1ª Peregrinação da Rota Simbólica e Autônoma do Caminho de Peabiru (Parte I)

Antecedendo a 1ª Peregrinação da Rota Simbólica e Autônoma do Caminho de Peabiru, já haviam sido realizadas 10 peregrinações para mapeamento e estudos da rota, paralelas aos trabalhos de pesquisas nos últimos seis anos. Dessas 10, participei de quatro e estava ali para minha quinta participação consecutiva. O evento começou na sexta-feira a noite na Câmera de Vereadores da cidade de Peabiru. Autoridades locais e da cidade vizinha de Campo Mourão estavam presentes, bem como peregrinos de várias cidades e também índios da aldeia de Cornélio Procópio e Laranjinhas (norte do Paraná, próximo a divisa com o estado de São Paulo). Pude rever amigos de outras caminhadas, o que é sempre muito bom e divertido. Após o Simpósio que teve apresentação de danças e canções indígenas, foi servido um coquetel e em seguida todos se deslocaram para uma escola ao lado da Catedral para pernoitar. Dessa vez estava acompanhado pela Andrea, minha namorada. Ela uma paulistana da Zona Sul, de sangue azul, não estava nada acostumada com programas de índio (literalmente nesse caso) iguais a esse e que eu adoro. Mas chegou animada para o evento e mal sabia das roubadas que enfrentaria.

Na manhã do sábado após o café da manhã e uma sessão de alongamento e aquecimento, iniciou a caminhada/peregrinação. Após caminharmos pelo centro da cidade de Peabiru, fomos seguindo em direção a periferia da cidade e não demorou muito para chegarmos numa plantação de trigo recém colhida e uma estrada de terra. Depois de uma pequena descida iniciou uma grande subida que serviu para por a prova o preparo físico dos caminhantes. Quase no final dessa subida passamos por um local onde no passado existiu um famoso puteiro na região, conhecido como “Pinheirinho”. Esse local era formado por várias casas onde não faltavam mulheres e bebida e ás vezes tiros e facadas. Próximo ao local foi colocado um dos muitos marcos do Caminho de Peabiru e nesse marco está escrito que ali foi “ponto de encontro de viajantes em busca de diversão”. Quem não conhecia o local ou a história do mesmo, acabou não entendendo o tipo de “diversão” que o pessoal procurava ali. A caminhada seguiu e logo tivemos que atravessar um pedaço de mato e passar por uma pinguela. Muitos dos caminhantes nunca tinham visto uma pinguela e no caso da Andrea ela nem sabia o que isso significava. Como era uma pinguela dupla a travessia foi tranqüila. Mais um pouco caminhando pelo meio do mato e logo saímos numa estradinha e em seguida passamos por uma Olaria abandonada. Esse trecho que estávamos percorrendo é da antiga estrada que ligava as cidades de Peabiru e Campo Mourão. Hoje existe uma moderna estrada asfaltada bem próximo de onde estávamos e vez ou outra víamos os carros passando na estrada. Alguns índios seguiram caminhando próximos a nós, mas não foi possível um contato mais aprofundado, pois nas tentativas que fizemos os índios se mostraram fechados e de poucos amigos. Então brancos e índios seguiram caminhando lado a lado, mas sem conversarem.

Após uns dez quilômetros de caminhada saímos na estrada asfaltada e fomos seguindo ao lado da pista até chegar num bairro de Campo Mourão, onde existe uma capela. Nesse local por volta de 1903 foi construída uma pequena capela de pedras, pelos viajantes que por ali passavam. O pessoal viajava milhares de quilômetros no meio do mato, fugindo de onça e quando ali chegava parava para agradecer por terem sobrevivido á viagem. Nesse local foi colocada uma cruz de madeira que anos mais tarde se queimou com o fogo de velas que eram depositadas ali. Foi colocada uma nova cruz que anos depois foi parcialmente queimada também por velas e que ainda hoje existe ali na nova capela que foi construída há poucos anos no mesmo local da anterior. Após uma breve parada na capela do Jardim Santa Cruz, seguimos a pé por dentro da cidade de Campo Mourão. No caminho passamos pelo Parque de Exposições da cidade, onde acontece anualmente a Festa do Carneiro no Buraco. Também passamos pela Estação Ecológica do Cerrado de Campo Mourão. Ali existe uma reserva original de cerrado, a mais austral do mundo e que ano passado foi tema de reportagem do programa Globo Repórter. Após mais um trecho de caminhada dentro da cidade chegamos ao local do almoço, uma associação de funcionários de uma empresa. O detalhe é que esse local fica bem perto da casa de meus pais. O almoço foi um farto e saboroso Arroz Carreteiro. Controlei-me para não comer muito, mas a fome era tanta que acabei exagerando. Após um breve descanso seguimos nosso caminho. O sol estava muito quente e com a barriga cheia, não era nada fácil caminhar. Mas não dava pra parar e minha meta desde o inicio era fazer todo o caminho sem parar ou pegar carona, era uma meta pessoal que eu pretendia cumprir a qualquer preço.

