao ônibus. O tempo estava nublado desde cedo e parecia que ia chover. Logo o ônibus da empresa cujo vendedor não quis me vender passagem em La Paz, parou ao lado. Dei uma olhada mais detalhada no tal ônibus, fui até sua porta e olhei dentro. Mais uma vez fiquei muito agradecido ao vendedor por não ter me vendido a passagem. O ônibus era muito ruim e desconfortável. O ônibus em que eu estava viajando não era dos melhores, mas com certeza era bem melhor do que aquele em que quase viajei. E o preço da passagem era o mesmo nas duas empresas de ônibus. O motorista apareceu e me chamou para embarcar.

O cara da poltrona do outro lado do corredor levou uma marmita para comer dentro do ônibus. E mais uma vez jogou o lixo no chão, inclusive ossos de frango. O espaço em volta a poltrona dele parecia um chiqueiro. Almocei alguns biscoitos e chocolates que tinha na mochila. Guardei as embalagens vazias no bolso lateral da mochila, bem como catei alguns farelos que tinham caído no chão. O cara da poltrona ao lado ficou olhando eu gurdando o lixo e limpando o chão. Espero que ele tenha aprendido algo comigo e em futuras viagens não seja tão porco. Começou a chover e fiquei alternando alguns cochilos, com olhadas para a paisagem.

Passava um pouco das 13h00min quando finalmente chegamos à Santa Cruz de La Sierra. O desembarque foi na lateral do Terminal Bimodal (rodoviária + estação de trem) e quando fui pegar minha mochila no bagageiro começou a chover forte. Não encontrei o ticket de bagagem. Procurei nos bolsos, na mochila e nada de encontrá-lo. Sempre fui cuidadoso com ticket de bagagem, seja em viagens de ônibus ou avião e nunca tinha perdido algum. Fui falar com o motorista e contei que não tinha o ticket. Ele me respondeu que sem ticket ele não entregava a bagagem. Fiquei quieto e fui me proteger da chuva debaixo de uma marquise. Mas fiquei o tempo todo olhando minha mochila, enquanto o pessoal pegava suas bagagens. Quando todos pegaram suas coisas e só ficou a minha mochila no bagageiro do ônibus, fui falar novamente com o motorista. Ele mais uma vez respondeu grosseiramente que sem o ticket ele não entregava a mochila. Argumentei com ele de que só tinha sobrado aquela mochila e que ele sabia que ela era minha. Lembrei a ele sobre a parada de madrugada no posto policial (ver postagem anterior) quando o policial entregou minha mochila na mão dele e disse para ele guardá-la no bagageiro. Ele pensou um instante, fez cara feia e me mandou pegar a mochila. Coloquei a mochila nas costas e ao passar pelo motorista dei um tapinha nas costas dele e disse muito obrigado. Ele não respondeu e virou de costas.

Fui até dentro do Terminal Bimodal a procura de um lugar para trocar meus últimos U$ 40,00. Esses dólares eu tinha guardado para comprar a passagem de trem ali em Santa Cruz de La Sierra. A única casa de cambio existente no Terminal estava fechada. Fui até o ghichê que vende passagens de trem para me informar sobre o Trem da Morte. O Trem da Morte clássico, que é o mais barato e onde o pessoal viaja meio amontoado, leva animais dentro e que era justamente o que eu queria saíria no final do dia. Mas não tinha mais passagens e outro trem igual só dali três dias. Fiquei decepcionado, pois eu queria viajar nesse mais simples, não pelo preço que era o mais barato, mas sim por que nesse trem tinha mais “emoção” e era o preferido pelos mochileiros do mundo todo. E eu não podia e não queria ficar três dias em Santa Cruz de La Sierra esperando o Trem da Morte clássico. O próximo trem que tinha passagem à venda partiria no dia seguinte, no final do dia e era justamente o trem de luxo. A passagem nesse trem de luxo custava $ 240,00 bolivianos. Não era possível pagar com dólares e o vendedor disse para eu ir até a entrada do Terminal, que ali algumas pessoas faziam cambio. Fui até o portão de entrada e logo vi um senhor de idade com um monte de notas de dólares e de bolivianos na mão. Fiz o cambio com ele e fiquei pensando que se fosse no Brasil o cara já tinha sido assaltado, pois ficar com tanto dinheiro na mão em um local público e cheio de gente, no Brasil é pedir para ser assaltado. Infelizmente cada dia tenho mais certeza de que o Brasil é o país dos ladrões!

