Viagem ao Peru e Bolívia (14° Dia)

28/05/2012 

Puno

Chegamos em Puno às 5h00min, fazia muito frio. Desembarquei, peguei minha mochila no bagageiro e fui junto com outras pessoas que seguiriam para Copacabana, até o balcão da empresa de ônibus e lá nossas passagens foram remarcadas para outra empresa. O ônibus sairia às 7h30min, então sentamos todos juntos em frente ao portão de embarque e ali ficamos esperando e quase congelando de frio.

O sol nasceu e a temperatura subiu um pouco. Às 7h15mim o ônibus estacionou na plataforma de embarque. Fui embarcar e mais uma vez me barraram, pois faltava comprar o tíquete da taxa de embarque. Eu não conseguia me acostumar com isso de sempre ter que comprar o tíquete da taxa de embarque. Eu e todos os demais passageiros que iam embarcar no ônibus fomos barrados e tivemos que comprar o tíquete da taxa. Finalmente entrei na plataforma, deixei minha mochila no bagageiro e embarquei, pois mesmo com sol fazia muito frio. O ônibus era velho, mal cuidado, mas confortável e com poltronas semi leito. Entrei no meu saco de dormir e logo fiquei aquecido. Não demorou muito e peguei no sono. Acordei duas horas depois, quase na fronteira com a Bolívia. Fiquei olhando a paisagem, que era inóspita e bonita, com algumas pequenas casas feitas de barro e algumas ovelhas pastando.

Chegamos à fronteira, desembarcamos do lado peruano e fui até um bar trocar meus soles por bolivianos. Na Bolívia o real estava valendo R$ 3,17 para cada $ 1.00 boliviano, o que deixava tudo mais barato do que no Peru. Lembrei que os guardas peruanos costumam “convidar” turistas desavisados que passam em frente a eles, para entrar em sua sala e lá fazem de tudo para extorquir os turistas. Eles evitam fazer isso com europeus e norte americanos, preferindo os sul americanos, principalmente brasileiros. Vi que tinham dois guardas parados na estrada onde teríamos que passar para ir até o posto de fiscalização peruano. Então fiquei parado em frente ao bar onde troquei dinheiro, esperando que os guardas saíssem dali. Não demorou muito e uma senhora equatoriana que estava no mesmo ônibus que eu, saiu com os dois filhos e passou em frente aos guardas. Até senti vontade de avisá-la sobre o que os guardas fazem, mas tive que ser egoísta e pensar primeiro em mim. Quando a tal senhora passou em frente aos guardas, eles a chamaram e entraram na sala deles. O caminho ficou livre e fui rapidinho até o posto de fiscalização. Preenchi um formulário de entrada na Bolívia, tive meu passaporte carimbado e saí. Vi que os guardas ainda não tinham voltado para a estrada e então segui a pé atrás de um casal norte americano. Eu não sabia se encontraria mais guardas no caminho, então segui ao lado do tal casal que ia conversando em inglês. Andamos cerca de duzentos metros e atravessámos a fronteira entre Peru e Bolívia. Felizmente não encontrei mais nenhum policial pelo caminho e logo entrei no posto de fiscalização boliviano. Carimbaram meu passaporte e me liberaram. Para entrar na Bolívia os norte americanos precisam pagar uma taxa de U$ 150,00. Essa taxa é cobrada exclusivamente dos norte americanos em razão de rusgas políticas entre os dois países. Meu ônibus estava estacionado do outro lado da rua e fui até ele. Em frente tinha um bar e resolvi fazer um lanche. Comi uma empanada e tomei uma Coca-Cola gelada, artigo que era raro de encontrar no Peru. Logo embarcamos no ônibus e ficou faltando à senhora equatoriana e seus filhos. Demorou uns quinze minutos até eles aparecerem e a senhora entrou no ônibus reclamando que os policiais peruanos pegaram alguns dólares dela.

Copacabana

No lado boliviano começamos a percorrer uma estrada próxima a margem do Lago Titicaca. A água azul do lago deixava a paisagem muito bonita. Me lembrei dos tempos de colégio quando ouvi pela primeira vez falar no Lago Titica, nas aulas de geografia. Meia hora de viagem e chegamos à Copacabana, cidade que fica às margens do lago. Um fiscal da prefeitura local entrou no ônibus e cobrou $ 1,00 boliviano de cada passageiro, como taxa de turismo. Desembarcamos no centro da pequena cidade, em frente ao escritório da empresa de ônibus, pois na cidade não existe rodoviária. Lembrei-me das dicas que o Alex tinha me dado em Cusco e fui procurar o centro de informações turísticas. Desci pela avenida principal até o final dela em frente ao lago e não encontrei nada. Voltei rua acima e encontrei o tal centro de informações, justamente do outro lado da rua onde eu tinha desembarcado do ônibus. Não sei como eu não tinha visto tal lugar antes. Nesse centro de informações existem armários com cadeados, onde você pode guardar coisas pelo preço de $ 5,00 bolivianos por dia. Separei algumas roupas e outros itens em uma mochila e deixei duas mochilas guardadas num armário, pelo qual paguei $ 10,00 bolivianos. O senhor que cuida do lugar disse que eu tinha que retirar minhas coisas até o meio dia do dia seguinte. Tentei argumentar com ele, pois se eu estava pagando $ 10,00 bolivianos era para dois dias e se era para retirar minhas coisas vinte quatro horas depois, então eu teria que pagar somente $ 5,00 bolivianos, já que seriam 24 horas, o que equivale há um dia. O tal senhor se fez de desentendido, falou um monte de coisas, tentou explicar e eu acabei desistindo de argumentar e saí dali. Os $ 10,00 bolivianos equivalem a R$ 3,15 então não valia a pena ficar me estressando e discutindo por um valor tão baixo.