Após andar por estradas secundárias e próximo a uma mata, saímos numa estrada asfaltada e caminhamos um tempo a sua margem. Então entramos numa estradinha de chão e víamos a estradinha seguir longe, sem fim. O sol cada vez mais quente. Quanto mais nos afastávamos da cidade mais percebíamos que a paisagem ia mudando. Começamos a entrar numa região de serra, com muitas subidas e uma vista muito bonita. O tênis da Andrea tinha literalmente aberto o bico na parte da manhã e mesmo com o conserto que o Pierin fez com uma fita crepe, ás vezes ela tinha que parar para reforçar o remendo. Some-se a isso algumas queimaduras de sol que ela teve na parte posterior da perna, onde não passou protetor solar e a Andrea resolveu desistir naquele dia, pegando carona num dos carros de apoio. Pra quem não está acostumada a caminhar tanto e num terreno ruim e sob sol, achei que a Andrea foi bem mais longe do que eu imaginava e acredito que ela também. Continuei minha caminhada e dois quilômetros depois cheguei a Comunidade do Barreiro das Frutas, o local de nosso pernoite. Eram 16h30min e fiquei surpreso em terminar tão cedo a caminhada naquele dia A exemplo de outros anos, imaginei que a caminhada fosse terminar no inicio da noite. De qualquer forma foi bom parar ali, pois algumas bolhas no pé estavam me incomodando. Fazia vários meses que eu estava meio inativo, sem caminhar muito em razão da hérnia de disco que tive, então era natural sentir dores nas pernas e ter algumas bolhas. Mais tarde pude constatar que ás bolhas eram em quantidade bem maior do que eu supunha.

Após descansar, tomar banho e bater papo com o pessoal, chegou à hora da janta. Serviram-nos uma suculenta galinhada, além de arroz, mandioca e vários tipos de salada. Enquanto comíamos chegaram dois sanfoneiros e mais uns cantores e a cantoria começou. Eu estava exausto e não tive vontade de permanecer muito tempo ouvindo musica ou dançando. Fui com a Andrea dar uma olhada na fogueira que tinham acabado de acender e pouco depois das 21h00min fomos dormir na barraca que foi montada no campo de futebol. Lembro que de madrugada levantei para fazer xixi e fazia muito frio. Mesmo assim fiquei um tempo olhando o céu e a quantidade infinita de estrelas que eram visíveis. Daí lembrei que anos antes aquele local era cheio de onças. Então resolvi voltar pra dentro da barraca, pois vai que sobrou alguma onça perdida por ali.

PARA AMPLIAR CLIQUE NAS IMAGENS

Na sexta-feira a noite, Simpósio em Peabiru.
Marco no local do antigo puteiro.
Pelo mato.
Antiga Olaria.
Pierin consertando o tênis da Andrea.
Parada na sombra do viaduto.
Na Capela do Santa Cruz, parte da antiga cruz queimada.
Futuros “churrascos”.
Estrada, poeira e sol…
Caminhando na sombra.
Carro de apoio.
Acampamento na Comunidade do Barreiro das Frutas.
Suculenta galinhada no jantar.
Fogueira para clarear a noite.

4 opiniões sobre “1ª Peregrinação da Rota Simbólica e Autônoma do Caminho de Peabiru (Parte I)

  • 21 de outubro de 2010 em 21:38
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    Adorei a postagem, para variar, bem escrito, e com todos os detalhes pertinentes, ehehe.
    Para mim não foi um passeio de índio, apesar de termos a companhia de alguns , valeu muito a pena, a caminhada, pelas pessoas e pela sua companhia. Com certeza não esquecerei.
    Bjo
    Dea

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    • 22 de outubro de 2010 em 13:28
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      Oi,

      Fico feliz que tenha gostado da caminhada.

      Beijo,

      Vander

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  • 29 de janeiro de 2011 em 18:05
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    Então, sou um apaixonado por caminhadas. Já fiz o caminho da fé seis vezes, todas saindo de Tambau. Caminho na Estrada do Sapopemba, em média, 400 km/mes.Faço camfdinhadas de 50/70/72km/dia. O record foi de 76km no dia 29/8/2009, em 14 horas e 30 min. Tai, gostaria de fazer o Peabiru até Cusco, se possivel. Abraços.

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    • 31 de janeiro de 2011 em 15:11
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      Oi Luiz,

      Legal saber que gosta de caminhadas. Pretendo fazer o Caminho da fé no final de fevereiro, mass acho que farei de bike.
      Sobre o Caminho de Peabiru, existem somente alguns ramais mapeados por alguns grupos de estudiosos. Sei que existe esse ramal perto de Campo Mourão, que já fiz algumas vezes, existe outro em Presidente Prudente – SP, e um em Jinville – SC. Ou seja, são trechos curtos. Então não existe a possibilidade de ir até Cuzco caminhando, pois não se conhece o por onde passava o caminho original que levava até aquela região.

      abraço,

      Vander

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