Percorrendo o Caminho da Fé

peregrino

adj. s. m.

1. Que ou o que anda em peregrinação.

2. Viajante, romeiro.

3. Estrangeiro.

4. Que está nesta vida para passar à eterna.

5. Raro, singular, essencial, que é poucas vezes visto.

A primeira vez que ouvi falar sobre o Caminho da Fé foi em 2007, quando percorria o Caminho de Peabiru e meu amigo Pierin falou sobre esse caminho, contou que já o tinha percorrido. Os anos passaram, fui pegando gosto por caminhadas, por peregrinações. Limitava-me a peregrinações de final de semana, de no maximo 55 quilômetros. Percorrer os quase 500 quilômetros do Caminho da Fé era um sonho meio distante. O tempo foi passando e em janeiro de 2010 vi numa livraria um guia sobre o Caminho da Fé, escrito pelo Antonio Olinto, um cicloturista que já percorreu boa parte do mundo sobre uma bicicleta e de quem tenho um livro contado essa história. Comprei o guia e planejei fazer o Caminho da Fé em maio, durante minhas férias. Mas planos nem sempre dão certo. Fiquei doente menos de um mês após comprar o guia e todos os meus planos mudaram do dia para a noite.

Quase no final de março de 2010 estava estirado sobre uma cama, muito doente, mal conseguia respirar sem sentir dor. E numa bela tarde vi o guia sobre o Caminho da Fé em minha estante. Peguei o guia, comecei a ler e ao chegar ao final falei em voz alta que quando ficasse curado eu faria a peregrinação pelo Caminho da Fé. Foi algo mais em tom de desabafo do que uma promessa, mas o fato foi que meses depois fiquei curado. Muitas coisas me motivaram a seguir a risca o tratamento, a suportar o sofrimento, a repousar, tomar remédios, me cuidar. E fazer o Caminho da Fé foi um desses motivadores. E com o passar do tempo o desejo de ficar bom e depois percorrer o Caminho da Fé acabou virando então uma promessa.

O Caminho da Fé é mais percorrido por católicos, pois leva até a cidade de Aparecida. Eu nasci numa família católica, fui batizado, fiz primeira comunhão, crisma, participei de Grupo de Jovens e ia à missa de vez em quando. Aos 21 anos mudei de religião, entrei para uma igreja protestante, fui batizado novamente, e durante muitos anos deixei o catolicismo de lado. Mas os anos foram passando, fui amadurecendo e chegou um momento em minha vida que o tema religião ficou meio confuso. Não conseguia seguir uma determinada religião somente, pois para mim todas possuíam imperfeições. Então passei a seguir cada vez mais a Deus e menos a determinada religião. Para quem perguntava minha religião, muitas vezes eu respondia que era um “protestante católico” ou então um “católico protestante”. Depois de um tempo passei a me definir como “ecumênico”, que numa definição especificamente religiosa significa a unidade da igreja de Cristo que vai além das diferenças geográficas, culturais e políticas entre as diversas igrejas. Resumindo, sou cristão, freqüento qualquer igreja sem problema algum, sem preconceito, fanatismo ou achando que uma igreja é melhor que a outra. Por experiência própria sei que nenhuma igreja é perfeita, que todas possuem falhas. Não posso afirmar que essa minha forma de encarar a religião esteja certa. E com certeza não cabe a você me julgar com relação a isso!

Desde o final de 2010 estou curado de meus problemas de saúde e comecei a lembrar da tal promessa que fizera meses antes, de percorrer o Caminho da Fé. Acabei fazendo outras viagens e chegou um momento que achei melhor fazer o que tinha prometido. Não fiz muitos planos, não defini bem uma data. Segui um conselho de meu irmão que me disse que quando planejamos muito uma viagem ela acaba não acontecendo. Que a partir do momento que resolvermos viajar, todo o restante se resolve por si só, sem muitos planos. E foi assim que fiz. Queria fazer o Caminho da Fé a pé, mas devido à longa distância do mesmo, não era aconselhável fazer dessa forma, pois minhas hérnias de disco necessitam de um certo cuidado. Então resolvi fazer a viagem de bicicleta. Eu tinha todo o equipamento para realizar tal viajem. Já tinha planejado anteriormente fazer uma viagem de bicicleta, comprei o equipamento necessário e no fim a viagem não aconteceu. Fisicamente estava bem preparado, tendo pedalado quase toda semana nos últimos meses. Foi só arrumar minhas coisas, desmontar a bike, colocá-la na mala bike, pegar o guia sobre o Caminho da Fé, me despedir do pessoal e pegar a estrada.

Resolvi iniciar pelo ramal oeste do Caminho da Fé, iniciando a viagem de bike na cidade de Descalvado, interior de São Paulo. Imaginava percorrer os quase 500 km (que com alguns perdidos que dei se transformaram em 501 km percorridos) entre sete ou dez dias. Em razão das chuvas que não deram folga, acabei percorrendo o Caminho da Fé em treze dias. No fundo para mim não importava a duração. Importava era percorrer o caminho e curtir tudo o que fosse possível. E foi isso que fiz. Teve dias que pedalei mais quilômetros, outros menos. Parei muito para tirar fotos, observar animais, ouvir passarinhos cantando, admirar paisagens e principalmente conversar com as pessoas. Então a duração foi o que menos contou nessa viagem.

