Ollantaytambo

Minha primeira noite em Cuzco não foi das melhores no quesito sono. Dormi muito mal, acordei várias vezes com falta de ar, tive sonhos ruins. Sei que levantei ás seis da manhã no maior bagaço e pra piorar ás três noites seguintes seriam no meio das montanhas, dormindo em barraca. Se no conforto da cama do hotel dormi mal, fiquei preocupado em como seriam as noites seguintes. Caindo de sono terminei de arrumar minhas coisas, fui até a portaria do hotel e deixei uma mochila para ser guardada no depósito. É meio que praxe todos os hotéis e hostels terem um depósito para que os hóspedes deixem algo guardado enquanto vão fazer alguma trilha ou então seguem para Machu Picchu. Não me cobraram nada pelo serviço de guardar a mochila, talvez em razão de eu ter feito uma nova reserva para quando voltasse da Trilha Inca. Eu ainda sentia enjôo, falta de ar e tonturas, então tomei uma pílula para altitude, que tinha comprado no dia anterior, tomei uma xícara de chá de coca e masquei algumas folhas de coca. No hotel tinha uma mesinha num canto com chá de coca para os hóspedes e também uma cestinha com folhas de coca. O sabor da folha de coca não é dos melhores, a boca fica meio adormecida. Sei que pouco tempo depois eu já me sentia melhor, acredito que a combinação  pílula + chá de coca +  folha de coca, fez um efeito mais imediato. 

Fiquei quase uma hora na calçada em frente ao hotel esperando que alguém da agencia de turismo fosse me buscar. Nesse tempo pelo menos uns cinqüenta taxis passaram na rua em frente e buzinaram para mim. Parece que na cidade existem mais taxis do que carros de passeio e os motoristas têm o péssimo hábito de buzinar para todos os estrangeiros que eles vêm na rua, na esperança de que algum resolva seguir no seu taxi. Sei que é algo irritante, ás vezes passavam três taxis juntos e os três buzinavam. Finalmente apareceu alguém da agencia, era a Glória, uma peruana que seria uma das guias na Trilha Inca. Fui com a Glória até um ônibus estacionado perto do hotel. Eu fui o último a embarcar e ali mesmo se iniciou uma chamada para conferir se não faltava ninguém. Os hispanos não conseguem pronunciar meu nome corretamente, isso acontecia muito no tempo em que eu vivi nos Estados Unidos. Eles não conseguem pronunciar o “V”, que pra eles tem o som de “B”. Então meu nome que é “José Vanderlei”, acaba sendo pronunciado como “Rosé Banderlei”, o que para mim é algo horrível. Felizmente nos dias seguintes todos passaram a me chamar de Vanderlei ou de Vander, mesmo que errando na pronúncia, mas isso é bem melhor do que o “Rosé”.  Após umas três ou quatro chamadas, finalmente resolveram pegar a estrada. Fiquei no fundo do busão e  próximo a mim iam dois caras com cara de estrangeiros, que depois vim a descobrir serem da Inglaterra e do Canadá. Logo na saída da cidade percebi que a periferia é muito pobre, com casas construídas nos morros. Desde março de 2010 quando a região sofreu com ás chuvas, no que foi chamada de enchente do século, parte dos trilhos do trem que iam de Cuzco até Aguas Calientes (pequena cidade aos pés de Machu Picchu) foram destruídos e por essa razão parte do trajeto tem que ser feito de ônibus. Na estrada fiquei assustado com a velocidade que o motorista conduzia o ônibus, tirando fina de outros veículos. Como estava com sono resolvi encostar minha cabeça na janela e logo adormeci. Fui acordar quase duas horas depois, quando chegamos ao pequeno vilarejo de Ollantaytambo, no km 68. Os guias avisaram que ali seria o último lugar onde poderíamos comprar por preços justos equipamentos que faltassem, água e algum tipo de comida. 