Desci pela rua principal a procura do local onde vende passagens de barco, pois pretendia ir até a Isla del Sol, que fica no meio do lago. No meio da rua acabei encontrando o Caíque, brasileiro que eu tinha conhecido alguns dias antes em Santa Cruz de La Sierra. Ele estava voltando da Isla del Sol e depois seguiria para Cusco. Conversámos um pouco e fomos almoçar no restaurante de um argentino que ficava em frente ao lago. A comida na Bolívia é melhor do que no Peru, onde tive problemas. E além de comível, na Bolívia a comida é barata, o que significava que nos próximos dias eu podia deixar de lado o fast food e biscoitos, que tinham sido à base de minha alimentação no Peru. O problema no Peru nem tinha sido o preço, mas sim a minha total incompatibilidade com os temperos que eles utilizam e que faziam mal ao meu estômago.

Depois de almoçar o Caíque foi pegar o ônibus para Cusco e eu fui pegar o barco. Comprei a passagem por $ 15,00 bolivianos. O barco partiu às 13h00min e estava lotado. Nele embarcaram muitos turistas e alguns moradores. Ao meu lado tinha um grupo de chilenos, que estavam viajando com pouco dinheiro, pegando carona sempre que podiam e no caminho fazendo algum trabalho ou vendendo coisas. Eles tinham um cachorro com o qual fiquei brincando por um tempo. Após meia hora de viagem começou a fazer muito frio, pois saímos de trás das montanhas e passámos a navegar bem no meio do Lago Titicaca. Coloquei meu casaco, me encostei num canto e… dormi! Foram duas horas e meia de viagem até chegarmos na Isla del Sol, no lado norte, que é menos habitado e com menos infraestrutura para turismo. Mas que todos dizem ser o lado mais bonito da ilha.

Isla del Sol

No desembarque muitos moradores locais estavam na praia, esperando os turistas para oferecer pouso em suas casas ou nos poucos hostals da ilha. Eu não pretendia dormir nesse lado da ilha, minha intenção era seguir para o lado sul e dormir por lá. Daí logo cedo pegar o barco para Copacabana e de lá seguir para La Paz, onde eu pretendia dormir no dia seguinte. Um garoto veio me oferecer pernoite e disse a ele que não ia dormir ali. Pedi informação de como ir para o lado sul e ele me disse que era para ir por uma trilha que seguia pela encosta, no lado oposto de onde estávamos. Segui por tal trilha a passos largos, pois pretendia chegar ao lado sul antes de escurecer. No caminho fui admirando a vista do lugar, que é muito bonita. A água é transparente em algumas partes, mas muito gelada e é impossível tomar banho ali. Ao passar perto de uma escola, uma mulher me abordou e disse que tinha que pagar $ 15,00 bolivianos, que era a taxa cobrada para circular por aquele lado da ilha. Paguei e ela me deu um ingresso que comprovava o pagamento da tal taxa. Continuei meu caminho, seguindo pelo alto de uma montanha e sempre vendo a água ao lado. Depois de um tempo a trilha que estava seguindo ia em direção ao centro da ilha e não vi mais o lago. Pelo caminho passei por um grupo de ovelhas e entre quinze ovelhas brancas, tinha uma ovelha negra. Achei bem interessante isso! Mais um tempo caminhando e passei a ver novamente o lago. Cheguei em algumas ruínas e dei uma rápida olhada nelas, pois não podia me demorar muito ali, já que o dia estava chegando ao fim. Logo que me afastei das ruínas encontrei um homem e ele pediu para ver o ingresso que dava acesso a caminhar pela ilha. Procurei nos bolsos, na mochila e nada de encontrar o ingresso. O tal homem deve ter pensando que eu estava tentando enrolar ele para não pagar o ingresso. Após uns dez minutos procurando o ingresso, finalmente o encontrei perdido num bolso esterno da mochila. O tal homem deu uma rápida olhada no ingresso e disse que eu podia seguir em frente. Continuei caminhando e após meia hora cheguei ao final da trilha. Fiquei sem saber para qual lado seguir e não via nenhuma construção ou pessoa. Vi um morro alto que ficava próximo e decidi subir até o alto dele, para ter uma visão melhor da região. Cheguei ao alto do morro e lá de cima não via nada que me ajudasse a decidir para qual lado seguir. A conclusão que cheguei foi de que estava perdido.