Sei que foram treze dias inesquecíveis. Passei frio, fome, sede, sofri com o calor. Pedalei sete dias debaixo de chuva, todo molhado e embarreado. Empurrei a bike morro acima muitas vezes. Atravessei rios, matas, barreiros onde quase não tinha forças mais para empurrar a bike. Tive problemas de freio, pneu furado mais de uma vez. Levei picada de marimbondo, mosquito, formigas. Ralei braços e pernas no mato, no pedal e na coroa da bike diversas vezes. Levei carreirão de cachorro, de boi e de vaca. Mesmo assim em nenhum momento pensei em desistir, ou então me perguntei o que estava “fazendo ali”. Tive problemas, muitos até, mas em compensação tive mais alegrias. Vi paisagens incríveis, conheci pessoas maravilhosas, apreendi muitas lições, principalmente nos momentos de dificuldade. E consegui encontrar respostas para muitas perguntas que tinha ao iniciar o Caminho da Fé. Também voltei com novas perguntas, as quais preciso encontrar respostas. E o principal foi que voltei a acreditar no ser humano. Fazia tempo que por vários motivos eu andava descrente com a raça humana. E percorrendo lugares distantes e quase perdidos no interior do Brasil, conheci pessoas boas, simples, de coração enorme, que sempre tinham uma palavra ou um gesto de incentivo. Em nenhum momento durante toda a viagem fui maltratado, ofendido ou ameaçado por alguém. Ao contrário, só tive ajuda, mesmo quando não precisava ou pedia. Na verdade nunca pedi ajuda, pois não era preciso. Antes de abrir a boca para pedir ajuda, alguém se antecipava e me ajudava. Pessoas surgiam do nada para me ajudar nos momentos complicados. Recebia convites para almoçar na casa de pessoas que nunca vi antes na vida. E muita coisa mais…

Nos próximos dias postarei aqui no blog sobre essa mágica viagem. Vou transcrever para o blog as anotações que fiz num caderno, que foi meu diário de viagem. Mesmo assim muita coisa ficará faltando, pois não saberei descrever fielmente a beleza de muitos lugares por onde passei, a bondade e amizade de pessoas que conheci e principalmente muitas das emoções que senti.  Me acompanhe nessa viagem a partir de hoje. Serão treze postagens, treze capítulos dessa maravilhosa aventura.

O guia que utilizei.
Minhas coisas ainda embaladas, ao chegar a Descalvado – SP.

8 opiniões sobre “Percorrendo o Caminho da Fé

  • 22 de março de 2011 em 11:50
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    Olá, VANDER AMIGO

    Que viagem maravilhosa. Viajando contigo mesmo, quanta coragem, guri. Todos deveríamos fazer uma jornada assim. Cada dia te admiro mais. És um ser umano fantástico. Sobre religião, concordo totalmente. Todas as religiões merecem respeito. Lógico, que há imperfeições e falhas,pois somos
    humanos e falíveis. Haverá o dia em que seremos
    pessoas religiosas e ligadas a várias religiões.
    Abraço de alegria e amizade.Vera

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  • 22 de março de 2011 em 11:52
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    Perdão, VANDER é a pressa faltou o “h” em humano.
    É o excesso do que fazer. Desculpas.

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  • 24 de março de 2011 em 10:55
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    minhas coisas ainda embaladas…. só isso?? que embrulho “pikininho”, caraca, como tu carregou tudo isso??? ahhhhhhh eu li tudinho ta, sem preguiça hehehehehhe

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    • 29 de março de 2011 em 14:04
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      Oi!

      Carreguei nas costas, eram apenas 26 quilos.

      Beijão,

      Vander

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  • 24 de março de 2011 em 15:34
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    Meu amigo, nesse relato voltei a ver o Vander, aquele que fala com a alma!
    Incrível como nos sentimos mais humanos, em contato com a natureza e com a simplicidade das pessoas. Religião é isso mesmo! Também venho de uma família católica e transitei em muitas correntes religiosas, movimento carismático da igreja católica, budismo, sulfismo, espiritismo e sei lá sou muito curiosa.
    Mas tem oito anos que resolvi que sou cristã, me sinto melhor assim!
    Beijo

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    • 29 de março de 2011 em 14:08
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      Oi!

      Eu não estava mais falando com a alma?

      Essa viagem foi legal por irro, pelo contato mais próximo com a natureza e com as pessoas. Essa é a mágica de se viajar de bike, você sente o cheiro das cosias, sente o vento, ouve os ruídos, acaba tento mais contato com as coisas que o cercam e pricipalmente com as pessoas.

      E sobre religião, isso é algo estranho, mas o importante é acreditar em Deus, indepente da religião que você escolhe para isso.

      Beijão,

      Vander

      Resposta
  • 14 de dezembro de 2013 em 13:35
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    Suas palavras escritas aqui era só o que eu precisava ouvir para tomar minha decisão , vou fazer essa viajem, muito o brigado!!

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    • 24 de janeiro de 2014 em 19:16
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      Wilson,

      Fico feliz em saber que servi de inspiração para alguém…

      Lhe desejo uma boa viagem!!

      abraço,

      Vander

      Resposta

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