O vilarejo é muito interessante, com uma enorme praça central, algumas lojas e pequenos prédios em volta. Ao lado do vilarejo dá pra ver montanhas muito altas e bonitas e também algumas ruínas de construções incas. O que mais me chamou atenção foi que numa das calçadas existe um tipo de caneleta por onde corre água que vem das montanhas. A água é limpa e gelada. Andei pelas proximidade e vi que essa canaleta na calçada também passa bem na porta de algumas casas. Aproveitei para usar o banheiro de um mercadinho e esse foi o último banheiro descente que usei em quatro dias. Logo voltamos para o ônibus e pegamos a estrada novamente. Fomos através de uma estradinha ruim que seguia por um vale e passava bem perto dos trilhos do trem. Seguimos até o km 82, onde paramos e desembarcamos junto com nossas mochilas. 

No meu grupo eram 59 pessoas, que foram subdivididas em dois grupos. Fui parar num grupo de 29 pessoas. Eu, dois colombianos e 26 argentinos. Por sorte sempre me dei bem com argentinos e principalmente com argentinas. No outro grupo cujo guia falava inglês, ficaram alguns canadenses, ingleses, australianos e… argentinos. No início não entendi o porquê de tantos argentinos, mas depois conversando com alguns, vim descobrir que em razão da moeda deles estar muito desvalorizada, eles procuram destinos turísticos onde o valor da moeda não seja dos piores, como é o caso da Bolívia e do Peru. Em vez de irem em peso ao Brasil como faziam antes, agora é mais barato ir pra mais longe, pois no Brasil a moeda deles vale somente a metade, enquanto no Peru tem quase o mesmo valor que a moeda local. 

Após acertamos os últimos detalhes e verificarmos nosso equipamento, fomos em direção ao posto de controle da trilha. No caminho paramos em frente a uma placa que indica o início da Trilha Inca, e onde tradicionalmente todos os grupos que por lá passam, tiram uma foto em frente. Com nosso grupo não foi diferente e após várias fotos seguimos até o posto de controle. Eu era o último da fila, na minha frente tinha um argentino com a cara do Che Guevara quando mais moço e ainda por cima ele usava um boné igual o utilizado pelos revolucionários de Fidel Castro e de Che Guevara,  na Revolução Cubana, inclusive com uma bandeira cubana pregada na lateral. Sei que nos dias seguintes todos passaram a chamar esse argentino pelo nome Che. Passei pelo posto de controle sem nenhum problema e ganhei uma carimbo em meu passaporte. A sensação era de estar entrando em um outro país, devido ao tipo de controle feito para entrar no “Santuário Histórico de Machu Picchu”. Ali iniciava a aventura, era o começo do sonho…

Ollantaytambo
A calçada com a canaleta de água e alguns moradores locais.
Caminhando pelas calçadas de Ollantaytambo.
Ruas de Ollantaytambo e ruínas incas nas montanhas próximas.
A tradicional foto em frente a placa no início da Trilha Inca.

2 opiniões sobre “Ollantaytambo

  • 23 de maio de 2011 em 11:12
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    Vander, passeando pelo seu blog, descobri que temos muito em comum e tenho mais uma pergunta! Você contratou uma agência de viagens para ir ao Perú e fazer este passeio pela trilha Inca, qual foi e se ficou satisfeito com o serviço? Grande abraço.

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    • 25 de maio de 2011 em 22:42
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      Oi,

      Fui para o Peru sozinho, sem ajuda alguma de agencia de viagem. Já para fazer a Trilha Inca, tive que comprar um “pacote”. Comprei aqui no Brasil, da empresa Brasil de Mochila. Fechei tudo por e-mail e depositei metade do valor na conta deles aqui no Brasil. Chegando em Cuzco, entrei em contato com a operadora de turismo com quem a Brasil de Mochila trabalha. Então uma funcionária da operador foi até o meu hotel, recebeu a metade que faltava do pagamento e me passou as intruções sobre a viagem até o início da Trilha Inca. O serviço foi perfeito, não tenho nada a reclamar.

      Abraço,
      Vander

      Resposta

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