Faltava meia hora para escurecer e após pensar um pouco resolvi voltar pelo caminho por onde tinha vindo. Ao chegar às ruínas encontrei duas moças; Elisa (italiana) e Audrey (belga). Conversei com elas e descobri que tinha seguido pelo lado errado, que o garoto tinha me dado informação errada. Onde eu estava era a parte norte, a parte sul ficava do lado oposto de onde tinha desembarcado. O garoto me indicou a trilha errada, não sei se por maldade ou por não ter entendido direito o que eu tinha perguntado. A noite estava chegando e eu podia desistir de ir dormir no lado sul da ilha, teria que pernoitar no lado norte. Comecei a conversar com as duas moças que tinha acabado de conhecer e elas disseram para eu seguir com elas, pois me levariam até o hostal onde estavam hospedadas, que lá tinha quarto vago. Seguimos pela trilha e logo anoiteceu e esfriou bastante. Tinha lua e isso ajudava a clarear a trilha. Depois de quarenta minutos caminhando chegamos à parte habitada do lado norte da ilha, perto do local onde eu tinha desembarcado à tarde. Fomos caminhando pela praia e paramos conversar com um cara que tocava violão sentado na areia. Esse cara era mexicano e estava passando um tempo na ilha. Sentamos na areia e ficamos conversando. O mexicano quando soube que eu era brasileiro, tocou “Trem das Onze”, cantando em português. Esse foi mais um daqueles momentos especiais da viagem, pois eu estava numa ilha no meio do Lago Titicaca, sentado na areia sob a luz da lua, cercado de pessoas que tinha acabado de conhecer, ouvindo o barulho das ondas, sentindo muito frio, olhando as estrelas no céu e ouvindo música brasileira cantada por um mexicano. Esse foi mais um momento surreal e inesquecível da viagem. O frio começou a apertar e resolvemos sair dali. O mexicano nos convidou para voltar ali mais tarde, pois teria fogueira, bebida e cantoria. Mas não voltamos…

Fui com Elisa e Audrey até o hostal onde estavam hospedadas, mas não tinha ninguém lá. Então resolvemos procurar um lugar para jantar. Caminhamos pelas ruas escuras do lugar e logo entramos num pequeno restaurante, que funcionava em frente a uma residência. O prato principal era truta, pois na ilha existe criação de trutas. Eu não como peixe e consegui que me servissem frango frito. O boliviano dono do restaurante, quando soube que eu era brasileiro contou que já morou em São Paulo, no bairro do Braz e que trabalhou com costura. Ele deve ter feito parte daquele esquema de bolivianos que trabalham ilegalmente em São Paulo, quase em sistema de escravidão. E o cara tinha simpatia pelo Corinthians!! Virou meu camarada quando contei a ele que eu era corintiano. O jantar custou $ 20,00 bolivianos (R$ 6,30).

Depois de jantar ficamos conversando e alguns holandeses que estavam na mesa ao lado também entraram na conversa. Eram 21h00min quando resolvemos sair do restaurante e seguimos para o hostal. Os donos do hostal ainda não tinham voltado e resolvi procurar outro lugar para dormir. Despedi-me de minhas novas amigas e marcamos de nos encontrar na manhã seguinte ali em frente. Saí caminhando pelas ruas escuras do pequeno povoado, num vento muito frio a procura de um pouso. Se eu não encontrasse um lugar para dormir, eu poderia começar a ficar preocupado, pois teria sérios problemas se dormisse no frio. Na pior das hipóteses eu iria até a praia procurar os chilenos que estavam no barco, pois eles iam acampar em barracas na praia. E como precisavam de dinheiro, com certeza iam me aceitar como hóspede em uma de suas barracas. Segui por um lado do povoado em frente à praia e estava tudo fechado, nas casas todos dormindo. Então fui para o centro do povoado e em frente ao restaurante onde tinha jantado, vi uma placa em frente a uma casa, que dizia “alugamos quartos”. Uma guria veio me atender e disse que tinha quarto vago, que custava $ 24,00 bolivianos, com banheiro fora do quarto e de uso coletivo. Eu não podia escolher muito e fechei na hora, pagando adiantado. Ela me mostrou o quarto, que não era dos piores. Fui até o banheiro e ao contrário do que eu esperava, o banho era quente. Então tomei banho e fui direito para a cama. No quarto ao lado vi um dos casais de holandeses que estavam no restaurante quando jantamos. A cama era confortável e quente, muito aconchegante. Fiquei um tempo ouvindo música no MP3 e pensando na vida. Era estranho estar dormindo numa ilha no meio do Lago Titicaca. E entre tais pensamentos adormeci…

Embarque em Puno, no frio.

Em Copacabana, com o Caíque.

Rua principal de Copacabana.

Almoçando de frente para o lago.

Deixando Copacabana para trás.

Desembarque na Isla del Sol.

Água transparente na Isla del Sol.

Isla del Sol.

Isla del Sol.

Trilha na Isla del Sol.

Isla del Sol.

No interior da ilha.

Ruínas no interior da ilha.

Com Elisa (italiana) e Audrey (belga).

O mexicano cantando “Trem das Onze”.

VÍDEO

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