Voltei até o ghichê da empresa de trem e comprei minha passagem. Como o trem só partiria às 18h30min do dia seguinte, eu tinha mais de vinte e quatro horas de espera. Saí do Terminal Bimodal a procura de um hotel. Voltou a chover e atravessar a rua em frente ao Terminal foi uma aventura. Primeiro por que atravessar ruas em Santa Cruz de La Sierra já é uma aventura em qualquer dia, em razão dos muitos carros que passam feito louco buzinando. E a segunda razão foi que boa parte da rua estava submersa, em alguns trechos com água batendo na altura da canela. Eu não queria molhar meus pés e principalmente meu único par de tênis. Parei e fiquei observando ao redor para ver como o pessoal estava fazendo para atravessar a rua. Vi que em algumas partes da rua tinham sido colocadas pedras e tijolos, aonde as pessoas iam pisando em cima para poder atravessar a rua sem molhar os pés. Fiz o mesmo, mas como estava com três mochilas tive que ser meio equilibrista para passar por sobre as pedras e tijolos sem cair na água e molhar os pés.

Na região em frente ao Terminal Bimodal vi somente dois hotéis. Entrei em um deles e ninguém veio me atender. Saí e fui em outro quase ao lado. O recpecionista tinha a maior cara de malandro e me atendeu contando algumas histórias e já ficou cheio de intimidades. O quarto custava $ 35,00 bolivianos e ficava no segundo ar. Subi sem expectativa alguma de que seria um bom quarto e ao abrir a porta vi que não estava enganado. Deixei minhas mochilas sobre a cama e fui tomar banho. E descobri que o banho era frio. Já fiquei em muito hotel pelo Brasil e pelo mundo, tanto em hotéis chiques, hotéis mais ou menos e alguns pulgueiros. Mas nunca fiquei em um hotel onde o banho fosse frio. Mas para quem já tinha tomado muito banho frio nessa viagem, um a mais ou a menos não ia fazer mal.

Saí do hotel e fui procurar um local para almoçar. A chuva tinha aumentado e ir para o centro da cidade não era uma boa idéia naquele momento. Dei uma volta pelas redondezas e resolvi entrar em um restaurante que apesar de ser meio sujo estava lotado. E restaurante lotado, mais que sinal de preço baixo é sinal de comida boa. O cardápio era o clássico arroz com frango e batata frita. E tinha um adicional, que era macarrão. Fiz meu pedido e logo veio o prato feito, que devorei todo só deixando os ossos. O macarrão era horroroso, mas comi do mesmo jeito. Saindo do restaurante entrei em uma lan houde e fiquei o resto da tarde usando a internet. Aproveitei para reponder e-mails, papear com alguns amigos, postar fotos no Facebook e postar algo no blog.

Já estava escuro quando voltei ao hotel. Tinha esfriado muito e não parava de chover. Deitei na cama e vi o controle da TV numa mesa ao lado. Liguei a TV e para minha surpresa entre muitos canais disponíveis tinha Record e Globo internacional. Fazia mais de três semanas que eu não via TV e foi bom ver algo em português. Comecei a assistir “Eu Odeio o Cris”, que passava na Record e após alguns minutos adormeci. Acordei umas duas horas depois e resolvi descer para jantar. Ia no mesmo restaurante onde tinha almoçado e ao virar a esquina dei de cara com cinco caras mal encarados e em atitude supeita. Quando eles me viram um deles deu um passo em minha direção e não pensei duas vezes, dei meia volta e saí correndo para o hotel. Em toda a viagem por Peru e Bolívia esse foi o único momento onde levei algum susto achando que alguém fosse me assaltar. Na verdade não sei se me assaltar era o plano dos caras. Mas sendo noite, numa rua deserta e meio escura, com chuva, eu é que não ia ficar esperando para saber se os caras fariam alguma coisa ou me deixariam passar tranquilamente. Seguro morreu de velho!!!

Saí novamente do hotel e para ir até o restaurante, dessa vez escolhi o caminho mais longo, mais iluminado e mais cheio de gente. O restuarante estava tão cheio como no almoço. Pedi o clássico arroz com frango e batata frita. Dessa vez pedi que não colocassem o macarrão. Comi tranquilamente e voltei direito para o hotel. Liguei a TV e deixei na Globo, onde ia passar um jogo de futebol. Antes que o juíz apitasse o início do jogo eu já estava dormindo.

Local de parada para almoço.
O cardápio do almoço.
Placa boliviana.
Pedras para atravessar a rua.
O cardápio de (quase) sempre.
Meu quarto pulguento.

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