O “Cão Inca”

Em seu livro “Machu Picchu”, o escritor Sérgio Motta conta que durante sua viagem ao Peru, ele encontrou o mesmo índio três vezes. Primeiro no trem da morte, depois em uma cidade no interior do Peru e por último em Machu Picchu. Foi uma coincidência interessante. 

Eu não encontrei nenhum índio, mas sim um cachorro em vários lugares. Dei a ele o nome de “cão inca”. O vi pela primeira vez no anoitecer do terceiro dia de trilha. Eu estava sentando tirando fotos quando o cachorro apareceu do nada e lambeu minha câmera. Na madrugada seguinte, quando descíamos a montanha em direção a Aguas Calientes, o cachorro passou por nós e pouco depois ele estava deitado na trilha, bem a minha frente.  Horas depois ele apareceu novamente, dessa vez quando eu caminhava ao lado dos trilhos do trem, o cão passou correndo ao lado do trem. E a última e mais surpreendente aparição foi em Machu Picchu. Quando eu e meu irmão estávamos indo embora, pouco antes da saída pedi para ele entrar em uma construção, uma das poucas que possui cobertura de palha, pois queria tirar as últimas fotos. E ao entrar na construção encontramos o “cão inca” deitado, dormindo. Fui perto dele para ver se era o mesmo cachorro, e para minha surpresa era ele mesmo. Peguei um biscoito e ofereci a ele. Ele pegou o biscoito, virou-se e saiu da construção. Fui atrás para tirar mais fotos, mas o cachorro desapareceu, não consegui ver para onde ele foi. Fiquei me perguntando como ele tinha ido parar em Machu Picchu? Se tinha subido a montanha caminhando? E por que ele tinha ido até lá? Do acampamento onde o vi pela primeira vez, até Machu Picchu, é uma distância considerável.

Quando voltamos para Aguas Calientes, contei sobre o cachorro para algumas pessoas do grupo. Alguns o viram nos trilhos do trem e até tiraram fotos com ele. Os colombianos foram os únicos além de mim e de meu irmão que viram o cachorro em Machu Picchu. O assunto acabou virando um debate sobre se era ou não o mesmo cachorro em todos os lugares. A maioria disse que sim, dois disseram que não. Um analisou as manchas pelas fotos e disse que eram diferentes. Eu analisei as manchas e para mim eram iguais e principalmente reconheci ser o mesmo cachorro em todos os lugares. Meu irmão comentou que o cachorro foi muito “educado” quando pegou o biscoito que ofereci a ele em Machu Picchu, sinal de que ele me conhecia. O casal Juan e Cecília ficou dividido, ela disse que era o mesmo cachorro e o Juan disse que não. No dia seguinte os encontrei em Cuzco e na despedida o Juan me disse que era sim o mesmo cachorro. Não sei se encontrar o cachorro em tantos lugares foi apenas coincidência ou se tem algum significado que ainda não descobri. Mas que achei tais acontecimentos estranhos, isso achei…

Fiquei um bom tempo pensando no “cão inca” e a razão dele ter cruzado (sem trocadilhos, por favor!) meu caminho tantas vezes. Então fui pesquisar se o cachorro tinha algum significado especial na cultura incaica e descobri que existia um tipo de cão, pequeno e sem pelo que era cultuado pelos antigos incas.   Os estudiosos afirmam que o “cachorro sem pêlo” chegou ao Peru há mais de dois mil anos e foi o fiel companheiro dos nobres incas e amigo dos famosos guerreiros (pré-incas) do Sipão (norte). Este cachorro singular foi idolatrado pelos antigos peruanos, que o imortalizaram em diferentes cerâmicas e jóias encontradas nas tumbas e templos.

O “cão inca” lambendo minha câmera.

No acampamento do terceiro dia.
Na trilha, na madrugada do quarto dia.
Correndo com o trem.
Dormindo em Machu Picchu.

2 opiniões sobre “O “Cão Inca”

  • 20 de março de 2011 em 20:57
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    Querido Vander: deberíamos haber apostado con Juan, porque efectivamente era el mismo perro!!!!! Yo creí en tu anécdota desde el principio y es más, tengo fotos con el perro famoso durante el trayecto desde Wiñay-Wuayna hasta Aguas Calientes. Qué lindo recuerdo.
    Un fuerte abrazo, de Juan y Cecilia

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    • 21 de março de 2011 em 14:08
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      Hola Cecilia!

      Convino en que deberíamos haber apostado con Juan, es el mismo perro. Pero fue divertido debatiendo si o no el mismo perro.

      El viaje por el Camino Inca y Machu Picchu fue maravilloso e inolvidable. También sirvió para hacer muchos amigos.

      Acabo de hacer un viaje de 500 km en bicicleta, a pie el Camino de la Fe, el interior de Brasil. Viaje de trece días con mucha lluvia y barro. En los próximos días estaré publicando sobre el viaje en el blog.

      Y tú y Juan, ¿cómo estás?

      Un abrazo a mis amigos queridos,

      Vander

      Resposta

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